14. Vínculo

Dica: Escute Madness da Ruelle, quando forem ler esse capítulo.

— A Academia fica a mais de dois dias de onde estamos agora — Kiram falou.

Assenti. Já estávamos viajando há três dias inteiros, ou seja, estávamos quase na metade do caminho. O percurso que percorríamos ficava cada vez mais plano, e desgastado a medida em que nos aproximávamos da fronteira com o reino da madeira. O que delimitava o fim das terras do antigo reino de estanho era um vila tão pequena que nem existia no mapa, construída pelos fugitivos do reino da areia quando a guerra tinha acabado de começar. À vila nunca foi dado um nome, então, os que moravam lá apenas se referiam a ela como abaixadão, por se localizar depois da última colina das terras sem lei.

— Não precisamos passar na vila. — Disse. — As pessoas de lá não são muito receptivas com viajantes.

Quase na fronteira, ninguém das terras sem lei queria se aproximar demais da vila, e o mesmo acontecia com os habitantes do reino de madeira.

— Já ouvi falar desse lugar. — O rastreador contou. — Tem razão, vamos apenas contorná-la.

Assim que a pequena vila apareceu no horizonte soubemos que havia algo errado. A natureza estava demasiadamente quieta, e alguns focos de fumaça cinza. Continuei em silêncio quando percebi que Lino e Kiram percebiam a mesma coisa. Escutei um rugido distante, nunca tinha ouvido algo tão ameaçador quanto aquilo, senti meus pelos se arrepiarem, e avisos dispararem em minha mente. Eu sabia que quem tinha rugido daquela maneira era Modesh, mas não tinha ideia do que tinha o feito reagir daquela forma.

O barulho de bater de asas ficou cada vez mais ensurdecedor até que eu pudesse ver Modesh cortar as nuvens em um rasante tão veloz que quase não pude acompanhá-lo. E antes que eu pudesse me dar conta de suas intenções, um jato de fogo enorme disparou em direção a vila a nossa frente.

Modesh. Chamei ouvindo outro alto rugido em resposta.

—E-ele va-vai queimar a vi-vila. — Lino gaguejou, em pânico.

Eu esperei aos gritos e o caos quando Modesh cuspiu outra coluna de fogo. Mas não vieram. Meu dragão estava ensandecido eu podia ver e sentir em meus ossos, e sabia que Kiram e Lino sabiam disso tanto quanto eu.

Ele rugiu novamente. E meus pés como que por contra própria dispararam em sua direção. O clima quente, ficava ainda mais insuportável, a medida que nos aproximávamos das casas em chamas. O sol estava tampado pela grossa camada de fumaça cinza, e eu podia sentir o cheiro da morte ficar cada vez mais forte.

Mesmo na meia luz, mesmo tento visto milhares de corpos que eu mesma matei, das mais diversas formas que fui capaz de imaginar, o que vi fez meu estômago se revirar. A mais ou menos cem metros da vila quase uma dezena de corpos em decomposição estavam mutilados das piores formas possíveis. O cheiro era tão forte que tive que segurar o vomito, que ameaçou em minha garganta.

— Por toda magia do equilíbrio... — Escutei Kiram arfar ao meu lado, levando a mão a boca.

Outro rugido forte vindo da vila, me fez pular. Modesh não tinha feito aquilo. Provavelmente aquilo tinha acontecido dias atrás.

Virei o rosto, quando Lino caiu de joelhos e vomitou, e então puxei a gola de minha camisa para que cobrisse meu nariz. Eu iria em frente, não sabia por que mas simplesmente não poderia não seguir Modesh.

Fique onde está.

— Espere! — Kiram falou ao mesmo tempo. — Peça para Modesh recuar, temos que sair daqui agora. Não sabemos quantos deles foram formados.

Eu pisquei confusa, ouvindo mais um rugido, e sentindo o calor das chamas que cresciam. Deles? foi quando a compreensão passou por minha mente, só poderia pensar em uma criatura a ter feito algo assim. O homem em pedaços que vi nas montanhas. Anevoado, Kiram tinha o chamado.

— Nós temos Modesh... — Comecei.

— Não tenho tempo para me explicar, Ailin. — Kiram falou, de forma mais urgente. — Vamos sair daqui.

Vá.

Lino já corria, quando resolvi finalmente sair dali.

Vamos. Rebati para Modesh. Que soltou um grito terrível, antes de bater com força suas asas e disparar mais uma vez para o céu.

Eu corri o mais rápido que pude, quando percebi o que o dragão iria fazer. Ele pairou sobre a vila, em um voo rápido e mortal, vi sua boca abrir mais lentamente do que foi de fato, vi o calor se formar no fundo de sua garganta, e o vi preparar seu enorme corpo, a quantidade absurda de chamas que saíram de dentro do dragão, ao se encontrarem com a magia do vento que suas asas produziam, cresceu ainda mais.

Correndo ainda mais, me virei para frente, desviando o olhar da vila e do destino que ela iria encontrar, quando o barulho ensurdecedor de uma explosão me atingiu, segundos antes de uma onda de energia que jogou Kiram e Lino para longe.

Eu estava ilesa.

Modesh lutava para controlar o ódio que emanava dele como uma cascata.

Kiram e Lino, lutavam para se levantar, metros para frente de mim.

Eu parei de correr, e ouvi o dragão aterrissar atrás de mim. Olhei para a grama um segundo antes de me virar, sem fôlego.

Modesh rugiu uma ultima vez, antes de se agitar, bufando. Eu estaquei, ele era imenso e perigoso, mas não pude me conter em dar mais um passo em sua direção. Eu sentia minha ligação com ele crescer a cada dia que passava, mas ainda não tinha o tocado, e nem ele a mim. Dei outro passo e o percebi ficar imóvel, ainda soltando rajadas de vento com sua boca, fazendo meu cabelo voar para todas as direções.

Cada vez que eu me aproximava, Modesh ficava maior, ainda mais quando ele mantinha sua posição ameaçadora, com suas asas plenamente abertas e pescoço erguido de forma orgulhosa.

Minha mão se encontrou com a dureza das escamas douradas e reluzentes de sua pata, e então tudo parou. O vento se aquietou de repente, para que eu pudesse sentir a força esmagadora do que Modesh era, e eu sabia que ele também podia me reconhecer. O dragão, como eu, guardava muita raiva, e a usava como combustível para seu poder gigantesco. Ele me encarou com olhos afiados antes de parar e relaxar apenas um pouco sua posição rígida. Apesar de ser muito complexo para eu apenas começar a entendê-lo, tinha certeza que ele sabia tudo o que tinha para se saber sobre mim.

Eu vejo você, Lorilae. Modesh anunciou.

— Vamos sair daqui. — Falei, por fim.



— Foi a névoa. — Kiram contou quando finalmente paramos para montar o acampamento.

Lino mordiscava sem vontade um pedaço de carne seca em silêncio. Aquela cena realmente seria difícil de esquecer para alguém como ele.

— É assim que funciona sua magia. Seu poder muda humanos e dragões, os mata, e os trás de volta, sem vontade própria, para servir cegamente a apenas um propósito: Espalhar terror, em um frenesi de morte. — Ele continuou.

Suspirei, dei uma mordida na minha parte da ração, me lembrando da história que Modesh tinha nos contado.

— A névoa é irmã do equilíbrio... 

— Irmãos e opostos, uma busca o caos completo, e desenfreado, já o outro, o balanço entre todas as coisas.— O rastreador falou.

Tudo aquilo soava muito diferente para os meus ouvidos, antes, eu nunca poderia sequer sonhar com aquelas coisas.

Passamos mais uns momentos em silêncio, antes que Lino se virasse para mim para dizer:

—Va-vai mesmo co-como homem para a-academia?

Olhei para o dragão que dormia preguiçosamente, e suspirei.

— É melhor assim. — Falei. Eu não iria ficar por muito tempo naquele lugar, apenas iria aprender o necessário, descobrir a localização de Kareno, e então sair de lá rapidamente, e viajar pelos cinco reinos, para ver tudo o que ainda não tinha visto, com Modesh, e sendo o que quer que eu quisesse ser.

—Ma-mas e-eles vão te pegar. — Lino interpôs. — E-e va-vai ser punida.

— Deixe eles tentarem. — Zombei, ouvindo uma risadinha de Kiram.

— Está ai algo que eu pagaria para ver. — Ele falou rindo. — Sempre quis ver alguém dar uma lição naqueles velhos ranzinzas.



Oláaa!! Espero que tenham gostado do capítulo, deixem um comentário!

Não esqueçam da estrelinha se tiverem gostando da história, e obrigada por ler!





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