5. Aquele que busca dragões
Assim que recobrei a consciência, abri os olhos lentamente e pulei para me levantar. O barulho de alguém limpando a garganta anunciou que eu não estava sozinha, antes mesmo que eu pudesse afastar a nuvem de confusão em minha mente.
— Devia economizar suas forças. — Uma voz forte falou atrás de mim.
Me virei rapidamente para a origem daquela voz e vi quem era, provavelmente o homem mais bonito que ja tinha conhecido. O prisioneiro estava sujo por conta do que tinha passado naquele lugar, mas não ao ponto de esconder a beleza exótica em seu rosto. Com traços marcantes e olhos tão negros quanto carvão, seu cabelo estava solto e não passava da altura de seu ombro. Nunca tinha visto ninguém assim nas terras sem lei.
Eu pisquei quando percebi que ainda não tinha falado, e depois de dar uma olhada cuidados para fora da cela onde tinham me colocado, sentei me encostando em um das paredes úmidas.
Tinham levado minhas armas, minha bolsa e Estupidez. Eu iria dar um jeito de sair dali, mas não sem antes recuperar a espada e terminar o trabalho. Precisava do dinheiro se quisesse abandonar de uma vez por todas o acampamento de Racon.
— Como veio parar aqui? — O jovem tornou a falar. Novamente não respondi, não importava sua aparência, eu não confiava em ninguém.
— Eu fui capturado junto com um mago, por acaso não chegou a vê-lo lá fora, não?
Bufei e afastei o olhar, o mago era a razão de eu estar ali.
— Não é de falar muito, não é? — Ele tornou a perguntar
Me senti desconfortável, eu podia sentir os vários cortes e contusões pelo meu corpo, nenhum deles deveria ser sério já que eu estava consciente.
—Mandaram alguém para te dar algumas ervas ontem, quando não acordou. Disseram que não podia morrer até que descobrissem algo.
Me sobressaltei. "Ontem?"
— Quanto tempo fiquei apagado?
O jovem levantou uma das sobrancelhas e deu um leve sorriso.
— Resolveu falar ? Estava começando a achar que tinha ficado mudo por conta da surra que levou. Ficou ai por três dias inteiros.
Amaldiçoei. Três dias, se eu demorasse mais, Racon confiaria o trabalho a outro, e eu não teria outra chance de deixar aquele lugar.
A luz do sol que entrava pela pequena janela do alto da cela estava cada vez mais escassa enquanto a noite chegava.
Meu estomago roncava alto, e minha boca estava seca e machucada.
— Devem trazer comida a qualquer momento, não coma muito rápido, ou não vai ficar saciado, a comida aqui é pouca e ruim.
Eu não tinha ideia de porque aquele homem estava me ajudando, mas sabia que nada nas terras sem lei era de graça.
— Meu nome é Kiram. — Ele disse. — Nós deviamos nos dar bem, podemos passar muito tempo presos aqui.
Um barulho no corredor me fez ficar alerta, eu estava me deixando distrair pela conversa gentil de Kiram, quando deveria estar pensandl em como sair dali, completar o trabalho, e recuperar Estupidez.
A porta pesada de metal se abriu com um estrondo e dois contrabandistas corpulentos entraram no espaço pequeno. Seria muito fácil derrubá-los e aproveitar a porta aberta, pensei, mas e depois?
Abaixei a cabeça e esperei.
— Então esse foi o garoto que matou todos aqueles irmãos? Esse é o grande assassino de Racon?
Não respondi.
— Faz tempo que estamos querendo fazer uma visita para acertar algumas contas com você. — O outro falou. — Mas tivemos que esperar pacientemente até Aldor pisar fora da mansão.
— Por acaso é mudo garoto?
Levantei meu olhar lentamente, aborrecida, a tempo de ver o mais alto deles vindo em minha direção. Esperei paciente ele se aproximar, aquele ainda não era o momento de fugir, mas daria uma lição naqueles dois se fosse necessário.
— Vamos lá, Tomh, Aldor irá te matar se feri-lo antes de ele chegar. — Ouvi a voz de meu companheiro de cela.
— Não se descobrirmos o que ele quer saber, antes de acabar com a raça desse merdinha — Tomh respondeu. — Devia ficar fora disso rastreador, ou vai sobrar para você, a unica coisa que te mantem vivo, são os favores daquele mago.
— Levante. — O contrabandista que ainda não tinha revelado seu nome mandou.
Não me mexi.
— Levante, porra. — Ele tornou a falar, dessa vez me puxando pelo colarinho.
Assim que fui forcada a levantar pude dar uma boa olhada no rosto do contrabandista. Ele era assim como todos os outros homens que tinha conhecido nas terras sem lei. Sujo, e com o rosto marcado por uma vida de mulheres pagas, batalhas, e vida onde o mais forte e o mais rico venciam.
— Quem o mandou aqui?
Vi seu rosto se contorcer de raiva quando não falei. E não foi surpresa o soco que recebi no rosto logo depois.
— Quem é o cliente do contrato pela cabeça de Aldor? Fale.
No acampamento de Racon, apenas ele sabia a identidade dos clientes, eu não sabia, mas não iria dar a satisfaçao de uma resposta a eles.
— Me obrigue. — Respondi, olhando firmemente nos olhos do contrabandista.
Foi ai então que começou. Os dois contrabandiastas se jogaram contra mim. Ouvi barulho de correntes e olhei para meu comnheiro de cela da melhor maneira que pude. Kiram estava preso por correntes, e apesar de suas tentativas de se livrar, não podia fazer nada para me ajudar.
— Rudolfo. Thareno — Dessa vez foi Tomh que me atacou, para cada nome desferindo um golpe. — Somar. Kamad. Emeral...
Meu corpo estava em frangalhos, eu não tinha tido tempo de recuperar nem ao menos da luta de três dias atrás, e podia sentir o sangue voltar a brotar dos cortes que eu tinha sofrido. Meu rosto latejava e sangrava. Mas eu ainda não tinha caido no chão.
E lá estava, quando senti a sensação quente da raiva dominar meu corpo, me mexi tão rápido que Tomh não teve tempo de pensar quando parei o golpe potente de seu braço com a mão, e goolpeei seu nariz com minha cabeça o mais forte que consegui. Ele gritou e caiu zonzo, então seu companheiro atacou, dessa vez desviei de seu golpe e emendei uma soco cruzado em seu queixo, fazendo-o cair, apagado.
Andei lentamente, até as costas de Tomh.
— Todos os nomes são dos irmãos que matou. — ele falou, ainda de joelhos.
— Vou pedir para acrescentarem seu nome à lista. — Falei com uma voz fria, antes de quebrar seu pescoço com um movimento rápido.
Uma confusão começou a se formar no corredor, e eu voltei a me sentar exatamente onde estava antes. Kiliam me olhava com assombro, mas não ousava falar.
— O que aconteceu aqui? — Aldor perguntou quando correu para dentro seguido de vários de seus homens.
Continuei olhando para baixo.
— Acorrentem-no. — Aldor tornou a falar — Tem sorte que eu esteja tão ocupado essa noite, garoto. Mas amanhã, vamos ter uma pequena conversa.
Quando finalmente terminaram de remover o corpo de John, o homem desacordado, de prender meus braços e pernas nas correntes pregadas à parede e fecharem a porta nos deixando completamente no escuro, eu tentei respirar fundo, então tive certeza de que podia ter alguma contusão feita. Meu estômago estava doido pela fome, e ainda nao tinha bebido sequer uma gota de água depois que tinha acordado. E agora tinha o peso dos grilhões e correntes para aguentar.
Fiz um esforço para suportar a dor de me mexer para desamarrar os nós de minha armadura. Mesmo no escuro, tateei meu torax, sob a camisa, em busca dos cortes que tinham recomeçado a sangrar, e os pressionei com força, um por um, pelo menos até que os menos graves se estancassem.
O incomodo causado pelo tecido duro que eu usava para achatar meus seios, estava a ponto de me fazer perder a cabeça, mas eu sabia que seria terrivelmente perigoso se alguém naquele lugar, descobrisse que eu era uma mulher.
Eu já estava tão acostumada com o tecido enrolado na parte de cima do meu tórax, que normalmente já não me importava com o grande desconforto que ele causava, mas não tinha sido assim quando Racon decidiu que a armadura de couro apenas não estava sendo suficiente para esconde-los completamente.
Eu tinha treze anos, quando meu pai me forçou a usar a malha preta e dura, ainda me lembrava da dor em meus seios em crescimento, e da dificuldade constante de respirar.
Resisti a vontade de afrouxar o tecido, quando escutei as correntes que prendiam Kiram se mexer.
— Foi um belo soco que deu lá atrás. — Ouvi a voz de Kiram no escuro. — Aquele cara caiu com apenas um golpe, definitivamente impressionante.
Um belo soco? Eu tinha acabado de quebrar um pescoço na sua frente, e ele vem me cumprimentar por meu soco? Qualquer um teria ficado pelo menos intimidado.
— Qual é seu nome? — Ele testou. — Seria legal saber como te chamar, não vamos a lugar algum nos próximos dias.
Aquele comentário me fez segurar uma risadinha.
— Ouviu o que Aldor disse. — Falei finalmente. — Amanhã posso estar morto.
— Ele não vai te matar até que diga o que ele quer saber. — Kiram continuou. — E não tem cara de quem vai ceder facilmente.
Sorri, me aproveitando da escuridão para demonstar as emoções que eu escondia sempre.
— De onde é? Perguntei curiosa.
— Por que pensa que eu não sou daqui? — Devolveu a perguntanda.
— Os homems das terras sem lei não são como você. Respondi sincera. — E nem falam como você.
— Nem como você. — Ele retrucou.
O silêncio tenso que se seguiu foi logo cortado, quando finalmente ele respondeu.
— Sou da capital da madeira.
Arregalei os olhos, nunca tinha conhecido alguém dos reinos e iria tentar descobrir o máximo do lugar para onde iria fugir.
— E como alguém como você veio parar nas terras sem lei?
— Sou rastreador. — Ele disse somente, como se aquilo ja respondesse minha pergunta.
Pisquei.
— Rastreador?
Kiram não respondeu imediatamente.
— É sério? — Ele falou depois de alguns momentos. — Não sabe o que é um rastreador?
— Não.
— Eu procuro dragões. — Respondeu, me chocando.
Oláaaa, desculpe a demora para postar o capítulo! Tenho duas desculpas por estar um pouco ausente do wattpad, a primeira delas é que meu computador esta estragado, então perdi o que já tinha escrito e pior tenho que reescrever a mão, ou no celular, e segundo é que estou viajando de férias! Mas vou fazer o possível para postar toda semana, mesmo até o pc arrumar. Bjs, amo vcs!
O que estão achando da história? Ansiosos para saberem mais sobre os dragões?
Obrigada por lerem!
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