39. O reino de Rubi

O dia em que ele foi marcado foi sombrio e cruel. Todos os cantos do cinco reinos puderam sentir a magia obscura da Névoa, apodrecendo o mundo. Ístar permaneceu de pé, mas não nenhum de seus habitantes sobreviveram a fúria do campeão. - Diários de Alintanie.



— Lorilae. — Kiram me chamou. Eu estava terminando de apagar a fogueira que tínhamos feito no dia anterior, bati as cinzas de minha calça e me virei para o rastreador.

Ele se aproximou com uma feição estranha, e então limpou a garganta.

— Sobre aquele dia. — Começou. — No jardim interno da academia... Antes de...

Então eu entendi o porquê daquela situação estranha. Dei um meio sorriso debochado, o que fez o rosto de Kiram se contorcer ainda mais.

— O dia em que admitiu que gosta de mim. — Respondi. — Foi algo...

— Errado. — Kiram me interrompeu, e meu sorriso sumiu. — Me desculpe. Mas ultimamente as coisas estão complicadas, e...

Minhas sobrancelhas se arquearam.

— Quando pensou nisso? — Perguntei, usando minha melhor feição indiferente. — Foi antes ou depois de termos feito sexo? Bem ali.

— Lorilae, você não entende, eu...

Eu soltei uma risada, e o rastreador se remexeu.

— Não se preocupe, Kiram. — Falei, minha voz afiada como uma navalha. — Você é o único apaixonado aqui. Não sou eu a fazer juras de amor.

O rastreador pareceu levar minhas palavras como golpes. E momentos de silencio se passaram antes de ele chamar:

— Vamos embora daqui. Temos um longo caminho.

Concordei.



— Já estamos no reino de Rubi. — Escutei a voz de Kiram chegar a mim apesar do vento forte causado pelo voo de Gaariel, não tinha a metade da velocidade de Modesh, por ser vermelho, mas mesmo assim o vento era algo que achava difícil de suportar.

Apertei os olhos quando vários pontinhos surgiram no céu a nossa frente, sobrevoando a primeira vila que estava vendo no reino de rubi. Gaariel bufou abaixo de nós e desacelerou, cauteloso.  Foi então que consegui ver o que acontecia, a vila estava sobre ataque. Colunas de fogo desciam dos céus até as casas quase desprotegidas, e uma batalha de dragões acontecia bem a nossa frente. Eram dez contra três, eu pude contar. Os rugidos nervosos ficaram cada vez piores e agoniados. Gaariel, ao invés de tomar o caminho oposto e nos tirar da cena de guerra, se aproximou ainda mais. Claro. Kiram iria ajudar.

— São do reino de ouro. — O rastreador indicou quando foi possível ver os uniformes dourados. — Vou deixar você no chão e voltar para ajudar.

O vermelho voou baixo e devagar o suficiente, e eu me desamarrei rapidamente, sem esperar que o dragão acabasse de pousar. Quando cai no chão absorvi o impacto com os braços, assim como tinha sido ensinada a cair em meus primeiros treinamentos com os homens do meu pai.

Me levantei e desembainhei a espada, analisando o que me esperava. Os poucos guardas guardas eram massacrados e os habitantes daquele lugar tinham um destino parecido nas mãos dos soldados do reino de ouro. Gaariel voltou para onde dragões e seus cavaleiros lutavam, agarrando o pescoço de um verde que não percebeu sua aproximação, distraído com os outros dragões, até que fosse tarde demais. Um rugido doloroso ecoou.

Estupidez cortou pela primeira vez, se banhando no sangue de um soldado do rei do ouro que ameaçava um grupo de mulheres.

Minha mente começou a agir de força completamente instintiva a medida em que avançava para o centro da cidade, onde a luta estava concentrada. Quando cheguei, um caminho de sangue tinha se formado onde, antes, passavam meus pés. Ao meu redor, dezenas de soldados se agrupavam, e lutavam contra nem oito guardas da vila.

Estávamos ferrados.

Olhei para os céus amaldiçoando a ideia estúpida de Kiram, quando vi que ele, não estava em uma situação melhor. Gaariel era incrivelmente forte, e feroz. Mas estava tendo dificuldades ao lutar contra tantos ao mesmo tempo.

Estupidez parou um golpe firme, e eu saí do caminho de vários outros. O segredo para uma luta contra vários ao mesmo tempo era deixar as costas protegidas, sempre que possível. Antes que me encurralassem eu fui até uma parede, ficando de costas para ela, de forma que eu pudesse ver todos aqueles que se juntavam a minha volta.  E então ataquei.

Meus músculos tinham se tornado mais fortes, e meus movimentos mais rápidos, mas me perguntava se aquilo seria o suficiente, relaxei minha guarda, e levei o primeiro golpe, um corte na coxa, que felizmente tinha sido superficial. Desviei de alguns golpes mortais, apenas para ter a bainha de uma espada me acertando com força na cabeça. Tudo ficou confuso e lento por alguns segundos. E eu senti minha raiva florescer finalmente. Pisquei, algumas vezes para desembaçar as vistas, sem parar de bloquear e atacar com estupidez.

Eu ficava mais forte, e mais rápida, a medida que cortava e matava. Meu rosto latejava com os golpes que já tinha tomado, e podia sentir sangue se acumular na parte da frente de minha armadura. Meu corpo inteiro estava tenso. E os gritos vindos de partes diferentes da cidade, me instigavam a lutar mais rápido.

O rei do ouro estava promovendo um massacre.

Assim que consegui, me livrar de alguns soldados, uma cena me chamou atenção. Uma mulher loira e incrivelmente alta, estava sendo arrastada para fora da casa mais próxima de mim. Sua roupa luxuosa estava rasgada na altura dos ombros, e o tecido pendia quase ao ponto de revelar demais. Os soldados que a puxavam riam e comemoravam. Parando vez ou outra para estapear ou xingar a mulher que levavam.

Meu sangue correu mais rápido. E eu não pensei nas consequências antes de correr na direção da mulher e seus captores, que não estavam muito distantes. Os guardas da vila tentaram fazer o mesmo, e alguns deles, foram descuidados demais para conseguir sem que fossem mortos no caminho. Eu sentia minha fúria repor a energia que se esvaia junto com meu sangue. E não pareci machucada quando matei o primeiro dos homens que a seguravam.

Ela se desvencilhou e e rapidamente me coloquei a sua frente. Aguentando golpe após golpe, incentivando meus músculos a se moverem mais mais força.

Como que se entendesse a situação em que me encontrava a grama nos pés dos soldados se inflamaram, o fogo se espalhando em uma velocidade anormal, queimando qualquer um que não fosse inteligente o suficiente para sair do seu caminho. Atrás de mim a loira cochichava. Era uma maga, percebi.

A magia requeria muita concentração e conhecimento de quem a usava, por essa razão magos eram quase indefesos quando estivessem em situações corpo a corpo, pelo menos aqueles comuns. Grandes magos eram diferentes, eles sabiam o aspecto natural da magia do equilíbrio.

Olhei para cima. Gaariel estava muito machucado, e se mantinha feroz contra os cavaleiros de dragões do reino do ouro. Agora eram dois contra cinco. Mas pela situação em que eles estavam aquilo não duraria muito mais tempo.

Mais e mais soldados começaram a se aproximar de nós, entrando na luta, em uma velocidade maior do que eu os matava. Um corte profundo em minha panturrilha me jogou no chão. E um golpe na barriga me tirou o fôlego. Uma espada desceu sobre minha cabeça. Tirando meus sentidos apenas por segundos preciosos.

Um calor escaldante tocou a minha pela, e minha visão e audição retornaram a tempo de ver os soldados que me atacavam virarem pó, na coluna de fogo que também me cercava. O imenso dragão dourado desceu pousou, e eu suspirei aliviada. Lágrimas se acumularam em meus olhos.

A maga tinha que tinha se distanciado da luta, consideravelmente agora voltava com amarras de dragão. Eu as peguei sem  tirar meus olhos do dourado, que fugia e matava qualquer um em seu caminho, pisoteando, arrancando as cabeças, mastigando, e queimando.

Quanto tempo mais vai ficar ai assistindo, Lorilae?

Lutei ao lado do dragão apenas o suficiente para limpar o centro da vila, e os guardas correram em direção aos soldados do rei de ouro que ainda aterrorizavam suas ruas. Subi em Modesh rapidamente. Estremecendo quando nossos equilíbrios se juntaram mais uma vez, a magia draconica curou rapidamente minhas feridas, e me senti como se nunca estivessem estado lá, e então Modesh levantou voo.

Um dragão fica mais forte com seu cavaleiro. E um cavaleiro é mais forte com seu dragão. As palavras de um livro vieram a minha mente.

Dessa vez o vento causado pela velocidade de Modesh não me incomodou. Eu, assim como ele, estava focada em nosso alvo. Magia fluindo entre nós, nos fortalecendo, quando Modesh arrancou a cabeça de um dragão verde em uma só mordida, não lhe dando margem para curar.

Modesh guinou para cima, desviando de uma rachada de fogo, ao se inclinar para baixo novamente, em uma manobra perigosa para alcançar aquele que tinha Gaariel praticamente subjugado. Eu levava Estupidez em uma mão, me agarrando as amarras com outra, quando Modesh alcançou o dragão prateado que atacava o vermelho de Kiram.

O rastreador estava com uma aparência péssima. Sangue brotava de sua sobrancelha marcando seu rosto de vermelho.

Quando o dourado deu a mordida, o prateado foi rápido para esquivar apenas o suficiente para escapar de um golpe fatal, mas estupidez cortou, aproveitando os ferimentos que Modesh tinha deixado nas escamas duras prateadas, para debilitar ainda mais. Gaariel se afastou, e o dourado soprou fogo outra vez. Carbonizando o prateado, que caiu sem vida, levando o seu cavaleiro.

Inclinei para frente, escapando por centímetros da asa azul de um dragão. Modesh aproveitou a oportunidade para se virar por segundos de barriga para cima, em um loop mortal rasgando a barriga do azul com as garras, fazendo-o despencar do céu.

Modesh era incrível. Em alguns minutos estávamos novamente no chão. Todos os cavaleiros de dragões mortos, e soldados queimados. Tanto eu, quanto, ele sem nenhum arranhão.

Assim que desci do dragão. Ele abriu as asas e rugiu, me mostrando todo seu poder e força. Eu entendi o recado que ele tinha passado.

Eu tinha subestimado Modesh. O dragão levantou voo novamente, e eu soube que ele me deixaria mais uma vez. Salvar minha vida, era um impulso do equilíbrio, um que ele não podia ignorar.

Modesh, me desculpe. Falei. Aproveitando a vibração da conexão que tínhamos acabado de experimentar. Eu estava errada.

As palavras saíram difíceis para mim. Mas mesmo assim fui sincera.

Eu não pretendia te forçar a nada. Foi apenas que não pude suportar o pensamento de que morreria por mim.

Devia ter pensado que não morreria. Ainda não viu nem metade de minha força. Nem mesmo hoje. Retrucou.

Eu sei. Não vou cometer o mesmo erro novamente.

Alguns segundos se passaram sem a resposta do dragão quando eu finalmente tomei a coragem de falar.

Não sei como isso aconteceu, mas sinto que é parte do que sou. A família que não tive.

Minha garganta se apertou, mas eu não parei.

Meu dragão assim como sou sua cavaleira. Eu te amo, Modesh, o dourado. E sei que se importa comigo também.

O pontinho que tinha se tornado Modesh nos céu, começou a ficar cada vez maior e mais distinto, e o alívio finalmente tomou espaço em mim quando ele pousou na minha frente.

Vamos para onde quiser. Pedi. Podemos sair daqui agora, e irmos para onde quiser. Conhecer todos os segredos dos cinco reinos.

Não percebe, Lorilae? É tarde demais. Ele falou, dessa vez com uma voz mais calma, diferente de tudo que já tinha ouvido dele. A magia na névoa está cada vez mais forte, eu posso sentir, todos nós podemos se prestarmos atenção. As pessoas estão se tornando mais sádicas. É uma questão de tempo e não importa onde formos. Ele vai nos achar. E não há nada que eu queira mais. Esperei muito tempo pela minha vingança.

Então vamos lutar juntos. Falei por fim.

— Eu não tenho palavras para agradecer o que fez por mim. E por essa vila. —Uma voz nos interrompeu.

Quando me virei a loira me encarava. Seu rosto machucado mantinha um sorriso. A distância um mago cuidava dos ferimentos de Kiram e Gaariel.

— Meu nome é Pauline. Sou filha da rainha de Rubi. Eu gostaria que me acompanhasse até a capital onde minha mãe pode te recompensar de maneira justa, cavaleira do dourado.




Oláa! Tudo bem com vocês, então gente dei uma atrasada por conta da minha linda cachorra que comeu meu carregador do note, então agora, até comprar um novo, dependo da boa vontade de terceiros para me emprestarem o notebook, nos próximos dias vai ser dificil atualizar meus livros, então não me matem! Já fiz o pedido de um novo carregador.

Me digam o que acharam do capítulo por favorzinho!!!

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