Um anjo chamado Hawks
Tudo era a mais pura escuridão, não havia um feixe de luz e Maya só sabia que estava caindo, por conta do vento contra seu corpo e o fato dela não conseguir encontrar nenhuma estrutura sólida onde se apoiar.
Parecia ser uma queda infinita e o fato de não conseguir respirar, estava lhe causando uma sensação de pânico. Precisava dar um jeito naquela situação, ou acabaria morrendo por falta de oxigênio a qualquer momento.
Mas assim que ela tentou abrir a boca em busca de ar novamente, sentiu como se uma bolha gigante de ar atingisse suas costas, ela atravessou algo macio com o peso de seu corpo e a claridade surgiu no mesmo instante, de forma brusca que a fizera fechar os olhos com força, era luz demais e seus olhos não estavam conseguindo se adaptar. Mas o oxigênio finalmente surgiu e ela pode encher seus pulmões, para abrir a boca e finalmente gritar, enquanto ainda caia numa velocidade muito maior que antes. Seu corpo rodopiou no ar e ela não gostou nada da sensação de pressão que se apossou de seu estômago. Ela até vomitaria se ao menos tivesse algo em sua barriga naquela altura do campeonato,
Com muito esforço conseguiu abrir um dos olhos e viu apenas um vasto azul brilhante, que ela reconheceu por ser o céu, já que o sol estava logo ao lado.
Ela estava caindo do céu?
Tentou virar seu corpo, depois de várias cambalhotas no ar, ela enxergou uns pontinhos tomando forma, redescobrindo vários conjuntos de casas e prédios e ela estava caindo rápido demais na direção deles. Ela ia morrer numa queda daquelas, não tinha onde se apoiar e muito menos como diminuir a velocidade em que caia, se encaminhando para uma morte certa.
Fechou os olhos de novo e só esperou pelo choque do seu corpo contra o solo, rezando para que não sentisse dor alguma e que a morte fosse instantânea.
— Te peguei.
Houve o som de uma voz que ela não soube reconhecer de onde veio e no segundo seguinte seu corpo estava sendo abraçado por braços fortes, que a aconchegaram e a sensação intensa da queda diminuiu, também mudando a direção do vento que ainda atingia seu corpo.
Maya se agarrou aquela solidez, reconhecendo por ser o corpo de alguém, quente, reconfortante e cheiroso. Seus braços rodearam os ombros do indivíduo no mesmo instante por puro impulso, enquanto ela ainda mantinha os olhos fechados com força.
Estava em pânico.
Ela sentiu vontade de chorar de novo, mas agora, de alívio por perceber que estava segura. De certa forma estava.
E ela nem ao menos sabia como.
O que foi a questão que despertou sua curiosidade e a fez abrir os olhos aos poucos,já que o vento agora não passava de uma suave brisa que batia contra seu rosto. A primeira coisa que suas pupilas azuis captaram, foram um par enorme de asas vermelhas, que se agitavam graciosamente no ar.
Asas?
Maya jogou a cabeça para trás, afastando seu queixo do ombro da pessoa que lhe carregava no ar. Ela observou primeiro os fios loiros que se agitavam com o vento, foi descendo o olhar, um par de óculos laranjas que a impedia de ver corretamente a cor das íris dele, um cavanhaque bem feito abaixo do queixo e um sorrisinho maroto nos lábios bem desenhados.
Loiro.
Asas.
Ele era um anjo?
Ela havia morrido e agora estava sendo levada pro céu?
— Você é um anjo? — Conseguiu perguntar com certo receio, ela não sabia se estava preparada para ouvir que estava morta.
— Posso ser o que você quiser. — O sorriso dele aumentou um pouco mais, assim como os braços dele se apertaram um pouco mais em torno do corpo dela. — Nós já vamos pousar. — Avisou antes dela perceber que eles realmente estavam descendo aos poucos.
O loiro finalmente alcançou o chão, soltou as pernas dela primeiro, bem devagar, mas manteve as mãos agarradas nos braços dela, como se quisesse garantir que a mesma não iria cair totalmente, já que a expressão que Maya deveria carregar naquele momento, era a mais confusa e atordoada possível.
— Você… — Ela não sabia como formular aquela pergunta, suas pernas estavam bambas, pareciam gelatinas, seu coração ainda palpitava no peito e ela sentia as lágrimas umedecendo seus olhos. — Você voa? Como?
— Essa é a minha especialidade. — Ele respondeu de forma humorada, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Você ainda deve estar confusa, mas eu sou o Hawks, se lembra?
— Hawks? — A garota piscou atônita, ela realmente deveria saber quem ele era? Sua cabeça parecia estar girando ainda e ela estava mais preocupada em quando iria voltar a ter controle sobre suas pernas, porque se ele a soltasse, ela ia cair a qualquer momento. — Desculpe, eu não sei quem você é.
Ela viu a expressão do loiro mudar, ele arqueou as sobrancelhas por trás dos óculos e pareceu tão confuso quanto ela.
— Certo, você não parece estar bem, eu deveria te levar ao hospital.
Maya maneou a cabeça de forma automática, desviando os olhos de seu anjo salvador, para observar ao redor. Estavam no centro da cidade, haviam pessoas indo e vindo, algumas olhavam na direção dela, outras acenavam e sorriam. Ela ouviu algumas crianças gritarem o nome “Hawks” e acenarem. Então aquelas pessoas também estavam vendo aquele anjo?
Ela realmente tinha morrido, não havia outra explicação.
Onde ela estava?
Aquilo parecia uma cidade normal. Será que o céu era um reflexo da sua vida? Porque ela não estava vendo fogo e caos, então queria dizer que não estava no inferno.
— Eu morri? — Ela se voltou para o anjo Hawks mais uma vez. Precisava de respostas, ou iria acabar surtando a qualquer momento.
E pelos céus, por que ela não conseguia deixar de sentir suas pernas tão fracas?
— Não, você está viva. Só preciso descobrir se está realmente bem. De onde você caiu?
De onde ela caiu?
Ela nem sabia como responder aquele tipo de pergunta.
Se lembrava de ter brigado feio com sua mãe, a pulseira no seu pulso estourou, um vento forte atingiu ela e logo estava caindo na mais completa escuridão, antes do céu surgir diante de seus olhos.
— Eu caí em um buraco… — Tentou explicar, mas sua cabeça parecia girar quando ela se lembrava de todas aquelas informações. — Eu estava na minha casa… E depois estava caindo do céu.
— Hawks!
Uma voz mais grossa e imponente gritou pelo nome do anjo, fazendo com que o mesmo desviasse os olhos de Maya para virar a cabeça por sobre o ombro.
A garota também inclinou a cabeça pro lado e levou um susto gigantesco ao ver o enorme homem parado diante deles. E a altura dele, junto de seus músculos exagerados não foi o que a assustou, mas sim o fato do rosto dele estar pegando fogo.
— Fo-Fogo… Água… Alguém precisa ajudá-lo. — Ela olhou em pânico ao redor, tentando chamar atenção de alguém que pudesse ajudar a apagar o fogo daquele homem.
Mas como ninguém parecia prestar atenção nela, se debateu um pouco para se livrar das mãos de Hawks, tomando finalmente controle sobre suas pernas e correu na direção do homem, ela precisava ajudá-lo antes que as chamas consumissem o restante de seu corpo. Mas quando ergueu a mão para tentar bater contra as chamas na tentativa de apagar, seus dedos queimaram e o choque do calor a fez tropeçar para trás, agarrando sua mão machucada e caindo sentada sobre a calçada, enquanto seus dedos latejavam.
Maya levou longos segundos para perceber que o homem não parecia sentir nada enquanto as chamas crepitavam por sua face, mas era fogo de verdade, seus dedos estavam queimados, ela estava sentindo a dor que adormecia a ponta de suas digitais e a fazia choramingar.
Mas que tipo de lugar era aquele?
Como ela não estava morta? Não existiam homens alados e nem homens que pegavam fogo sem se queimar. Aquilo era um absurdo.
— Ficou maluca, menina? Não pode tocar nas minhas chamas, você pode se machucar feio. — O enorme homem se inclinou na direção dela, se abaixando aos poucos e estendendo a mão para pegar a dela que havia se queimado.
Mas Maya apenas ficou estática o encarando. Ela não deveria estar no céu? Por que Hawks claramente era um anjo. Mas aquele enorme homem coberto em chamas era o que então?
— Você é o diabo, ou só um demônio que veio me buscar?
— O que? — Ele pareceu travar em seus movimentos, a encarando como se tivesse ouvido uma blasfêmia. — Demônio? Você acha que sou um demônio?
A única coisa que Maya conseguia pensar naquele momento, era que ela ainda iria passar pelo julgamento do juízo final, então muito provavelmente, aquele era o demônio que iria levar ela pro inferno, caso assim fosse decretado.
— Olha, eu sei que eu não fui uma boa filha, eu brigava muito com a minha mãe. Mas… Eu acho que Deus deve ter visto as coisas que ela fazia comigo, então, eu não acho que seja justo eu ser punida no inferno… Poderiam avaliar melhor a minha situação? — A garota levou a mão queimada na altura do peito, enquanto com a mão boa pressionava seu punho, numa tentativa falha de aliviar a dor.
Se aquela era a amostra de como seria o fogo do inferno, não queria nem imaginar estar lá embaixo. Seria uma tortura eterna.
Não que ela fosse uma pessoa religiosa, mas também não achava que tivesse sido ruim o bastante para merecer aquele tipo de punição.
Hawks começou a rir alto, de forma que atraiu a atenção de Maya para ele, se lembrando que o anjo ainda estava ali atrás dela. E o mesmo estava pressionando a mão na barriga enquanto se inclinava para frente, numa risada sincera.
— Eu deveria ter filmado isso. Endeavor sendo chamado de demônio, foi a melhor coisa que eu já vi até hoje. — O loiro ria enquanto recitava os motivos para estar daquela forma.
A garota piscou ainda confusa, não entendendo porque tinha um homem pegando fogo a encarando como se ela fosse a aberração ali, enquanto o loiro estava rindo como se ambos fossem uma piada pra ele.
— Isso não é engraçado. — O homem se ergueu a andou na direção de Hawks, enquanto Maya apenas observava a interação dos dois. — De onde essa menina veio? E por que ela não sabe quem eu sou?
— Eu sempre falei que essa sua cara pegando fogo diminui a sua credibilidade com os fãs. — Hawks alfinetou, enquanto se recompunha, parando de rir aos poucos e passando o indicador embaixo dos olhos para afastar lágrimas invisiveis. — Ela caiu do céu. — Explicou, mas a expressão confusa do ruivo, fez o loiro continuar. — Ela literalmente caiu do céu, eu vi o exato momento em que ela atravessou uma nuvem, não sei de onde veio e ela também não parece saber o que está acontecendo.
— Não acha que devemos levar ela pro hospital? Pode ter batido a cabeça, por isso está confusa.
— Eu já estava indo fazer isso, quando você apareceu.
— Então resolva logo esse problema. — O ruivo ralhou, lançando um último olhar para Maya, antes de sair andando.
Ela não gostou muito do temperamento dele e sinceramente, desejou não precisar vê-lo novamente, porque sua mão queimada era o bastante para indicar que ele não era muito bom. Mesmo que fosse ela quem tivesse se atirado em cima dele. Quem era que andava pegando fogo por aí? O fogo machuca as pessoas. E se não o machucava, era porque ele deveria ser da mesma índole das chamas.
— Não leva pro pessoal, o Endeavor é bem esquentadinho as vezes. — Hawks se abaixou para ajudá-la a se levantar, a analisando de cima abaixo como se buscasse por algum machucado severo. — Sua mão tá legal? Queimou muito? Deixa eu ver. — Ele pegou no punho dela com uma gentileza que a mesma desconhecia, Maya abriu sua mão e mostrou pra ele a ponta dos dedos vermelhos pela queimadura, não era algo muito sério, mas ainda estavam sensíveis. — Eu vou te levar pra um hospital para cuidarem de você, tudo bem?
Ela apenas assentiu, antes de Hawks pegá-la nos braços novamente e alçar voo.
Ainda não conseguia processar o que era tudo aquilo que estava acontecendo. Por que se ela realmente estivesse morta, não deveria sentir dor e nem mesmo o enjoo que estava aumentando ainda mais durante o voo até o hospital mais próximo, o que a fez esconder o rosto na curvatura do pescoço do loiro e fechar os olhos, torcendo para que chegassem logo, antes que ela vomitasse
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