Parte 4


Havia bastante comida na dispensa da nave destruída. Jô pegou uma mochila e entregou para Shanda encher com suprimentos. Partiu para a ala da enfermaria e pegou antibióticos e curativos. Comeram alguns enlatados que encontraram e descansaram um pouco.

– Você é uma psiônica. – o rapaz quebrou o gelo – Os psiônicos trabalham para o império.

Ela não reagiu.

– Você está em uma missão secreta por acaso? – ele insistiu.

– Cale–se.

– Opa! Tudo bem, já entendi que não quer papo.

– Eu disse pra ficar quieto, humano! – disse rispidamente assumindo uma postura de alerta.

– Hei, não precisa ser sem educação. Eu só estava tentando ter uma conversa saudável.

– Sentiu isso? – Shanda olhou pra ele assustada.

Levemente assustado e confuso, Jô tentou aguçar os sentidos e perguntou:

– Senti o que?

– Acho que foi impressão minha. – tornou a relaxar um pouco.

Ficaram um tempo em silêncio, cada um contemplando seus pensamentos mais íntimos.

– Acho que já entendi. – novamente foi Jô quem quebrou o silêncio – Você é uma desertora. É isso? Está fugindo do império?

Shanda se rendeu e resolver entrar na conversa.

– Você já ouviu falar na chave do Big Bang? – olhou nos olhos dele.

– Claro. É uma lenda antiga. – ele buscou em sua memória – Dizem que durante a guerra da fronteira escura o lorde sombrio procurava por essa arma para ameaçar o império e vencer a guerra. Mas isso não existe.

– Agora existe. – ela disse entre os dentes.

Jô franziu o cenho, queria ouvir o que ela tinha pra dizer. A mulher permaneceu quieta por um tempo, tamborilou os dedos uns nos outros. Seus olhos estrelados eram tão misteriosos e pareciam mudar de brilho enquanto ela pensava. Por fim ela disse com certo pesar:

– O império reproduziu a chave do Big Bang.

O rapaz ficou quieto, tentou digerir as palavras dela, imaginando a gravidade do que acabara de ouvir. Por mais que parecesse absurdo, aquele era um assunto delicado. Curioso ele deu sequência na conversa.

– Então sua missão tem a ver com essa chave?

A oriana olhou em seu relógio de pulso, parecia inquieta. Mudou de posição na cadeira e falou:

– Descobrimos que há traidores entre a corte imperial negociando a chave do Big Bang com os rebeldes. Fomos informados que esse planeta é o ponto de troca. Estou aqui para impedir que esses anti–imperialistas coloquem as mãos nessa arma.

Jô prendeu o ar por um segundo, pensativo. Tudo parecia loucura, mas se fosse verdade, seria o fim do universo.

– Foi muito oportuno descobrir que haveria um transporte de lixo para cá no mesmo dia. – disse Shanda – A oportunidade perfeita para eu me infiltrar sem levantar suspeitas.

– Bem. E onde eu entro nessa história? Você disse que eu poderia te ajudar.

– Na hora você vai entender.

De repente o cargueiro começou a tremer. Parecia que toda a estrutura da nave estava prestes a ruir. Era como se o metal estivesse se contorcendo.

Jô e Shanda juntaram as mochilas com suprimentos, pegaram algumas armas e correram para fora da nave. Ao saírem se depararam com uma cena assustadora. Um verme do lixo de tamanho colossal estava estrangulando o que havia restado do veículo espacial tombado.

Ao perceberem que todo o chão tremia, deduziram que havia mais daquelas criaturas sob o solo.

– Cacete! – Jô exclamou.

Shanda fez sinal para que ele ficasse quieto e em seguida sussurrou:

– Eles são atraídos pelo som.

– Mas eles não comem metal?

– Comem qualquer coisa. Temos que ficar atentos, esses vermes são mais ativos durante o dia.

A oriana olhou ao redor, avistou uma placa de madeira jogada há alguns metros, estendeu sua mão na direção e a placa flutuou até eles.

– Suba. – Shanda ordenou.

Quando ambos estavam sobre a placa, o objeto ganhou altitude e voou em direção ao acampamento improvisado de antes. A psiônica se equilibrava com maestria enquanto o rapaz estava de joelhos agarrando firmemente a borda prancha.

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