Blue Note Jazz Club
O ambiente exalava sofisticação, especialmente quando comparado ao bairro proletário suburbano onde Harry morava. Este, porém, era um enclave de classe média-alta para betas, repleto de restaurantes e bares que ostentavam estruturas impecáveis, limpeza meticulosa e fachadas convidativas. O lugar parecia uma tentativa de replicar o luxo dos bairros alfa, aos quais poucos betas e ômegas tinham permissão para entrar. Harry percebeu que estar ali era o mais próximo que chegaria de experimentar o estilo de vida alfa.
"O seu chefe deu o endereço certo?" Ron perguntou ao lado de Harry, espiando as anotações no celular do amigo. Essa já era a terceira vez que ele questionava o endereço.
"Oh, por que está tão desconfiado? Eu não reclamaria de estarmos aqui!" Jorge disse, exibindo um sorriso despreocupado.
"Exato! Você devia relaxar e tentar socializar," Fred acrescentou, acenando para uma mulher beta que passava por eles. Ela vestia um vestido de lantejoulas prateadas e carregava uma bolsa de grife. Com um risinho, ela acelerou o passo.
"Nós, socializar? Olha só para as nossas roupas. Eles vão nos expulsar por parecermos mendigos," Ron murmurou, claramente desconfortável em seu terno desgastado e sapatos desbotados. Fred e Jorge, com seus casacos remendados e camisas estampadas com logos de bandas de punk rock, calças jeans rasgadas e tênis encardidos, pareciam não se importar.
Harry fez o melhor que pôde com seu guarda-roupa limitado, optando por uma camisa de mangas compridas e gola alta que recebera dos Weasleys no último Natal, calças escuras bem cortadas e seu par de tênis All-Star já bastante surrados. Ficou evidente que seu guarda-roupa não possuía peças que, pelos padrões daquele bairro, pudessem ser consideradas "melhores."
Os quatro seguiram pelas ruas limpas e bem iluminadas, conforme as coordenadas fornecidas pelo Chefe Chang. Finalmente chegaram ao "Blue Note Jazz Club". O exterior do edifício possuía paredes de tijolos expostos, conferindo uma falsa sensação de rusticidade. Grandes janelas de vidro nas laterais ofereciam um vislumbre dos três níveis do espaço interior. Do lado de fora, podiam ver um bar elegante, um candelabro dourado pendendo do teto e um palco onde uma banda de jazz tocava com entusiasmo. Havia uma pista de dança e várias mesas aconchegantes, estrategicamente posicionadas nos três andares, para que os visitantes pudessem aproveitar o espetáculo.
Harry engoliu em seco, ansioso; nunca havia entrado em um local tão chique.
"Temos um problema," declarou Ron, sua voz tingida de pânico.
"Ron, juro, se você estiver reclamando sobre nossas roupas de novo, vou te dar um olho roxo para completar seu visual de beta pobre favelado," ameaçou Fred.
"Não, idiota. Estou falando daquilo ali!" Ron apontou para uma placa ao lado do nome do clube. Em letras elegantes, a placa dizia: "Acesso exclusivo para Betas".
"O que...?" Harry franziu o cenho, confuso.
"Ah, já ouvi falar disso," disse Jorge. "São lugares onde ômegas ou alfas não são permitidos."
"Isso é legalmente permitido?" Harry questionou, seu tom tingido de surpresa. Não era a proibição para ômegas que o chocava; afinal, essa era uma prática comum, especialmente para ômegas desacompanhados. Segundo a lei, ômegas não deveriam consumir bebidas alcoólicas, sustentando o mito de que sua constituição fisiológica era fraca demais para tolerar o álcool. No entanto, eles poderiam acompanhar seus alfas ou betas em locais onde bebidas eram servidas. O que realmente surpreendeu Harry foi o fato de alfas também serem barrados. Em sua mente, alfas eram onipotentes. Ou, aparentemente, quase.
"Alfas têm seus próprios espaços exclusivos, então os betas também exigiram esse tipo de privilégio. Dado que os betas são maioria em nossa sociedade, os alfas acabaram permitindo essa exceção," explicou Fred.
Harry ponderou, olhando para a placa com desconfiança. "Ômegas não têm um espaço próprio e exclusivo, pelo visto."
"Então, o que faremos? Harry precisa entrar. Ele tem que encontrar o contato que o Chang nos indicou. Estamos aqui apenas como acompanhantes. A menos que... Harry, você ficaria aqui fora enquanto nós entramos?" propôs Ron, sua voz tingida de apreensão.
"Não, eu vou entrar," interveio Harry, obstinado. O encontro era crucial demais para que ele simplesmente ficasse de fora.
"Este é o momento perfeito para testar nossa fórmula!" Fred exclamou, entusiasmado.
"Exatamente! Será um teste de campo ideal!" Jorge concordou, igualmente empolgado.
"Do que vocês estão falando?" Ron questionou, franzindo o cenho.
Fred olhou ao redor, assegurando-se de que ninguém os ouvia. "É uma fórmula para mascarar a classe ABO a que pertencemos," explicou em um sussurro.
"Mas vocês disseram que isso tinha efeitos colaterais," Ron argumentou.
"Diarreia, alergias e alguns desmaios," Jorge admitiu. "E talvez visão dupla e risada histérica," Fred acrescentou.
"Mas aprimoramos a fórmula," assegurou Jorge, ignorando o olhar cético de Ron.
"Bem, se vocês trouxeram a fórmula, vamos usá-la," disse Harry, para o espanto de Ron e a satisfação dos gêmeos.
Fred retirou um frasco do bolso interno do casaco. Parecia um frasco de perfume, mas continha um líquido avermelhado. "A fórmula deve ser aplicada na glândula que regula a liberação de feromônios nos ômegas," explicou Jorge, orientando Harry a abaixar a gola e expor a base de seu pescoço. "Isso deve inibir temporariamente a liberação de compostos químicos que te identificariam como um ômega, fazendo você passar por um beta."
Após aplicarem o "perfume transformante," Ron observou, nervoso, enquanto Harry cheirava o ar.
"Não sinto nenhum odor, o que pode ser um bom sinal. Quanto tempo isso durará?"
"Uma hora?" disse Fred, incerto mirando o seu irmão buscando confirmação.
"Talvez 40 minutos," Jorge respondeu, incerto.
"Então, não temos tempo a perder," concluiu Harry, avançando em direção ao clube onde alguns betas já se aglomeravam.
Harry observou o robusto segurança à porta, um homem beta de postura imponente e músculos bem definidos. Ele era tão alto e parecia tão forte que facilmente poderia competir fisicamente com um Alfa. O segurança estava armado com um dispositivo eletrônico sofisticado — o "ClassiScan" — que Harry já tinha visto em ação na escola. Esse aparelho, do tamanho de um smartphone, tinha um sensor que era colocado sobre a pele, geralmente na região do pescoço, para analisar os compostos odoríferos impregnados. Em seguida, uma tela exibia o resultado da análise, classificando o indivíduo em uma das três categorias do sistema ABO. Harry sentiu um arrepio ao se lembrar de quantas vezes desejara que o resultado fosse diferente; quantas vezes ele tinha sonhado com isso. Agora, talvez, seu sonho pudesse se tornar realidade.
"Próximo," anunciou o segurança, sua voz ressoando com autoridade.
"O que vocês querem aqui?" ele perguntou, lançando um olhar penetrante sobre Harry e seus amigos.
"Estamos procurando Amos Diggory, a mando de Haoran Chang," replicou Harry, ecoando palavra por palavra as instruções que seu chefe lhe dera.
O segurança estreitou os olhos, avaliando o grupo dos pés à cabeça. Depois, tocou seu auricular e informou que quatro jovens estavam ali para encontrar o proprietário do clube. Isso surpreendeu Harry e seus amigos; Chang nunca mencionara que Amos era o dono do estabelecimento.
"Entendido," murmurou o segurança, ouvindo algo através de seu dispositivo auricular. "Vocês podem entrar."
Harry começou a se dirigir à imponente porta de entrada, mas o segurança o deteve. "Precisamos confirmar a sua classe. É o protocolo da casa," explicou, enquanto abaixava a gola da camisa de Harry e posicionava o ClassiScan em seu pescoço.
Fred, Jorge e Ron aguardavam com ansiedade palpável, seus olhos cravados no aparelho enquanto ele processava as informações. Um "ping" sonoro ecoou, sinalizando o fim da análise. O segurança lançou um olhar rápido à tela do ClassiScan e declarou: "Pode entrar."
O semblante do segurança revelou uma surpresa momentânea ao testemunhar a efusiva comemoração dos três garotos ruivos. Eles vibraram como se acabassem de ouvir que seu time de futebol favorito havia conquistado um campeonato.
Harry, com o coração martelando em seu peito, soltou um suspiro profundo e aliviado. Naquele momento, ele era um beta — pelo menos aos olhos do mundo. Armado com essa nova identidade temporária, ele abriu a porta e adentrou o clube.
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