Capítulo 10 - parte 3 (em revisão)
– Acorde, Arthur – o pai irrompeu no seu quarto de rompante, assustado. O filho abriu os olhos, assustado, e ergueu-se.
– Algum problema, pai? – perguntou depois de olhar as horas.
– Arthur, o que aquela puta Mercedes de meio milhão faz na nossa garagem? – perguntou. – Onde arrumou aquele carro?
– Diana me emprestou o carro dela para eu passar a tarde com Pedrinho, pai. Quando soube que deixei o meu carro com Cíntia ela insistiu em que usasse o dela.
– Então passe o dia todo com ele, ora!
– Pensei nisso, mas preciso correr um pouco e de verdade. Com ele na bicicleta não consigo exercitar-me direito. – Arthur levantou-se. – Acho melhor levá-lo para a creche.
– Eu já levei, filho – disse o pai. – A propósito, quem é Diana?
– A ruiva.
– Maria!?
– Ela parece muito com Maria, pai. – Arthur riu. – Se não fossem os olhos eu poria a mão no fogo que era ela.
– Linda de morrer e milionária? – disse o pai. – Pelo menos sabe escolher.
– É. – Arthur ficou sério.
– É – continuou o pai –, mas seu coração não concorda muito, né?
– Tem razão, exceto quando estou com ela. Nessas horas, esqueço que existe o mundo.
– Em relação a isso já disse o que tinha a dizer – disse o pai, fechando o semblante e saindo.
– E eu jurei para o meu filho que ele jamais voltaria a presenciar aquele tipo de tratamento – respondeu Arthur, erguendo a voz, irritado. – E eu fiz esse juramento na sua frente, pai. O senhor me conhece muito bem.
Ele parou por uns segundos, mas não se virou. Assim que o filho se calou, continuou andando.
― ☼ ―
Arthur tomou banho e saiu para a Barra. Quando o pai ouviu o carro afastando-se, suspirou.
– Eu escutei a última parte da vossa conversa, Jorge – disse a esposa ao ouvir o suspiro do marido –, e não tiro a razão do Arthurzinho.
– Eu sei, Sara, mas...
– Mas você adorou aquela garota desde a primeira vez que a viu, mais que qualquer outra que ele tenha apresentado a nós, exceto, talvez, pela primeira, não é?
– Sim, Sara. Ela é uma mulher perfeita e sei que seriam muito felizes.
– Mas ela fez algo horroroso com Arthur e você sabe que ele não quebra promessas, Jorge. Bem sei que todos têm o direito de errar, mas pare de defender a moça contra nosso filho porque, se alguém errou aqui, esse alguém não foi ele.
– Que droga, Sara – exclamou Jorge. – Eu não a estou defendendo. Só quero que nosso filho seja feliz e ele nunca parecia tão bem quanto desta vez, exceto...
– Exceto pela ruivinha. – Sara riu. – Eu também gostava dela. Seus olhos brilhavam de felicidade quando olhava nosso filho e ele fazia o mesmo por ela.
– Lembra-se dela?
– Claro que me lembro. Nada neste mundo tirava a sua meiguice exceto se a chamassem de Maria – disse Sara rindo. – Nessas horas, o mundo explodia e sai debaixo. E ela era boa em bater. O que Arthurzinho aprendia e fazia, ela tentava fazer igual. Mas, se Arthur a chamasse de Maria, para ela era como ouvir o cântico dos Serafins e das estrelas. Bons tempos aqueles...
― ☼ ―
O delegado estacionou na Barra, em um local mais protegido por causa do carro, e começou a correr. Procurou esvaziar a mente e estipulou uma meta de uns dez quilômetros, que correu com vontade.
Quando terminou, fez alongamentos e alguns exercícios na praça. Ficou muito espantado, quando ouviu uma voz perto de si:
– Mesmo já conhecendo bem o seu corpo – disse ela –, você fica irresistivelmente sexy assim.
Ele olhou para o lado e sorriu. Diana estava sentada em um banco perto dele. Usava óculos escuros e trajava um vestido preto, sóbrio e muito elegante.
– Decidiu me seguir, Maria? – perguntou. – Essa deixa de falar sexy é minha.
– Por mais que eu diga que não gosto de Maria, você vai me provocar o resto da vida, não é? – Ela sorriu. – Eu tenho algumas empresas aqui, então passo a maior parte dos dias na Barra. Dava um passeio gostoso para relaxar e vi você chegando da sua corrida, então não resisti.
Diana levantou-se e chegou perto, beijando Arthur que a abraçou.
– Caraca, você tá todo suado!
– Faz parte, lindinha. – Arthur riu. – Pretendia almoçar agora. Você almoça onde?
– Onde você for, amor.
– Estamos em um lindo contraste. Você toda chique de vestido, por sinal terrivelmente sexy, e eu de short e camiseta!
– Podemos ver se o restaurante tem banheiro para deficientes, o que acha, amor? – perguntou ela e Arthur riu.
– Nem me lembre disso que dá uma vontade danada. Vamos fazer o seguinte, eu vou no posto do salva-vidas tomar um duche rápido, trocar de roupa e volto em quinze minutos, ok? Você me espera aqui.
– Tá bom, amor – disse ela. – Estou esperando.
Arthur voltou sem demora, vestido com uma bermuda longa e camiseta colorida, parecendo um turista. Sorriu para ela.
– Ainda não estou muito digno de você, mas é melhor que um short de corrida – disse. – Duvido que um restaurante permitisse a minha entrada daquele jeito. Na verdade, eu ia almoçar um lanche qualquer.
– Vamos onde você quiser, amor.
– Já que você falou, Mariazinha, meu salário é mesmo um tanto quanto incompatível com seu estilo de vida.
– Não nasci rica, amor – disse ela. – Mas agora sou e não me importo de pagar as coisas, já que eu posso.
– Vamos a um restaurante que tem perto da praia e é barato, ou melhor – disse, rindo –, menos caro. Não me sinto bem se ficar pendurado nas suas costas.
– Sempre protetor e um tanto quanto machista – disse ela, rindo. – Tudo bem, amor. Caraca, Arthur, você é formado em direito e podia ganhar muito mais. Se quiser, eu lhe arrumo um lugar bom em uma das minhas empresas.
– Acontece, minha Mariazinha, que eu amo ser delegado. Gosto muito do que faço e trabalho pelo puro amor à profissão.
– Tá bom, Arthurzinho – voltou a rir dos seus olhos arregalados. – O que foi, não gosta de Arthurzinho?
– Gosto – respondeu. – Maria falava assim ou sem o "Ar". Às vezes você parece mesmo ela.
– Bem, meu amor – ela enlaçou seu pescoço, sorrindo –, é que a sua Dianinha também é Maria.
Beijou Arthur, primeiro de forma delicada e foi ficando mais intensa até que, ofegante, soltou-o e continuou:
– Mas eu não gosto de Maria.
– Então entregou mais um dos seus segredos misteriosos? Não vai dizer que seu primeiro namorado chamava-se Arthur e com "th", ainda por cima?
Diana deu uma risada alegre e, quando fazia isso, seus olhos cor de mel pareciam fazer o mesmo, para deleite do Arthur.
– E se fosse?
– Seriam coincidências demais. – Ele sacudiu a cabeça. – Na verdade já são. Se seus olhos fossem azuis eu nem titubeava em jurar que você era a minha doce e inesquecível Mariazinha.
– Ele era tão amoroso, esse meu namorado. – Diana acariciou Arthur no rosto, sempre sorrindo. – Tal e qual você. Acho que nós dois achamos espelhos de antigas caras metades e eu estou contente com isso, "Thurzinho".
– Vamos almoçar que vai ficar tarde e já me arrepiou todo com esse comentário – disse Arthur. – Preciso levar meu filho para um passeio e devolver o carro de uma certa ruiva deslumbrante.
– Quer ficar com o carro para si? – perguntou ela. – Fique, é seu.
– Tá maluca? – Arthur riu. – Meu pai ia ter um treco se eu dissesse que aquele carro é meu. Vale mais que a casa dele!
– Sei, seu pai e o jeito general de ser. Ele é tão honesto que não é deste mundo. – Ela riu.
– Como sabe disso? – perguntou Arthur, espantado.
– Redes sociais, amor – respondeu Diana, rindo. – Sei até o seu endereço aproximado porque vocês colocaram fotos com dados do GPS embutidas. Basta olhar os detalhes da imagem e... tadam...
– Caraca! – exclamou Arthur. – Sabe que nunca tinha pensado nisso? Que perigo!
– É mesmo. – Ela riu. – E o que seu pai disse?
– Perguntou o que uma puta Mercedes de meio milhão fazia na garagem e onde eu tinha arrumado o carro. – respondeu Arthur, rindo. – E eu, que nem sabia a marca do carro!
– Fique com ele, amor.
– Já pensou o que diriam no trabalho? – perguntou ele. – Iam achar que eu caí na corrupção!
– Todo mundo conhece sua fama de honesto, amor – disse Diana, limpando a boca com o guardanapo. – Acha que não investiguei você? Eu precisava muito de o conhecer em pessoa desde aquele dia no restaurante.
– Algo me diz, meu anjo, que você foi àquele restaurante de propósito e, se me investigou, sabe que vou descobrir – disse Arthur, rindo muito. – Mas foi uma ótima ideia a sua.
– Então tá, o carro é seu e ponto final.
– Faremos assim – disse ele –, já que não vai me dar folga. Você me empresta o carro e depois devolvo, conforme o caso.
– Tá bom. – Ela riu. – Depois a gente casa e fica tudo em família.
– Você é apressadinha. – Arthur riu. – Ainda nem me divorciei!
– Se há uma coisa que não vale a pena, essa coisa é desperdiçar a vida, amor – disse Diana. – Perdi anos preciosos e jurei que nunca mais perderia.
– É mesmo?
– É sim – disse ela, triste. – Meu pai era um desses aristocratas idiotas que fazia questão que eu casasse com um outro idiota qualquer, rico e aristocrata de sangue nobre. Eu descobri que ele me afastou do meu primeiro namorado quando começou a ficar sério e me arrumou um casamento com o sujeito podre de rico, rico não, multimilionário. Eu me rebelei e tentei de tudo, mas acabei casando por chantagem. Quando tinha vinte e três, meu maridinho de quase sessenta teve uma síncope fatal e caiu morto no meio do almoço. Do dia para a noite, eu me tornei dona de um império econômico monumental que meu pai desejava comandar, mas eu dei um jeito de me vingar dele, que era presidente de uma das indústrias do meu marido, minha agora. Mandei demiti-lo e assumi o controle de tudo. Meu pai ficou tão zangado que gritou aos quatro ventos que tinha me deserdado e que eu não era mais filha dele. Eu ri da cara dele e disse: "Eu cago para o seu dinheiro podre. Eu tenho centenas de milhões e não me interessa seu troquinho. Se você fosse meu pai em vez do filho da puta que vendeu a filha para um ricaço na base da chantagem, eu o respeitaria, mas o senhor não é digno nem de piedade."
– Caramba. Não imaginava que ainda existia disso! – disse Arthur, impressionado. – E o que aconteceu?
– Ele matou-se – contou Diana. – O desgraçado estava afundado em dívidas e cometeu suicídio. O pior é que ninguém sabia disso e, para minha tristeza, minha mãe me culpou e rejeitou. Em segredo eu mandava dinheiro para a sustentar e ela pensava que era um seguro de vida, coitada. Morreu há dois anos; o mais provável é que tenha sido de amargura.
– Sinto muito.
– Sabe, Arthurzinho, eu preferia mil vezes a minha vida de classe média antes do meu pai endoidecer de vez. – Diana pegou a mão do delegado e encostou a cabeça no seu ombro. – Era tão bom quando tudo o que me movia era o meu Arthurzinho...
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