A corredora Misteriosa

Harry acordou cedo e observou o sol nascer, filtrando-se por entre as nuvens escuras de um céu invernal. O silêncio predominava no que seria o dormitório dos ômegas para a segunda fase da Corrida. Apesar do encontro com Dumbledore ter ocorrido mais de um dia antes, ainda pairava no ar um arrepio de tensão relativo à missão e à própria Corrida. Infelizmente, a reunião teve que ser encerrada abruptamente, pelo menos para os ômegas participantes, pois o ônibus que os levaria ao dormitório estava prestes a partir, e eles precisavam estar nele. Seria muito difícil até mesmo para o poderoso alfa Dumbledore explicar o que estava fazendo com três ômegas da corrida sem levantar suspeitas para a investigação que ele havia proposto.

"Voldemort..." ele murmurou, a janela onde encostava a testa logo ficou embaçada com o calor de sua respiração. O lugar era incrivelmente frio. O aquecedor era praticamente inexistente, uma condição que parecia proposital. Ômegas doentes e mal alimentados seriam muito mais fáceis de capturar na segunda fase da corrida, que exigia não apenas velocidade, mas também uso astuto do cérebro.

Harry ainda tentava compreender como essa pessoa chamada Tom Riddle poderia ter influenciado tanto a sua vida e a de Neville. Do pouco que pôde absorver da reunião, entendia que esse tal de Tom, ou Voldemort (que nome ridículo, Harry pensava), estava profundamente envolvido no Alfaismo, a doutrina louca da supremacia Alfa que dominava o Leste Europeu e cujas garras se estendiam para o Reino Unido. O que seus pais teriam a ver com isso? E a família de Neville? Ele precisava saber mais.

Além disso, por que a Corrida seria um palco importante para os planos de Voldemort? Harry não conseguia entender como quase matar ômegas e alfas poderia ser visto como algo positivo. Precisava saber mais, mas desde a reunião, Dumbledore não havia mais se comunicado com eles. Como ele poderia ajudá-lo na missão?

"Que complicação!" resmungou Harry, afastando-se da janela embaçada e caminhando em direção ao seu beliche no quarto quase vazio. As paredes descascadas e o ar sombrio contrastavam com o pequeno espaço que compartilhava. Neville já estava se levantando do beliche ao lado, enquanto Luna, que também dormia com eles em uma pequena cama num canto, levantava-se parecendo mais um zumbi do que uma pessoa. Ela tentava acompanhá-los na corrida matinal que faziam, se preparando para a iminente segunda fase.

"Quero férias..." murmurou ela, tateando às cegas por seu tênis.

Harry sorriu.

"Você não precisa nos seguir, se não quiser," comentou Neville.

"Eu não vou ficar para trás!" Luna reclamou, calçando o tênis com certa agilidade. "Somos uma equipe, esqueceu?"

Uma equipe, aquilo soava estranho dentro da corrida. Toda a estrutura da competição desencorajava a formação de equipes; era uma competição de ômegas contra alfas, e também de ômegas contra eles mesmos. União e companheirismo não eram glorificados na corrida.

Mas ali estavam eles, formando uma equipe.

Os três saíram de seu quarto rumo a um corredor que conduzia a um amplo campo circular. Lá fora, havia um jardim não muito bem cuidado, mas que muito se assemelhava a uma pista atlética de corrida. De fato, era ali que eles haviam treinado no dia anterior e planejavam treinar novamente naquela manhã, antes do sinal que os chamaria para o refeitório e o café da manhã.

"Luna, eu sinto muito," começou Neville a se desculpar com a garota enquanto corriam.

"Alguém já lhe disse que você tem essa mania de ficar pedindo desculpas por coisas que nem eu sei por que?" comentou Luna, tentando acompanhar o ritmo deles.

Harry deu uma leve risada. "Eu já falei isso para ele."

Neville exibiu uma expressão irritada, embora tingida de rubor. "Mas o meu pedido de desculpa tem um motivo!"

"Qual seria?" Luna questionou.

"Você está se metendo em uma confusão por nossa causa," Neville disse, gesticulando com as mãos como se elas pudessem expressar melhor do que suas palavras. "Digo, essa história da missão..." Acrescentou em um sussurro. "Você não precisaria participar, mas acabou sendo arrastada..."

Harry, nesse caso, teve que concordar. De fato, Luna não deveria se sentir obrigada a se envolver nos problemas deles. Eles tinham acabado de se conhecer! Ele sabia pouco sobre as motivações da garota para entrar na corrida, apesar de rapidamente sentir afinidade por ela.

"Quanto a isso, não precisa se preocupar..." disse ela, mesmo vendo a expressão claramente preocupada de Neville ao observá-la.

"É sério!" garantiu ela, forçando um sorriso enquanto corria. "Minha vida é tudo menos normal. Já falei antes que meu pai é editor de uma revista de coisas sobrenaturais, não é? Minha vida toda foi envolvida em investigações de mistérios. Minha mãe até era uma investigadora paranormal, daquelas que invadem casas assombradas, filma e usa todas aquelas engenhocas para comunicar com espíritos. Na verdade, foi dessa forma que ela conheceu meu pai, um beta que adora o oculto e também adorava escrever contos de terror que ninguém lia," falou ela, com clara afeição e orgulho em sua voz.

"Uau..." comentou Harry, surpreso com a vida nada comum de Luna.

"Minha mãe era uma ômega, de uma família até importante... Mas ela decidiu que se casaria com meu pai. E quando digo 'decidiu', isso significa que ela fugiu de casa e casou-se às escondidas com meu pai. Ela era bem rebelde..." Agora, uma expressão de tristeza começou a assumir suas feições. "Minha mãe morreu há dois anos," admitiu ela aos amigos. "E a revista que eles construíram juntos está à beira da falência... Para complicar as coisas, a família de minha mãe, que até então tinha ficado calada todos esses anos, agora veio processar meu pai, acusando-o de sequestro e querendo que ele compense a perda de uma ômega fértil... Meu pai não tem dinheiro. A outra proposta seria que eu fosse entregue a eles... Uma ômega por outra ômega. Acredita?"

Harry sentiu raiva; mais uma vez, ômegas sendo tratados como propriedade e objetos. Luna era só mais um exemplo entre tantos.

"Por isso entrei na corrida... Se conseguir alcançar até a segunda fase, vamos conseguir dinheiro para pagar o processo... Meu pai não foi muito a favor do meu plano, mas... meio que não tínhamos muitas alternativas."

"Ficar ao nosso lado pode prejudicar o seu plano..." comentou Harry, também ficando preocupado.

"Eu nem pensei que iria passar da primeira fase! Foi graças a vocês que passei e... essa coisa de mistério, missão... Sinceramente, eu estou curiosa... Sou mesmo filha de meu pai e mãe... Um bom mistério sempre me atrai! Quero saber mais!"

Harry estava prestes a reclamar, não achava que Luna deveria simplesmente aceitar fazer parte da "missão" de Dumbledore só por amar mistérios. O que estavam prestes a enfrentar parecia ser algo extremamente perigoso, demais para se justificar apenas pela satisfação da curiosidade. Mas, antes que pudesse falar algo, foi interrompido por um empurrão. Uma corredora passou por ele, aparentemente indiferente por quase tê-lo derrubado.

Com destreza, Harry recuperou seu equilíbrio e observou a ômega que o havia empurrado. Ela possuía uma figura esbelta, com cabelos loiros quase platinados que balançavam com o movimento da corrida. Vestia uma roupa de corrida de qualidade claramente superior à que ele e seus amigos usavam. Ela lançou um olhar relance para trás, seus olhos azuis vibrantes brilhando com um ar de desafio, sem diminuir o ritmo de sua corrida. O sorriso de desdém que ela lançou irritou profundamente Harry.

"Você está bem?" perguntou Neville, preocupado com o amigo, que parecia distante.

"Oh! Harry, eu não deixaria isso passar..." disse Luna.

"Luna, não o estimule! Não estamos aqui para brigar com outros ômegas; precisamos nos preservar para a segunda fase..." Antes que Longbottom pudesse continuar, Harry já tinha saído correndo para alcançar sua rival.

Ela queria correr... Ela veria o que era correr de verdade.


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