༆ XXVI

abrindo as portas do puteiro cedo hoje

bom dia, amores

Alyn entrou na vibe shawn mendes, amo

Vinte dias depois.

Já havia se passado algumas semanas, boatos corriam por toda Prythian que Helion estava abatido, totalmente diferente de si mesmo. Os ataques de Velliard estão cada vez mais destruidores e as vilas pequenas estão sendo evacuadas aos poucos. Eu não havia retornado, e nem pretendia.

Eles se saíram muito bem sem mim assim como eu estou indo bem sem eles. Aproveitei os últimos dias para treinar sozinha movimentos que seriam impossíveis de testar dentro de um ringue. Eu estava muito bem escondida em um dos quartos dentro da montanha sagrada, me sentia impura por estar ficando ali, mas era melhor do que dormir no chão. Demorei cinco dias para explorar todos os lugares, o único que faço questão de evitar as vezes é a sala do trono.

O lugar exalava uma energia que me impedia de ficar lá sem ter vontade de vomitar ou chorar. Havia sangue seco no piso e em alguns pontos da parede. Eu conseguia visualizar as cenas que Nyara me contou. Amarantha sentada no trono com os cabelos rubros e uma coroa negra. Enquanto féericos e Grão-Féericos eram espalhados a sua frente, servindo a Grã-Rainha. Precisei me forçar a parar de imaginar quando me vi indo até o trono.

Ficar sozinha foi difícil, mas só depois disso percebi o quanto precisava. Eu era dependente demais de todos. Como tenho muito tempo pra pensar é isso que tenho feito. Penso sobre tudo, principalmente sobre mim mesma.

Chegar a conclusão que o desprezo da minha família me tornou dependente emocional de Renard foi devastador. Eu não podia ser assim. Isso parecia... errado. Renard um dia iria ter a vida dele e eu não estaria inclusa no pacote família.

Todo dia eu exercitava uma parte diferente da minha história. Lidando aos poucos com cada trauma e identificando cara um deles. Foi extremamente difícil lidar com as lembranças, fechando os olhos, respirando fundo e concentrando todo o meu ser nas memórias. Me forçando naquelas memórias.

Todas as seções acabavam comigo chorando ou quase incendiando o quarto, menos a onze noites atrás. Pela primeira vez desde que comecei a fazer isso aceitei os fatos. Não entrei em negação, nem tentei amenizar como faria. Apenas aceitei, sem chorar, mesmo que doa como o inferno.

Estava aproveitando a oportunidade de estar sozinha para me conhecer, para entender todos os lados de mim. Ficar reclusa na minha própria mente e enfrentar cada demônio, um por vez. Todos tem um lado obscuro, feio. Eu não sou diferente, por isso precisei de força de vontade e coragem para olhar aquela parte de minha mente que mantinha no escuro para meu próprio bem.

Quando não estava "pensando" estava tentando encontrar algo para me distrair. E foi numa dessas que vim parar na sala do trono com um esfregão e um balde que achei em um cômodo que descobri ser um armário. Aqui embaixo tem coisas que nunca imaginei, como uma banheira enorme e uma biblioteca, não tão grande quanto as da diurna, mas suficientes. Já tinha lido um dois livros.

Joguei água no chão vendo que o piso um dia foi branco. Puta que pariu, no que eu fui me meter? Desde que cheguei aqui fui discreta, muito discreta. O máximo de barulho que fiz foi quando percebi que tinha eco. Gritei "Vai se foder" bem alto e ecoou por toda a montanha, foi revigorante.

Por que, de repente, eu decidi lavar o salão de sob a montanha? Bom, os corredores são piores do que banheiro de hospedaria de beira de estrada e hoje é, tenho quase certeza, que um dia de folga.

Continuei lavando e esfregando, tinha tirado boa parte da sujeira e sangue, o que era muito mesmo. Olhei para o trono, não sentia a menor vontade de me sentar nele. Era sombrio demais, e não dá forma elegante como o Grão-Senhor da Corte Noturna. Era do tipo que causa arrepios e atormenta seus sonhos. Tinha um trono ao seu lado, pouco parecido com o dela. Talvez o de Tamlin? Soube que ela tinha uma obsessão estranha por ele. Um pouco burra, talvez?

Em algum lugar minha mente gritava "respeito com os mortos", mas eu só conseguia "aquela vadia teve o que merece". Limpei o suor e continuei esfregando. Já tinha terminado metade do salão quando senti meu estômago roncar. Essa era uma parte engraçada, a corte mais próxima é a Crepuscular, e só quando fui numa vila de lá próxima aos limites do meio descobri que havia tido um ataque no dia que descobri o envolvimento de Helion com minha mãe.

E Fellius me manteve ocupada o dia inteiro para não ir junto dos outros. O jantar naquele dia foi cancelado por que iriam me levar para a algum restaurante enquanto uma reunião acontecia. Eu fui expulsa do meu próprio plano de guerra, por Helion e todos os outros. E foi assim que eu parei de chorar por eles.

Eu merecia mais que isso. Nenhum deles poderia ter feito isso comigo, nem mesmo sob a desculpa de "foi para te proteger". Sabia que os exércitos já estavam se preparando e que estavam escolhendo onde será o campo de batalha, Cassian estava a frente de tudo. Dessa vez, Rhys tinha sido pego de surpresa, mas já estava pronto para lidar com isso de cabeça erguida e algo dentro de mim sabia que estava disposto a se sacrificar novamente se for necessário. Espero que não.

Soube que as coisas na corte outonal estão horríveis. Eris aparentemente aproveitou a fuga de nossa mãe e fugiu também. Beron, ignner, Orion e Urie estão pagando seus pecados nas mãos dos soldados. Não consigo sentir nada a respeito disso, nem empatia, nem gratificação. Nada.

Ao passar dos dias fui entendendo que as memórias só poderiam me destruir se eu desse a elas o poder de me destruir. Eu decido o que me destrói. E apenas eu posso fazer isso.

Renard. Fellius. Helion. Darren. Todos eles tomavam decisões por mim, decidindo por mim o que iria me afetar ou não, e isso em si me afetava bastante. A privação de escolha própria. Usava roupas que escolhiam para mim, treinava da forma que eles escolhiam, aprendia apenas o que eles queriam que eu aprendesse. Isso não é ser livre, isso é ser controlada.

E precisei fugir para perceber o quão ruim isso estava se tornando. Em algum momento me perdi em pensamentos e acabei escorregando no chão com produtos de limpeza e água, molhando a roupa que eu havia conseguido comprar. Um vestido branco de amarrar atrás do pescoço aberto nas costas até a base da coluna, um pouco curto para os padrões, mas perfeito para mim. Havia comprado uma camisa masculina grande para dormir também.

Meus cabelos já estavam indo até o meio das minhas costas, me surpreendeu a rapidez que cresceu. Daqui a pouco vai estar do mesmo tamanho que antes. Tentei me levantar, mas acabei indo parar no chão novamente. Gargalhei das minhas tentativas falhas de levantar. Olhei ao redor e vi uma pilastra, me arrastei até lá e consegui levantar me apoiando nela. Olhei para mim mesma e percebi que meu vestido inteiro molhou, assim como meus cabelos e tinha um hematoma esverdeado aparecendo em meu joelho.

Olhei ao redor me perguntando quais as chances de invadirem esse lugar enquanto tomo um banho. Por garantia joguei glamour pelo salão deixando parecido com o que era antes, então se alguém entrar não vai ver nada diferente. Ouvi passos pesados no corredor e sorri para mim mesma, meu companheiro dos últimos dias chegou de sua caçada.

Sabia que era um grifo, mas estava sem suas asas. Quando entrei ele estava preso em uma imensa gaiola nas profundezas da montanha, depois de libertar ele não continuei minha exploração por aquela parte, não depois de ver a sombra de uma enorme criatura silenciosa na penumbra. Ele me seguiu até a saída e desde então tem me trazido algumas carnes, e aparentemente hoje ele trouxe peixe. Onde ele consegue? Eu não sei, até onde sei não existem lagos ou córregos limpos por essas bandas.

Cabeça de águia, corpo de felino e asas de pássaro. Suas asas deveriam ter sido lindas.

— Não, não, não. — Digo tentando ir até ele sem escorregar novamente. — Pra fora, você tá sujo e eu tô lavando. — O animal me olhou e inclinou a cabeça. Alguns peixes em sua boca. — Fica no corredor enquanto eu chego aí.

Ele me ignorou e sentou no meio do salão. Lhe encarei com tédio e fui até ele. Tentei empurrar seu enorme corpo para fora, mas era inútil. Ele me olhava como se entendesse o que eu estava tentando fazer e falhando, desdenhando.

— Sua galinha gigante, vá para fora! — Grunhi. Era sempre assim, ele só iria me obedecer quando bem entendesse. — Eu juro que se você não sair o jantar de hoje vai ser você! — Ameaço e o mesmo se levanta me encarando de cima. Sim, o grifo é mais alto que eu pouca coisa. — Não me olha assim. — Resmunguei sob seu olhar julgador. — Vai dormir no corredor pra deixar de ser assim.

E fácil assim ele começou a sair. Ele gosta de dormir comigo. Sim, eu estou sozinha e dormindo com um grifo num quarto dentro de Sob a Montanha, local onde havia acontecido uma das maiores tragédias de Prythian. Talvez eu fosse presa por isso, já que vi alguns guardas andando por aí. Acho que agora é ilegal vir até aqui. Pena.

Olhei ao redor vendo metade do salão limpo e brilhando e outra suja e nojenta. Terminaria isso outro dia, está na hora do almoço.

— Volta aqui com os peixes!

[...]

Continuei andando calmamente ao lado de Shelly, o nome que estou chamando o grifo. Ele não gostou, mas ao menos atende quando o chamo. Havia pedido que ele me levasse até o lago onde pegou os peixes, aparentemente ele entendeu.

As árvores ao nosso redor são antigas e guardam segredos, existem lendas que a Tecelã perseguia suas presas por esses bosques e nem mesmo Amarantha a confrontou. Hybern havia lhe matado durante a guerra. Assim como seu irmão, o Entalhador de ossos. Quero passar bem longe de seu chalé, vai que a alma dela ainda está aterrorizando quem entra em seu santuário. Deus me livre.

Graças ao feitiço estou podendo sair sem ser vista, se bem que ficar passeando pela floresta não é exatamente sair, mas já é alguma coisa. Nos últimos 20 dias eu já fiz tudo que poderia querer, e estou aproveitando a paz que me permiti. Ajudei a defender algumas cidades próximas quando houve ataque de Vallahan, na última vez Cassian me cumprimentou com um acena e um sorriso triste antes que eu atravessasse de volta.

Conforme andávamos mais dentro da maga densa íamos, estava quase desistindo quando me surpreendi ao parar em frente a um lago com cachoeira, a água jorrando de dentro da montanha. A água cristalina dando ao local o ar intocado. Ninguém deveria saber daquele lugar, não havia local para colocar tochas ou velas, era só natureza pura e bela. Ao me aproximar me assustei ao sentir a areia úmida em contato com meus pés descalços. Era fofinha e estranhamente agradável.

Fui para mais perto e mergulhei meu pé na água sentindo os pelos de meu corpo se arrepiando. Sorri para mim mesma e olhei ao redor, vendo Shelly se deitando na grama perto de onde viemos. Olhei para cima vendo que a vegetação cobria boa parte permitindo a entrada de poucos raios de sol da tarde criando um ambiente aconchegante e privado.

Dei de ombros e arranquei meu vestido, não ligando por não estar usando nada por baixo e entrando no lago. Meus mamilos rígidos por conta do frio me fizeram quase rir. Os peixes nadavam ao meu redor quando cheguei a metade do lago. A água já um pouco acima da linha de minha cintura. Quando fomos ao oásis perto do palácio eu tinha usado um maiô que impedia a visão de minhas costas, agora estou nadando nua num lago escondido num lugar quase maldito.

Minha vida tinha dado uma virada que eu aos poucos estava aprendendo a lidar. Eu tinha tirado um peso dos meus ombros que não sabia que tinha. Não joguei minhas responsabilidades nas mãos de ninguém, eles não queriam me excluir e fazer tudo? Ótimo, eu mesma os deixei para fazer tudo. Está nas mãos deles agora, eu tentei ajudar, não posso exigir de mim o que eles querem, se não fui suficiente problema deles.

Me esforcei para caber dentro de cada caixinha que me colocaram, mas estava na hora de por um ponto final nisso. Eu defino meu limite, e definitivamente não consigo ver aquela linha que ficada muito próxima quase sendo cruzada todas as vezes que tentava fazer algo. Meus poderes estavam sob controle, o meu controle. Eu finalmente estou no controle de mim mesma e não vou abrir mão disso.

Chega de comparações, chega de revoltas, mágoas e raiva explosiva, era hora de um basta. Não vou mentir dizendo que não estou nem um pouco abalado ainda com o que aconteceu, mas nada vai mudar o passado e não podemos deixar ele definir meu futuro. Tenho traumas, inseguranças, problemas, e tudo bem. Ninguém é perfeito, podem parecer, mas não são.

Renard me magoou, assim como eu já fiz várias vezes. Nós dois estamos errados na forma como agimos, somos muito emotivos e isso nos torna um pouco infantis sim. Ser chamada de criança e ser tratada como uma me fez agir como uma — não que ele estivesse certo em fazer o que fez —, mas confiei minha vida a ele por um século e duas décadas e ele cumpriu sua promessa de me proteger não importa o que aconteça. A coisa que temos que fazer é sentar e conversar como adultos, porque querendo ou não é isso que somos. Tenho cento e vinte três anos na cara e apesar do jeito idiota sei quando falar sério.

Não sou menina, não sou garota, sou mulher. Está na hora de mostrar — não provar, — que sou forte suficiente para lutar minhas próprias lutas. Me resolver com minha mãe e meu irmão é importante para minha paz de espírito, me resolver com Renard é importante para o meu ser. Somos dois lados opostos da mesma moeda. E acima de tudo, somos irmãos. Se posso perdoar Lucien, posso perdoar Renard.

Mas ainda não. Preciso de mais tempo para mim, ainda tenho questões que precisam se resolver. Não pretendo voltar para lá tão cedo, não até eles precisarem de mim. Não vou voltar para ser apenas um estorvo. Esse é o meu momento. Me redescobrir e me conhecer de verdade, lidar com os problemas dentro de mim. Voltar agora só faria com que todo esse tempo aqui tenha sido inútil. Eles precisam aprender a não me tratarem como um bebê e eu preciso aprender a não tentar quebrar os pescoços deles por isso.

Depois do que pareceram horas saí da água vendo meus dedos enrugados. Peguei meu vestido jogado na areia e vesti, me aproximei de Shelly e me deitei ao seu lado, colocando a cabeça em sua barriga peluda. Observei as árvores ao nosso redor balançando graciosamente com o vento. O som da floresta tão familiar para mim, das criaturas que por ali passam. Mas foi quando o silêncio se fez que fiquei em alerta.

A floresta nunca se cala a menos que um predador esteja por perto. Olhei para o grifo e vi que estava em alerta também. Acariciei sua cabeça e o mesmo tentou bicar minha mão. Lhe olhei feio e levantei olhando ao redor. Meus cabelos molhados pingando ruidosamente na grama. Enrolei os mesmos e prendi no alto da cabeça. Fui até uma brecha entre as folhagens e me escondi, vendo os féericos que guardam a montanha sagrada em sua ronda. Soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo assim que sumiram de vista.

Olhei para Shelly e fiz sinal para irmos embora. Chega de passeios por hoje. E me forcei a lembrar o caminho inteiro de colocar um feitiço na entrada da montanha, não estou afim de surpresas. Viver escondida é um saco, mas a paz faz valer a pena. Fiz a imensa criatura se deitar no pé da cama improvisada e me enfiei nos lençóis. Graças a Deus eu havia achado um armário com vários deles.

Shelly iria deitar ao meu lado durante a madrugada e sairia de manhã para caçar enquanto fico e continuo com minha rotina de treino mental e físico. Não podia parar os treinos por estar longe de todos, a guerra continuava próxima e eu irei lutar contra Velliard com todo meu ser. Até lá, vou aproveitar o novo paraíso descoberto e cuidar de mim mesma. Aquela versão antiga não existe mais, e é melhor que ninguém tente trazê-la de volta, ou a coisa vai ficar feia.

Agora só resta esperar o momento certo e ter paciência. Enquanto isso posso imaginar formas bem criativas de ferir Velliard e Milliken. Chegou a hora de entrar de cabeça no jogo de Velliard, e eu não iria perder.

Nem que isso custe minha vida.

quem amou a versão Tô bem, tô zen da Alyn? Logo avisando que não vai durar muito, pq oq essa mulher tem de linda tem de determinada, pena de quem contrariar ela agora

Ela tem o poder, meus anjos

quem amou o Shelly? Me pediram dragão, mas enfiei um grifo pq sim, eu hein

a autora está em #pas

sem comentários, no aguardo dos próximos capítulos q não sei qnd vão sair sinceramente

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