III.| Além da Árvore

Qual pinheiro de Natal, qual carapuça! Ou o frio fizera a veterinária desmaiar, ou a temperatura extremamente baixa deixara a mulher a delirar! Oásis invernal, flocos de neve a cair suavemente. As casas de madeira de uma aldeola antiga deitavam fumo pelas suas chaminés recortadas. As crianças de uma era do passado sem telemóveis, embrulhadas em gorros, cachecóis, luvas e kispos quentinhos corriam atrás umas das outras e construíam bonecos de neve. A população, de sorriso no rosto, ia-se cumprimentando e desejando um feliz Natal. Nada de sacos das lojas, nada de compras. Só a boa disposição, a simpatia e a felicidade estampada nos cantos ascendentes dos lábios.

O rafeiro farrusco mantinha a sua energia infinita. Admirado com aquela camada branca profunda, escavava incansavelmente, como se quisesse atingir o centro da Terra. Com a ponta do focinho salpicada com aquele estado de água congelada, atirava neve para todos os lados.

A coruja branca ainda continuava ali. Pousara entretanto para descansar as asas graciosas do longo voo que empreendera. 

- Olha! A Coruja Branca! - Exclamou uma miúda que abandonara o monstro de neve que estava as suas mãos estavam a formar.

- É uma ave muito bonita, não é? - Disse a mulher, tentando meter conversa com a criança.

- É a Coruja Branca! É a Coruja Branca! - Repetia a menina. - Coruja Branca!

- O que foi? O que se passa?

- A Coruja Branca trouxe-te aqui por algum motivo.

- Como assim?

- A Coruja Branca nunca faz nada sem um motivo nobre. É o que o Rei diz.

Rei? Aquilo tudo não devia passar de um qualquer sonho extravagante. Rei... a miúda não devia estar boa da cabeça. Nem ela nem Kardía, que já tinha os ouvidos a zunir com aquela história de "Coruja Branca". Em primeiro lugar, nem devia existir coruja nenhuma. Aves de rapina à solta? Só se tivesse fugido de algum centro de conservação ou de algum jardim zoológico, o que era extremamente improvável. E aquela terrinha atrás ou dentro do pinheiro de Natal? Não, impossível. A mulher devia estar certamente a precisar de ser transportada para um hospital urgentemente.

- É esta a humana que veio do lado de lá do pinheiro? - Perguntou à menina um rapazeco vindo de sei lá de onde que interrompeu os pensamentos da veterinária.

- Sim. - Assentiu a outra criança.

- O Feiticeiro quer vê-la.

Primeiro reis, agora feiticeiros. Aquele gente tinha um parafuso a menos! Viviam com a imaginação presa num conto de fadas, só podia. Ai que cabecinhas no ar! Que mentes imersas nas nuvens!

- Anda! - Chamou a miúda, puxando a mulher por um braço. - O meu irmão disse que é para te levar ao Feiticeiro!

(442 palavras)

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