A fúria dos alfas
"O que significa tudo isso? Vocês planejaram essas catástrofes para o evento?" questionou alguém, enfurecido.
"Não consideraram que isso poderia ferir algum alfa?" indagou outro, com voz exacerbada.
"De fato, alfas foram prejudicados! Meu filho contou que não conseguiu capturar nenhum ômega nesta fase devido às duas avalanches ocorridas! Parece que o ômega que ele desejava foi soterrado em uma delas..." disse um terceiro.
"E seu filho não o socorreu? Tirando o ômega dos escombros?" alguém perguntou.
"Ora, ele iria querer um ômega todo sujo e ferido? Ele agiu corretamente ao não fazer nada... Afinal, se o ômega fosse verdadeiramente fértil, teria se livrado do soterramento por conta própria...", respondeu com desprezo.
"E quanto ao meu caso? Meu filho foi atingido na cabeça por uma pedra lançada por um ômega!" exclamou um alfa, com o rosto repleto de papadas de gordura e levemente avermelhado.
"Isso não parece estar relacionado às catástrofes..." comentou outro. "E um alfa sendo atacado por um ômega e saindo derrotado sugere uma fraqueza do alfa".
"O que você disse?" rosnou o alfa das papadas, encarando o outro alfa que havia feito o comentário, pronto para atacá-lo.
"Senhores, por favor, acalmem-se", interveio Cornélio Fudge, líder do conselho alfa britânico, tentando apaziguar a turba de alfas que invadira seu camarote exigindo explicações após o término da primeira fase. Ele previra um tumulto como esse, por isso havia solicitado a presença urgente de seus subordinados. Contudo, eles ainda não haviam chegado, o que o deixava extremamente nervoso. Afinal, estar diante de um grupo de alfas poderosos e furiosos era, por si só, uma situação perigosa.
"Quando você disse que a corrida deste ano seria diferente, nunca imaginamos que colocaria os alfas em risco!", continuaram a reclamar.
"Um número reduzido de ômegas avançou para a próxima fase. Você está ciente disso, Sr. Fudge? Não teremos ômegas suficientes para os alfas concorrentes", frisou outro.
"A corrida está arruinada! Exigirei que meus filhos se retirem da competição; eles não se submeterão a essa humilhação...", sentenciou outro alfa, recebendo acenos e murmúrios de concordância dos demais.
"Humilhação? O que vocês estão falando?" A porta do camarote de Fudge se abriu novamente, permitindo a entrada de mais alguns alfas no tumulto. Contudo, para alívio do líder alfa, ele reconheceu esses alfas em particular. Quem falava era Bartolomeu Crouch Jr., ainda vestido com as roupas da corrida: calças longas e uma camisa regata que evidenciavam sua musculatura robusta. Apesar de ser membro do conselho, Crouch havia participado da corrida, prática que mantinha desde sua formatura na academia alfa.
"Vocês parecem esquecer quem somos", continuou Crouch, dirigindo-se ao grupo de alfas. "Somos alfas, a classe de organismos mais forte a caminhar por este mundo. E não seríamos capazes de enfrentar alguns obstáculos? Tememos nos sujar de neve ou terra? Para mim, a verdadeira humilhação é ver alfas fugindo de desafios que demonstram nossa superioridade. Se quiserem retirar seus filhos da corrida, façam-no. Mas talvez fosse prudente vocês mesmos realizarem um teste, para verificar se continuam sendo alfas ou se transformaram em betas...".
Esse discurso levou alguns alfas a trocarem olhares, meio constrangidos pelas palavras de Crouch. Contudo, outros pareciam ainda mais enfurecidos.
"E você acha normal submeter alfas a perigos que podem ser fatais? Que absurdo é esse?", questionou um deles, quase rugindo.
"Perdoem o jovem Crouch; ele ainda está muito animado e excitado pelo emocionante término da primeira fase da corrida. Todos sabemos como a adrenalina de participar de um evento assim pode nos tornar um pouco precipitados em nossas palavras e ações," falou um homem entre os alfas que entraram no camarote. Fudge demorou a reconhecê-lo, pois ele não era membro do conselho alfa britânico. Era um dos alfas convidados para auxiliar na organização do evento deste ano. Ele havia oferecido seus serviços em vez de participar da corrida, chegando mais tarde ao evento e enviando inicialmente um representante, que ainda estava ao seu lado — um alfa nervoso e gaguejante chamado Lorde Quirrell.
"Permitam-me explicar o que o jovem Crouch quis dizer. Nós, alfas, somos poderosos e influentes, isso é inegável, meus caros. Não é à toa que lideramos este mundo. Betas não conseguiriam manter o equilíbrio das coisas, e os ômegas, coitados, mal saberiam por onde começar," disse o homem com eloquência, provocando risos em alguns alfas e aliviando a tensão no ambiente. Fudge notou que o homem tinha uma estatura alta e postura imponente, emanando uma aura de autoridade e controle. Seu rosto era simétrico e marcante, com traços angulares e uma expressão frequentemente impassível ou levemente sarcástica. Seus olhos eram notavelmente cinza profundo, quase pretos, penetrantes e calculistas, capazes de deixar quem os encarasse desconfortável sob seu olhar incisivo.
"A corrida, como bem devem saber, não só pela experiência, mas também pelos livros de história, deve ser um evento que nos ajuda a reproduzir, mas também demonstra ao mundo porque os alfas são os seres respeitados que somos. Mostra a todos por que devem se submeter a nós. Não deve deixar transparecer nenhuma dúvida sobre o nosso poder," continuou o alfa estrangeiro, falando sem ser interrompido. Todos pareciam hipnotizados por aquele homem de cabelos pretos, lisos e bem cuidados, cortados de maneira elegante, levemente mais longos no topo, conferindo-lhe um ar distinto. Sua pele era pálida, com um tom levemente oliva, limpa e bem cuidada. Ele também ostentava um bigode e uma barba fina e bem aparada, adicionando um ar de maturidade e sofisticação. Seus lábios eram finos, frequentemente curvados em um meio sorriso que sugeria confiança e um toque de desprezo.
"Parece que, infelizmente, ao longo dos anos, esquecemos um ponto importante: somos fortes e devemos inspirar, além da óbvia admiração, também o medo. Sim, meus caros, o medo é uma ferramenta poderosa quando bem utilizado, pois evita desvios e perigos que possam manchar a nossa sociedade equilibrada. A corrida não deve ser apenas um espetáculo de alfas tomando ômegas; deve ser um evento onde alfas demonstram sua superioridade... E apenas os ômegas mais valiosos devem continuar na corrida. Hoje mesmo, presenciei ômegas sendo capturados que nem valiam um punhado da terra que pisamos. Ômegas que nem lideravam a corrida! Como permitiram que seus parentes se envolvessem com ômegas tão descartáveis? E pior, já pensaram se algum dos seus filhos engravidasse um desses ômegas? Que descendência fraca surgiria dessa união?" ele falava, mas foi interrompido pela televisão de tela plana na parede do camarote. A TV mostrava um repórter se aproximando da área onde os ômegas vencedores da primeira fase descansavam e tratavam de ferimentos. Porém, o repórter focava em um ômega específico, um jovem de cabelos castanhos desarrumados, óculos e olhos verdes intensos.
"Você, ômega de inscrição número 5678," disse o repórter com autoridade. O ômega estava concentrado em cuidar de outro ômega ao seu lado, aparentemente machucado.
"Ei... Número 5678," tentou novamente o repórter.
"Eu tenho um nome, sabia? E posso garantir que ele não é um número," respondeu o ômega com petulância, surpreendendo e irritando o repórter e os alfas que assistiam.
"Bem..." o repórter pigarreou, meio confuso, mas continuou sua missão. "Nossos drones capturaram imagens suas atirando uma garrafa na cabeça de Alfred Enrich Borges Segundo, um respeitável alfa, filho do dono de uma grande rede de concessionárias de automóveis na Inglaterra. Isso foi um ato repreensível. O que tem a dizer em sua defesa? Como pôde atacar um alfa tão estimado, ao qual qualquer ômega se deitaria aos pés para ganhar um mínimo de sua atenção?"
"Esse foi o ômega que atacou meu filho?" exclamou Alfred Enrich Borges Primeiro, um alfa de cabelos loiros meio esbranquiçados. Até então, ele estava fumando um charuto pungente, mas, consumido pela fúria, acabou mordendo-o, fazendo com que o caro charuto caísse no chão, ainda aceso. "Fudge, você deve prender esse ômega! Isso é claramente uma afronta a nós, alfas! Cadê a equipe de investigação e polícia do conselho? Eles devem capturá-lo e..."
"Shhh..." interrompeu-o o alfa estrangeiro, surpreendendo a todos ao fazer com que o alfa exaltado se acalmasse. Fudge ficou surpreso ao constatar que tal alfa também detinha uma postura dominante, embora não precisasse recorrer a feromônios para impor sua autoridade. Aparentemente, seu poder não se baseava apenas em aspectos fisiológicos. "Prestemos atenção na resposta do ômega. Isso será claramente educativo para todos nós."
De fato, os alfas voltaram sua atenção à tela da TV, inclusive Fudge, ansioso por entender a situação.
"É estranho você considerar minha ação repreensível," respondeu o ômega. "Vocês não buscam ômegas férteis? E o que seriam esses ômegas, segundo o que nos ensinam? Aqueles que mais resistem, que lutam para chegar em primeiro, que lutam para não serem capturados. É exatamente isso que estou fazendo, não é? Ou eu deveria simplesmente me submeter ou... me deitar aos pés do valoroso alfa, como você enfatizou. Se fosse esse o caso... a corrida não deveria existir."
Conforme o ômega falava, os alfas que assistiam ficavam cada vez mais irritados, alguns gritando palavrões e até fazendo promessas de capturar o referido ômega e fazê-lo engolir suas palavras.
"Mas por que vocês estão furiosos?" questionou o alfa estrangeiro ao seu público, com as sobrancelhas arqueadas em surpresa. "Embora seja raro, dada a limitada capacidade intelectual de um ômega, como sabemos, não podemos negar que há verdades nas palavras deste. A corrida foi criada como um meio de selecionar os ômegas que realmente têm valor para nós, os alfas. Um ômega verdadeiramente fértil, que deseja genuinamente escapar e que resiste, não só é fértil, mas também gerará filhos e filhas fortes, alfas melhores para a próxima geração. Vocês se queixam de que poucos ômegas avançaram para a próxima fase, mas deveriam estar gratos... A primeira fase filtrou os melhores dentre a multidão de ômegas sem qualquer valor reprodutivo. Ômegas como este..."
Ele apontou para a tela, onde o jovem ômega continuava a ouvir o repórter que tentava, sem sucesso, gaguejar uma resposta à altura do que havia sido dito anteriormente pelo entrevistado.
"São exatamente esses ômegas que devemos almejar como esposos. Este tipo de ômega certamente gerará filhos e filhas excepcionais. No entanto, isso só se aplica se o alfa também for excepcional. Um alfa que não se lamenta diante de obstáculos, que não fica horrorizado ao ser atacado por um ômega... Um alfa que verdadeiramente honra sua herança ancestral de caçadores. Que a corrida retorne às suas raízes, não como uma simples competição, mas como uma autêntica caçada!"
Com o término desse discurso, a maior parte dos alfas aplaudiu, entusiasmados. A fúria que antes sentiam parecia esquecida, substituída por uma nova perspectiva sobre a corrida e o valor dos ômegas que demonstravam resistência e força.
Fudge soltou um suspiro aliviado, sentindo o peso da tensão diminuir um pouco. Ao mesmo tempo, uma mão pousou em seu ombro, e ele se virou para encontrar Lucius Malfoy ao seu lado, com um sorriso satisfeito estampado no rosto.
"Tom Riddle é de fato um alfa impressionante, não acha? Fizemos a escolha certa ao aceitar sua ajuda para organizar o evento da corrida," comentou Lucius, com um brilho de fascínio evidente em sua voz. Fudge concordou, mas sua resposta foi marcada por uma hesitação perceptível. O discurso de Riddle havia sido, sem dúvida, impactante e carismático, mas uma sensação de apreensão ainda inquietava Fudge. Ele se perguntava se não tinha sido imprudente ao delegar a organização do evento a outros alfas, a ponto de não estar ciente de eventos críticos como as avalanches ou a inclusão de uma montanha na primeira fase da corrida. Que outras surpresas Tom Riddle teria planejado para a próxima etapa?
A mente de Fudge estava turbulenta com esses pensamentos. "Talvez eu devesse conversar com Dumbledore sobre isso...", ponderou interiormente, ainda incerto sobre a melhor abordagem a tomar. Enquanto isso, observava os alfas ao redor, agora animados e ululantes, reunidos em torno de Tom Riddle, que os observava com um sorriso enigmático nos lábios. O ar de mistério que Riddle emanava só aumentava a inquietação de Fudge, deixando-o questionando as verdadeiras intenções por trás daquela fachada carismática.
~~** Palavras da autora **~~
Tom Riddle finalmente fez sua aparição, mas, como vocês notaram, ele não se assemelha à sua representação nos livros e no cinema. Optei por dar a ele uma aparência mais humana, distanciando-me da imagem tradicional.
No próximo capítulo, apresentarei mais personagens importantes, enriquecendo ainda mais nossa história. Em breve, também daremos início à segunda fase da corrida, que promete ser repleta de emoção e reviravoltas.
Estou curioso para saber a opinião de vocês até agora. Espero que estejam gostando da narrativa e, quem sabe, até torcendo pelos ômegas (e não pelos alfas)! Compartilhem suas impressões e expectativas para o que está por vir.
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