Capítulo 10 - parte 4 (em revisão)

Arthur dirigia-se para o centro. Estacionou no lugar onde Diana deixou o carro dela da última vez e pensava muito na conversa do almoço. Quando chegou ainda era cedo e decidiu ir atirando, treinando a sua modalidade de cego. O estande estava vazio, mas ele escolheu uma baia um tanto afastada da usual no caso dos colegas aparecerem porque desejava privacidade. Ainda não se sentia muito seguro com o que lhe acontecia, em especial com relação à Anabela.

Colocou a venda improvisada que arrumou em casa com a ajuda da mãe e empunhou a pistola. Ele desejava usar a ponto quarenta e quatro, mas todo o seu arsenal estava na casa da namorada exceto pela nove milímetros que carregava sempre e as duas que ficavam escondidas no carro.

Fazia uma série de cinco tiros, tirava a venda e analisava os resultados, concluindo que o seu grau de acerto era de apenas quarenta por cento, sem se dar conta que era uma marca excepcional para a forma como atirava.

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Moisés, Marcão, Janjão e Anabela entraram no clube de tiro andando bem à vontade porque eram todos conhecidos dos funcionários. Quando viraram para o corredor que levava ao estande principal, Anabela viu a dama misteriosa caminhando um pouco à frente deles e cutucou Janjão.

– Miguel uma vez me disse que ela costuma vir atirar aqui, Belinha – afirmou ele, tranquilizando a moça. – Isso não quer dizer nada.

– Algo me diz que ele vai estar lá – ripostou ela, abatida.

– Já falou com ele? – perguntou o colega. – Falou ou não?

– Tentei, mas ele rejeitou as ligações – respondeu. – O pai dele disse que está um tanto irredutível.

– Você tem que tentar, Belinha. Sabe que ele vai ouvir você, basta forçar a parada.

– Por que droga fui fazer uma besteira tão grande? – perguntou ela, sentindo os olhos úmidos.

Janjão passou o braço nos seus ombros, protetor. Depois disse:

– Você precisa falar com ele, Belinha. Vá na casa dele, sei lá, mas fale com Arthur cara a cara que ele entrega os pontos. Garanto a você. Agora acalme-se que você anda emotiva demais.

Entraram e Anabela apertou o braço do amigo quando viu Arthur em um dos estandes, conferindo os buracos no papel. A dama misteriosa parou na frente do papel e os policiais não deixaram de olhar para ela, babando. Arthur baixou o papel e viu a mulher, sorrindo para ela.

Diana abraçou-o e beijou, puxando o amigo para dentro da baia e fazendo com que saísse da vista deles.

Puta que pariu – exclamou Marcão, que ainda não sabia do relacionamento da Anabela. – Esse cara só pega filé...

Moisés meteu-lhe logo uma cotovelada mas costelas. Irritado, Marcão olhou para ele e o colega fez um sinal discreto para a delegada. Quando viu Anabela com lágrimas nos olhos aproximou-se e abraçou-a.

– Desculpe, Belinha. Eu não sabia de vocês. Você está bem? Tenho notado que andou meio estranha o dia todo.

– Tudo bem – resmungou ela, fungando. – Acho que não tenho me alimentado bem.

– Você precisa se cuidar, moça. Vamos lá atirar – disse Moisés, sério. – Caraca, Arthur tá errando muito. Dá pra ver daqui. Eu hein!

– Tá atirando com uma venda nos olhos – disse Janjão vindo com uma caixa de balas. – Eu vi quando passei na frente para comprar as azeitonas.

― ☼ ―

– Oi, Mariazinha – disse Arthur, baixando o alvo. – Tudo bem?

– Tudo, Arthurzinho. – Ela riu e atirou-se ao seu pescoço. – Só posso ficar meia hora porque surgiu um problema em uma das minhas empresas e tenho reunião agora de noite.

– É uma lástima – disse ele.

– Com certeza. – Diana fez cara de triste. – Nossa noite maravilhosa vai ter que ficar para amanhã, mas queria ver você ainda hoje.

– Que bom que pôde vir. Seu carro está no estacionamento, quer ficar com ele?

– Não, estou com outro, já disse. – Apontou o alvo com o nariz e afirmou rindo. – Tá errando pra caramba.

Arthur pegou um alvo novo e colocou na chapa, recuando para o final, cerca de cinquenta metros.

– Vai querer se mostrar? – perguntou ela. – Sei que você é muito bom, mas não exagere.

– Escolha o ponto – pediu e Diana riu. – Vamos, escolha.

– Certo. Vamos colocar um brinco do alvo. Fure o lóbulo da orelha esquerda dele.

Mal ela terminou de falar ele ergueu a arma e atirou. Após, puxou o alvo. Diana viu e disse:

– Não há dúvida que faz jus à sua fama. – Ela recuou o alvo e pegou a pistola dele. – Posso?

Arthur estendeu a mão em oferta, sorrindo. Diana segurava bem a arma, com firmeza e tranquilidade, mas via-se que não era a mesma coisa que Anabela e ele amaldiçoou-se por ter pensado nela outra vez. O primeiro tiro demorou um pouco, mas ao sair fez com que parasse de pensar na ex. Os outros seis foram em uma sequência rápida. Ela pousou a arma e sorriu, angelical. Fez sinal com a mão e Arthur puxou o alvo.

– Caraca, Mariazinha! – exclamou ele. – Você é muito boa!

– Aprendi com o melhor.

– Se tivesse aprendido com o melhor, teria aprendido comigo, meu anjo – disse debochado. – Mas tá bonzinho, muito bom mesmo.

– A sua loira lambida ganha de mim?

– Não fale assim da Anabela que ela não merece – disse ele, em defesa da ex. – Nem tente confrontá-la que sairá perdendo, meu anjo. Ela me coloca no respeito e nunca antes vi um atirador fazer isso comigo. Além do mais, essa competição de uma contra a outra satura.

– Desculpe – disse Diana. – Não tive intenção.

– Tudo bem. Vamos brincar um pouco?

– Temos menos de quinze minutos. – Diana olhou o relógio e afastou o alvo. – Faça um brinco igual na outra orelha e vou acreditar que é bom.

Arthur sacudiu a cabeça e carregou a arma. Fez cara de coitado e olhou para ela como se tivesse medo de atirar e errar. Baixou a arma e pegou nela, dando-lhe um beijo ardente, daqueles de tirar o folego. Quando terminou de a beijar, antes mesmo dela abrir os olhos, pegou a pistola da mesa e, segurando com apenas uma mão, esticou-a para o lado e deu oito tiros em rápida sequência. Entregou a pistola, após recarregar, e disse:

– Faça uma barbicha.

Diana não se fez de rogada e atirou, rindo. A seguir, mandou Arthur fazer as suíças. Quando terminou, ela disse:

– Tenho que ir. Fique aí, não vale a pena me levar lá fora.

Beijaram-se e Diana foi saindo, enquanto Arthur tirava o pente da pistola e conferia as munições. Diana estava a meio caminho da saída do estande e virou-se para ele.

– Arthur – disse. O delegado recuou um passo, com arma na mão, e ela fez um sinal discreto, apontando os amigos. – Cuide-se, viu?

Arthur sorriu e Diana deu meia volta, voltando a caminhar. Quando passou na frente dos delegados, viu todos de queixo caído, olhando para ela, e Anabela, que a fuzilava com os olhos.

Diana estava um pouco insegura porque a rival era um modelo de perfeição e via-se com clareza que ela amava o Arthur, só que a ruiva jamais daria o braço a torcer. Por isso, quando passou por eles, exibiu seu sorriso mais gentil e disse:

– Oi, rapazes – acenou com a mão. – Nada de apostas dessa vez, ok? Tchau.

Janjão olhava a mulher de alto a baixo e cutucou Anabela, rindo:

– Belinha, ela é muito mais bonita, sim, mas você é bem mais gostosa. Ganha fácil, fácil.

– Como se houvesse muita diferença, Janjão – disse a moça, já conformada com a derrota.

– Vamos esperar um pouco e você vai falar com ele hoje. Nenhum dos dois sai daqui sem que conversem. Certo, galera?

– É isso aí – disseram Marcão e Moisés, batendo na mão dele.

– Isso é coação – resmungou ela. – Tenho medo de falar com ele.

– E é mesmo – disse Janjão decidido. – Vença seu medo. Afinal você bem sabe que ele nada fará contra si. Se fizesse, hoje você não estaria aqui e sim no cemitério.

O policial ficou de olho no amigo, que carregava a arma. Quando Arthur notou a caixa vazia, saiu da baia para comprar mais munição. Viu Janjão olhando e fez sinal, cumprimentando. O amigo correspondeu e continuou olhando, enquanto os outros atiravam exceto Anabela, que não acertava nada e não se sentia muito bem. Arthur voltou com uma caixa nova, terminando de carregar o pente.

– Vá lá agora, Belinha – ordenou o amigo, empurrando a moça.

Ela foi, nervosa e tremendo um pouco. Para ganhar tempo, caminhava o mais devagar possível em especial porque se sentia estranha e angustiada, com o coração acelerado e um frio esquisito na barriga.

À medida que se aproximava, a ansiedade aumentava de forma absurda e sentiu uma tontura demasiado forte. Tentou agarrar-se à parede divisória das baias, mas caiu desfalecida bem às costas do delegado.

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