03 | Beautiful Wings, Can I Touch?

   NÃO FORA DIFÍCIL ENCONTRA-LO. JAMAIS ERA, AFINAL. Todos os tolos que se aventuravam pelo continente pensavam o mesmo, viam o mesmo. Não viam, melhor dizendo. Olhos, tanto feéricos quanto humanos, não poderiam enxergar as camadas de feitiços e conjurações, não sentiam o gosto antigo se impregnar em sua boca como as bruxas sentiam. Então, não fora difícil encontrá-lo.

Arabella ouvira os sussurros de ventos distantes, contando-a que homens feéricos haviam sido encontrados nos três distritos; dois mortos pelas Roseiras Santas em Agapanthus, quatro "pela mão da Deusa", como disseram-lhe, em Erythrina e oito, mutilados e desmembrados na florestas de Amoena, pelos lobos, disseram, Arabella duvidava que lobos tivessem garras tão afiadas, mas não contestara. No entanto, jamais fora chamada para caçá-los, talvez pois não fossem dignos do tempo da herdeira, talvez porquê a avó não quisesse o desprazer de ver a neta por tão pouco, ela nunca saberia. Agora estava lá, com as garras contra o pescoço de um macho feérico, com uma beleza que tirava seu fôlego, à instantes de mata-lo. Uma pena, de fato.

  Quando avançara com Arhes em direção da vastidão do céu noturno a caminho do sul de Amoena, se certificou que seu carranam ficasse por dentro de tudo, então esperou que a montaria planasse pela grande Florestas Das Almas Perdidas, sentindo o cheiro familiar de avelã e pó de café. A bruxa se esgueirou pelas árvores retorcidas, sentindo o gosto de morte e podridão invadi-la por completo. Não seria necessário encobrir o cheiro, já que o aroma do lugar era forte o suficiente para que passasse despercebida, mas foi cuidadosa ao deslizar pelos galhos, espreitando como uma fera da noite. O homem feérico era magicamente belo ── e com enormes asas membranosas, que fizeram os dedos de Arabella formigarem com a vontade incessante de toca-las;

Ele largou a adaga que segurava no chão musgoso da floresta, erguendo as mãos ao alto. Inteligente. Talvez aquilo ficasse interessante, afinal. Quando encarou os olhos cor de âmbar flamejante, não havia qualquer resquício de medo ali, nem raiva. Calma fria e letal irradiava das feições belas do macho. Um guerreiro ágil e esperto. Talvez alguém a altura para uma luta.

── Vim aqui em busca de paz ── disse, a voz rouca viajou até os ouvidos da herdeira lindamente, sexy. ── Não pretendo derramar sangue.

Ela sorriu. É claro, eles nunca pretendiam.

── Você, certamente, não.── Arabella deslizou a garra sutilmente pelo maxilar do guerreiro, observando o sangue escarlate escorrer pelo pescoço bronzeado ── Eu, por outro lado, não tenho total certeza.

  Ela sentiu o homem alado enrrigidecer sob seu corpo, os olhos não saíram dos dela em momento algum.

── Vim aqui ── continuou ele, ignorando as palavras sangrentas e sádicas da bruxa ── em nome de meu Grão-Senhor, Rhysand ── Arabella parou, por um momento. Rhysand. Já ouvira esse nome incontáveis vezes, um dos Sete de Prythian, como os chamavam daquele lado do mar ── Da Corte Noturna.

  A cabeça da jovem herdeira girou diversas vezes nos poucos segundos que se passaram. Um Grão-Senhor, o mais poderoso, queria contato com as bruxas. Queria paz. Mas elas, certamente, não queriam o mesmo. Seus sentidos pareciam eufóricos na presença de um macho feérico, gritando em seus ouvidos como insetos zumbindo incansavelmente. Ela o encarou, que parecia calmo, para alguém com cinco garras tão afiadas quanto lâminas ao redor do pescoço. Um guerreiro Illyriano, de confiança do Grão-Senhor. Algo nela ficou alerta, despertando no fundo de sua alma, serpenteando por sua coluna, sussurrando em línguas distantes. Ela empurrou a coisa de volta para o poço sem fim que deveria ficar. Então analisou as feições do macho. Ele não teria medo de uma bruxa qualquer, presunçosa e imprudente. O pensamento a fez sorrir.

── O que acha de um acordo, morceguinho? ── cantarolou, estalando a língua.

   Que sua caçada começasse.

  Era ela. Ele sabia.

  Não parecia mais a jovem bruxa imprudente e irresponsável que conhecera na clareira próxima ao acampamento há tantos anos, por mais que se esforçasse para parecer, agora se tornara uma guerreira letal e mortífera, tão treinada quanto ele. Os cabelos ainda tão pálidos quanto a luz do luar, e os mesmo olhos de ouro líquido que completavam o traje preto e a capa dourado reluzente. Ela havia o enganado perfeitamente, o feito de tolo. Sem barulhos ou cheiro, Azriel não sentira nada. Nada, porra. O Mestre Espião da Corte Noturna não antecipara um ataque.

Ele deslizou os olhos pela bruxa, bebendo de cada curva da pele que lhe lembrava neve fresca, dos olhos cheios de malicia e diversão, as garras que apertavam seu pescoço, sexy. Droga, o que estava havendo com ele, afinal? Podia ouvir água correndo ao longe, pingando, de um provável córrego próximo de onde estavam. Precisava de água, antes que enlouquecesse por completo.

A bruxa queria um acordo, então daria isso a ela.

── Estou ouvindo.

  Ela deslizou os olhos por ele, sem qualquer intenção de afrouxar o aperto, levemente cética e aparentemente analítica. Não como as bruxas das histórias que rondavam os acampamentos. Pois elas não tinha garras, nem agilidade sobre-humana, apenas mulheres ambiciosas, perigosas aos olhos da sociedade machista da qual ele descontentemente descendia.

As memórias de Azriel ainda estavam frescas, as memórias de séculos atrás quando era um jovem tolo. Se lembrava avidamente do quanto havia repreendido a si próprio por não tirar da cabeça uma certa bruxa de olhos dourados, por ter sonhos que não deveria ter, por acordar nas madrugadas suado e... Não. Ele não era mais aquele garoto. Assim como ela não era mais uma garotinha, ele percebera isso no momento em que pós os olhos nos encantadores da bruxa. Que agora tinha um corpo esguio, se movendo sempre com agilidade e confiança, um sorriso quase ferino pintado por vermelho escuro e um corpo esbelto com seios avantajados contidos pela armadura de couro negro. Que a Mãe o salvasse daquela fêmea, pois por conta própria ele não tinha certeza se conseguiria sair vivo da armadilha que armara para si próprio.

As narinas dela se dilataram, com se pudesse sentir seu cheiro, o cheiro de seus pecados. Então falou:

── Me leve até seu Grão-Senhor.

Ele piscou, esperando que ela completasse a frase, mas não aconteceu. Era apenas aquilo, a voz de uma mulher que falava e era avidamente respeitada. Azriel sentiu vontade de gargalhar. O Illyriano jamais levaria uma bruxa para uma conferência com Rhysand, principalmente aquela, com os olhos que continham o próprio inferno queimando como brasa efervescente. Ele imaginou, por um momento, o irmão trancafiado a quatro simples paredes, com a bruxa como companhia. Ou eles virariam como carne e unha, para o desagrado de Azriel, ou se matariam, levando tudo em seu caminho, em poucos instantes. Ele votara na segunda opção. Se aquele projeto de anão de jardim achava que iria dar ordens a ele, estava redondamente enganada. O Encantador, então, foi mais rápido que qualquer movimento que a bruxa pudesse prever, segurando habilmente seu pulso e invertendo as posições, pressionando o pequeno corpo contra a árvore. Agora, com o antebraço apertando o pescoço da bela mulher, ele lhe lançou um sorriso felino e lambendo os lábios ao dizer:

── Não me de ordens, coisinha ── ele parou por um momento, ela não parecia tão pequena agora, com o corpo de Azriel pressionado contra o dela ── arrogante... e pequena.

  Os olhos dela se estreitaram com a ênfase na palavra, quando deslizou as mãos delicadas até os ombros do guerreiro, e antes que Azriel pudesse raciocinar o joelho da bruxa se ergueu até o meio de suas pernas. Azriel só sentiu a dor desesperadora irradiar por seu corpo quando seus joelhos fraquejaram, indo de encontro com o chão, então grunhiu baixinho. Coisinha terrivelmente demoníaca.

── Não vou nem lhe dizer o que é pequeno aqui. ── a voz zombeteira ronronou e Azriel parou por um momento.

Ah, não, ela não havia dito aquilo, havia? A risada rouca do macho retumbou sob o solo úmido.

Ele teria grande prazer em mostra-la, que, de pequeno, não tinha em nada.

  Os olhos da demoníaca e bela bruxa faiscaram ao se aproximar, como se soubesse o que passava pela mente do Illyriano e, sorriu com isso. Então, quando uma rajada de vento fresco chacoalhou os fios pálidos como luar e o sol se esgueirou entre as árvores verde-morte, emoldurando o rosto divinamente esbelto, ela segurou o do Encantador com as garras afiadas, encarando-o.

── Devemos ir ── a voz melodiosa e imponente retumbou entre as folhas e raizes dispersas pelo chão ──, a não ser que queira virar o jantar dos lobos. ── Ele semicerrou os olhos em desconfiança, não ouvira nenhum uivo, nem fora devorado quando a noite dançou no céu, mas decidiu não contestar a bruxa, não em seu território. ── Faremos isto: ── continuou ela ── você mandará um recado a seu Grão-Senhor e, eu levarei você até um lugar seguro enquanto não recebemos a resposta.

  Azriel a encarou. Os olhos deslizaram novamente pelo corpo esbelto da bruxa, as feições delicadas, porém poderosas. Como se tivesse sido meticulosamente desenhada por alguém com um gosto excepcional. Não havia mais qualquer resquício de garras de ferro, mas a promessa de morte ainda brilhava naqueles olhos efervescentes. Ele se levantou da grama, tentando juntar o pouco de dignidade que ainda restava de si, dignidade que aquela mulher irritantemente bela havia estilhaçado em milhões de pedaços. Então ergueu o rosto na direção da chama incandescente contida pela casca de cabelos prateados flutuantes.

── E o que ── disse ele, as palavras escorriam amargas em sua língua ── a faz pensar que meu Grão-Senhor atenderia seu chamado?

  Os olhos dela chamuscaram quando os deslizou até ele; então se aproximou, uma fera espreitando a presa. Um sorriso que mais poderia ser considerado como uma mostra de presas brilhou quando a fileira de dentes brancos da bruxa ficou a mostra.

── Diga a ele ── deu um passo à frente, chegando tão próximo que a respiração se condensava a dele ── que se não quiser receber ── ela deslizou o dedo branco pela armadura do guerreiro atrevidamente, a unha, agora tão comum quanto de qualquer um, raspou contra o couro Illyriano ── seu Mestre Espião dilacerado de presente de Solstício, seria melhor atender.

  Azriel prendeu a respiração por um momento, ela estava tão perto, porra. Ele passou os olhos pela boca rosada da bruxa, quando ela lambeu o lábio inferior, passando aquela bela língua atrevida, que Azriel tinha pela certeza que seria ótima em muitas outras coisas. Seus olhos desceram para o pescoço branco como leite, ele se ariscaria deslizar os lábios por ali para descobrir se era tão sedoso quanto parecia; os seios, presos pela armadura, as coxas grossas. Não havia visto fêmea mais atraente em sua vida. Algo nela, algo em meio ao furacão cortante de fogo e brasas que aquela bruxa era, o chamava; algo daquilo acendia uma parte dele, uma parte que jamais pensara que havia dentro de si.

  O Encantador engoliu em seco quando a sobrancelha prateada se arqueou para ele. Então se aproximou ainda mais, colando o corpo ao da bruxa. Se ela queria jogar, ele seria um jogador exemplar.

── Para onde vamos, bruxinha? ── ronronou em seu ouvido.

O caminho não fora ruim, com paradas estratégias para comer e beber água, chegaram rapidamente ao ponto desejado. Arabella não arriscaria chamar Arhes até ali, não quando estava claramente cometendo diversos crimes que levariam os dois a uma morte lenta e dolorosa. E aquele desgraçado sexy e incrivelmente gostoso Illyriano a enchera com perguntas de todos os tipos, das quais ela não respondera nem metade. Talvez fosse esse o motivo do biquinho adorável e das sobrancelhas escuras franzidas em uma análise silenciosa.

Assim que pós os olhos no guerreiro, Arabella soube de onde vinha e quem era. Por mais que as bruxas não se importassem com feéricos e os de sua laia, não deixavam de estudá-los, analisando suas forças e fraquezas. Então quando o macho alado aparecera em seu campo de visão, ela soubera instantaneamente quem ele era: O Mestre Espião da Corte Noturna, forte, ágil e poderoso como um sussurro da uma longa noite estrelada. Ela não sabia seu nome, mas tinha plena certeza de sua origem: os campos de batalha Illyrianos, cruéis e tenebrosos como as histórias contavam. Já havia encontrado outros machos alados em seus caminho, tão presunçosos e hipócritas quanto esperava que fossem. Não acabara muito bem para eles, deveria dizer. Mas ele parecia diferente, com os olhos âmbar calmos
e paciência divina; não tinha nem metade da brutalidade dos guerreiros que conhecera, mas se provara tão letal quanto.

  Ele havia mandado a mensagem a seu Grão-Senhor quando pararam em um córrego próximo. Algo como uma ligação mental, dissera ele. A bruxa não se importara em perguntar mais.

Arabella observou a água chacoalhar-se entre as pedra e deslizar pelos sulcos do pequeno rio, sobressaltando as algos e pequenas pedrinhas brilhantes no fundo. Eles estavam a menos de duas horas de uma caverna, esquecida entre escombros e bestas. Um desabamento marcava a história assombrosa da Caverna da Eternidade, contendo em sua câmara mais escura uma fonte que prometia imortalidade a aqueles corajosos o suficiente para procurá-la, mas então, quando Daranh, um dos Sete Comandantes, fora tolo o suficiente para se aventurar pelas profundezas da caverna, procurando a vida eterna, um desabamento trancafiou-o lá, deixando seu espírito imortal preso a eternidade de solidão; um mito.

Bobagem, diria Arabella. Não havia nada além de pedras velhas e aranhas percorrendo o antigo local. Ela deslizou a mão pela água, sentindo o gelado confortante percorrer seus dedos. Todas as bruxas conheciam a história de Daranh e seus seis; os guerreiros dotados com grande força e coragem, dados pelas mãos da própria Deusa, os sete interligados até o fim, lutando como um só. Até o egoísmo e ambição cegos de Daranh levar todos até o poço sem fim da Escuridão. Tolo, tolo hipócrita.

  Quando seus pensamentos se colocaram no lugar, viajando até o Illyriano recostado em uma árvore, atrás dela, Arabella se lembrou de seus objetivos, um a um. Se o Grão-Senhor não aceitasse seu pedido, afinal, ela tinha alguém próximo o suficiente dele para ter uma conexão metal. Uma vantagem. E ele, sua pequena e doce vantagem, a encarava com as sobrancelhas erguidas. Não tão pequeno assim, ela deveria admitir, descontentemente.

── Está com fome?

── Não sei. Está se oferecendo?

Ela molhou os lábios quando ele deu lhe um sorriu de lado, mostrando as covinhas em suas bochechas.

── Eu adoraria ── disse ele, os lábios sensuais de repuxando para cima e a voz de um amante noturno ──, mas não sei se seria muito adequado em nossa situação.

Arabella riu. Homem nenhum jamais recusara uma proposta de estar em sua cama, alguns se ajoelhavam com a simples oportunidade de passar uma noite com a bruxa. Rasgavam a si próprio e seus companheiros em alguma tentativa tola de repetir a dose. Nunca acontecia.

  Quando a herdeira se preparou para retrucar, um rugido cortou o céu, reverberando pelas pedras do lago. Não era Arhes.

O Illyriano embainhara a adaga em silêncio, com uma pergunta brilhando nos olhos cor de âmbar ao se levantar. Arabella aguçou os ouvidos, agarrando-se a herança feérica correndo em suas veias, prestando atenção nos mínimos sons vindos de longe. O bater de asas, sete pares, no máximo. Quem quer que fosse, estava anunciando sua chegada. Sendo presunçoso e hipócrita ao mostrar a bruxa sua posição. A herdeira sentiu o leve comichão das garras surgindo, de ferro cortando carne, seus dentes trincaram virando aço afiado. Conhecia uma única pessoa presunçosa o suficiente para algo do tipo.

E estava na hora de tirar as contas.

  Quando um rugido sacudiu as pedras novamente, reverberando pelo solo, Sahar Bloodpetals se ergueu no horizonte, descendo em sua direção. E um sorriso dançava naqueles lábios cruéis.


༄ ── TUTUTURURU, olha, olha quem voltou. Agora a pasta com fanarts dos personagens já está disponível no link na minha bio. LEMBRANDO QUE: nenhuma das fanarts foi feita por mim, apenas estou usando-as como amostras dos personagens, nem tenho intenção nenhuma de violar os direitos autorais de seus respectivos criadores.

༄ ── Estou criando uma playlist para a fic, ela já está disponível no Spotify, mas ainda não contém todas as músicas. Caso tenho curiosidade o nome é: "Acobas|Playlist"

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༄ ── A música na mídia tem MUITO a ver com a relação do Az e da Bella, caso queiram ouvir 😁💅

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