30. Reino da Areia

Olá pessoas lindas, eu sei que dei uma atrasadinha no capítulo dessa semana, mas isso foi pq fiquei sem computador, mas agora está tudo resolvido, espero que me desculpem!

Obrigada por lerem até aqui, e não se esqueçam de comentar ao longo da leitura, é bem importante pra mim!



— Acho que tem um seguidor. — Kiram falou divertido, indicando com a cabeça a parte de traz de uma das casas brancas.

Olhei para onde ele indicava. O menino de boina verde ainda me seguia, se escondendo com dificuldade atrás de casas e arvores. Eu ignorei, e continuei seguindo Kiram para a sede do prefeito local. Nunca tinha gostado de crianças, e por conta disso, desde sempre tinha tomado todo tipo de ervas para evitar tê-las, mesmo quando ainda vivia no acampamento.

Nós entramos na maior casa do lugar, situada quase no limite da vila branca, e quase ri da expressão do garoto quanto percebeu que não conseguiria nos seguir para o lado de dentro.

— Boa chegada. — Alguns dos homens nos cumprimentavam ao passar por nós.

O lugar era amplo e aconchegante, não chegava nem perto do tamanho da academia é claro, mas era tão bem organizado que tínhamos a impressão que fosse ainda maior do que realmente era. Subimos o lance de escadas até uma sala quase que escondida, que tinham nos indicado ao chegarmos. Tardi estava lá, remexendo em papeis e livros, perfeitamente disposto em sua mesa arrumada.

— Espero que tenham comido bem. — Ele falou, abaixando o pequeno óculos quadrado de seu rosto.

— Estão sem prefeito? — Kiram perguntou.

— Sim. — O homem respondeu. — Nosso prefeito faleceu por males da idade avançada, e eu venho fazendo todo o trabalho por aqui desde então.

Kiram assentiu, e se sentou quando Tardi nos indicou as cadeiras confortáveis em frente a sua mesa, eu fiz o mesmo, e balancei a cabeça entediada. Eu não era diplomática ou tinha uma conversa interessante, fui treinada para ser apenas uma coisa. Mercenária.

— A quanto tempo estão sem prefeito?

— Dois anos completos.

Meu olhar vagou pela sala, enquanto os dois conversavam sobre as jogadas políticas do reino da madeira. Tudo ali estava perfeitamente no lugar, alinhado, e limpo. Tardi provavelmente tinha algum tipo de fixação. Antes que pudesse pensar minha mão já tinha ido para a mesa do homem, dando um leve empurrão, com o dedo, em uma caneta dourada que era exibida em seu suporte. Normalmente uma pessoa não iria perceber aquela ação, quando mais se importar com os milímetros que o suporte se torceu para o lado direito. Mas pelo olhar angustiado que Tardi encarou a caneta, eu soube que ele se importava.

Tentei fazer uma feição serena, enquanto encarava a janela do lugar, observando o movimento da rua que agora começava a se agitar. Tardi respondia Kiram automaticamente, enquanto encarava a mim e a caneta fora do lugar.

Aquilo tudo seria cômico se algo do lado de fora não tivesse chamado minha atenção. O  garoto de boina verde estava entrando do bosque que cercava o lugar, alguns garotos da sua idade, brincavam ao seu lado incentivando o de boina verde a continuar. Seria uma cena completamente normal se eu não tivesse visto a sombra que mais ninguém foi capaz de ver.

Levantei-me da cadeira e disparei tão rápido para fora do lugar que nem ao menos ouvi as exclamações surpresas de Kiram e Tardi.

Minhas pernas correram o mais rápido que conseguiram na direção do menino de boina verde. Segurei um grunhido quando me choquei contra ele, bem em tempo de evitar os dentes afiados da onça gigante que tinha o visto como oportunidade para uma boa refeição.

Estou indo.

Segurei firmemente o garoto que chorava baixinho debaixo do meu corpo, enquanto e enorme animal nos prendia contra o chão. Modesh estava distante demais para chegar a tempo, mesmo com sua velocidade. Me virei de frente para ela. Eu tinha duas opções podia continuar daquela forma sentindo as garras da onça tentarem rasgar o couro de minha armadura, ou saia de cima do garoto para acabar com aquilo de uma vez, se eu fizesse isso ele poderia não escapar ileso. Resmunguei, começando a sentir a familiar irritação fortalecer os músculos de meus braços, que lutava para manter a boca da onça longe de qualquer parte importante do meu corpo.

Quanto mais eu me fortalecia, mais a onça lutava. Ela sabia o que estava em jogo. Ela faria qualquer coisa para sobreviver, e eu respeitava isso.

Grunhi, e a força do animal espremeu ainda mais meu tórax, dificultando minha respiração. Me sentia sufocar enquanto lutava desesperadamente para conseguir mover o animal de cima de mim, sem deixar que o garoto se machucasse. Tudo que podia fazer era suportar todo o peso do felino em meu abdome e pernas flexionadas, para impedir que o garoto fosse esmagado.

A luta estava caótica, dentes e garras contra a força de meus braços e pernas, e eu não podia me dar ao luxo de livrar sequer uma mão para alcançar Estupidez. Arfei quando o peso foi bruscamente retirado de cima de mim. Sentei no chão tentando recuperar o fôlego, enquanto Kiram, lutava com a onça gigante.

Ele era forte, ainda mais forte que o animal, Kiram tinha jogado a onça para longe de mim, e agora tentava achar uma brecha para usar a adaga que levava na mão.

Me levantei rapidamente para ajudar mas a luta já tinha acabado, com um som estrangulado o animal parou de se mover. E Kiram jogou sua carcaça para o lado, saindo debaixo de todo aquele peso.

— Incrível. — Ouvi Tardi falar.

Ele tinha assistido tudo aquilo sem tentar intervir? Covarde. Pensei.

Olhei para o garoto que se levantava ileso, seu rosto estava molhado por lágrimas, mas ele me olhava com completa admiração. Segundos depois uma mulher baixinha correu para nós com um olhar assombrado.

— Gale. — Ela sussurrou, abraçando o garoto ferozmente, depois de conferir se não estava machucado. — Por todo poder do equilíbrio como pode entrar aqui sem companhia.

Olhei a cena por alguns segundos, a mulher realmente se preocupava com o garoto. Aquilo me incomodava mais do que deveria.

— Vamos. — Falei para Kiram quando Modesh pousou além das árvores. — Chame Gaariel, vamos procurar esses anevoados.

—Você está bem? — Ele perguntou, seu olhar correndo pelos cortes em meu peito e barriga. — Temos que dar um jeito nisso.

— Estou. — Respondi, engolindo seco. — São muito superficiais. Vão se curar assim que me ligar a Modesh.

Ser cavaleira de um dragão dourado, que tinha todas as quatro habilidades draconianas, tinha suas vantagens.



Tudo aquilo por um felino? Está começando perder o jeito, Lorilae.

Se não fosse pelo garoto, eu teria acabado com aquilo rapidamente, sabe disso.

Então seu erro foi ainda pior.

Resmunguei, mas sabia sobre o que Modesh falava. Me importar com alguém, aquela não era Ailin. O assassino de Racon sabia muito bem que aquilo só significava uma fraqueza. Ele tinha perdido seu melhor amigo, apenas por que se importava. As pessoas que ama pode serem usadas contra você.

Quando o dourado levantou voo, seguido de Gaariel, eu tomei uma decisão. Cuidaria dos meus assuntos e sairia daquela vila o mais rápido possível.

Pensei que Lorilae não tivesse medo.

Não respondi. Não sabia quem era Lorilae. Ou quem era Ailin.

Ouvi um som rouco e divertido vindo de Modesh. Ele não conseguia entender. As coisas eram diferentes para os dragões.

— Parece que é aqui. — Kiram gritou, sua voz sendo atrapalhada pelo vento forte.

Olhei para baixo e Modesh rugiu. No horizonte uma vila grande, quase grande o suficiente para ser chamada de cidade aparecia. Quando mais Modesh descia, mais sem vida a vila se tornava. Tudo estava devastado.

Modesh finalmente pousou, e o cheiro insuportável de corpos em decomposição chegou até minhas narinas. Coloquei a manga da blusa sobre a boca e nariz, tentando segurar o vômito. Os dragões rugiam. Todo ódio direcionado aqueles que consideravam aberrações. A névoa era a razão da queda dos reis dragões e eles se lembravam disso muito bem. Poderiam até ter presenciado tudo, eles mesmos.

— Estamos no reino de Areia. — Kiram perguntou antes que eu pudesse perguntar.

— Já sabemos de onde vieram os anevoados.

Eu e Kiram andamos em silencio por meio dos corpos, enquanto os dragões sobrevoavam o lugar para verificar que nenhum monstro ainda permanecia lá.

— Eles não tem propósito, quando são criados, apenas andam por ai matando e infectando tudo que puderem encontrar. — O rastreador contou. — Essa é a nossa sorte, não são organizados. E raramente seguem juntos.

Assenti. Um exército daquelas coisas seria um desafio enorme, eu ainda não tinha conseguido matar nenhum sem a ajuda de Modesh. Continuamos andando pela vila, o chão era diferente do que eu estava acostumada, feito de uma pedra porosa e marrom que parecia se desmanchar enquanto pisávamos. A vila não tinha ruas e as casas eram feitas de uma mistura de argila pedras e musgos. As condições de vida que eu via no lugar, pareciam não terem sido muito diferentes de Istar. A cada passo que dávamos ficava ainda mais claro a diferença entre o reino da madeira e o da areia.

A vila estava acabada, corpos estendidos no chão, dilacerados e deformados. Casas parcialmente destruídas, e nenhum sinal de vida.

— Se isso está assim agora, penso como  foi era atrás. — Me perguntei, lembrando dos terrores descritos nos livros que Kiram tinha me forçado a ler para treino. — Os dias de terror.

Nada como isso.

Pior?

Infinitamente.

Um movimento sutil chamou minha atenção. Desembainhei Estupidez rapidamente, e fui em direção ao barulho, sendo seguida de perto por Kiram.

Não sinto mais daquelas aberrações.

— Não é um anevoado. — Kiram falou, provavelmente Gaariel, tinha lhe avisado o mesmo.

Entrei em uma casa cuja a porta estava escancarada, percorri o único cômodo com o olhar, não tinha ninguém.

— Viu algo aqui?

Assenti. Minha mente não costumava me pregar peças. Dei mais um passo para dentro no cômodo, e algo incomum me fez parar, debaixo de toda a bagunça algo estava oco no assoalho de madeira.

— Tem algo aqui.

Kiram se aproximou e me ajudou a retirar as coisas de cima do chão. Melhorando nossa visão do que poderia ter sido a causa de meu alerta. Assim que tudo foi removido uma pequena alça de pano foi revelada.

O rastreador puxou o alçapão, revelando um longo túnel feito da mesma pedra porosa.

Não desça Lorilae. Eu não poderei ajudá-la.

Sente a névoa? Perguntei já sabendo a resposta.

Não.

— Vamos entrar. — Falei para Kiram, que assentiu.


Oiiii, e ai, oq acharam?

Obrigada por ler!

Deixem a estrelinha!

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