"O perdão é maior do que a justiça, ele cabe onde a justiça não seria suficiente. É possível ser justo com alguma pessoa, sem perdoá-la."

Luiz Felipe Pondé.

Arthur entrou em casa, nas nuvens. Os pais viam televisão e ele serviu-se de uma dose generosa de whisky, indo para a beira da piscina. Não demorou muito, a sua amiga virtual apareceu.

– "Mulher Maravilha: Oi, gato maravilha, kkkk kkk!"

– "Artur D.: Oi, Maria maravilha :)"

– "Mulher Maravilha: Fazendo o quê?"

– "Artur D.: Acabei de chegar em casa."

– "Mulher Maravilha: Tava namorando?"

– "Artur D.: Pode-se dizer que sim."

– "Mulher Maravilha: Caramba, eu tinha tanta esperança de sair com você e conhecê-lo pessoalmente!"

– "Artur D.: Não vejo por que não poderia, Maria."

– "Mulher Maravilha: Você me daria uma chance, sério?"

– "Artur D.: Enquanto não estiver comprometido de verdade com alguém, daria, mas, depois, nem pense em tentar algo além da minha amizade."

– "Mulher Maravilha: Você é mesmo fiel, gatinho? :-O nunca foi infiel? Acho que não existe homem fiel..."

– "Artur D.: Fui infiel com a minha esposa, mas só depois de dois anos de sufoco. Fiz isso porque estava de saco cheio e muito carente."

– "Mulher Maravilha: Hummmm. Com quem foi infiel?"

– "Artur D.: Anabela, minha ex-namorada e Diana, minha dama misteriosa, dona Maria curiosa."

– "Mulher Maravilha: Está carente agora?

– "Artur D.: Infelizmente estou, muito."

– "Mulher Maravilha: Estava com quem, gato, com Diana?"

– "Artur D.: Era ela, sim."

– "Mulher Maravilha: Mas pelo que me falou, devia estar contente, feliz!"

– "Artur D.: Sabe, eu estou sim, demais da conta." – Arthur parou uns segundos e continuou. – "Tocar nela é como ir ao paraíso e voltar de um só salto. Seu cheiro me deixa inebriado e sinto que posso fazer qualquer coisa no mundo quando ela está perto de mim."

– "Mulher Maravilha: Na minha terra, isso chama-se paixão."

– "Artur D.: Na minha também."

– "Mulher Maravilha: Então o que o apoquenta tanto?"

– "Artur D.: Duas coisas: Diana não parece ser mulher de relacionamento firme. Tenho muito medo de mergulhar de cabeça e quebrar a cara..."

– "Mulher Maravilha: Já lhe ocorreu que ela pode ter algum medo similar e por isso fica retraída?"

– "Artur D.: Bem, é ela que aparece e desaparece como que por encanto."

– "Mulher Maravilha: E qual é o segundo motivo?"

– "Artur D.: Anabela. :( eu tava cada vez mais apaixonado por ela, sabe? Até tinha conseguido parar de pensar na Diana. Não sei dizer, mas ela me magoou de um jeito horroroso e ainda assim, tenho sentimentos. Reprimidos, mas tenho."

– "Mulher Maravilha: E o que pretende fazer, gato maravilha?"

– "Artur D.: Reprimi-los mais e tentar uma vida equilibrada, ver se Diana quer mesmo ficar comigo ou é apenas diversão para ela."

– "Mulher Maravilha: Tem mais uma alternativa."

– "Artur D.: Qual?"

– "Mulher Maravilha: Você me conhecer, me dar essa chance. E se eu for a sua Maria da adolescência? Kkkkkkkkkkkkk"

– "Artur D.: Você é?"

– "Mulher Maravilha: Já lhe disse que não gosto de Maria."

– "Artur D.: E eu já lhe disse que ela também não gostava, mas era a minha Maria. Muito bem, amanhã eu quero ver você."

– "Mulher Maravilha: Oba. Onde?"

– "Artur D.: Escolha e deixe mensagem com o endereço. Amanha às vinte horas, ok?"

– "Mulher Maravilha: Ok. Oito horas. Ai, gato, vai ser difícil dormir hoje."

– "Artur D.: Será, Maria? acho que reconheço você no ato."

– "Mulher Maravilha: Arthur, há apenas uma ruiva para cada duzentas e cinquenta mulheres. Quantas ruivas acha que teria nesse lugar?"

– "Artur D.: Acontece que meu instinto me diz que você está aprontando. Um beijo, Maria Maravilha."

– "Mulher Maravilha: Um beijo, gato maravilha, sonhe comigo."

Ele pousou o telefone ao lado e foi colocar mais bebida no copo, voltando a deitar-se na espreguiçadeira. O telefone tocou e ele viu que era Anabela, rejeitando a chamada. Acendeu outro cigarro e o pai falou de perto:

– Acha que evitá-la vai ajudar a resolver os seus problemas, filho? – perguntou, sentando-se ao lado. – Sabe, adoro sentar aqui de noite para pensar.

– Eu também gosto, pai. – Arthur olhou para o seu rosto. – Não a estou evitando, pai. Evitar é uma coisa, não querer ver a cara dela é outra bem diferente.

– Você perdoou sua esposa, filho! Dois anos de desmandos e você foi capaz de perdoá-la.

– Não dá para comparar o que uma fez com a outra.

– Você ama essa mulher, filho. Pode não ter notado isso ainda, mas ama-a e eu acho-a maravilhosa. E ela ama-o loucamente.

– Se me ama loucamente, pai, ela teve uma forma muito ruim de mostrar isso. Um cara normal poderia ter morrido.

– Pense bem, Arthur. – O pai suspirou. – Ela está muito arrependida e o perdão é um dom maravilhoso que Deus lhe deu.

– Como sabe que ela está arrependida?

– Porque falei com ela ao telefone mais cedo e foi até difícil de a entender de tanto que chorava.

– O mais provável é que me tenha visto com uma garota a sair do clube de tiro.

– Quem é essa? – Arthur mostrou uma foto que tirou com o celular. – Céus, filho é a Maria! Ela voltou para o Rio?

– Não é ela, pai. Os olhos são diferentes, mas ela me tira do sério desde que a conheci e não foi hoje a primeira vez. E claro que me lembra a Maria, o que até ajuda.

– Para mim é, e que mulherão que virou! Caraca!

– Faça o favor de deixar as minhas gatas para mim – disse Arthur rindo. – Hoje tive um dia inesquecível.

– E pensava em quem, quando sentou aqui?

– Merda, pai – exclamou Arthur, irritado. – Sim, pensava na Anabela. Satisfeito? Ela lhe contou o que me fez?

– Contou e agora quem quer fazer o mesmo sou eu, mas a vida é sua, filho, então faça o que quiser. Por mais virtuoso que você tenha sido, qualquer um seria enganado pelos fatos naquele dia.

– Mas isso não justifica aquela brutalidade toda, pai – exclamou Arthur, exaltado. – Se fosse qualquer outro a fazer aquilo, eu teria morto a tabefe!

– Não, não justifica, mas da mesma forma que ela não o ouviu, agora você não a quer ouvir, então, vocês empataram. Sempre achei que você era um cara melhor que isso, mas vejo que estava enganado – disse ele, levantando-se e saindo sem dizer mais nada.

Irritado, Arthur foi-se deitar.

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