Aquele que Irá me Salvar

Delilah

A viagem até o Colorado parecia não ter fim, mas eu não me importava contanto que ela garantisse que Caroline não poderia me alcançar.

Ian, Holly e eu chegamos ao resort isolado de noite e eu nem tirei tempo para apreciar o lugar porque meu braço dentro da tala doendo como o inferno.

Matt, Naev e Reece estavam na sala de estar jogando videogame e o texano deu um olhar de deboche para o loiro ao chegar mais rápido para ajudar Holly e eu a carregarmos nossa bagagem.

― Não pode ver uma dama em necessidade, Naev? ― brinquei.

― Mais como adoro deixar Matt frustrado ― sussurrou e eu dei uma risada cansada.

― Onde estão Miranda e Ash? ― perguntei quando ele colocou minha mala sobre uma das camas do quarto que eu dividia com Holly.

― Devem chegar amanhã cedo, Miranda quis vir de helicóptero.

―Sempre em grande estilo ― comentei me sentando, mais cansada do que eu estava disposta a demonstrar.

― Você está bem, Del? ― indagou Holly se aproximando.

― Sim, acho que vou descansar um pouco, o braço está incomodando ― levantei a tala para ênfase.

― Quer que eu fique com você? ― assegurou a de olhos azuis.

― Não, vá se divertir, eu devo cair no sono logo ― prometi para convencê-los.

Nenhum dos dois parecia muito certo, mas acenaram e saíram e eu pude me deitar e rezar para Caroline não me aterrorizar em meus pesadelos também.

Na manhã seguinte acordei com um humor mais leve e desci para fazer um chocolate quente, imaginando que todos os outros já deveriam ter saído para esquiar ou praticar snowboard e com a casa só para mim eu pretendia desenhar itens para o desfile que Theo havia me prometido, pois mesmo que ele ainda estivesse a seis meses de distância, parecia cada vez mais próximo. Olhando para a tala engoli uma risadinha, meus agradecimentos a quem quer que tivesse me feito canhota e impedido que eu ficasse completamente inútil com o pulso direito torcido.

―Bom dia ― veio uma voz rouca atrás de mim e quase cai morta no mesmo instante.

― Deus, Ian, você me assustou ― coloquei a mão no peito me virando para olhá-lo.

Ele estava encostado na ilha da cozinha, os tornozelos cruzados, bebendo uma quantidade de café absurda no que ele chamava de caneca da sorte, parte da merch do primeiro álbum da Lantern, que ele levava com ele em todas as viagens que fazia. Meu coração se apertou com o quanto eu sentia falta de ver aquela imagem todos os dias, mas afastei esse pensamento assim que ele chegou.

― Desculpa ― ele tomou mais um gole, sua garganta trabalhando antes de continuar: ― Quer um pouco?

A pergunta era mais uma mostra de que Ian não era mais meu Ian, pois o meu Ian sabia que eu não suportava café preto como ele.

― Não ― fiz uma careta, ― esse treco é nojento ― prossegui com a preparação da receita especial de chocolate quente de minha mãe antes de falar novamente ― Por que você não foi com eles?

Ele deu de ombros, depositando a caneca com cuidado na bancada:

― Não gosto de esquiar, sou um garoto do campo, Theo escolheu esse lugar pela privacidade, não pelos meus gostos pessoais ― ele me olhou de lado, como um gato desconfiado. ― Além do mais, não achei certo te deixar sozinha, você sabe, por causa do braço.

Levantei uma sobrancelha, em parte pelas suas palavras, em parte pela sua pressa em completar a frase:

― Você sabe que eu estou bem, não preciso de uma babá ou algo assim ― garanti.

― Não disse que precisava ― rebateu com um sorriso e eu desviei o olhar porque ele estava lembrando demais o rapaz que eu primeiro conheci antes que evoluíssemos para mais. ― O que acha de um passeio pela cidade? Com roupas de inverno tão pesadas eu duvido que alguém nos reconheça.

Aquilo definitivamente não estava em meus planos, mas ficar sozinha na casa com ele também não, então dei de ombros:

― Desde que você seja um companheiro de passeio agradável...

Ele bufou:

― E quando eu não sou?

Revirei os olhos como resposta e subi para me arrumar. Coloquei meu casaco antitérmico com um pouco de dificuldade por causa da incômoda tala, mas puxei meu gorro com estampa de morangos sobre minhas tranças antes de sairmos para explorar a primeira cidade de Ice Falls.

O rosto de Ian estava vermelho pelo frio, mas eu tinha que concordar com ele, com camadas e mais camadas de roupas de inverno que ele usava dificilmente seríamos reconhecidos.

ao passarmos por uma pequena joalheria, uma ideia se acendeu em minha mente:

― Você se incomoda se eu entrar? ― perguntei para o meu companheiro de viagem.

― De forma nenhuma ― gesticulou para a loja.

Ao entrar no ambiente ligeiramente mais quente, me aproximei do balcão e sorri para a vendedora do outro lado.

― Posso ajudar? ― ofereceu ela, prestativa.

― Eu acho que sim ― desejei antes de dar a ela instruções sobre o que eu queria.

― Acho que temos exatamente o que você procura ― confirmou a loira.

Pouco depois, sai com uma sacola com meu pequeno tesouro e Ian se esticou de onde estava encostado, assoprando as mãos para tentar esquentá-las:

― Conseguiu o que queria?

― Ainda melhor ― acenei.

Compramos um chocolate quente com marshmallows para tentar nos esquentar e quando estávamos quase na casa, ele me surpreendeu:

― Sabe, onde eu cresci não costumava nevar muito, geralmente só no final de dezembro, e às vezes nem tínhamos um Natal nevado, mas quando o milagre acontecia, minhas irmãs e eu gostávamos de fazer anjos na neve ― ele riu. ― Claro, também fazíamos guerras de bolas de neve, mas isso porque éramos pestes.

― E o que te impede de fazer isso agora?

Ele me olhou surpreso, quase como se estivesse esquecido que eu estava ali:

― Não tenho mais a inocência de uma criança ― disse apenas.

Para o seu tom sério, coloquei a sacola com os presentes que eu tinha comprado na varanda antes de fazer uma bola de neve meio disforme graças ao braço ruim e aproveitei que ele estava de costas para atirá-la nele.

Imediatamente, ele se virou para mim, chocado, mas logo um sorriso de menino tomou conta de seu rosto e ele atirou uma bola muito melhor e mais encorpada em mim.

Por fim, terminamos os dois deitados no solo congelado, fazendo os anjos que ele lembrava da infância, exaustos demais para levantar, mas sabendo que precisávamos se não quiséssemos ficar encharcados, uma sensação tão grande de paz que só podia significar que meu coração estava em perigo novamente.

Ian

Era meu aniversário de vinte e quatro anos. Era estranho fazer uma idade que para a minha memória eu não tinha vivido, mas eu estava disposto a manter meu humor em alta mesmo não me lembrando dos últimos aniversários.

Fui surpreendido ao descer para a cozinha e encontrar uma verdadeira comoção entre meus amigos, cercados de farinha e massa.

― O que vocês estão fazendo? ― perguntei tentando descobrir o motivo para todo aquele rebuliço.

― Ian, o que você está fazendo acordado tão cedo? ― indagou Miranda com as mãos na cintura.

A filipina suja de farinha ou em qualquer situação doméstica era algo que eu nunca pensei que veria, mas mascarei isso com uma longa olhada para o relógio sobre a geladeira:

― Não acho que 10:30 seja cedo.

―Acho que ela quis dizer cedo demais para a surpresa ― apontou George com ironia.

― Surpresa? ― franzi o nariz.

― Fizemos um bolo ― informou Matt em um tom factual.

― E cookies! ― exclamou Delilah me mostrando uma jarra cheia deles com o braço bom.

―Estão muito bons ― confidenciou Ash colocando um atrás do outro na boca.

― Queríamos fazer uma comemoração digna, ― explicou Naev ― mas você acordou e estragou tudo.

― Nós íamos até encher balões ― revelou Reece mostrando a embalagem cheia de globos dourados.

― Ainda podemos fazer uma festa, nada foi arruinado ― argumentou Holly.

― Não, olhando para a cara feia dele eu não tenho vontade de trabalhar ― Miranda estalou a língua.

Revirei os olhos:

― Nesse caso vou encher meus próprios balões, não quero ser um peso tão grande para você, Randa.

Acabamos comendo cookies e bolo, cercados de balões dourados, papeando e rindo como se o motivo da viagem fosse realmente o meu aniversário e não o atentado que Delilah havia sofrido.

― O que acham de dar um mergulho na hidro pra fechar essa noite maravilhosa? ― chamou Naev. ― Ela está gritando meu nome desde que chegamos.

― Eu estou cem por cento dentro ―exclamou Miranda.

― Meninas, vocês podem esperar alguns minutos? Eu comprei algo para vocês.

Como o presente não era para mim apesar de ser meu aniversário, eu e os outros rapazes subimos para vestir as roupas de banho. Eu fui o primeiro a descer e parei na escada sem a intenção de atrapalhar o momento que Delilah estava tendo com as amigas:

― Eu queria agradecê-las por estarem ao meu lado mesmo que esses últimos seis meses não tenham sido fáceis ― anunciou ela, a voz levemente úmida de emoção. ― Comprei essas pulseiras para sempre lembrarmos da nossa amizade mesmo que não estejamos fisicamente juntas. Um cupcake para mim, um sorvete para Holly porque ela sempre é capaz de acalentar todas as dores não importa quão queimada eu me sinta e um marshmallow para Miranda, que sempre se faz de dura, mas é toda molenga por dentro ― estabeleceu e eu ri por trás da mão. Ela era absurdamente piegas, mas era meio fofo. ― E comprei também um pingente de torta para Amélia em homenagem a todos os campeonatos de comer torta que ela já participou, acreditem em mim, só olhando para ela vocês não acreditariam no quanto ela pode comer.

Naev veio me atropelando na pressa por entrar na hidro quentinha e isso acabou com o momento das meninas, que correram para se aprontar. Quando o sol finalmente se pôs, nossos amigos começaram a voltar para dentro até que só restasse eu e Delilah dentro da água borbulhante. Ontem, quando estávamos nos divertindo fazendo anjos na neve, eu tive a estranha sensação de que aquilo era familiar, mas de acordo com o que nossos amigos tinham dito sobre nosso suposto namoro, ele tinha começado bem depois do inverno.

A de tranças tinha uma cobertura sobre os ombros e me perguntei se tinha a ver com o acidente relacionado a mulher que a atropelou. ela se levantou devagar, puxando o pano com força para mantê-lo no lugar:

― Boa noite, Ian ― desejou ela, a voz suave.

― Boa noite, Delilah ― respondi e enquanto a assistia entrar percebi duas coisas: aquele tinha sido um ótimo aniversário e me lembrando ou não, meu coração sentia sua falta.


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Com a postagem desse capítulo faltam oficialmente dois capítulos para o fim, gritos liberados.

Sim, eu sei, nem parece, mas é verdade. Será que o Ian vai recuperar a memória? Será que nossos pombinhos vão se acertar ou vão perseguir caminhos separados?

Contagem regressiva, hein, vamos acabar ainda esse ano, então por favorzinho, deixem os votos e  os comentários para que eu possa saber o que vocês estão achando. Vos adoro e os vejo em breve <333

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