Pequenas Concessões
Ian
Acordei com um pé próximo demais do meu rosto. Era de Naev, percebi ao abrir os olhos. Eu tinha sorte de ter escapado da sina de George, que jazia no chão, no entanto, já que Ash adorava se aconchegar.
No final da festa de lançamento havíamos todos voltado para a minha casa de limusine, até Matt, o que era chocante já que ele não era muito chegado a passar tempo conosco fora das obrigações da banda, e tínhamos jogado videogame até cair no sono, pelo jeito.
― Ian ― veio o chamado da porta.
Delilah estava ali, com presilhas no cabelo e vestida para o dia.
Graças a Deus eu havia colocado pijamas quando chegamos em casa e isso evitou uma cena constrangedora e completamente desnecessária entre nós, mas não pude evitar o pensamento que veio a seguir a respeito de que tipo de pijamas ela usava para dormir, visto sua obsessão por estampas alimentícias.
A última coisa que eu deveria estar fazendo era imaginar esse tipo de coisa sobre ela, para o bem do profissionalismo não deveria sequer pensando sobre ela e ponto, mas não importa o quanto eu quisesse, não conseguia voltar a pensar nela como a cavadora de ouro que assumi que a morena era no dia em que nos conhecemos.
― Vim chamá-los porque Rosa preparou café da manhã para um batalhão, mas pelo visto... ― ela olhou para os meus colegas de banda que dormiam espalhados pela sala. ― Eles devem descer só para o almoço.
― Eu te acompanho, então ― pronunciei colocando as mãos nos bolsos do moletom. ― Já mandou mensagem para Miranda? ― perguntei querendo puxar assunto, afinal eu havia visto as duas dançando com Holly as altas horas da noite anterior.
― Mandei assim que acordei, mas ela disse que estava de ressaca, pediu para conversarmos um pouco mais tarde ― informou rindo.
Só Miranda Goldentrade era capaz de ficar bêbada em uma festa sem álcool.
Olhando de volta para a morena, pensei em algo para preencher o silencio e não a fazer se sentir desconfortável:
― Bem, eu estava pensando em fazer uma pequena festa na piscina hoje à tarde, aproveitando que os meninos estão aqui e o tempo ainda está quente. Você pode chamá-la se quiser ― pausei por um segundo. ― Holly também, é claro.
Ela pareceu endurecer e sua coluna se esticou:
― Não sei se é uma boa ideia.
― Olha, se você não tiver um biquíni ou algo assim podemos resolver isso bem facilmente ― exclamei com medo de estar cruzando uma linha.
― Não é isso ― ela se apressou para garantir antes de pigarrear: ― Meu... Acidente deixou cicatrizes e minhas costas não são exatamente bonitas ― completou e pude ver que não era fácil para ela falar sobre aquilo, assim como eu jamais falava sobre a morte de Inez.
― Bem, prometo que isso não vai fazer ninguém te olhar diferente, Del. Eles te conhecem e te adoram, se alguma coisa, vai servir para fazê-los ver o quão forte você é ― eu disse as palavras com sinceridade, pois era exatamente a forma como eu a via agora.
Não haviam entrado em detalhes sobre o acidente dela, só que ela tinha ficado mal o suficiente para ter perdido um ano letivo inteiro e que isso era a causa de ela ainda estar no ensino médio, apesar da idade.
Ela fungou e virou o rosto para que eu não visse o que, com certeza, deveriam ser lágrimas:
― Obrigada, Ian, eu acho que posso fazer isso.
E eu achava também.
Delilah
Holly me trouxe um maiô que só deixava meus ombros à mostra, da loja do parque aquático ― que estaria aberto até aquele fim de semana.
― Obrigada ― sussurrei. Não era apenas pelo maiô que eu estava agradecendo, ela não tinha feito nenhuma pergunta e nenhum comentário sobre as cicatrizes.
― Se alguém aqui tem que agradecer sou eu ― respondeu ela. ― Você me deu um emprego mesmo que eu não seja de muita utilidade e também ajuda a tirar minha cabeça dos... problemas.
Limpei a garganta tentando não me sentir emocionada:
― E sua mãe? Ela está bem com você saindo comigo?
― Ela fica feliz que eu saia um pouco de casa, tem medo de que eu me consuma pensando sobre as coisas que não posso mudar ― a de olhos azuis sorriu se levantando. ― Chega desse tipo de assunto, estou louca para pegar um bronze.
Com seu tom de pele naturalmente bronzeado e seu trabalho de salva-vidas no Parque, eu sabia que aquela era apenas uma desculpa para encerrar o assunto e dessa forma, lhe dei o braço para podermos sair.
Cheguei ao deck da piscina de Ian com a toalha envolta nos meus ombros, afinal, eu não me importava que vissem minhas pernas e sim, minhas cicatrizes. Holly me ajudou a descer sem que minhas costas ficassem à mostra e me avisou que ficaria nas espreguiçadeiras tomando um pouco de sol.
Naev se aproximou sorrateiramente de Ash que cochilava sobre a grama e jogou um copo cheio de gelo no seu rosto antes de sair correndo sendo seguido por um Ash furioso logo em seguida. Enquanto eu assistia toda à comoção, Miranda veio gingando em minha direção, com um biquíni preto que não deixava muito para a imaginação e dois drinks nas mãos.
― Um deles é para você ― me informou ao entregar o copo com o líquido vermelho. ― É completamente virgem, então não se preocupe.
― Obrigada ― respondi tomando um gole. Era doce, mas não ruim.
― Já teve alguma ideia para o traje que conversamos?
― Na verdade ― coloquei o drink na borda da piscina. ― Eu tive algumas...
Ela pareceu interessada no que eu tinha a dizer até que seus olhos se desviaram e se arregalaram:
― OMG ― sussurrou. ― O que é aquilo?
Acompanhei seu olhar e vi Matt, todo sorrisos, pairando sobre a espreguiçadeira de Holly, que ria.
― Eu acho que ele está paquerando ela ― respondi meio sem jeito com a situação.
― Bem, isso é estranho.
Levantei uma sobrancelha:
― Por quê? Os meninos namoram de tempos em tempos.
― Sim, mas todas as possíveis pretendentes precisam ser aprovadas por Theo como bons pares midiáticos. E bem, ― ela abaixou a voz ― alguns são puramente falsos.
A filipina olhou diretamente para Naev ao dizer isso e me perguntei se isso tinha algo a ver com os boatos sobre ele ser gay.
― Eu vou cuidar dela ― pronunciei. ― Pedir para ele não machucá-la.
Ela acenou e sorriu:
― E eu vou pegar outra bebida porque a minha já acabou! ― exclamou indo para longe.
Não precisei fazer nada sobre o estranho casal, no entanto, porque Foxxy, a bolinha peluda de Ian, que claramente achava ser menor do que realmente era, veio correndo e pulou na piscina como uma bola de canhão.
― Foxxy! ― gritou Matt completamente encharcado se afastando da minha amiga para pegar uma toalha e se secar.
― Já falei que você não pode fazer isso, querida ― declarou Ian atraindo Foxxy para borda e ela nunca foi tão fofa como no momento em que a vi nadando até seu dono. Após retirá-la da água, ele se aproximou de mim. ― Hey, Delilah, tudo bem?
― Sim, tudo bem. Aparentemente a Foxxy gosta bastante da piscina ― eu ri.
― Só quando tem alguém que ela gosta nela ― ele me deu seu famoso sorriso.
― Você... fez um bom trabalho preparando tudo tão rápido ― comentei não querendo deixar o assunto morrer.
Ele pareceu envergonhado por um momento:
― Tudo o que eu fiz foi uma ligação, não fui eu que organizei tudo pessoalmente ― ele coçou a nuca. ― Eu estava pensando, quer sair daqui?
― Mas essa festa é sua ― argumentei.
Fui agraciada com um flash dos dentes que valiam um milhão de dólares:
― Eles estão se divertindo tanto, duvido que se lembrem quem eu sou em uma hora. Então, ― ele esticou a mão em minha direção ― vamos?
― Tudo bem ― respondi aceitando sua mão, um pouco maravilhada pela sua atitude.
Ele saiu da piscina rapidamente, seus bíceps ficando proeminentes ao erguer seu corpo para fora e logo voltou com uma toalha para que eu pudesse me cobrir enquanto ele se chacoalhava como um cachorro.
― Obrigada ― eu falei me enrolando no pano.
Ele acenou:
― Se vista casualmente e rápido, eu vou chamar o motorista.
Subi as escadas, fiz o que ele me pediu e desci para encontrá-lo, já me aguardando. Quando o carro estacionou em nosso destino, olhei os arredores, curiosa:
― Uma loja de discos? ― perguntei conforme descíamos e ele ajustava o boné e os óculos do seu disfarce perfeito.
― Na minha cidade natal há uma igual ou pelo menos havia ― ele pausou. ― Eu costumava visitá-la com a minha irmã e pensei... já que você enfrentou os seus traumas hoje, talvez eu devesse enfrentar os meus também.
Toquei em seu braço e sorri quando atingimos a porta:
― Você está sendo muito corajoso ― elogiei antes de mudar para um tom mais leve: ― Vamos, quero ver se tem algum disco do Lantern para a minha coleção.
Ele sorriu de volta e entramos.
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