A reunião do Conselho Alfa
"Onde..." Draco chegou à entrada da tenda, ofegante. O olho roxo e o lábio cortado passavam despercebidos diante de sua ansiedade. A segunda fase havia terminado, e assim que recebera a notificação, ele correu para longe da mansão, ansioso para se distanciar daquelas terras e, acima de tudo, obter notícias sobre Harry. Precisava saber se ele estava bem. Afinal, a segunda fase só terminaria com a captura de todos os ômegas ou com a chegada de alguns à linha de chegada. E Draco temia profundamente a possibilidade da captura de Harry.
Mesmo tendo lutado com os alfas que subiram as escadas para o terceiro andar, Draco sabia que ele e Victor não eram suficientes para conter o grupo que havia se reunido para caçar Harry e seus companheiros. Aquilo não devia acontecer na corrida; alfas deveriam caçar e capturar, no máximo, dois ômegas, encerrando assim sua participação. Mas as regras foram completamente ignoradas durante a segunda fase.
"O que houve com você, meu filho?" A voz suave o puxou de seus pensamentos, e ele finalmente percebeu onde estava. Tão focado em chegar ao seu objetivo, Draco sequer notara a presença de sua mãe, Narcisa Malfoy, nas imediações da tenda onde o conselho alfa estava reunido. Ele a mirou com seu único olho bom, já que o outro estava inchado e roxo, quase fechado. Draco não sabia que seu pai havia trazido Narcisa ali. Ela parecia mais corada e saudável do que da última vez que a vira, trajando um longo vestido azul claro que, embora elegante, ressaltava sua magreza. Um estilo que Lucius Malfoy certamente aprovava.
"Mãe... Quando...?" Draco arfava, mal conseguindo respirar entre as palavras. Narcisa se aproximou, com seu toque delicado pousando no rosto suado e machucado do filho, examinando-o com olhos atentos e preocupados.
"Cheguei faz alguns minutos. É comum, após a segunda fase, o conselho alfa organizar uma espécie de festa." Ela suspirou levemente, como se refletindo sobre algo desagradável. "Na verdade, seu pai me informou que seria uma festa de encerramento da corrida britânica... Como se já soubessem de antemão que nenhum ômega conseguiria vencer essa etapa. Mas, ao que parece, as coisas não saíram como esperavam."
"Ômegas... venceram..." Draco conseguiu murmurar, sentindo um leve alívio no peito. As informações que ele obtivera durante o caos na mansão e no caminho até ali eram confusas e contraditórias. Alguns diziam que os ômegas tinham sobrevivido e vencido a segunda fase. Outros insistiam que não, que Voldemort os havia capturado. Havia ainda rumores de que, mesmo que tivessem vencido, eles teriam trapaceado e seriam julgados pelo conselho alfa, talvez até enviados para uma instituição correcional de ômegas.
"Sim, venceram... alguns deles, pelo menos," respondeu Narcisa, observando Draco com um olhar atento e analítico. Ela parecia prestes a fazer uma pergunta, mas se conteve por um momento, decidindo mudar o rumo da conversa. "Mas o conselho alfa não está nada satisfeito com essa resolução. Como eu disse, parecia que já antecipavam o encerramento da Corrida deste ano de uma forma diferente..."
"Claro que não estão felizes..." Draco praticamente rosnou, seus olhos – ou melhor, seu único olho funcional – faiscando perigosamente em um tom rubro, refletindo a raiva que ele tentava conter. O conselho alfa deveria, em teoria, garantir a ordem e os direitos dos alfas, mas tudo o que Draco presenciara sugeria algo muito mais sombrio. A conivência do conselho com a brutalidade que ele testemunhara na mansão era um sinal claro de que eles estavam dispostos a permitir qualquer atrocidade em nome de seu poder e influência. E o pior, aquilo não mostrava a superioridade dos alfas, mas sim sua decadência.
"Filho, seus olhos..." Narcisa disse em um tom suave, mas com um leve toque de reprovação, notando que o olho de Draco havia adquirido uma coloração vermelha intensa, o que podia sinalizava sua transformação iminente para uma forma feral.
"Desculpe..." Draco murmurou, tomando um momento para se recompor. Respirou fundo e desviou o olhar, voltando sua atenção para a grande tenda à sua frente. "Eles estão reunidos aí há muito tempo?"
"Eu não estou aqui faz tanto tempo, mas parece que convocaram uma reunião de emergência," respondeu Narcisa, seguindo o olhar do filho em direção à tenda. "Seu pai me instruiu a esperar aqui... junto com os outros ômegas." Ela indicou com um movimento de cabeça a tenda adjacente, onde Draco pôde avistar um grupo de ômegas sentados em cadeiras confortáveis. A mesa à frente deles estava farta, com chá e biscoitos, e eles vestiam roupas de gala exuberantes, como se ainda esperassem pela festa de encerramento mencionada por sua mãe.
Os ômegas, todos impecavelmente vestidos, conversavam em tons baixos e pareciam alheios à gravidade da situação. Draco observou por um instante, percebendo a desconexão total entre aquele ambiente de luxo e a brutalidade que havia testemunhado minutos antes. Ele cerrou os punhos, frustrado com a hipocrisia de tudo aquilo.
Ao sentir uma mão pesada sobre seu ombro, Draco se virou bruscamente, pronto para atacar. Seus nervos estavam à flor da pele, e seu corpo reagia antes mesmo de sua mente processar. No entanto, ao encontrar os olhos calmos de Victor, ele relaxou. Seu amigo tinha vindo ao seu encontro, ou, mais provavelmente, o havia seguido apressadamente, ao ver Draco correndo como um louco para a área dos alfas, em busca de notícias de Harry e os outros.
"Oh... Senhor Krum, fico feliz que esteja bem... Digo, 'bem' talvez seja uma palavra forte dadas as circunstâncias," comentou Narcisa, acenando com uma leve inclinação de cabeça para o alfa, que, apesar de ter uma aparência mais composta que Draco, ainda exibia alguns ferimentos visíveis.
"Vocês dois deveriam procurar a tenda médica," disse ela, agora com uma expressão preocupada.
Draco já se preparava para recusar a sugestão, quando sons elevados e calorosos ecoaram da tenda do conselho alfa. O trio olhou apreensivo para a entrada, que foi subitamente aberta. Um Lúcio Malfoy afobado surgiu ao lado de Quirrel e outros alfas do conselho, todos visivelmente irritados, enquanto o outro grupo que saía era liderado por Dumbledore, cujo olhar permanecia impassível. Ele estava flanqueado por Sirius, Lupin e Snape.
"Você simplesmente não pode aceitar isso, Fudge!" vociferou é Bartolomeu Crouch Jr., que, para a satisfação de Draco, estava visivelmente machucado – ferimentos que, ele sabia, foram em grande parte causados por ele.
"Essa decisão irá afetar a maneira como a população vê os alfas. Permitir que esses ômegas recebam o título de vencedores da segunda fase é um sacrilégio!" continuou Crouch, aumentando o tom de voz.
Cornelius Fudge, o líder do conselho alfa britânico, parecia acuado entre os dois grupos, lançando olhares nervosos de um lado para o outro, sem saber como mediar o conflito.
"Sacrilégio?" Dumbledore interveio, sua voz calma e firme enquanto arqueava uma sobrancelha elegantemente. "E o que tem a dizer sobre as provas que coletei dos abusos cometidos pelos alfas na segunda fase? Isso deve ser ignorado?" Sua voz ressoava como um julgamento, sem elevar o tom, mas carregada de autoridade. "Você se preocupa tanto com esses quatro ômegas que cruzaram a linha de chegada, mas ignora as consequências se o público do Reino Unido souber o que muitos alfas fizeram durante a corrida... A sala ao lado do quarto do bebê, por exemplo..."
"Não vejo como isso seria algo relevante ou perigoso," comentou Lúcio Malfoy com frieza, mantendo o tom controlado. "Não seria a primeira vez que alfas usam de estratégias para capturar ômegas."
"Aquilo não foi uma estratégia, foi um massacre!" rosnou Sirius, claramente à beira de perder a paciência.
"Curioso... Vocês sempre falam sobre a superioridade dos alfas com discursos cheios de floreios, mas precisaram recorrer a táticas tão baixas para provar isso?" disse Snape, em um tom ácido, enquanto olhava para as próprias unhas com desdém. "Imagino o que o público pensaria disso."
"Quem pediu sua opinião, ômega? Você nem deveria estar aqui no conselho alfa!" Crouch Jr. praticamente urrou, sua raiva atingindo um ponto de ebulição.
"Senhores..." Cornelius tentou falar, a voz hesitante se perdendo em meio à confusão crescente, enquanto o caos se instaurava ao seu redor e ele claramente não tinha controle da situação.
"Ah, então era aqui que todos estavam?" A voz melodiosa cortou a discussão como uma lâmina afiada, e imediatamente uma tensão tomou conta do ambiente. Draco sentiu o corpo de Victor se enrijecer ao seu lado, seus punhos se fechando com tanta força que parecia que suas unhas iriam perfurar a pele. Ele seguiu o olhar do amigo e viu a origem da voz: um homem de aparência refinada, vestindo um sofisticado terno escuro com uma gravata verde, que se aproximava da tenda do conselho alfa. Atrás dele, com uma postura arrogante, mas mantendo certa deferência, estava Alfred Windsor, o príncipe herdeiro, impecavelmente vestido.
O que mais intrigava Draco era o fato de o príncipe Windsor, geralmente altivo e imponente, parecer seguir o homem alguns passos atrás, como se lhe devesse submissão. Havia algo de perturbador nessa dinâmica.
"Eu e o príncipe Windsor estávamos no salão de festas, aguardando pela celebração," disse o homem com um tom suave, mas carregado de autoridade, um sorriso cativante brincando em seus lábios. "Estávamos nos perguntando o que poderia estar atrasando todos."
Seu charme parecia envolver o ambiente. Dumbledore o observou com um raro brilho de irritação nos olhos, enquanto Lúcio, Crouch e Quirrell lançavam olhares quase devotos na direção do recém-chegado. Draco se perguntou: Seria esse o tão temido Voldemort?
"Oh! Senhor Riddle..." Fudge, visivelmente aliviado pela chegada do homem, o cumprimentou com um aceno respeitoso. "Estranhei que não estivesse presente na reunião."
"Estive ocupado, concedendo entrevistas e verificando se tudo estava pronto para a terceira fase," anunciou Riddle, exibindo seu sorriso encantador.
"Vai haver uma terceira fase?" perguntou Crouch, com hesitação na voz.
"É claro!" Riddle riu, aproximando-se mais do grupo, enquanto Quirrell se movia rapidamente ao seu lado, como um servo leal. "A corrida sempre teve três fases, a menos que, é claro, os ômegas prefiram aceitar o prêmio da segunda fase e desistirem de continuar, como ditam as regras."
"Agora você se importa com as regras?" Uma voz fria interrompeu, chamando a atenção de Riddle. Ele se virou, encontrando o olhar furioso de Draco, acompanhado pelo igualmente raivoso Victor.
"Eu sempre me importei com as regras, jovem alfa," Riddle sorriu novamente, um brilho perigoso em seus olhos. "Mas, às vezes, as interpretações dessas regras podem variar de alfa para alfa."
Draco abriu a boca para responder, mas Lúcio Malfoy o interrompeu rapidamente, tomando a palavra com um tom diplomático.
"Bem, senhores alfas, isso parece resolver parte da discussão que tivemos na reunião... Se o próprio organizador da corrida confirma que haverá uma terceira fase, não há mais o que debater."
"Mas e quanto às provas dos abusos?" Sirius Black interveio, com uma expressão de indignação. "O que o senhor Riddle tem a dizer sobre isso?"
"Talvez alguns alfas tenham se deixado levar," disse Riddle, sua voz ainda carregada de suavidade, mas agora com um tom mais calculado. "Como eu mencionei, as regras estão sujeitas a interpretações. É possível que alguns alfas tenham ido longe demais, assim como é possível que alguns ômegas tenham trapaceado... Depende da perspectiva, não acha?" Ele arqueou as sobrancelhas, lançando um olhar insinuante para Dumbledore, como se compartilhasse um segredo. Talvez Riddle já soubesse que Dumbledore estava investigando seus movimentos e que Harry, Neville e os outros haviam recebido ajuda, algo que poderia resultar em desqualificação imediata.
Subitamente, o príncipe Windsor, que até então havia se mantido em silêncio, deu um passo à frente e falou com um rosnado.
"Chega de discussões. Uma festa foi organizada, nobres e celebridades de toda parte estão presentes, e o conselho alfa não pode se dar ao luxo de deixar esses convidados esperando."
Com essa declaração, a tensão no ar pareceu se dissipar momentaneamente, e o debate foi encerrado, para a frustração de Draco e Victor. No entanto, um olhar de advertência lançado por Sirius em direção ao primo fez com que Draco se contivesse, reprimindo sua insatisfação em silêncio.
"Você mudou..." A voz suave de Narcisa fez Draco voltar sua atenção para a mãe, que o olhava com uma mistura de apreensão e orgulho. Ele franziu o cenho, confuso. Será que de fato havia mudado? As palavras dela ressoaram dentro de si, mas o que exatamente havia mudado nele?
Antes que pudesse responder, Lúcio Malfoy se aproximou, seu olhar era severo, carregado de reprovação. "O que está fazendo aqui?" perguntou o pai, a voz fria e controlada. "Por que não foi para a tenda dos médicos? Ainda há tempo de se recompor e se apresentar de forma respeitável na festa."
Draco lançou um olhar furioso para o pai, um olhar que fez Lúcio hesitar por um breve momento, surpreso com a intensidade da reação do filho. Era um olhar carregado de raiva, mas também de algo mais profundo—desilusão. A figura imponente do pai, sempre vista como um exemplo de força e autoridade, agora parecia menor, mais frágil aos olhos de Draco.
Lúcio, incomodado com a mudança no filho, pegou a mão de Narcisa e a arrastou consigo, sumindo junto com os outros membros do conselho alfa rumo à celebração. As luzes da festa começaram a brilhar ao longe, mas Draco sentia-se cada vez mais distante daquele ambiente de falsas alegrias e comemorações vazias.
Ele não tinha a mínima vontade de festejar. Em seu peito, ainda pulsava uma inquietação, uma sombra de apreensão quanto ao destino de seus amigos ômegas, Harry, Neville, Luna e Fleur. A corrida estava longe de terminar em seus pensamentos, e os horrores que ele testemunhou durante a segunda fase pesavam em sua mente.
"Vamos..." Victor, silencioso até então, colocou a mão firme sobre o ombro de Draco, seu gesto carregado de cumplicidade. Ele o guiou para o caminho oposto, afastando-o do brilho da festa e da superficialidade dos fogos de artifício que explodiam no céu agora escurecido.
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