Fertilidade

Uma coisa que passou pela cabeça de Harry era como alguém oferecia sua casa, nesse caso uma mansão, para um evento que poderia causar tamanha destruição como a Corrida. Ele pensava nisso enquanto passava por uma sala cujos móveis estavam estilhaçados, quadros perfurados e tapetes rasgados. Deveria haver uma compensação milionária pelos danos... Só podia.

Agora que eles estavam em um espaço fechado, andando de forma sorrateira com as espadas em punho, Harry se sentia ainda mais tenso do que no campo aberto, como era a situação anterior. As paredes eram revestidas de madeira escura, dando um ar antigo e opressor ao ambiente. As cortinas pesadas e empoeiradas balançavam ligeiramente com o vento que entrava pelas janelas parcialmente abertas, e o chão de parquet rangia a cada passo cuidadoso que davam.

"Onde deve ser a cozinha?" sussurrou Neville. Sem dúvida, a mansão era grande o suficiente para que eles se perdessem, ou pior, encontrassem um alfa.

"Deve ser perto do salão principal..." sugeriu Fleur. "Perto de onde o jantar é servido... Mas uma coisa é certa, deve ser no andar térreo, não adianta subirmos as escadas."

Fazia sentido, mas eles sequer sabiam onde ficava tal salão principal. Andando pelo corredor, só passaram por algumas salas que pareciam ser mais locais de descanso e contemplação sem uma utilidade clara a não ser ficar sentado observados peças de arte, uma futilidade comum para os ricos. Harry se lembrou do seu estreito apartamento com dois quartos, um banheiro e uma sala-cozinha, sentindo uma pontada de inveja e frustração. Alguém não precisava de tantos cômodos assim para viver, era um excesso sem muita lógica.

"O que é aquilo?" Luna apontou para frente. O fim do corredor dava para uma sala mais ampla, e eles podiam ver pela porta aberta que a luz piscava, e algo jazia ao chão. Um corpo? Não se mexia... Estaria vivo?

"É um ômega," afirmou Neville com certeza, o cheiro detectado por seu nariz aguçado. Harry concordou com um leve aceno de cabeça.

Fleur os olhou confusa, claramente sem entender como eles podiam chegar àquela conclusão sem sequer se aproximar do indivíduo caído.

"Bem, é melhor nos afastarmos. Se é um ômega caído, significa que um alfa não deve estar muito distante," disse Fleur, cautelosa.

"Mas não podemos simplesmente deixá-lo aqui..." começou a dizer Luna, visivelmente preocupada.

"Os organizadores da competição têm socorristas, eles vão cuidar dele ou dela," tentou argumentar Harry.

"Como cuidaram do Neville? Sim, eu vi como eles se importam tão bem com nós, ômegas..." completou Luna, irritada.

"Não podemos perder tempo!" frisou Fleur, impaciente.

"Nós temos que passar por essa sala de qualquer maneira se quisermos avançar," Neville interveio, tentando ser conciliador. "O corredor vai dar nessa sala, a menos que voltemos e busquemos outra bifurcação e seguimos por outro caminho... De qualquer forma, iremos perder tempo."

Harry ponderou, mirando a sala à frente. Não gostava nada daquilo. Fleur estava certa: um ômega caído tinha uma causa, e essa causa geralmente era um alfa. Poderia ter desmaiado por exaustão ou pelo estresse de todo evento? Sim, mas a probabilidade disso ocorrer era pequena, ainda mais quando podia farejar tantos aromas de alfas pela mansão. Contudo, Neville também estava correto. Eles já iriam passar por aquela sala de qualquer maneira, a menos que retrocedessem todo o caminho e tomassem outra rota. De qualquer forma, estavam em perigo.

"Certo, vamos entrar na sala," decidiu por fim. "Mas fiquem em alerta..."

Com as espadas em punho, o grupo avançou em direção à sala, os passos cuidadosos ecoando suavemente no piso de madeira. A luz piscante da lâmpada dançava nas paredes, criando sombras que pareciam se mover por conta própria.

Harry foi o primeiro a adentrar o cômodo, os olhos tentando se ajustar à luz que piscava intermitentemente. Ele pôde distinguir uma lareira apagada, poltronas derrubadas, quadros tortos nas paredes e, no chão, uma garota aparentemente desacordada. Não havia sinais de outra pessoa além deles.

Luna entrou logo em seguida, menos cautelosa que Harry, já se adiantando para ajudar a garota caída.

"Luna, espere!" Neville sussurrou, tentando contê-la.

Fleur adentrou o ambiente, rolando os olhos e resmungando algo em francês que claramente não era amigável.

Luna se ajoelhou ao lado da garota e tentou tocá-la. Harry se aproximou lentamente, ainda observando todos os cantos do cômodo com desconfiança. Sua mão apertava firmemente o cabo da espada, um ligeiro tremor percorrendo seu corpo.

"Ela não parece estar sangrando..." Neville observou, lançando um olhar rápido à garota caída.

"E ela não está gelada... Acho que é um bom sinal, afinal, se estivesse gelada, ela estaria..." Luna não quis completar a frase, apenas balançando a cabeça negativamente enquanto tentava sacudir a garota para acordá-la. "Ei, você está bem? Digo, essa pergunta é meio idiota, mas..."

Naquele momento, a garota abriu os olhos de repente e agarrou a mão de Luna com força. Neville deu um salto para trás, assustado, e Harry arqueou as sobrancelhas com a súbita ação da ômega. Momentos antes, ela parecia totalmente desfalecida, mas agora era como se tivesse recebido um choque de vida.

"Você..." Luna começou a falar, mas foi interrompida pelo grito da garota.

"Aqui! Meu alfa! Eu consegui pegá-los!"

Fleur soltou um palavrão em francês, e Harry rangeu os dentes. Aquilo era uma armadilha.

"Me larga!" Luna choramingou, tentando se desvencilhar da garota, mas a ômega a segurava com tanta força que suas unhas perfuravam a pele de Luna.

"Alfa! Alfa!" a garota continuava a gritar desesperadamente. Fleur avançou rapidamente e deu um tapa no rosto da ômega. O tapa foi tão forte que a marca dos dedos de Fleur ficou delineada na bochecha alva da garota. A ação foi eficaz, pois a ômega soltou Luna de repente, fazendo-a cair para trás, livre do aperto.

"Alguém..." Neville começou a alertar Harry, mas não foi rápido o suficiente. Uma figura saiu das sombras da sala e se lançou sobre eles. Harry levantou sua espada e a figura se desviou, praguejando. A lâmina havia cortado o atacante, mas ele não estava sozinho. Outro alfa veio do corredor e atacou pela retaguarda.

"Cuidado!" Harry gritou, empurrando Neville para baixo, recebendo ele mesmo o impacto do ataque do alfa. Foi jogado contra a parede com força, fazendo um dos quadros cair no chão.

"Harry!" gritaram Neville e Luna em uníssono, enquanto Fleur tentava se posicionar para defender os amigos.

Harry abriu os olhos, sua visão estava embaçada sem seus óculos, que tinham caído. Mesmo assim, ele pôde ver o homem que sorria à sua frente. O alfa tinha cabelos castanhos escuros, penteados meticulosamente. Sua pele, salpicada de sardas, exibia um sorriso animalesco. Era Bartolomeu Crouch Junior, o alfa que havia tentado comprar a virgindade de sua irmã Gina.

"Bem, bem, se não é Harry Potter," disse Crouch, sua voz gotejando sarcasmo. "Eu sabia que esse encontro seria inevitável."

Harry tentou se levantar, mas Crouch foi mais rápido, agarrando-o pelo pescoço e o pressionando contra a parede.

"Não tão rápido, ômega," rosnou Crouch. "Você não vai escapar tão facilmente."

Harry não iria deixar-se imobilizar dessa forma. Ainda segurando a espada, tentou golpear Crouch, que para desviar teve que soltar o rapaz. Livre, Harry tossiu, buscando por ar após a ação do alfa.

"Um ômega com uma espada... Que hilário!" disse Crouch, aproximando-se de Harry. Este tentou novamente usar a espada, mas o alfa foi mais rápido, segurando seu pulso e forçando-o a soltar a arma com um aperto firme.

Harry praguejou ao ver sua defesa cair de suas mãos. Aproveitando a proximidade, puxou Crouch para si e lhe deu uma cabeçada. O alfa recuou, levando a mão à testa agora machucada e emitindo um filete de sangue.

"Ainda está achando hilário, Junior?" perguntou Harry entre os dentes.

"Como você tem coragem de dizer isso?" rosnou o outro alfa, o que Harry acertara antes com a espada. Era um rapaz alto e meio acima do peso, com cabelos castanhos claros quase loiros, e olhos diminutos que pareciam pedras pretas sobre o grande e amplo rosto. "Ele só pode ser defeituoso! Por isso o Lord Voldemort o quer?"

"Goyle, cala a boca, sim?" Crouch disse, tirando um lenço do bolso da calça e pressionando-o contra a testa.

Nesse momento, a garota ômega correu para os braços de Crouch, jogando-se nele.

"Eu fiz o que você pediu, Alfa... Eu fiz sim... Isso significa que você vai me dar a mordida? Que serei sua ômega, como você prometeu?" dizia ela com um sorriso afetado e as mãos trêmulas. O alfa sequer olhou para ela, ainda limpando o ferimento e mirando Harry com um olhar cheio de malícia.

Goyle deu uma risada rouca.

"Você realmente acreditou nisso?" disse ele, fazendo a garota mirá-lo com olhos arregalados.

"Mas ele..." Crouch empurrou a ômega de forma brusca para o lado, jogando-a de encontro ao chão.

"Acha mesmo que vou ficar com uma ômega tão desprezível que, ao invés de fugir do alfa, se joga aos seus pés como um cachorro? A corrida serve para selecionar os melhores ômegas, e todos sabemos que aqueles que correm são os mais férteis..." explicou Crouch em um tom monótono.

"Então, por que você quer ele!" disse ela quase histérica, apontando para Harry. "Ele não está fugindo! Nenhum deles está!"

Ela abrangeu sua raiva para o grupo de amigos de Harry que estavam tentando, aos poucos, se aproximar para lhe dar suporte, com as espadas nas mãos. Contudo, a presença de Goyle impedia que eles avançassem muito. O grande alfa rosnava e ameaçava atacá-los a qualquer momento.

"Ele não foge, isso é verdade... Mas luta. E um ômega que luta para preservar sua castidade é o maior símbolo de fertilidade," disse Crouch, com um sorriso predatório no rosto.

"Fertilidade? Que se dane isso..." resmungou Harry.

"Ora, Harry, será que você não confia na sua própria fertilidade?" A voz de Crouch era carregada de uma falsa complacência. "Não se preocupe, estou aqui para resolver isso. Eu irei mostrar de todas as formas possíveis como você é fértil."

Ele deu um passo à frente, fazendo Harry instintivamente recuar.

"Não só eu... Outros alfas virão... Todos muito proativos na tarefa incumbida por Lord Voldemort em te instruir... Mostrar o seu verdadeiro caminho dentro do sistema ABO."

Harry sentiu um frio percorrer a espinha, seu coração acelerando. E acelerou ainda mais quando o alfa avançou, atacando novamente.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top