Feral


Draco estava nervoso, tão nervoso que sentia como se seu estômago estivesse se devorando por dentro. Sem dúvida, não era uma sensação agradável. Talvez, para compensar esse desconforto, caminhava lentamente pelo gramado bem aparado, onde tendas e estruturas estavam sendo meticulosamente organizadas para o grande evento da Corrida, que ocorreria no dia seguinte. Ao longe, ele observava os imensos telões e as arquibancadas onde ficariam o público eram ajustados os últimos detalhes. Diferente de um estádio tradicional, que permitiria a todos assistir aos movimentos de ômegas e alfas de perto, a segunda fase, normalmente realizada em um ambiente mais aberto, exigiria que a plateia ficasse em um local designado, assistindo às cenas capturadas por drones.

"Amanhã..." Sim, ele estava nervoso pela segunda fase, ainda mais agora que estava envolvido na missão de Dumbledore. O evento, já estressante por natureza, parecia ter se tornado ainda mais intimidador.

E, para piorar, ele havia sido convocado pelo seu pai para uma reunião. Desde o início da Corrida, na verdade, mesmo antes, quando ainda estava treinando com Sirius e Victor, seu pai raramente tentava se comunicar com ele. Ao término da primeira fase, recebeu apenas uma breve mensagem no celular, indicando que seu desempenho havia sido "satisfatório". E agora uma reunião? Isso parecia excessivamente formal e sério, mas, tratando-se de Lúcio Malfoy, era o esperado. Não haveria demonstrações de amor paternal... disso, Draco tinha certeza.

Ele continuou seu caminho, desviando de alguns betas que carregavam caixas de som e uma miríade de cabos, além daqueles que empurravam carrinhos de bebidas. Finalmente, alcançou seu destino: a tenda onde os membros do conselho alfa se reuniriam para assistir ao evento.

Draco engoliu em seco antes de entrar na tenda, afastando o pesado tecido que bloqueava a luz da vibrante manhã de inverno.

Ao entrar na tenda, Draco percebeu que a iluminação vinha de longos candelabros, onde, no lugar de velas, brilhavam luzes elétricas tênues e vibrantes que tentavam emular a chama real das velas. Esse jogo de luzes criava uma atmosfera um tanto sombria no ambiente. O interior era mobiliado com várias poltronas luxuosas e uma longa mesa de madeira robusta dominava o centro do espaço. O chão estava coberto por tapetes caros, adicionando uma camada de sofisticação e conforto. Telões já estavam instalados para a visualização do evento e, em um canto, havia um bar bem equipado. No geral, o local exalava conforto e ostentação.

"Pai?" chamou Draco, varrendo o local com o olhar em busca da figura esguia de seu progenitor.

"Você está atrasado," Lúcio disse, levantando-se da poltrona onde estava sentado.

"Não havia um horário específico na mensagem quando você solicitou..." começou Draco, mas foi interrompido.

"Você está me questionando, Draco? Conviver com o idiota do Sirius Black parece estar surtindo seu efeito, pelo visto."

O jovem Malfoy engoliu em seco, repreendendo-se internamente por ter falado aquilo. Se havia algo que Lúcio Malfoy detestava, era ser corrigido.

"Desculpe, pai," respondeu ele, sucintamente.

"Bem, esqueça... Temos que discutir algumas questões," disse Lúcio, indicando para que Draco, que ainda estava perto da entrada da tenda, se aproximasse. Draco o fez, hesitante.

"Você deve ter notado o quão formidável foi a primeira fase da Corrida, visionária, devo enfatizar," continuou o Malfoy mais velho. "De modo que a segunda fase será igualmente preciosa, principalmente para nós, os alfas."

Draco assentiu levemente, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. Ele tinha falado com Lupin e Sirius sobre suas investigações da próxima fase, e pelo visto, havia uma pitada de apreensão, nada do maravilhoso que seu pai descrevia. Mas talvez seu pai estivesse pensando na perspectiva dos alfas... Na verdade, na perspectiva de um alfa em particular.

"Por se tratar de algo tão importante, decidi que você deveria evitar se envolver onde o evento principal irá ocorrer. Logo, irei vender sua posição da segunda fase para outro alfa... Ele não teve tempo para negociar uma boa posição, na verdade, ele mesmo disse que só estava participando por participar... Mas um ômega chamou sua atenção, logo irei vender sua posição para Bartolomeu Crouch Junior," revelou ele, falando com a casualidade de quem comenta sobre o tempo, e não sobre algo que colocaria Draco em clara desvantagem na competição.

"Espera... Como assim?" Draco inquiriu, confuso. Sabia que era obrigatória sua participação na corrida, sendo um recém-formado na escola alfa, e seu pai tinha transformado esse evento em um fator essencial na vida de Draco. Ele precisava encontrar um ômega ideal, mordê-lo e assim perpetuar a linhagem Malfoy, salvando sua mãe desse fardo que a estava consumindo aos poucos. Para isso, Lúcio não poupava gastos para dar ao filho as maiores vantagens, especialmente na segunda fase, onde a posição dos alfas na competição seria aleatória. Aquilo não fazia sentido. Por que seu pai venderia sua posição? Não queria que Draco conseguisse o tão desejado ômega?

"Você ouviu muito bem. Quero você longe do evento principal. Não se preocupe se não capturar nenhum ômega adequado... Digo, você pode até se divertir com algum ômega, mas não o morda. Deus me livre de ter mais um ômega fraco sob nosso teto."

"Pai, isso não faz sentido..." Draco estava ainda mais perplexo. Seu pai estava desistindo do plano?

"Veja isso aqui..." Lúcio se abaixou, pegando algo oculto ao lado da poltrona onde estava sentado. Colocou sobre a mesa uma garrafa de água que Draco imediatamente reconheceu.

"Oh, vejo que sabe a quem isso pertence," disse o Malfoy mais velho com um meio sorriso nada amistoso. "A garrafa que você deu para o ômega número 5678. Garrafa essa usada como arma contra outro alfa, não um alfa qualquer, mas Alfred Enrich Borges Segundo. Sabia que ele está com uma contusão por causa do golpe? O pai me informou que estão considerando até uma cirurgia plástica para tratar a cicatriz deixada por esse ômega... E o trauma? Ser derrotado por um ômega ao vivo? Eles queriam saber de onde veio a garrafa, obviamente... Tive que ocultar o fato de que meu filho estava envolvido nessa afronta!" A cada palavra, Lúcio ficava mais irritado, e o rubor começava a preencher suas feições.

Draco, no entanto, não pediria desculpas por isso. Sentia-se até meio orgulhoso por ter ajudado Harry a enfrentar o alfa feral, mesmo que indiretamente. Estranhamente, não se sentia culpado por ter machucado o alfa, que provavelmente já estava bem de saúde, apenas com a honra abalada.

"Bem, tive que usar meu poder como membro do conselho alfa para limpar sua barra... Mas... enfim, você parece estar interessado por esse ômega? O número 5678?" questionou seu pai, passando a mão pelos cabelos platinados e encarando irritado seu filho.

"Interesse? No Harry?" Draco tentou controlar o vermelhão de suas bochechas, mas sabia que estava falhando. Não queria falar sobre seus sentimentos com seu pai...

"Você sabe até o nome dele... Impressionante!" Lúcio resmungou, sentando-se na cadeira com evidente aborrecimento.

"Ele é um ômega formidável," Draco finalmente respondeu, a voz carregada de admiração indisfarçável.

"Pode até ser, mas você não irá mordê-lo!" sentenciou o Malfoy mais velho, com uma firmeza que não admitia contestação.

"Mas não era isso que o senhor queria? Um ômega forte para que eu mordesse e adicionasse à nossa família? Por que não posso ter Harry como meu ômega?" As palavras saíram de Draco antes que ele pudesse contê-las, e, ao falar, ele se surpreendeu com sua própria audácia. Nunca antes tinha elevado a voz para seu pai, e agora, ele admitia abertamente seu desejo por um ômega. Talvez não fosse algo que Harry gostaria de ouvir, mas Draco o queria para mais do que uma simples amizade.

Um sorriso bobo escapou em seus lábios, mas desvaneceu-se rapidamente diante da expressão de pura fúria que contorcia o rosto de Lúcio Malfoy.

"Você..." Lúcio lutou para se controlar, a mão tremendo visivelmente antes de ele soltar um longo suspiro. "Bem, pelo menos posso admitir que você tem bom gosto, meu filho. Apesar de ser um tolo! Esse ômega vai enfrentar um verdadeiro inferno na segunda fase..."

"Como assim?" Draco perguntou, alarmado pela premonição sombria de seu pai.

"Acha que o modo dele agir não foi percebido por outros... pelos alfas poderosos e aliados de Lord Voldemort?" Lúcio murmurou, baixando a voz até um sussurro carregado de tensão. A fúria anterior em seus olhos agora dava lugar a uma sombra de incerteza e medo, uma mudança que intensificou a preocupação de Draco.

"O que eles pretendem fazer com o Harry?" Draco exigiu saber, elevando sua voz num tom mais firme, embora, desta vez, Lúcio parecesse impermeável à ousadia de seu filho primogênito.

"Draco... Você não deve se aproximar do evento principal. Você é meu único filho, meu herdeiro..." Lúcio tentou argumentar.

"Pai!" Draco deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles, e colocou as mãos sobre os ombros de Lúcio, encarando-o nos olhos com uma intensidade ardente. "Me diga, o que vai acontecer!"

"Filho, desista deste ômega... Ele será caçado pelos alfas mais poderosos, pelo Alfa Crouch, até pelo herdeiro da coroa britânica. E quando eles o capturarem..." Lúcio hesitou, engoliu em seco, sentindo a pressão dos dedos de Draco em seu ombro, uma força que o surpreendeu pela sua intensidade. "Ele servirá de exemplo. Eles não só corromperão seu corpo, mas também seu espírito... Você não precisa ver isso, Draco!"

Os olhos de Draco tingiram-se de um vermelho intenso, refletindo a fúria que fervilhava em seu íntimo. Ele se afastou de seu pai, movendo-se de forma cambaleante enquanto lutava para controlar a agitação crescente. Seu coração batia acelerado, quase saindo do peito, e seu corpo vibrava com uma energia selvagem e indomável.

"Filho! Cuidado... Assim... assim você se torna feral!" alertou Lúcio, com um tom de voz carregado de preocupação e um vislumbre de medo.

Draco piscou várias vezes, esforçando-se para focar e reprimir a fúria que ameaçava consumi-lo completamente. Ele notou que suas mãos, agora crispadas sobre o tecido de uma poltrona, haviam deformado a mobília; suas unhas, transformadas em garras afiadas, haviam rasgado o material. Observou suas próprias mãos, que lentamente retornavam à forma humana, enquanto a vermelhidão em seus olhos se dissipava gradualmente.

"De qualquer forma, está feito... Eu já vendi a sua posição! Mesmo que você deseje salvar esse tal de Harry, não conseguirá," declarou Lúcio, observando Draco com um misto de cautela e incredulidade. Ele nunca tinha visto seu filho nesse estado; de fato, nunca imaginara que um alfa pudesse se aproximar da ferocidade feral apenas por influência de sentimentos por um ômega, sem o auxílio de substâncias estimulantes.

Draco fixou o olhar novamente em seu pai, que recuou com um pequeno grito de susto ao confrontar os olhos ainda escarlates do filho.

"Eu posso me virar, pai... Vou encontrar um jeito," afirmou Draco com determinação, e virou-se, deixando a tenda.

Ele deixou para trás um Lúcio Malfoy profundamente aflito, que nunca esperava que a lealdade e a paixão de seu filho por um ômega pudessem desencadear tamanha transformação.

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