Delilah

Assim que tive a oportunidade, tentei conversar com Holly sobre o que quer que fosse que estava rolando entre ela e Matt da forma mais discreta possível.

― Hm ― murmurei mantendo os olhos no esboço que eu estava fazendo para o desfile ainda tão distante para não deixar claro o meu interesse no tópico. ― Matt parece bastante interessado em você.

Ela bufou e eu tinha quase certeza de que revirou os olhos também, mesmo estando de costas:

― É claro que sim.

― Não, sério. Eu acompanho os meninos há anos e dentre eles Matt sempre foi o mais reservado, bem, depois de Ian, é claro, mas ele é um estranho ― completei com uma risadinha.

― Matt só quer algo diferente do que está acostumado, creio que ele ache refrescante o fato de eu não ser fã da banda, mas pode ficar tranquila, chefe, não tenho pretensão de deixar que isso chegue longe demais ― uma pausa. ― Com a minha mãe doente, eu tenho mais com o que me preocupar.

Caminhei até o pufe onde ela se encontrava cortando tecido, me sentindo mal por ter sido tão insensível quando eu sabia pelo que minha amiga estava passando em casa:

― Eu sei que é difícil, Holly, mas tudo vai melhorar e logo você vai ter tempo para esse tipo de preocupação boba e adolescente. Afinal, o que tem de mais mundano que namorar uma estrela do rock?

Ela sorriu e só poderia ter dito a coisa certa se o resultado era um sorriso real.

Após o horário de expediente terminar, mandei mensagem para Miranda avisando que tinha acabado o desenho preliminar do look que eu havia me disposto a fazer e ao invés de exigir uma foto como pensei que uma popstar super ocupada faria, ela apareceu na casa de Ian uma hora depois.

― Eu amei o que você fez, Del, principalmente a gargantilha, parece muito comigo, mas acho que falta algo no body ― ponderou ela.

― Que tal diamantes falsos na parte da frente? ― ofereci comendo um dos cookies que Rosa tinha feito para nós.

― Eu acho perfeito ― ela sorriu e se deitou na minha cama, toda confortável. ― Quer ir ao cinema?

Estava começando a me acostumar com sua aleatoriedade, mas levantei uma sobrancelha para a proposta:

― Tem certeza de que é uma boa ideia? Não por mim, é claro, ninguém vai me reconhecer, mas acho que você está se esquecendo do quanto é famosa na América do Norte ― argumentei.

― Quando se cria uma persona como a minha, Del, você se torna quase irreconhecível fora dela ― e me deu uma piscadela como se sua charada fizesse sentido.

― O que isso deveria significar, Miranda?

― Que com suas roupas eu poderia encontrar uma multidão de fãs e eles dificilmente me achariam parecida com Miranda Goldentrade ― ela pensou por um segundo, apoiando o queixo na mão. ― A não ser que minha mãe estivesse no meio, ela definitivamente entregaria o meu disfarce correndo em minha direção, gritando o meu nome com um chinelo na mão.

Eu ri porque era difícil se manter séria com aquela garota ao meu lado e meia-hora depois, conclui que ela falava a verdade ao aparecer com o cabelo escuro preso, sem maquiagem e usando as minhas roupas modestas.

Encontramos George saindo da sala secreta do dono da casa e ele se convidou para ir com a gente antes mesmo de ouvir para onde íamos. O rapaz colocou um dos bonés de "disfarce" de Ian como se fosse o próprio Clark Kent. Era super estranho conhecer meu maior crush famoso, George Artbold e saber que ele era bobo e divertido, uma pessoa tão diferente do que as revistas mostravam.

O filme, uma ação escolhida de última hora, não foi tão bom e decidimos fazer uma tatuagem depois, em um ato espontâneo e extremamente diferente do meu usual, mas o pequeno cupcake cor-de-rosa no meu ombro fazia com que eu sorrisse sempre que olhava para ele, mesmo que a pele ainda estivesse vermelha e um pouco irritada.

Aquela era uma marca que eu tinha escolhido deixar no meu corpo e mesmo que fosse bobo, eu sentia que aquele era o começo de algo grande.

Ian

George, o Traidor e Abandonador de Melhores Amigos me enviou uma foto de Delilah em uma cadeira de tatuador e o sinal positivo no canto da foto só poderia ser de Miranda, se eu conhecia aquelas unhas postiças enormes.

Aqueles dois eram uma má influência para a Princesa do Oregon, não pelas tatuagens, claro, eu mesmo tinha algumas, mas por levarem Delilah a fazer algo que eu sabia que normalmente ela não faria sem ter pensado previamente a respeito.

A campainha tocou, tirando meus olhos da foto que estampava a tela do meu celular. Para alguém chegar até a minha porta, precisava passar pela segurança do condomínio e ter sido autorizado previamente, então, como não eram muitas pessoas que tinham a minha autorização, sem me preocupar, abri.

Me arrependi instantaneamente enquanto olhava para quem me encarava do lado de fora e tentava engolir a surpresa por vê-la. Quem sorria para mim com um olhar irônico, era Annalise Lambert, vocalista da banda de metal Devil Skull e pior, minha ex-namorada.

― Olá, querido ― disse ela com a voz escorrendo falsa doçura. ― Já faz muito tempo, não é?

E ainda assim não era suficiente para estar longe dela.

― O que você quer, Annalise? ― disparei sem rodeios.

Eu e Annalise estivemos juntos por cerca de um ano, na época do Fill The Void, por volta de dois anos atrás. A banda dela tinha acabado de assinar um contrato com a No Label Records e Theo achou que seria uma boa ideia sermos um casal midiático. Dois cantores poderosos se juntando. O mundo vai adorar, ele havia dito.

― A Devil Skull vai lançar um álbum novo em seis meses, o suficiente para o hype do Forgive ter passado ― ela colocou o indicador de unha preta e pontuda no meu peito ― e pensei que seria um bom momento para fazermos um dueto.

― Passo ― respondi tentando não rir. Era por isso que ela vestia um casaco da merch do Fill the Void? Para tentar me deixar tentado pela sua proposta?

Ela era uma mulher linda, se você curtia o estilo gótico com muito lápis de olho, mas a questão que me levou a não renovar o contrato de relacionamento não tinha nada a ver com sua beleza e era bem simples: ela era completamente louca.

― Você deveria pensar um pouco mais antes de ser tão incisivo em sua negativa ― provocou mexendo a cabeça com deboche, seu cabelo preto tingido balançando, ainda pendurada no batente da porta como uma criança.

― E por que eu faria isso? ― retruquei cruzando os braços sobre o peito e tentando não me afastar dela para que ela não reconhecesse aquilo como um convite para entrar.

― Porque isso seria bom para nossos dois lançamentos próximos e se isso não for o suficiente para ter convencer ― ela sorriu diabolicamente ― lembre-se que ficamos juntos por um ano e eu sei muita coisa que você não vai querer que a mídia coloque os dedos, inclusive ― ela fez um gesto de desdém para uma parte sugestiva do meu corpo ― a sua incapacidade de... subir.

Eu não tinha nenhum problema físico, a fonte da dificuldade vinha meramente do fato de que ela me assustava para caramba, mas isso era algo que eu jamais admitiria em voz alta, ela não precisava sentir que tinha ainda mais poder sobre mim.

― Tudo bem ― concordei porque sabia que Theo amaria essa baboseira e eu realmente não precisava de Annalise espalhando mentiras sobre mim por todas as revistas de fofoca do estado ― Mas fique sabendo que eu não vou cantar nenhuma de suas nojeiras psicóticas.

Ela deu uma risada estridente como se eu estivesse brincando, o que só provava que, apesar do nosso tempo juntos, ela não me conhecia:

― Por mim você pode escrever a bobagem romântica que quiser desde que se encaixe no meu tom. Todas as músicas do Dead Bride Comes For Revenge já foram selecionadas, esse vai ser apenas um single promocional.

É claro que aquele era o nome do álbum.

― Já que acertamos tudo, você já pode ir embora. Peço para Theo avisar quando estiver a música estiver pronta para gravarmos, não há razão para termos mais contato que o necessário ― e com isso fechei a porta em seu nariz sardento.

Eu poderia odiar a ideia da chantagem, mas era músico e já tinha minha mente borbulhando com ideias, inclusive para o clipe. Delilah definitivamente estaria nele, eu só precisava convencê-la disso. A presença dela certamente diminuiria os rumores de uma possível reconciliação entre eu e Annalise, mas se eu estava sendo sincero, o desejo de que ela estivesse nele ia além disso.

Me sentando no sofá, peguei o celular para ligar para Theo, mas antes de encontrar o número dele, parei no da portaria. Eu precisava impedir que Annalise chegasse na minha casa novamente ou ela poderia acabar me matando de susto. Ou de verdade, se eu a conhecia bem.

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Quem tem medo de lobo mau? De lobo eu não sei, mas de ex o Ian tem com certeza hsaushuas

O que acham que vai dar esse feat?

E a participação da Delilah no clipe?