2. Unloving

Aviso: referências à primeira agressão de Jimin.

Se puder ouvir a música e a letra antes de ler ótimo.



Humilhar o outro é a
defesa de um homem
ignorante pela necessidade
de se sentir superior.


Jimin senta-se em silêncio na mesa de jantar observando Youngjae folhear os canais sem rumo, controle remoto em uma mão e uma lata de cerveja na outra. Ele havia preparado uma pequena refeição de arroz e sopa, colocando na mesa um pouco do kimchi e acompanhamentos que Youngjae havia comprado no mercado alguns dias atrás. 

Youngjae ficou quieto no caminho de volta para casa, sem dizer uma palavra desde que Jimin entrou no carro no estacionamento da biblioteca até pararem na garagem da casa, se você pude chamar um lugar como este de casa.

A casa era uma antiga casa de hóspedes que foi convertida em uma casa separada. Não há quarto ou sala de estar separados, apenas um grande espaço com um colchão velho e desagradável de um lado e uma mesa de jantar do outro. Seus únicos luxos são o carro batido que o colega de trabalho de Youngjae lhe deu, a TV que Youngjae havia comprado em uma liquidação a preço muito baixo, a panela elétrica de arroz que eles ganharam em uma oferta gratuita no shopping e a pequena geladeira que os proprietários anteriores tinham deixado para trás. 

E há muito tempo atrás isso era suficiente. Eles disseram a si mesmos que era um começo, um começo difícil, mas um começo. Que eles encontrariam empregos, sonhos, esperança... e que um dia eles se mudariam para um lugar melhor e seriam cercados por tudo o que quisessem e precisassem. À noite, Jimin pintava um quadro de uma vida melhor, de um futuro melhor, com palavras doces e sonhos sussurrados para seu namorado enquanto eles se deitavam lado a lado. Eram apenas os dois contra o mundo.

Eles se conheceram no último lar de apoio onde Jimin esteve quando tinha quinze anos e Youngjae dezesseis. Jimin entrou no sistema em tenra idade, a última lembrança de seus pais sendo a imagem das costas de sua mãe enquanto ela se afastava dele pela última vez. Mas para Youngjae, era diferente. Ele perdeu os pais aos doze anos de idade, em um acidente de carro que mal havia sobrevivido, e não havia mais ninguém para levá-lo. Quatro anos depois, ele ainda acordava suando frio com os pesadelos do acidente e a imagem dos corpos distorcidos e quebrados de seus pais. 

Quando Jimin se deparou com Youngjae no meio da noite soluçando no banheiro enquanto vomitava, ele o puxou para seus braços e o deixou chorar. A partir de então, eles se tornaram o conforto um do outro. Jimin lutando contra os demônios de Youngjae contando histórias de cavaleiros de armadura brilhante e generais que travaram batalhas ferozes, e Youngjae ajudando Jimin com os valentões e lembrando-o que sempre o desejaria, mesmo que ninguém mais o fizesse. 

Quando Youngjae completou dezoito anos e foi forçado a deixar a casa de grupo, Jimin fugiu com ele no meio da noite, incapaz de vê-lo ir embora.

Os dois primeiros anos foram difíceis, mas suportáveis. Não foi fácil para dois meninos órfãos encontrarem um lugar no mundo que os aceitasse, mas eles eram jovens e apaixonados, tornando até mesmo suas dificuldades românticas em um obstáculo que poderiam superar juntos. 

Youngjae trabalhou em vários turnos como zelador no shopping center local, jardineiro de algumas casas na parte mais rica da cidade e ajudante de garçom no restaurante a algumas quadras. Enquanto isso, Jimin estudava muito para o teste equivalente ao GED e trabalhava nos turnos da noite na loja de conveniência da rua. Eles se contentaram com refeições simples e encontros que eram passeios no parque e cervejas ao lado do rio. Ainda assim, eles eram felizes e não havia problemas. Eles comemoraram quando Jimin passou no teste com um jantar de macarrão e encontraram alegria nos pequenos momentos.

Até o dia em que Youngjae entrou na loja de conveniência, quando foi buscar Jimin, e o viu conversando com o trabalhador que estava assumindo o turno depois dele. Youngjae olhou furiosamente da entrada enquanto Jimin se despedia, e quando chegaram em casa, Youngjae agarrou seu queixo e o beijou bruscamente. Jimin o empurrou surpreso, apenas para levar um tapa severo no rosto. Com um grito de dor, Jimin agarrou sua bochecha ardente e encarou Youngjae, gritando.

O que há de errado com você?

– QUEM ERA ELE, JIMIN?
 
– Do que você está falando...

– O MENINO! O GAROTO PARA QUEM VOCÊ ESTAVA SORRINDO E FLERTANDO!

– Meu colega de trabalho? Eu não estava flertando com ele, estávamos apenas...

– NÃO MINTA PARA MIM! O QUE VOCÊ ESTAVA DIZENDO PARA ELE? – Youngjae havia agarrado os ombros de Jimin com as duas mãos, forte o suficiente para deixar machucados, sacudindo-o enquanto rosnava. – Por que você me afastou, hum? Você gostaria que fosse ele? Agora que você fez o teste, acha que é melhor que eu e não precisa mais de mim? Quer correr para ele agora?
            
Hyung, ele está desistindo do trabalho e nós estávamos rindo porque ele estava me dizendo o quão feliz ele está por se afastar daquele lugar! Foi a primeira vez que troquei mais de cinco palavras com ele em meses!

Youngjae olhou para Jimin, registrando como os olhos do garoto estavam cheios de medo, raiva e mágoa. Sua respiração diminuiu e seu aperto afrouxou quando as lágrimas começaram a se formar em seus próprios olhos.

Sinto muito, Jimin. Sinto muito, querido. Oh meu Deus, sinto muito.

Youngjae acariciou cautelosamente a bochecha de Jimin, ainda vermelha do tapa, antes de cair de joelhos.

Eu fiquei tão assustado. Agora que você tem esse certificado e pode conseguir um emprego melhor e seguir em frente, fiquei com medo de você encontrar outra pessoa e me deixar. Que você não amaria mais alguém como eu. Eu sinto muito. Eu não sei o que aconteceu comigo. Sinto muito.

Jimin se ajoelhou na frente da forma curvada de Youngjae e puxou seu corpo trêmulo para um abraço, semelhante à primeira vez que eles se conheceram.

Você sabe que a única razão pela qual eu recebi esse certificado foi para você, para nós, para que pudéssemos ter uma vida melhor juntos, hyung. Por que eu te deixaria ou pararia de te amar?

– Sinto muito, Jimin. Por favor me perdoe. Isso não vai acontecer novamente. Nunca mais.

E Jimin pensou que, como todas as outras dificuldades, isso os tornariam mais fortes. Sim, foi assustador e ele sentiu dor, mas ele pensou que lutar era natural, especialmente para duas almas quebradas e indesejadas como eles. Isso era algo que eles poderiam superar.

Ele estava errado.

As agressões ficaram mais frequentes e as desculpas, menos. Ele deveria ter saído quando Youngjae o forçou a deixar a loja de conveniência. Ele deveria ter saído quando Youngjae o atingiu pela segunda, terceira e quarta vez. Ele deveria ter se afastado quando Youngjae parou de fazer amor com ele e apenas o fodia.

Mas a cada golpe, as marcas físicas eram refletida em seu coração. E toda vez que Youngjae dizia a ele o quanto o amava e o quanto sentia muito, ele deixava essas palavras convencê-lo de que o amor era assim. Que não iria melhorar, não importa para onde ele fugisse. Que livros e histórias eram apenas isso, ficção, e que sua realidade era essa.

Agora, vendo os olhos sem graça de Youngjae fixos na TV, Jimin não consegue se lembrar da última vez que ouviu as palavras "eu te amo" sair da boca de seu companheiro. Ele não consegue se lembrar da última vez em que foi abraçado com calor ou beijado docemente com carinho. Mas seu corpo lembra de se encolher quando Youngjae se aproxima demais, e seu coração se esforça ao máximo para se proteger quando Youngjae o lembra de que é o único que se importa com alguém inútil como ele.

 – Hyung? – Ele chama suave e cautelosamente. 

Youngjae não faz nenhum sinal de ouvir ou se importar.

Youngjae hyung? A comida está pronta, se você quiser comer.

O esmagamento da lata de cerveja é a única resposta que ele recebe e, com um suspiro, Jimin come sua tigela de arroz rápido e silenciosamente antes de limpar a mesa. Enquanto lava a louça, ouvi passos e então o bater da porta da frente, seguido pelo som distinto da fechadura sendo girada. Jimin encosta os braços na pia e luta contra as lágrimas, convencendo-se de que ele teve sorte de ficar ileso esta noite, que isso é o suficiente.

⊹⊱•⊰⊹

    
Jungkook olha sem vida para a maçã em sua bandeja, sem vontade de fazer nada, muito menos comer o almoço que ele havia comprado inutilmente para si mesmo. Gemendo, ele deixa a cabeça cair na mesa, os dedos coçando para desenhar olhos sorridentes e um sorriso alegre.

– O que há com ele? – Yoongi pergunta quando se senta à mesa da sala de jantar, olhando para a forma desanimada de Jungkook.

– Não sei. Ele tem estado assim o dia todo. – Taehyung responde enquanto dá uma grande mordida em sua fatia de pizza. – Mas acho que tem algo a ver com os olhos.

– Olhos?

– Sim. Existem centenas de pares de olhos por todas as páginas de seu caderno. Acho que ele não anotou nada durante a aula.

Os dois encaram Jungkook, que permanece quieto durante toda conversa. Grunhindo de aborrecimento, Yoongi pega um tufo de cabelo do mais novo e puxa-o, resultando em um grito e um empurrão de Jungkook.

– Garoto, pare de me assustar e me diga por que parece que você comeu merda no café da manhã. O que aconteceu? – Yoongi pergunta

– Não é nada. – Ele murmura enquanto olha para baixo, ainda esfregando a parte de trás da cabeça.

– Se não fosse nada, você não estaria pensando assim. A única outra vez que eu não vi você comer uma bandeja cheia de comida durante uma refeição, foi quando você ficou obcecado com essa dieta estúpida depois de ganhar peso no primeiro ano. E você me prometeu que não faria mais dietas estúpidas, então confesse ou estou dizendo a Jin hyung.

– Isso é jogo baixo, hyung.

– Sim, bem, eu sei que você ouvirá Jin hyung, não importa o que, então não me culpe. O que está acontecendo dentro dessa sua cabeça?

– É só que... eu vi essa pessoa, esse homem que trabalhou na biblioteca ontem, enquanto eu tentava fazer meu trabalho de observação, e não consigo tirá-lo da minha cabeça.

– Você quer dizer o velho? – Taehyung interrompe, confuso.

– Não!
            
– Mas ele foi o único homem que você desenhou nos esboços que entregou hoje.

– Eu... eu não entreguei os esboços dele.

– Aww, Kookie tem uma paixão?

– Cale a boca Tae. Não é uma paixão.

E não é. Pelo menos, Jungkook acha que não é uma paixão. Ele nem conhece o bibliotecário de cabelos pretos. Ele simplesmente... não consegue parar de pensar nele.

– Então por que você está tão obcecado por essa pessoa, Jungkook?

– Eu não sei Yoongi hyung. Apenas... eu quero poder vê-lo e desenhá-lo. Mas não sei se o verei novamente e apenas... quero.

Yoongi olha para Jungkook como se esse fosse burro, e o garoto o olha de volta, dizendo:

– O quê? – Defensivamente.

– Jungkook. Se você quiser vê-lo novamente, volte para a biblioteca. Você disse que ele trabalhava lá. Então ele estará lá novamente em um turno ou outro, não é?

Jungkook abre a boca e fecha novamente como um peixe fora d'água, antes de gritar um suave

– Oh.

– Idiota. – Yoongi resmunga antes de dar uma mordida em seu sanduíche e rolar pelo telefone.

Com um plano em mente, Jungkook sente um sorriso crescer no rosto e dá uma mordida na maçã, sabendo para onde irá depois da última aula do dia.
       
   
  

CONTINUA ☾ ◌ ○ °•
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Tadinho do Jimin, né?
Essa situação acontece na vida real, principalmente com as mulheres. Não acredite em arrependimento, se agrediu uma vez, provavelmente irá fazer de novo e de novo. Não fiquem caladas. Denuncie esses babacas.

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