— Finalmente consegui um tempo para conversar com você. — Ouvi Aldor falar assim que entrou em minha cela. — Golam estava bem puto com você, se quer saber a verdade, ele andou me enchendo para que eu deixasse ele ter sua vingança.
Bufei. Kiram estava quieto, esperando o momento em que eu iria nos tirar dali.
— Ele não consegue dar conta de mim nem quanto estou amarrado, e guardado por todos esses homens. — Retruquei orgulhosa.
Aldor assentiu, e eu rapidamente localizei o molho de chaves preso em seu cinto, ali deviam estar as chaves das correntes. Não fiquei muito tempo olhando para elas, a fim de não levantar suspeitas.
— Tem razão. E por isso ele já foi morto, que uso eu teria em um torturador que não consegue manter alguém? — Aldor concordou. — Quem é o cliente que contratou você?
— Eu não sei... Já disso isso várias vezes para o finado. — Falei fingindo um sorriso.
— Me disseram sobre esse lado seu, engraçadinho. — Aldor falou se aproximando de mim. — Deve fazer muito sucesso com as mulheres não é?
— Nem imagina o quanto.
Aldor levantou uma das sobrancelhas.
— O grande assassino de Racon. — Ele disse se abaixando, e segurando meu queixo com uma de suas mãos. — Está muito machucado não é?
Eu podia ter afastado-o facilmente. Mas eu deixei, Aldor tinha que achar que podia se aproximar de mim.
— Golam tinha a sua cota de sadismo. — O chefe dos contrabandistas contou. — Ele não chegou nem na metade do que sabe com você. Agora que fui forçado a me livrar dele, tenho que fazer o trabalho sujo.
Eu ri. E ele puxou rapidamente uma adaga de seu cinto enfiando-a profundamente em minha perna direita. Eu arfei, sentindo a dor intensa tentar nublar meus sentidos. Lutei para segurar qualquer som, e voltei a encarar Aldor.
— Vai ter que fazer bem melhor que isso. — Desafiei, fazendo Aldor rir.
As correntes de Kiram se agitaram, mas não tirei meu olhar de Aldor.
— Todos tem um ponto fraco, Ailin, algo que os fazem quebrar rápido. Eu sei que a dor não é o seu. — Aldor levou a mão até meu ombro, e bateu levemente, como se tivesse tentando limpar minha camisa da poeira acumulada ali. — Mas eu posso ter descoberto o que vai te fazer falar.
Meu estômago gelou. Ele tinha descoberto? Os olhar sádico de Aldor se encontrou com o meu, e ele sorriu ao ver meu rosto perder a cor.
Eu escutei um gemido, depois de um som seco de um soco. Disparei meu olhar em direção a Kiram que encarava com raiva um dos capangas de Aldor. Essa era a fraqueza que Aldor julgava que eu tinha?
O capanga bateu mais algumas vezes em Kiram que não revidou, mesmo podendo fazer pelo tamanho de suas correntes. Ele sabia mais do que estragar meu plano.
Quando finalmente o homem terminou, Aldor de levantou, desembainhou estupidez, e a levou contra o pescoço do rastreador.
— Quem te contratou? — Ele falou. — se vier com mais uma gracinha, ele morre.
Levantei uma das sobrancelhas. Kiram me encarava intensamente, não pude deixar de notar o choque em seu rosto quando dei um meio sorriso e falei segura:
— Vá em frente.
O chefe dos contrabandistas pareceu confuso.
— Está blefando. — Ele presumiu.
Racon e suas lições importantes, me lembrei. Eu não criava laços, não me importava com mais uma morte.
— Acha mesmo que ligo para vida de um jovem rico que acabei de conhecer? — Debochei. — Por acaso os homens em Ístar ficaram moles?
Aldor grunhiu de raiva, me fazendo alargar ainda mais meu sorriso. Ele se apressou em minha direção, me levantando pelo colarinho e me arremessou contra a parede com uma força surpreendente. Todo o meu corpo explodiu em dor. E aquilo me deixou com muita raiva.
— Chamem aquela bosta de mago. — Aldor pediu, fazendo dois de seus capangas saírem. — Ele deve ter alguma coisa para fazer esse merdinha falar.
De repente eu já não sentia dor. Eu sabia que meus ferimentos ainda estavam lá, a faca ainda estava enterrada na carne de minha perna. Mas a dor tinha sido substituída a pressão de minha fúria. Meu corpo se encheu de força, como um esforço para sobreviver.
Mas eu esperei deitada e imóvel, até que Aldor ousasse chegar perto de mim novamente.
— Ele apagou? — Aldor riu nervoso. — Grande merda para o pior assassino das terras sem lei. Tire as correntes dele, e o levem para a sala de tortura, se o mago não conseguir, vamos brincar com os instrumentos de Golam até ele quebrar.
Senti os grilhões sendo tirados de mim rudemente. Esse tinha sido um erro imenso Aldor.
Esperei ele se aproximar, e puxar meu cabelo para trás. Com um movimento rápido, aproveitei estar mais baixa, para girar e com uma rasteira, desequilibrar Aldor. Aproveitei o momento para me levantar, e vi os outros três homens avançarem para mim.
Eu estava em um frenesi de socos. Bloqueios e chutes. As espadas mal me encostavam, eu não me deixaria ser machucada por Estupidez.
Quando consegui derrubar um dos contrabandistas, gastei menos de meio segundo para pegar sua espada caída e enfiá-la na barriga de um de seus companheiros.
Eu não conseguia depender de minha perna machucada, mesmo sem a dor, e isso estava atrasando meus movimentos.
Ouvi o barulho no corredor se intensificar, o socorro tinha chegado para Aldor. E eu mataria todos eles.
Continuei lutando incansavelmente, impiedosamente, por muito tempo, a cada um que eu matava, Aldor se afastava ainda mais de mim, e minha fúria.
Lutar contra muitos sempre tinha sido minha especialidade, eu precisava disso quanto Urei me tornou seu alvo.
— Ele é uma besta! — Ouvi alguém dizer.
— Onde está o mago! — Aldor gritou.
Cortei, estoquei, e girei, durante muito tempo fazendo uma pilha de corpos a minha volta. Senti a luta se esfriar, quando os restantes hesitaram em se aproximar de mim.
— Espere! — Aldor gritou. — Vamos fazer um acordo.
Eu respirei fundo, minha mente estava perigosamente vazia. Era fácil de me perder quando a fúria tomava minha consciência.
Eu andei alguns passos em direção há Aldor. Eu sabia que ele estava ocupado por algum motivo, Racon sempre ficava assim antes de um grande trabalho, que podia envolver vários homens. Aldor não tinha muito mais homens na mansão aquela noite. Os cinco a sua volta, provavelmente eram tudo o que tinha restado.
Olhei em volta displicentemente, quantos eu já tinha matado? Vinte? Aqueles homens eram bem menos treinados que Urei.
— Um acordo? — Parei um segundo para analisar a situação, sentindo a fúria lentamente se dissipar. Andei lentamente até Aldor. — Que tal começar me devolvendo minha espada?
Assim que Aldor me devolveu Estupidez, joguei a outra no chão, me impressionando novamente com seu peso incrivelmente bem distribuído.
Meu olhar foi da espada para os olhos de Aldor. E antes que ele pudesse entender o que tinha acontecido. Estupidez cortou sua garganta, fazendo o sangue jorrar, antes do chefe dos contrabandistas cair morto.
Eu olhei para o restante dos homens que apesar de me olharem com ódio não ousavam sair do lugar. E fui em direção ao corpo de seu chefe para pegar a prova de sua morte. Um dedo, usando o anel que representava sua posição.
Quando acabei, girei a chave em dos dedos. Andei em direção a Kiram, sem tirar minha atenção dos homens que restavam. Assim que me abaixei para soltar o rastreador, senti meus joelhos fraquejarem.
Ainda não, pensei.
Kiram me olhava com espanto, mas não se afastou quando levei a mão até ele, abri seus grilhões.
Seus pulsos e tornozelos estavam na carne viva, assim como os meus.
Me levantei. E andei em direção a porta, sabendo que Kiram vinha logo atrás de mim. Estava lutando com tudo o que restava de minha forças para continuar em pé.
— Com licença rapazes. — Falei zombeteira quando sai da cela.
No corredor, vi algo que não esperava. O mago estava escondido entre duas mesas pequenas, tremendo e suando como nunca vi alguém fazer antes.
— Está tudo bem, Lino. — Kiram falou quando ele mesmo viu a cena — Ele está nos ajudando a sair aqui.
Eu ri, quando o mago tentou falar algo e o que saiu de sua boca foram apenas gagueiras desconexas. Aquilo tudo era medo? De mim?
— Eu não vou te matar, mago. — Resmunguei, antes de me apressar pelo corredor. — Pelo menos não até alguém me pagar para fazê-lo.
Continuei andando, mesmo quando a dor começou a voltar lentamente para meu corpo, o mago e Kiram tentavam me acompanhar da melhor forma que podiam.
Quando finalmente saímos da cidade já anoitecia. E eu sabia que não podia mais continuar. Assim que achei um lugar escondido nas montanhas eu cai no chão. Senti alguém me apoiar, evitando que eu caísse bruscamente.
Tinha que tirar a adaga de minha perna, mas eu não conseguiria parar o sangramento. Se ao menos Kareno estivesse aqui... Foi então que me lembrei, o mago.
Mas antes que eu pudesse perceber Kiram já estava trabalhando em meus ferimentos, limpando-os, e usando pedaços de sua própria camisa para fazer curativos improvisados.
— Vo... Você... consegue... — Tentei falar, sentindo a dor retornar em toda sua potencia.
— Curar? — Ouvi a voz esganiçada do mago, como se eu tivesse falado a maior loucura do mundo.
— É claro que não! — Ele respondeu, tomando o lugar de Kiram. — Magos comuns não fazem isso. Esse da perna, vamos ter que cauterizar...
Eu já não o escutava mais, e sabia que Lino não se dirigia a mim
— Por que estamos ajudando ele de qualquer maneira? — Ouvi o mago perguntar. — Você viu o que ele fez com aqueles homens.
— Tudo que vi foi ele salvando nossas bundas. — Kiram retrucou. — Agora termine isso antes que...
Gritei de dor quando tiraram a adaga. E gritei mais ainda quando senti a dor do ferro quente sendo pressionado no meu ferimento.
E então tudo borrou, e lutei em vão contra a escuridão que me engoliu.
Olaaaaa, gente de deus e agora? O que será que vai acontecer com a Ailin?
O que acharam do capítulo? Alguma ideia do que vai acontecer agora?
Me digam se estão gostando, e não deixem de clicar na estrelinha por favor!
Muito obrigada, e prometo que o próximo vai ainda mais emoção.
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