Capítulo 5- ༄𝐶𝑎𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝑃𝑒𝑑𝑟𝑎

em meio a tantas turbulências, um momento feliz

abertura de nova casa e atualização

veio aí amores

117 anos atrás. Corte Outonal.

A pequena menininha ruiva se debruçou sobre o peitoril da janela. As grades impediam que pudesse cair ou fugir. Os grandes olhos azuis se arregalaram ao observar o pequeno ser que ultrapassava os limites das barras de ferro.

As asas da borboleta tingidas de laranja e listras pretas. A menininha pulou da janela, o sorriso banguela iluminando o rosto coberto de sujeira. O vestido uma vez branco oscilou sob a luz do sol que entrava pelas janelas.

— Renard, olha! — Disse com a voz doce e fina, apontado com o dedo fino para o inseto que agora pousava sobre o lençol da cama de feno.

Estou vendo, querida. — devolveu a raposa pelo laço que unia os dois. Os olhos atentos a cada movimento da pequena que corria atrás do inseto de asas bonitas. Poderia estar sorrindo se pudesse sorrir.

Os olhos da menina se arregalaram quando a borboleta pousou em seu braço. Os pequenos dedos coçando para tocá-la. Alyn nunca havia visto uma tão de perto que não estivesse morta. Renard levantou-se da cama e caminhou graciosamente até a menininha, as garras arranhando levemente o piso de pedra da cela.

— Ela é linda... — A doce voz da criança ecoou baixinho, como um sussurro do vento.

Sim, você tem razão. — A raposa respondeu, a voz amigável para se dirigir a Alyn. — Mas nem sempre ela foi assim.

— Como assim? — Perguntou baixinho, com medo de assustar a pequenina criatura que pousava em si.

Borboletas antes de se tornarem borboletas passam por diversas fases, provações, até que consigam se libertar do casulo e imergir com coloridas asas. — Explica, se deitando aos pés da menina. Alyn inclina a cabeça, pensando sobre as palavras do amigo.

— Então eu sou uma borboleta? — Renard a observou confuso, enquanto a ruivinha apenas franzia a testa em confusão.

Explique-me como. — A raposa pediu, e logo a menina tomou fôlego para explicar seus pensamentos. Ainda se acostumava a conversar com o animal e estranhava tal fato.

— Mamãe me disse que eu iria ter de ser forte, que eu enfrentaria coisas aqui e que acredita que um dia eu conseguiria sair e me tornar uma fêmea forte. — Tagarelou sem mover um músculo, a borboleta entretanto não se importou e levantou voo, em direção a janela. — Ei!

Sua linha de raciocínio é impressionante, devo admitir. — Renard enviou-lhe enquanto a menina corria novamente para a janela, por onde inseto se ia novamente. Os raios de sol iluminando os cabelos de Alyn assim como ilumina a floresta. Vermelho e dourado como rubis e ouro. A folhagem do Outono. As penas de um pássaro vermelho que cruza os céus. O por do sol quando o dia se encerra.

Os cabelos de uma criança que perderia aquela inocência infantil. Alyn talvez se tornasse algo pior que os irmãos e o pai. Poderia se tornar o monstro que eles criaram, e então um dia matá-los por todo o sofrimento que lhe impuseram. Mas Renard não acreditava nisso. Olhando para aquela menina observando da janela a borboleta se afastando enfim percebeu qual de fato era sua missão.

Deveria proteger aquela inocência. Proteger o último suspiro de bondade daquele lugar. Ele sabia que ela estava destinada a ser grande. Destinada a lutar pelo seu povo. E Renard ficaria ao seu lado até lá.

Atualmente. Corte Outonal.

As sombras rodopiavam ao redor de Alyn, haviam ouvido de sombras que ouviram de outras sombras que ouviram do seu encantador que aquela fêmea agora esticada no chão da cela escura é a parceira do mestre espião da Corte Noturna.

Pequenos sussurros ao vento, entretando não poderiam cuidar da enorme ferida nas costas da fêmea. Sangue molhava o chão, cobrindo as pedras com o líquido escarlate assim como a pele da Grã-Féerica. O veneno féerico corria nas veias de Alyn, não tão forte como o esperado por Kol e Velliard.

A fêmea havia sido torturada por dias, mas não havia dito nada sobre os planos dos Grão-Senhores. Mesmo quando Velliard derramou álcool sobre suas costas e seus gritos ecoaram pela floresta da corte. O único sinal de que ainda estava viva, depois de quase oito dias inteiros tendos os limites testados. As correntes contendo seus poderes até que os malditos venenos começassem a serem injetados.

Oito dias. Oito malditos dias sendo torturada. As costas em carne viva, os poderes enclausurados dentro de si mesma. A mente destroçada. Velliard havia retirado toda e qualquer energia que a fêmea poderia usar.

Kol Barrwod era um excelente alquimista, além de ser o terceiro no comando dos exércitos, abaixo apenas de Velliard e sua irmã, Joen. Isso todos deveriam reconhecer. O mesmo havia desenvolvido a nova fórmula de faebane. Mais forte. Mais potente. Mais perigoso.

Precisou de oito dias para conseguir o efeito que queria. O efeito que Hybern demorou anos para alcançar e que ele havia, não só conseguido em menos tempo, mas também com mais potência. Sem efeitos colaterais. Sem gosto. E capaz de não só retirar os poderes de um Grão-Féerico, mas também como neutraliza toda e qualquer força do corpo. Tornando aquele que o ingere nada além de um corpo incapaz de se mover temporariamente.

E era por isso que Alyn ainda não acordara do desmaio do dia anterior. A ferida não se curava, o corpo não suportava a dor. Então ela continuava imersa na dor, delirando desmaiada. Podia jurar que Azriel estava ao seu lado. Que Renard segurava sua mão entre as patas de raposa, assim como fizera por anos. Sentia os carinhos de Darren em seus cabelos, e os dedos gelados de Fellius tocando sua bochecha.

Mas não era real. Não poderia ser. Não enquanto ela estivesse ali, no estado de quase morte desmaiada numa poça de seu próprio sangue. Dois dias depois das torturas começarem, Alyn havia desmaiado por horas. O resquício de poder que sobrara lançando suas lembranças da sessão com Kol para dentro de sua própria alma, numa tentativa desesperada de apagar de sua mente o quão aquilo estava lhe afetando.

Não admitiria nem sob tortura, assim como não o fez. Alyn seria orgulhosa até o dia de sua morte. Geniosa demais. Isso era sua benção e sua maldição. Não se curvaria para ninguém, nem príncipe, nem Grão-Senhor. Não devia lealdade a ninguém além daqueles que estiveram ao seu lado e a acolheram em suas vidas.

A porta da cela se abriu, a silhueta escura apareceu sob a soleira. As sombras ao redor de Alyn recuaram, como se a presença do ser as afastasse.

— Está viva? — Perguntou, para alguém atrás de si. Um passo foi dado para dentro da cela, a mão coberta por uma luva de couro logo cobrindo o nariz e a boca.

— Esse cheiro não é dela. — Velliard respondeu, seguindo para o interior do cômodo. A lamparina em sua mão tremeluziu e iluminou o lugar e a razão para o mau cheiro.

O cadáver de Urie.

— Esse é o cadáver de Beron?! — Perguntou olhando seriamente para Velliard. O rei sorriu de modo perverso, como se lembrasse do Grão-Senhor da Corte Outonal. O velho que lhe ajudou indiretamente a invadir Prythian pela porta da frente, como nem Amarantha havia feito.

— Infelizmente, para você, não. — O macho respondeu, os passos firmes vacilaram quando quase escorregou na possa de sangue ao redor do corpo de Alyn. Alguns vermes do corpo em decomposição se arriscavam tentando chegar até a Grã-Féerica. — Urie Vanserra, quinto filho de Beron. A parceira conseguiu fugir graças aos amiguinhos de Alyn.

— Eles não teriam conseguido se você não fosse tão incompetente. — Retrucou com um sorriso felino. Os olhos brilharam quando viu aquela veia pulsando na testa de Velliard. — Alyn é mais inteligente e forte que todos aqui, é bom que você saiba que ela só não queimou tudo por ser tão... — Pausou, procurando a palavra certa. — Inocente, digamos assim.

— Cuidado com as palavras, demônio. — O rosnado do príncipe arrancou uma risada seca do ser. Com um movimento de mãos Velliard foi erguido pelas mãos invisíveis. E simples assim, Velliard não passava de um fantoche. Um peão dentro de um tabuleiro maior que Prythian e este mundo.

— Coloque-se no seu lugar, verme. — Os dentes brilharam sob a luz da luminária que Velliard agora apertava entre os dedos. — Você pode ser o príncipe aqui, mas lá fora eu sou uma rainha. Não esqueça que se chegou até aqui com esse seu planinho mixuruca foi graças a mim e ao meu exército.

— Eu não pedi sua ajuda, você a ofereceu. Pouco me importa se você é rainha ou a porra de um fantasma, é um demônio. — Grunhiu por entre os dentes. 

— Agradeça aos seus deuses hoje a noite, por que se você soubesse o quanto estou querendo te matar não conseguiria sequer fechar os olhos. E seria uma pena se eu decidisse que você não é mais útil.

A ameaça pairou entre eles. Assim como o corpo da fêmea, que se erguia sobre uma parede de escuridão. Os seios cobertos apenas por um sutiã que um dia fora rosa claro, assim como as partes íntimas com a pecinha de renda da mesma cor. Ambas sujas de sangue. Sangue que agora começava a coagular, com a graça dos deuses.

O efeito do veneno começava a passar. Depois de quase oito horas com ele no organismo. Velliard também percebeu, e isso o deixou intrigado. O veneno havia sido aplicado em Eris e Lucien assim que fez efeito em Alyn, e os dois sequer conseguiram absorver o veneno antes de desmaiarem. A rainha começava a curar cada arranhão na pele maculada, a magia féerica fechando cada mínimo corte.

Mas isso não estava certo. O faebane havia praticamente imobilizado ela, o efeito deveria ser mais duradouro. O organismo da rainha deveria estar inerte e sem poderes ainda. Principalmente pela quantidade que lhe foi aplicada.

— Que porra vocês fizeram de errado?! — Perguntou libertando Velliard do aperto. O príncipe tossiu e massageou o pescoço, lançando um olhar de ódio para o demônio respondeu.

— Nada, o veneno estava agindo com força total. Kol aplicou uma dose extra, para garantir que faria efeito duplo. — Explicou, o príncipe se ajoelhou ao lado da fêmea no chão. Os cabelos ruivos sujos de sangue e espalhados pelo piso de pedra sujo. — Ela deveria estar quase morta.

— Sim, por que foi isso que eu ordenei que vocês fizessem. — Rosnou de volta, as mãos massagearam as próprias têmporas. O cenho se franziu tentando pensar de que forma aquela fêmea a sua frente havia conseguido burlar os efeitos do veneno.

Enquanto uma boa parte dos poderes de Alyn se dirigia para a região onde mais havia sido afetada durante as torturas, o sangue em suas veias queimava com fogo e algo a mais. O calor natural de seu corpo começava a se elevar, lutando contra algo dentro de si. As sombras se encolheram nos cantos mais escuros da cela, o demônio se afastando.

— Os poderes dela... Porra...— Velliard sussurrou. — Porra, porra... Porra! — Gritou se colocando de pé, o demônio não pensou duas vezes antes de sair da cela, o príncipe em seu encalço. O tempo que a porta bateu em suas costas, o grito feminino foi ouvido por todo o castelo.

Pássaros surgiram das árvores, assustados com o som animalesco e primitivo. Guardas correram para a entrada da cela, observando a porta de madeira incandescer. Laranja como o por do sol e a marca registrada dos Vanserra. A cor que Alyn usou no dia em que conheceu o príncipe.

A fêmea gritou novamente, e logo Kol e Joen chegaram, o demônio gritava ordens aos guardas e logo desapareceu nas escadas, não sem lançar um último olhar de aviso a Velliard. Ela o mataria se Alyn Vanserra morresse.

Alyn gritou. A fêmea sentia os ossos queimando. O gosto de cinzas em sua boca, como se tivesse engolido as brasas de uma fogueira. A garganta queimando em agonia. Os pensamentos desordenados, lembranças correndo soltas por sua mente.

Os olhos se abriram, duas esferas de fogo incandescente no lugar das íris azuis. A rainha sentia cada gota de seu poder transbordar os limites se sua pele. Fogo lambendo suas feridas. Os antigos feitiços de contenção encravados nas paredes sussurraram perante a explosão de poder.

Com cuidado, Alyn apoiou ambas as mãos no chão, se impulsionando para cima. Os dedos molhados com o próprio sangue, as unhas afundando no chão de pedra. Uma dor atravessou seu corpo ao mover as pernas, diretamente naquele lugar onde agora só se via carne e sangue e nervos.

O grito gutural estremeceu os ossos dos sentinelas do lado de fora. Todos com as espadas levantadas, assim como as arbalest apontadas para a porta. Esperando o momento em que a fêmea iria surgir e eliminá-los um a um, assim como havia feito em Vallahan e na Corte invernal.

Fogo dourado explodiu uma segunda vez. Os soldados deram um passo para trás, erguendo os escudos como se esperassem que um dragão cuspindo fogo surgisse. A porta a essa altura não passava de carvão e destroços.

Alyn viu sua chance de sair, mas para isso precisava concentrar. As palavras se embaraçado em sua mente. Sinto muito. Me desculpe. Me desculpe. Eu sinto muito. Não sabia de onde vinham os sussurros. E isso não importava.

Seu corpo inteiro parecia se partir a cada tentativa de levantar. Mas ela não desistia, mesmo com a magia ao seu exigindo cada gota de força. Então, como um último grito Alyn se ergueu sobre os braços trêmulos. As cicatrizes em suas costas escorreram, sangue deslizando para sua barriga e pingando no piso.

O líquido escarlate se aquecia sobre a pele da fêmea. As feridas não existiam mais, nada além do monte de cortes nas costas. Cortes esses que se cobriam com o fogo dourado, como se as próprias chamas tivessem vida.

As pernas vacilaram, a cabeça girou e Alyn se forçou a ficar firme. Não conseguia ouvir os pensamentos dos guardas e sentinelas, como se suas mentes estivessem presas dentro dos escudos mentais escuros e impenetráveis.

A rainha se virou com cuidado para a porta, os braços estendidos a frente do corpo prontos para lhe amparar caso caísse novamente, as pernas tremendo e a cabeça inclinada, analisando o que era aquilo a sua frente.

Beron.

Ou melhor, a cabeça de Beron. Ali, guardada num compartimento de vidro acima da porta, como uma espécie de altar. Os olhos castanhos odiosos encarando a filha com o mesmo nojo e desprezo de quando esteve em vida. Lágrimas grossas escorreram por seu rosto e mais um grito se foi ouvido.

Aquilo era um pesadelo. Tinha de ser. Estava presa dentro da cela, com uma parte do cadáver de Beron lhe encarando da mesma forma que sempre a encarou. Vendo ela se mostrar a fêmea que ele sempre alegou que era. Uma besta.

Uma besta que deveria ter sido mantida presa, escondida de tudo e todos, que nem mesmo os surieis saberiam de sua existência. Por que não importa quantas coisas boas a rainha faça, isso não apagaria o rastro de sangue deixado por onde passou.

Corte Diurna. Corte Estival. Corte Invernal. Corte Crepuscular. Vallahan. Seria sempre assim. Mortes e mais mortes, sangue de inocentes e culpados respingando em suas mãos. Não importa de que lado ela esteja, ela vai ser a causadora de tudo.

Os ataques não teriam ocorrido se tivesse se entregado. As mortes dos soldados de Vallahan pouco importaram para Velliard. Tudo fora em vão. Ela havia matado milhares, por nada. Por que agora, nada disso importava.

Por que Alyn estava encarando seu próprio destino. Ela merecia morrer como Beron, como o monstro que havia se tornado. Quando ela havia deixado de chorar pelas mortes que causou?! Quando ela havia decidido que estava livre dos julgamentos e da culpa?!

Ela não poderia se livrar daquilo. Não, não enquanto estivesse sob a mercê de Velliard. Não quando seus poderes retornaram descontrolados demais. Impossíveis de conter. E ela não queria conter.

Não queria trancar aquele fogo dentro de si novamente. Mas o que deveria fazer?! Incendiar a Corte Outonal e acabar matando ainda mais gente. Não seria burra a ponto de achar que Velliard ou Milliken ficariam esperando o fogo atingir todos os lados do castelo para morrerem queimados. Mil pensamentos invadiram sua mente.

Tem que fugir.

Encare Beron.

Você é um monstro.

Não merece nem Renard, nem Azriel.

É sua culpa.

Não. Saia.

Fique.

É sua culpa.

É sua culpa.

Esse é o seu destino.

As paredes da cela estremeceram e a pedras caíram do teto quando Alyn desabou de joelhos, fogo explodindo de seu corpo e varrendo tudo em seu caminho. O ar escapou dos pulmões da fêmea, as mãos voaram para o pescoço desesperada.

Não conseguia respirar. Não conseguia respirar. Precisava respirar, mas não conseguia. O calor em suas veias se intensificou, o veneno e o fogo lutando para tomar o controle. Um a mataria, um a salvaria.

Não tinha controle.

Ela não havia perdido. Não se pode perder algo que nunca se teve. Controle nunca esteve ao lado de Alyn. E aquela não era a primeira, nem a última vez que percebia isso.

A fêmea se curvou para a frente, puxando ar entre os dentes na tentativa desesperada de levar ar aos pulmões. O fogo ao seu redor se intensificando, sugando, puxando, pegando todas as energias do seu corpo.

A visão embaçou, Alyn não soube se eram lágrimas de desespero ou de medo. Os dois? Estaria morrendo? Havia sobrevivo aos anos de tortura para morrer com os próprios poderes? Que ela seria a responsável pela própria morta já se sabia, mas não imaginava dessa forma.

Não, ela tinha pessoas. Uma família. Ela não queria isso. Alyn nunca quis nada disso. Só queria amor. Velliard era culpado disso, não ela. Milliken, Beron, Eris. Eu não, repetiu para si mesma em pensamento.

Precisa acreditar nisso. Se acalmar. Retomar o controle. Tinha que fugir dali, tinha que sair. Agora. Não teria outra chance.

Vamos, Alyn, levante. Implorou para si mesma, presa na própria mente. Por favor, levante. Seu choro ecoou, as unhas apertando o pescoço fino e pálido a procura de ar. Levante, levante, levante. Saia daí. Nos tire daí.

Não consigo.
  Não consigo.
     Não consigo.
       Não consigo.
          Não consigo.

Os guardas baixaram as espadas, mas não os escudos. Milliken surgiu das escadarias, o rosto coberto com a máscara fria e sombria da princesa de Vallahan, aquela que havia sido treinada pela própria Amarantha e pelo rei para ser a próxima general de Hybern.

O irmão não se intimidou quando a fêmea parou em sua frente, os olhos fixos na porta que resistia as investidas de poder de Alyn. Até mesmo as paredes começavam a ceder, e a porta continuava no mesmo lugar, quebrada, queimada e destruída, mas presa nas esquadrias. A outonal possuía um ótimo marceneiro.

— É melhor que Alyn esteja desmaiada, ou eu juro por todos os deuses deste mundo, Velliard Narttu, que eu deixo que ela faça o que quiser com você. — Ameaçou, sem se importar com os soldados assistindo. Não era novidade para nenhum deles que quem comandava o príncipe era a princesa e ela. O demônio valg que mantinha Velliard na coleira, como um bom cachorrinho.

— Não me ameace, Milliken.

— Não cometa erros, Velliard. — Alertou por fim, os olhos de um azul cinzento como o céu antes de uma tempestade Velliard poderia ser macho, poderia ser o herdeiro dos tronos, mas era Milliken quem tinha o poder. Quem fazia o trabalho sujo. Aquela que se encarregava de exterminar as ameaças ao reinado do irmão pessoalmente.

Era por isso que estava ali. Alyn Vanserra agora era a porra da maior ameaça tanto para Velliard quanto para seus próprios planos. E pouco importava o que aquele demônio dizia, Milliken mataria Alyn. Ponto.

Enviariam o corpo dentro de uma caixa de sapatos, diretamente para a Corte Noturna. Para o parceiro dela. Seria uma pena que não pudessem ver a expressão no rosto do mestre espião ao encarar os restos destroçados da parceira dentro da porra de uma caixa.

Com passos rápidos a fêmea se aproximou da entrada, sendo seguida pelos generais, Joen e Kol. Ergueu uma mão na direção dos dois ao sentir os tremores diminuírem. Todos se entre olharam e Milliken avançou.

Os pensamentos haviam desaparecido, assim como o ar. Alyn não conseguira lutar contra si mesma. Havia perdido não só o controle, dessa vez pagaria um preço caro por isso. O sangue em suas veias queimava, não com seu fogo. Com o veneno féerico, aquele que Kol havia aplicado em seu pescoço e que agora tirava todos os seus sentidos.

Um chute foi desferido na porta, que não resistiu e caiu. Poeira subiu assim que a madeira queimada se chocou contra o chão.

— Vocês deixaram ela livre?! — Gritou, virando o rosto para os soldados. — Que porra vocês tem na cabeça?!

— Milliken, pare de gritar. — Joen alertou, passando pela princesa e entrando na cela. — Puta que pariu. Entrem.

A fêmea correu até o lado do corpo de Alyn, jogado no chão. A pele incandescente como brasa brilhando no centro dos destroços e restos queimados. Sangue escorria de seu nariz e costas. A imensa ferida se recusando a fechar.

Com cuidado, Joen segurou Alyn, sentindo sua própria pele reclamar do contato com a Grã-Féerica. Olhando ao redor, viu Kol se aproximando, três guardas o seguiam com luvas de couro grossas.

— Tire o cadáver da banheira e coloque pra encher, agora! — Ordenou o macho se abaixando ao lado da irmã. Cautelosamente analisou a fêmea desacordada, pressionando os dedos no pulso da mesma. Um suspiro espantado o escapou: — Está viva.

— Não por muito tempo. — Os irmãos olharam para a princesa que entrava no lugar, a espada nas mãos habilidosas. — Saiam daqui.

— Enlouqueceu?! — Joen se colocou de pé com um pulo. Milliken não podia matar Alyn, não agora.

— Estou mais lúcida do que vocês, aparentemente. — Disse, a voz desdenhosa observando os generais. — Ela tem que morrer.

— Já estamos em guerra, se matarmos ela, aquele demônio que você e o seu querido irmão se aliaram vai matar todos nós. Eles vencem. — Kol pegou suas próprias luvas e segurou Alyn pelos braços, com cuidado a levantou no chão. O corpo mole e enfraquecido pendendo para a frente, mesmo seguro pelas mãos do general. Joen continuou: — Por alguma razão, aquela criatura quer Alyn viva. Não estamos em Vallahan, princesa, aqui os acordos tem preços altos.

— Ponha-se no seu lugar, Joen. Podemos não estar em Vallahan, mas eu continuo sendo sua princesa.

— Não me venha com porra de hierarquia agora! — A general devolveu, os olhos verdes brilhando com fúria.

— Quem vai me explicar o que aconteceu aqui? — Os três encararam a figura na porta, os olhos brilhando naquele tom obsidiana. A pele pálida sob o vestido lilás. Nunca cores escuras.

— Não sabemos ainda, aparentemente um surto de poder, mas pela posição que ela foi encontrada posso dizer que estava consciente e acordada. — Kol foi o primeiro a falar. Um dos soldados parou ao lado do general e acenou para a banheira, os outros dois vieram logo em seguida, segurando os braços e pernas da fêmea com cuidado.

— E podem me dizer como ela conseguiu se mover, se obviamente o veneno ainda está fazendo efeito nos irmãos dela? — Perguntou, a voz perigosamente calma. Aquela calma nunca era coisa boa, conheceram fêmeas e machos poderosos o suficiente para saberem que calma em situações como está não é nada além de uma armadilha para tolos.

— Suponho, que meus guardas não tenham acreditado que o efeito acabaria tão rápido. — Joen justificou, lançando um olhar severo para Milliken. A fêmea havia sido encarregada de avisar Eridion para fazê-lo, mas aparentemente havia se esquecido. Olha, que conveniente.

— Não estou com paciência para suas desculpas hoje, quero Alyn presa por correntes hybernianas na sala central. Sem mais torturas. — Ordenou, passando pelos irmãos e indo até a banheira, onde colocavam o corpo da fêmea. Um grito ecoou a cela quando a pele superaquecida entrou em contato com a água. O demônio se virou irado para os irmãos, os soldados paralisados de medo ainda segurando o corpo inerte da fêmea sobre a banheira.— Que porra é essa?!

— Ela está morrendo, o fogo vai consumir a própria pele tentando lutar contra o veneno. — Kol explicou, o rosto sério e inexpressivo. Cruzou os braços para trás de si, como um bom soldado quando a criatura rastejou até sua frente..

— Aquela fêmea tem o fogo dos deuses em suas veias, aquilo não está lutando contra o seu veneno. Está absorvendo. Alyn não está morrendo, pelo contrário.

— Isso só pode ser piada. — Milliken grunhiu para ninguém em especial. — Temos que matá-la, ela está ficando cada vez mais forte. Tem noção disso? Pra que ela chegue no nível de poder dos Grão-Senhores de corte noturna é um piscar de olhos. —  Com um movimento rápido, girou a espada, mas antes que alcançasse Alyn uma parede de escuridão se ergueu em sua frente.

Ninguém toca nela. — O demônio respondeu, com um sorriso felino esculpido nos lábios rosados. — Acho que está na hora de contar pra vocês sobre os nossos planos para Alyn Vanserra.

Os generais se entre olharam, mas logo assentiram ganhando um sorriso da valg. Milliken rosnou, jogando a espada contra a parede.

— Menininha mimada. — Provocou olhando diretamente para a princesa. — Levem Alyn para a cela que estava antes da sala de tortura, correntes nos pés, pulsos e pescoço. Escuridão total, entenderam? — Ordenou para os soldados, que logo obedeceram segurando os braços de Alyn e saindo dali. — Vocês na frente, por favor.

E assim, os quatro deixaram a cela, agora destruída. As sombras se esgueiraram para segui-los, mas o demônio pareceu senti-las e olhou para trás, dissolvendo as sombras em fuligem. Nada atrapalharia seus planos novamente.

a Alyn é o poder, meus amores

agora, vamos falar sério, várias fics estão sendo derrubadas por um grupo de pessoas do fandom army, eu havia retirado acofas por medo, mas como eu não queria deixar vocês sem atualização, então repostei ela mesmo assim. Tô salvando os capítulos em outro aplicativo e torcendo pra não ser boicotada.

bom, é isso.

bjos, não me matem.

amo vcs <3

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