O Show Deve Continuar
Delilah
Arrastei minha mala através do umbral da porta, tentando me lembrar que aquilo era um favor e eu deveria estar grata e respirei profundamente o cheiro da minha nova casa. Ash me esperava do outro lado do cômodo, as mãos em nós e uma tentativa de sorriso encorajador no rosto:
― Bem-vinda ao seu novo lar, Delilah ― exclamou ele em uma simulação de animação muito fraca.
Miranda entrou atrás de mim, carregando nos braços uma caixa com o resto dos meus pertences e fechando a porta com o pé.
― Você é tão doce, querido ― disse a morena ao passar por ele, que ficou imediatamente vermelho. ― Venha, Del, vou mostrar o quarto que preparamos para você ― chamou já se direcionando para as escadas.
A decisão de morar com Ash foi difícil e motivada pelo fato de que George, minha primeira opção, era melhor amigo de Ian e eu sabia que mesmo que o loiro não fosse a casa dele com frequência, o moreno estava motivado a nos juntar novamente. Eu não era nem um pouco próxima de Matt, mal tínhamos trocado uma dúzia de palavras desde que me mudei para a cidade e com o segredo de Naev, que nenhum de nós queria expor, só restava Ash e seu silêncio constrangido que no momento fazia muito bem para minha alma que buscava calmaria.
Segui os dois até o segundo andar para encontrar meu novo santuário, tão nu e sem personalidade quanto o meu tinha sido quando cheguei a casa de Ian, mas dessa vez eu pretendia mantê-lo assim. Só tinha mais seis meses restantes em meu contrato e eu não estava inclinada a renová-lo depois dos últimos acontecimentos.
― Não tive tempo de preparar seu ateliê ainda, pois foi tudo muito abrupto ― Ash limpou a garganta e ajeitou os óculos, após receber um olhar feio de Miranda ―, mas você pode escolher qualquer ambiente que esteja desocupado e podemos arrumar tudo até o final da semana.
― Obrigada, Ash ― lhe ofereci um sorriso sabendo que um abraço o constrangeria ainda mais. ― Você é um grande amigo.
Ele sorriu de volta e suas bochechas ficaram cor de rosa, os olhos percorrendo o quarto como se buscasse uma fuga:
― Vou deixá-las sozinhas para poderem conversar ― informou antes de sair.
Miranda se aproximou de mim imediatamente, como se para me amparar caso eu desmoronasse:
― Você está bem, amiga?
― Estou ― forcei um sorriso.
Ela me encarou como se buscasse algum sinal de mentira, mas não encontrou nenhum. Eu havia passado anos aperfeiçoando aquelas palavras e aquele ato.
― Bem o suficiente para ficar sozinha?
― Eu não preciso de babá, Miranda ― a empurrei de brincadeira. ― De qualquer forma, eu preciso me instalar e ligar para minha mãe.
A filipina acenou e saiu e eu coloquei a mala em cima da cama antes de pescar o meu celular da bolsa. Eu precisava esclarecer para minha mãe sobre o término porque se ela descobrisse através da mídia não tenho dúvidas de que pegaria um avião para L.A. só para se assegurar de que eu estava bem.
Ela atendeu no primeiro toque, sua voz apertada não escondendo que ela estava nervosa desde que soube do acidente.
― Alguma novidade? ― indagou imediatamente.
― Ei, mãe ― disse com suavidade. ― Está tudo bem, eu só liguei para dizer que Ian e eu ― pausei sem saber exatamente como explicar o que eu diria a seguir. ― Só queria dizer que nós achamos melhor terminar.
Ela respirou fundo e me sentei na cama roendo as unhas, esperando por sua resposta:
― Ah, querida, como você está?
Eu dei uma risada para disfarçar:
― Melhor do que o esperado, talvez por ter sido uma decisão mútua. Foi o melhor ― repeti esperando convencê-la e a mim mesma.
Não pude ouvir sua resposta, pois Miranda bateu na porta e seus olhos escuros me encararam com carinho e preocupação quando ela colocou só a cabeça para dentro:
― Del, você tem uma visita ― informou.
Suspirei e acenei para ela antes de voltar a atenção para o telefone:
― Mamãe, eu preciso ir agora, nos falamos mais tarde, tudo bem?
― Tudo bem, querida, mas não pense que eu vou deixar isso passar assim ―declarou tentando fingir um tom autoritário.
― Claro que não, mamãe ― respondi com uma risada.
Ao chegar na escada, descobri que a pessoa que me esperava no andar inferior era a última que eu esperaria. Isabelle.
― Olá ― cumprimentei em um tom incerto.
― Eu sei que você deve estar surpresa com a minha visita, mas eu preciso conversar com você sobre o meu irmão ― explicou ela.
Ian era o último tópico sobre o qual eu queria falar, mas eu ainda me preocupava com ele e como ela sabia mais sobre a saúde dele que eu no momento, acenei:
― Vamos para o meu quarto.
Miranda e Ash não estavam em lugar nenhum para que eu pudesse pedir permissão, mas como aquela era minha nova casa, imaginei que não teria problemas conforme a guiei escada acima. Chegando ao meu quarto nu e sem personalidade, indiquei que ela poderia se sentar e a morena logo começou a falar:
― Em breve eu voltarei para casa e gostaria de pedir que você não desista do meu irmão.
Fiquei tão chocada pelas palavras dela que tudo que pude fazer foi encará-la sem saber o que responder.
― Pode parecer impensável agora, ― continuou após engolir ― mas esse é um conselho de quem já cometeu o erro de ficar sem ele: Ian não é um rapaz que se deixa escapar.
― Isabelle ― comecei com calma ― não foi minha escolha, quem tomou essa decisão foi ele.
― E você aceitou? ― indagou incrédula.
― O que eu poderia fazer? Força-lo a ficar comigo quando ele nem sequer lembra o meu rosto? Não seria justo nem com ele, nem comigo.
― Não é isso ― ela pareceu exasperada, mas eu também estava ficando. ― Apenas não suma e o deixe para trás, eu garanto que se você optar por esse caminho você vai se arrepender.
Apesar de sentir vontade, não disse para ela que não poderia sumir, pois tinha um contrato assinado, escolhendo dar de ombros ao invés:
― Ficarei por perto, ― prometi ― mas isso não é uma garantia de que ele vá se lembrar e muito menos de que um dia vamos voltar.
Ela sorriu:
― É tudo o que eu posso pedir.
Ian
Quando informei Theo sobre meu novo status de relacionamento, ele ficou furioso:
― Você perdeu a cabeça? ― questionou com incredulidade do outro lado do telefone.
Ele sabia sobre a minha condição médica e mesmo assim não demonstrava nenhuma simpatia. Isso não deveria me afetar depois de tantos anos sabendo que éramos apenas galinhas dos ovos de ouro para ele, mas ainda sim afetava.
― Theo, eu não me lembro dela ― disse com toda a paciência que consegui reunir. ― Como posso namorar alguém que nem sequer me lembro o rosto?
― Qual a diferença disso para outro namoro por contrato? Lembre-se sempre, Ian, o público gosta dos vira-latas e dos azarões e você vive para servir a mídia. Se eles estão felizes em consumir esse relacionamento, você não vai desapontá-los.
Foi assim que eu terminei procurando um contato no meu celular que tivesse corações suficientes no local do nome para que não pudesse ser de ninguém além da minha suposta namorada.
― Alô? ― disse a de tranças do outro lado, a voz insegura como se não soubesse o que esperar. Bem, depois do nosso recente término eu não poderia culpá-la.
― Oi, Delilah ― pigarreei. ― Estou ligando pois houve uma mudança de planos.
― Que tipo de mudança de planos? ―indagou imediatamente se tornando receosa.
Eu realmente não queria passar por aquilo, mas Theo não tinha me deixado opções então cuspi de uma vez:
― Conversei com o nosso agente e ele foi bastante irredutível sobre nós não terminarmos. Você sabe, pelo menos para os olhos da mídia.
Ela suspirou, parecendo cansada, mas não surpresa:
― Ian, eu até já me mudei, nada grita mais término que isso.
Engoli em seco porque essa era a parte que eu menos tinha vontade de dizer em voz alta:
― Ele disse que isso pode ser facilmente explicado por motivos religiosos.
― O que! ― exclamou ela. ― Isso é ridículo!
― Eu sei, mas não pude fazer nada para fazê-lo mudar de ideia e para ser sincero acho que ele já vendeu esse boato. Estamos de mãos atadas.
― Que bela posição para se estar ― ela murmurou com sarcasmo. ― De qualquer forma obrigada pelo aviso, foi melhor do que se eu tivesse descoberto que me tornei subitamente religiosa na televisão.
― É o mínimo que eu poderia fazer ― respondi meio sem jeito.
― Tchau, Ian ― ela desligou e mesmo que minha cabeça não se lembrasse dela, meu corpo parecia lembrar, pois terminei a ligação com um sorriso no rosto.
No sábado de manhã levei Isabelle para o aeroporto e quando a hora dela embarcar chegou, a agarrei em um abraço de urso, sem nenhuma pretensão de soltá-la.
― Eu não quero que você vá ― confessei em seu cabelo.
― Eu também não, mas preciso voltar se quiser me formar.
― Você pode se mudar para cá, viver comigo e se formar aqui ― ofereci mesmo sabendo que ela não aceitaria.
Ela se afastou sorrindo, seu aparelho todo a mostra:
― Não seria a mesma coisa e você sempre pode me visitar, senão em casa, sempre tem a pousada da Nellie.
― Aquele pardieiro ― bufei. ― Daremos um jeito, a última coisa que farei é me afastar de você de novo ― prometi com convicção.
― Como se eu fosse permitir ― ela retrucou com um revirar de olhos. ― Vou ficar tão grudada em você que é provável que você desenvolva Lyme.
Ri internamente. Só Isabelle se compararia com um carrapato e ainda se acharia uma dama depois.
― Vê se atende as minhas ligações ― lhe dei um olhar treinado de irmãos mais velho. ― E diga para esse tal de Josh que se ele te machucar eu vou quebrar as pernas dele.
Ela levantou uma sobrancelha:
― E eu os braços. Até logo, irmão mais velho ― ela arrumou a alça da mochila sobre o ombro.
― Até logo, bruxinha.
Assisti ela ir com o coração leve como o de quem faz algo certo porque pelo menos aquela parte da minha vida eu tinha consertado.
***************************************************************************************E esse termino que durou menos de cnico minutos? Pena que eles voltaram pelos motivos errados e ai? Como consertar essa relação agora?
No próximo capitulo teremos o retorno de uma pessoa que só apareceu uma vez até agora, qual é a aposta de vocês?
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