19. Dalia

— Mestre Denno... - O moreno começou, quando todos os três levantaram do chão prontamente. - Ele... ele nos atacou...

O homem alto e de barba branca bufou, ainda com raiva estampada no olhar.

— Três cavaleiros contra um aprendiz e ainda espere que eu acredite nisso? — Esbravejou. — Me toma por um tolo, Felinde?

Levantei uma das sobrancelhas, tinha certeza que a culpa da briga recairia em mim, mas parece que não era o caso.

— Se vão desobedecer as regras e brigar no terreno da academia pelo menos deviam fazer isso direito. — o mestre continuou para minha surpresa.

— Que movimentos tolos foram aqueles? Não tem vergonha de serem chamados de cavaleiro? Perder uma briga de três contra um? É ridículo!

Pisquei, completamente confusa. Ele tinha assistido tudo sem interferir?

— E você? — Ele falou olhando para mim. — Que atitude idiota foi aquela de largar sua arma? E por acaso é um animal para ficar pulando de um lado para o outro enquanto luta?

Franzi o cenho e bufei, quem aquele cara achava que era? Tinha certeza que não duraria um segundo em uma luta de verdade comigo.

Eu senti a presença de Modesh em minha mente, ele fez um barulho engraçado, que podia jurar se parecer muito com uma risada.

Eu avisei.

Vá dormir.

E novamente o som de uma risada estranha, inflamou minha irritação. Merda.

— Como punição para esse desempenho deplorável, vão ter que ficar três horas a mais no treinamento hoje.

— Eu não tenho treinamento hoje. Minha lição de espada é amanhã. - Rebati, mal humorada.

— Não é mais. Estou te transferindo para a turma de cavaleiros.

Arregalei os olhos.

— O quê? — Perguntaram os três ao mesmo tempo.

— Bem ensinadinhos mesmo. — Sussurrei alto o suficiente para que pudessem entender.

— Acho que fui bastante claro. — O mestre interveio, rígido. — Vamos já me atrasaram demais.

Segui mestre Denno até a próxima lição que ele mesmo tinha incluído em meu dia. Treinamento com espada. Uma apenas para cavaleiros. Quando saímos daquela floresta vi que não era pelo mesmo lado em que tínhamos entrado. Estávamos na parte de trás do castelo, que eu ainda não visitado.

Na parte de trás várias outras construções menores disputavam lugar no gramado verde. Mestre Denno nos guiou em silêncio até a mais próxima delas. Não foi difícil ver a utilidade da construção de madeira, que era tão alta que poderia ter facilmente dois andares. Um casa de armas.

Nós nos aproximamos e eu vi homens, cavaleiros, já treinando no gramado a frente do lugar. Alguns lutavam com armaduras completas e lanças, outros faziam exercícios físicos carregando sacos pesados de feno, e outros se digladiavam com seus próprios punhos, em uma dança violenta.

E foi observando esse último grupo que uma visão me tirou o fôlego. Kiram estava lutando com um jovem ligeiramente mais alto que ele. Os dois se rodeavam, com uma graça feroz. O príncipe rastreador tinha um sorriso divertido nos lábios quando seu oponente atacou. E com um movimento rápido e elegante Kiram venceu, jogando o outro no chão com dureza.

Senti meu rosto esquentar, quando ele interrompeu sua luta para se virar para nós. Assim que nossos olhares se cruzaram, Kiram sorriu. Agora, eu estava perto o suficiente para ver as poderosas linhas desenhadas em seu tórax a mostra, o suor escorria pelo seu corpo ainda maior e inchado pelo exercício. Seu cabelo estava meio amarrado, longe dos seus olhos pretos como a noite mais escura.

Ele deu um passo em minha direção, e eu prendi a respiração, sentido faíscas em todo o meu corpo. Eu conhecia bem aquela sensação, eu já tinha visto várias vezes no olhar de amantes no acampamento. Era desejo.

Eu guardei uma risada.

Quem diria que o assassino mais temido das terras sem lei, iria cobiçar o corpo de um homem belo.

Devia ficar fora de minha cabeça, Modesh. Falei apenas para ele, divertida.

Uma escolha que eu definitivamente gostaria de ter.

Admita que ao menos se diverte.

Jovens humanos e suas necessidades estão longe de ser uma diversão para mim.

Era isso o que aquilo era. Uma necessidade que todo humano parecia cultivar.

— Ailin! — Kiram chamou, se aproximando. — Aconteceu algo?

Seus olhos foram dos meus, até os três brutamontes surrados que viam logo atrás de mim. Eu balancei os ombros, e vi a compreensão cruzar os olhos de Kiram. Que soltou um som estrangulado, e então caiu na gargalhada.

— Você fez isso? — Ele perguntou mal podendo dizer as palavras entre os risos.

Mais pessoas se aproximaram de nós. Enquanto o mestre Denno terminava de examinar o braço de um dos jovens, apenas para dizer o que eu já sabia:

— Está quebrado. Por mais que mereça passar pelo resto da lição com dor, Jun, a última coisa que quero são seus pais a minha volta, então vá procurar um curandeiro, e volte quando tudo estiver remendado.

As risadas de Kiram diminuíram e percebi que agora todos falavam de mim. Bom. Pensei. Agora dificilmente ousariam algo como aquilo novamente.

O rastreador me deu uma piscadela, quando os dois jovens que tinham me atacado passaram por mim, engolindo o orgulho ao serem observados, se colocando no ponto mais distante possível de onde eu estava.

— Está nessa lição agora? — Kiram me perguntou.

Assenti.

— Mestre Denno, creio que já conheceu, Ailin. — Ele começou. — Cavaleiro de Modesh, o dourado. E meu anir.

Eu me virei para ele, com as sobrancelhas arqueadas. Os cavaleiros que ainda não tinham prestado atenção em minha chegada, agora soltavam exclamações de espanto.

— Anir? — Perguntei baixinho.

— Sou seu ular, e você é meu anir, meu protegido, enquanto estiver na academia.

Não tive tempo para responder.

— Já que é seu ular, a mesma punição será dada a você, por ter deixado toda essa confusão acontecer.

— Punição?

— Três horas a mais de treinamento.

Caí no chão com um baque surdo. Sentindo minhas costelas rangerem. Merda. O que diabos estava acontecendo?

— Sua luta é porca! — Ralhou mestre Denno. — Pode ser rápido e ter bons ataques, mas o que importa você negligencia por completo. Sua base.

Rosnei, e o mestre se afastou para xingar outro cavaleiro que estava insistindo em fechar os olhos na hora errada.

Firmei os dois pés na grama. Aquilo parecia uma piada. Estava realmente tendo dificuldades em lutar contra Kiram, o príncipe que tinha salvado nas terras sem lei.

Ataquei, com um soco, o rastreador desviou rapidamente, sem quase se mover e com um movimento rápido devolveu o golpe, se aproveitando do meu braço esticado para atacar em meu flanco desprotegido. Senti uma dor aguda, quando 0seu punho acertou o alvo.

— Eu o vi lutando contra dezenas de contrabandistas. O que está te distraindo hoje, Ailin? — Kiram perguntou, investindo novamente.

Era verdade que o corpo de Kiram era bonito, mas não era do tipo que se distraía fácil em uma luta. A verdade é que ele era muito bom, seu estilo de luta completamente diferente do que eu tinha aprendido com os mercenários das terras sem lei. Seus movimentos eram fluidos, sem nenhum deslocamento desnecessário, algo que deixava muito mais difícil para mim lutar da forma que eu tinha aprendido.

Tentei me lembrar das poucas lições que tinha tido com Kareno. Usar o golpe do inimigo em seu favor. Transformação.

Me concentrei. Minhas mão se fecharam em punho um pouco a baixo de meu rosto, e dessa vez eu esperei, não comecei a luta como das tantas outras em que tinha subestimado Kiram.

Ele atacou, e eu estava preparava, parei o golpe com o antebraço, e emendei uma cotovelada, impulsionando o movimento com um meio giro de meu quadril. Kiram desviou do golpe no ultimo instante e chutou, na altura de minha barriga. Tentei copiar como ele fazia e em vez de saltar para longe, movi ligeiramente meu pé direito, saindo totalmente do alcance de seu chute.

Kiram sorriu, mas continuou. Chutou e socou, rapidamente, até que nós erramos dois borrões. Bloqueei cada ataque, e usei a vantagem que eles me davam para contra atacar.

— Bem melhor. — O mestre Denno falou quando passou por nós.

Kiram ficou mais rápido, e seus golpes ainda mais poderosos. Apertei os dentes tentando acompanhar. Nunca tinha visto ninguém lutar assim. E então, sem aviso, eu estava no chão novamente.

— Você viu como ele se moveu? — Ouvi a dupla mais próxima a nós cochichar.

— Aquilo foi incrível. Não é atoa que sempre foi considerado o melhor por mestre Denno. Um dom natural.

— Eles o chamavam de sombra.

— Sabe que podemos ouvir vocês não é? — Kiram zombou dos cavaleiros, que logo retornaram a luta de espadas.

— Não parece tão durão agora. — O jovem que me atacou sussurrou ao passar por mim.

Estalei o pescoço, sentindo cada parte de meu corpo se contorcer de raiva. Dei um passo.

— Ei. — O rastreador me parou. — Vamos lutar.

Eu estava ciente de que o olhar dos dois jovens estavam em mim quando Kiram atacou. E meus sentidos se agitaram de ódio. Desviei do soco tão rápido, que o príncipe nem percebeu meu próximo golpe. Eu o girei por cima de meu ombro, usando o peso de seu corpo e o movimento de seu golpe. Antes que ele pudesse perceber o que acontecia, já estava no chão, com minha mão em sua garganta.

Kiram piscou, e franziu o cenho.

Eu me levantei, puxando-o com facilidade.

— O que acabou de fazer? — Ele me perguntou. — Fez isso também na mansão de Aldor não é? Eu estava muito fraco para perceber antes, mas...

— O quê? — Perguntei irritada. Todos os olhos em mim.

— Magia. — Ele respondeu. — Foi isso que acabou de fazer. É como luta tão mortalmente. Você usa magia.— Não, eu não uso não.

Sim, Lorilae, você tem o dom da fúria.

— Eu não tenho ideia de como funciona, vou ter que ver mais algumas vezes é claro. - O mestre Denno falou. — Mas não parece pertencer a nenhum dos aspectos.

— Não pode ser dracônica? —Outro cavaleiro perguntou.

— Não me parece desse tipo. — Denno retrucou. — Não deviam estar treinando?

Toda a comoção parou quando o bater alto de asas anunciou uma chegada. Olhei para o alto, e vi um dragão descer habilmente até a grama. Montado nele, uma jovem alta e esquia, com longos cabelos prateados e rosto fino. Ela se desamarrou, e desceu do dragão verde com graça.

— Desculpe o atraso mestre Denno, fui convocada para uma missão. — A moça falou com voz aveludada.

O mestre assentiu. E ela se voltou para nós, jogando o cabelo comprido.

— Príncipe Kiram, fiquei sabendo do retorno de vossa alteza. — Ela continuou, estendendo a mão.

Kiram sorriu, e levou a mão da jovem até os lábios.

— Já nos conhecemos?

— Costumávamos brincar durante suas duas visitas ao palácio da areia. Mas não passávamos de crianças. Sou Dalia Faternulis.

— É claro! A filha do imediato! Então é você a primeira mulher a estudar na academia. Foi uma bela conquista. — Kiram reconheceu, educado.

— É uma honra. —Ela piscou, lançando um sorriso meloso. —E esse é?

— Ailin. — Respondi, sem emoção.

—Ailin?

—Acham que estão aqui para gastar saliva ou suor? — Mestre Denno esbravejou, fazendo com que Kiram me arrastasse para continuar o treino.

—Vamos tentar lutar sem magia. —Ele pediu. Dalia ainda nos encarava. —Se ficar boa sem a ajuda dela, vai lutar ainda melhor quando a usar.

—Rodem! — Denno gritou.

Kiram fez careta. E eu olhei para ele em interrogação.

— E agora?

—Agora nós corremos. —Ele respondeu, disparando para os sacos de feno.

Oiii, outro capítulo essa semana! Como vocês podem ter visto, comecei a postar este livro em ingles, uma chance para treinar o seu! e se você for um expert, e quiser me ajudar nessa loucura, não deixe de ler o capítulo que postei e me dizer se encontrou alguma parte incorreta!

Me contem o que acharam desse capítulo e não se esqueçam da estrelinha.

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