Acreditar em Todas as Possibilidades

― Você está nervosa? ― Perguntou Amélia pela milionésima vez.

― É claro que eu estou ― quase gritei ― vou conhecer o Lantern Lumia, amiga, o Lantern Lumia!

Ela riu e deu um puxão afiado em uma das minhas tranças de brincadeira. Eu já estava pronta nesse momento, all stars pretos, calça jeans rasgada e uma camisa surrada da banda. Amélia realmente havia caprichado em minha aparência, eu não entendia o porquê tinha que me produzir sendo que os rapazes nem me veriam, mas não ousaria questionar Amélia Grensted.

― Vamos, você está linda! ― declarou pegando a bolsa e me puxando para fora do quarto.

Os pais dela me abraçaram antes de sairmos e Dylan, protetor como sempre, se ofereceu para nos levar de carro.

― Está animada, Del? ― perguntou-me ele sorrindo através do retrovisor.

Dylan Grensted era tão lindo que eu certamente teria um crush nele se as circunstâncias fossem outras. Cabelo castanho assim como seus olhos, ombros largos e um sorriso maior ainda, se ele não fosse irmão mais novo de Amélia e eu não tivesse tanta bagagem...

― Que pergunta mais estúpida, Dyl ― retrucou Amélia com um revirar de olhos. ― Ela está praticamente saltitando no banco.

Aquilo era verdade, eu não podia negar.

― Eu sinto que estou prestes a explodir ― falei rindo um tanto histericamente. ― Parece mentira.

Ele riu também e Amélia apenas olhou para mim no banco de trás. A viagem levou cerca de vinte minutos e estávamos na casa de shows.

― É aqui que eu deixo as princesas ― informou ele. ― Tenham um bom show ― desejou por fim.

O lugar era enorme, o melhor que poderiam encontrar por ali, mas ainda era uma espécie de lanchonete glorificada e nós duas nos sentamos em uma mesa próxima ao palco. Amélia comprou batatas fritas, mas ao colocar a primeira na boca eu soube que seria incapaz de comer algo tão nervosa quanto estava.

― É estranho ― comentei ― faz anos que eles estão se apresentando em estádios e arenas, por que uma casa de shows tão pequena agora?

― Esse show é especial ― respondeu apenas.

Não tive tempo de entender o que aquilo significava, porém, pois o mestre de cerimonias pegou o microfone e toda a minha atenção foi de volta ao palco. Os instrumentos já estavam posicionados e ao chamado dele, a banda começou a entrar. Meu coração acelerou descontroladamente quando Ash, Naev, Ian, Matt e George ― meu favorito ― subiram ao palco e pararam em frente aos seus respectivos instrumentos.

― São eles, Amélia, são eles ― exclamei agarrando a mão de minha melhor amiga. ― Isso está realmente acontecendo.

― Está sim, querida, está sim.

― Olá, pessoal ― disse Ian, o vocalista no microfone, seu sorriso marcante todo a mostra. ― Obrigado a todos por terem vindo. Vamos começar com uma velha conhecida antes de irmos para o esquenta do álbum novo, certo?

Os acordes de Animal começaram e as luzes abaixaram para deixar o clima mais confortável e me perdi no som da minha banda preferida. Quando o show terminou, duas horas depois, ao som de Dead, lead single do álbum novo, eu tinha certeza de que estava tão morta quanto a música falava.

Amélia se levantou e me estendeu a mão:

― Vem, vamos ― chamou.

― Mas eles não acabaram ainda ― choraminguei.

― Eu tenho outra surpresa para você, lá dentro ― explicou e me levantei.

― Amélia, se você estiver me levando para o banheiro, eu juro que mato você.

Tudo o que recebi foi um sorriso mordaz e paramos na frente de uma porta guardada por um segurança.

― Meu nome é Amélia Grensted e estou aqui para ver Theo Viddikens.

Eu reconheci o nome vagamente, sabia que era de alguém ligado aos meninos, mas ainda estava entorpecida demais para saber exatamente quem era.

O homem de uniforme olhou para prancheta em suas mãos e para mim em seguida:

― Qual é o seu nome?

Titubeei sob seu olhar e Amélia acenou me encorajando:

― Sou Delilah Bertrand.

Ele checou novamente a prancheta e eu assisti chocada ele liberar nossa entrada. Amélia entrou como se fosse a dona do lugar e a segui completamente aturdida.

A sala era simples, um tapete, dois sofás de couro, uma televisão grande, uma mesa com comida suficiente para alimentar um batalhão e uma porta do outro lado. Eles claramente não estavam acostumados a receber uma banda daquele porte se isso era o melhor que eles tinham a oferecer.

Um homem grande com um terno lilás e cabelo preto arrepiado estava parado no meio da sala e sorriu quando nos viu:

― Vocês devem ser Amélia e Delilah, estou certo? ― pronunciou ele com um sorriso amigável.

― Sim, Theo, essa é a amiga de quem lhe falei.

Cruzei os braços, me sentindo exposta e sem ter ideia do porquê.

― Vejo que ela é linda, creio que vai funcionar bem. Só vamos esperar os garotos voltarem e já acertamos tudo. Sentem-se, por favor.

Nós duas nos sentamos no sofá de couro e eu tentei sussurrar:

― O que está acontecendo, Amélia?

Ela não precisou responder porque Naev entrou e sugou toda a minha atenção. Os outros vieram logo atrás e comecei a tremer novamente.

― Meninos, venham cá ― chamou Theo. ― Quero que conheçam alguém.

― O que há dessa vez, Theo? ― questionou Ian, uma nota de impaciência na voz.

― Essas são Amélia e Delilah ― apresentou o mais velho.

― Olá, meninas, vocês parecem muito legais, mas porque estamos nos conhecendo? ― questionou George com um sorriso e Ash, que se sentou no sofá, deu uma risadinha.

― Eu só quero dormir, Theo ― choramingou Matt.

Naev foi direto para a mesa com a comida como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo e aquela conversa não o incluísse.

― Vocês sabiam que a Amélia aqui ― apontou para minha amiga ― inscreveu a Delilah naquele concurso de "conheça o Lantern"?

Meu corpo inteiro gelou e um arrepio desceu pela minha espinha. Ela não teria feito isso.

― Achei que tínhamos cancelado aquela coisa estúpida ― se meteu Ian com um revirar de olhos. ― Quem perderia seu tempo para escrever uma carta hoje em dia?

― Eu perdi ― retrucou Amélia sem se abalar. ― E pode apostar que ela ficou muito boa.

― Enfim, ― continuou Theo mostrando sinais de estar perdendo a paciência. ― Na carta, ela contou sobre a história muito comovente de Delilah e como o Lantern era importante para a amiga.

― Você não fez isso, Amélia ― sussurrei, traída.

― Fiz sim, querida, e foi pelo seu bem.

― A carta dela me tocou muito ― comentou colocando a mão sobre o peito ― e foi por isso que decidi trazê-los aqui para esse show de última hora.

― É bom conhecê-las ― disse Naev se aproximando para nos cumprimentar, a mandíbula indo e voltando conforme ele mastigava. Quando ele me abraçou, jurei que tinha morrido e aquele era o meu céu prometido. Ele riu com a minha dificuldade para soltá-lo.

― Decidi unir o útil ao agradável então ― finalizou Theo percebendo que tinha perdido nossa atenção.

― Do que você está falando, Theo? ― perguntou George.

― Acredito que a história triste de Delilah faz dela uma boa promoção para o novo álbum ― respondeu ele como se a dona da história triste em pessoa não estivesse presente.

― E o que ela ganha com isso? ― inquiriu Ian cruzando os braços. ― Pois não acredito que ela esteja aqui simplesmente para nos conhecer ― ele revirou os olhos novamente e me levantei.

― Olha aqui ― exclamei. ― Você não me conhece! Eu não tinha ideia sobre nada disso até chegar até aqui ― dei uma fungada ― e não vou ficar aqui para ser humilhada.

Sai da sala e ouvi Amélia me chamando, mas naquele momento não me importei. Não me permitiria ser machucada novamente.

Ian

Sério? Ela realmente achava que cairíamos nessa?

― Muito bem, Ian ― comentou Matt caindo no sofá. De todos na banda, a minha relação mais difícil era com ele. Costumávamos ser próximos na adolescência, mas a idade adulta chegou e concordávamos cada vez menos.

Theo olhou para mim com uma das sobrancelhas bem-feitas erguida:

― Isso era mesmo necessário?

Não me dei ao trabalho de responder. Theo não era o anjo que nos salvou daquela cidade no meio do nada no Tennenssee, ele só estava interessado no dinheiro, mesmo que fosse acima do nosso bem-estar, o que, supostamente, deveria ser sua maior prioridade. Eu tinha certeza de que fomos pegos diversas vezes por paparazzi a mando dele, mas infelizmente para nós, nosso contrato assegurava que permanecêssemos atados a ele por mais esse álbum e não era difícil perceber que esse era o motivo de toda a cena de garota traumatizada: nos prender por mais sabe-se deus quanto tempo.

A porta se abriu novamente e as garotas entraram. A morena estava com os olhos vermelhos e a não ser que ela tivesse aproveitado aquela escapada para fumar maconha, ela estivera realmente chorando ou era uma atriz muito boa.

― Delilah está pronta para discutir os termos de sua proposta agora, Theo ― anunciou a ruiva ao seu lado.

Theo tinha tirado o terno e agora estava sentado no sofá do lado oposto. Sentei-me no braço do sofá mais próximo, ficando o mais longe possível dele.

― Que bom, porque tenho uma ótima proposta para você, Delilah ― falou ele como se se importasse com qualquer um de nós.

Ela olhou para ele de olhos arregalados e ombros trêmulos:

― Que proposta? ― ela tropeçou no "Q". Fale sobre inocência.

― Por meio da carta de Amélia, ficou claro que você é realmente muito fã dos meninos ― ele tomou um gole de café antes de continuar: ― e imagino que queira ajudá-los.

― Como posso fazer isso? ― se adiantou.

― Os primeiros singles do Forgive não foram tão bem quanto os do Fill The Void foram no mesmo período.

― Mas... Dead é ótima! E Play all Night é como um hino para milhares de adolescentes com depressão...

― Vá direto ao ponto, Theo ― pediu George cortando-a no processo. ― Por favor.

― Eu apenas imaginei como acenderia os fãs verem vocês ajudando uma garota que já passou por tanto.

― Eu não sou um projeto de caridade ― cuspiu a garota com tranças azuis ficando com raiva novamente.

― É claro que não ― ele garantiu. ― Eu vi seus desenhos. Você é realmente boa, Delilah, mas é impossível que consiga um emprego na área de moda sem ter contatos, mais difícil ainda se não tiver nenhum dinheiro.

Nesse momento a garota começou a tremer. Esperei que ela gritasse com ele, fosse embora novamente, inferno, começasse a chorar, mas então ela disse:

― O que tem em mente? ― e eu fui obrigado a engolir uma risada. Eu não seria hipócrita, mas não podia dizer que estava surpreso. Princípios são jogados no lixo quando se trata de sonhos e dinheiro, eu havia caído nesta mesma teia anos atrás.

― Eu pensei em uma espécie de reality show ― ofereceu ele.

Ela começou a negar imediatamente:

― Eu não vou me expor dessa forma ― garantiu e eu não pude deixar de sentir um pouco de orgulho pela sua rebeldia.

Ele deu de ombros como se aquilo não fosse tão importante:

― Uma série de vídeos, então, para o DVD da Tour.

― E como faremos isso? ― perguntou ela finalmente cedendo.

― O primeiro passo é se mudar para LA, lá é onde tudo acontece, querida.

― Mas eu não posso ― exclamou. ― Estou no último ano e...

― Escolas existem no país inteiro e aposto que uma escola lá é muito melhor que qualquer escola perdida no Meio do Nada, Oregon.

― Mas minha mãe... ― tentou novamente.

― Ela já sabe, Del ― interferiu a morena. ― Foi a primeira pessoa com quem eu falei a respeito.

Os ombros da mais alta caíram e não era difícil notar que ela não tinha mais para onde correr e se esconder.

― O álbum será lançado dia 28/09 e a tour começará em novembro ― Theo continuou como se fosse um tubarão faminto sentindo o cheiro de sangue na agua. ― Os primeiros shows serão próximos de casa, posso facilmente conseguir uma dispensa na escola para que você possa acompanhá-los.

― E o que eu vou precisar fazer para isso? ― cruzou os braços. ― Não imagino que só vá aparecer no fundo de vídeos estúpidos.

Theo sorriu e deu de ombros:

― O básico. Arruma-los, garantir que estejam bem vestidos para as premiações e se alguns dos itens forem feitos por você, vamos apenas dizer que eu não me oporia.

― Mas nós já temos uma estilista ― pronunciou Ash pela primeira vez.

― Jane estava vendendo as roupas de vocês online ― informou o mais velho como se não fosse nada.

Engoli o choque. Aquilo não deveria ser uma surpresa, nem novidade. Todos ao nosso redor queriam um pedaço de nós.

― Seu contrato durará um ano, podendo ser estendido, obviamente, se você fizer um bom trabalho ― continuou o vendedor de sonhos ― e a melhor parte, é que no final dele, eu promoverei um grande desfile para você, com todos os famosos que você conseguir pensar e com todas as peças que você puder criar. Com um salto como esse, dificilmente você não crescerá ― prometeu ele.

Aquela era a prova de fogo, o que ela respondesse definiria o quanto de integridade ela tinha com seu sonho diante dos seus olhos.

― Quando eu começo?

Observei seu rosto, um pouco decepcionado, conforme Theo respondia:

― Duas semanas devem ser o suficiente para organizar sua mudança e sua transferência.

Seus ombros caíram ainda mais, mas ela permaneceu firme:

― Tudo bem ― concordou ela enfim. ― Onde eu assino?


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Um pouco mais tarde do que o previsto, mas saiu hsaushausE ai, o que acharam do Ian? Como vocês acham que vai rolar esse job da Delilah? Será que vai correr tudo bem na mudança?Até o próximo, cupcakes!

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