11. Sangue e chamas
Esse capítulo pode ter cenas fortes de violência, recomendadas para maiores de 16 anos.
Dica: Leiam escutando I see fire, do Ed Sheeran.
O tempo desde o dia que a névoa marcou seu campeão, até o evento de sua derrubada pelos cinco generais, foi chamado de os mil dias de terror. - Diários de Salinir.
Um dos servos de meu pai trouxe correndo três sacos cheios. Dois mil tolis. Observei a feição furiosa de Racon quando o servo me entregou os sacos. Teria que arrumar um jeito mais seguro de viajar com tanto ouro. Pensei. Assim que chegasse na vila gelada poderia comprar um cavalo, e quem sabe uma carruagem. Ou poderia pedir para Modesh que levasse em segurança.
Não sou um burro de carga.
Me virei para sair, mas quando estava quase na porta da tenda, uma risada me fez torcer o lábio. Claro que não seria assim tão fácil.
— Onde está indo? — Racon falou.
Parei e suspirei.
— Para minha tenda. — Respondi, sem me virar.
— Volte amanhã. — Racon ordenou. — Tenho outro contrato para você.
Eu sorri e assenti, antes de andar para fora da tenda. Como o plano de fazer Aldor me matar não tinha funcionado, era óbvio que ele tentaria de novo, principalmente agora que ele tinha sido forçado a me entregar todo aquele tolis.
— Ah, e, mande lembranças ao nosso amigo da floresta.
Nunca tinha feito tão rápido o caminho entre o acampamento e a cabana de Kareno. A cada passo mais próximo, eu ficava mais nervosa, tinha acontecido muito nos últimos dias, e eu tinha certeza que ele iria saber o quer fazer.
Foi só quando vi a cabana que estaquei. A porta estava escancarada, como nunca esteve, e o velho não estava do lado de fora. Minha respiração acelerou, quando entrei correndo pela porta da frente. Estava mais bagunçada do que o normal. Vasculhei a minúscula cabana três vezes antes de aceitar que Kareno não estava lá.
Na minha cabeça só poderia haver uma explicação para o seu sumiço repentino. Racon.
Quando entrei novamente no salão, eu emanava ódio, algumas mulheres que vieram em minha direção, logo se encolheram e saíram correndo do lugar, ao perceberem meu olhar. Quando localizei meu pai, desembainhei Estupidez. Ao meu exemplo, Racon e seus homens fizeram o mesmo, todos sabiam que aquela atitude de minha parte só podia significar uma coisa. Eu tinha vindo para acertar as coisas.
— Ailin! — Racon gritou.
Mas eu não parei, quando o primeiro mercenário entrou na minha frente, fiz Estupidez cortar sua garganta tão facilmente quanto manteiga. E assim continuei, matei cada um que ousou se por entre mim e Racon. Quando o barulho finalmente despertou a atenção dos mercenários que dormiam nas barracas mais próximas, e aqueles que guardavam o acampamento eu já tinha minha espada na garganta de meu pai.
— O que fez com ele? — Perguntei.
— Com o mago? — Racon devolveu minha pergunta rindo. — Acha mesmo que alguém faria algo contra ele?
Apertei minha espada em sua garganta vendo o sangue brotar de sua pele.
— Não tenho tempo para jogos. O que fez com Kareno?
Racon cuspiu no chão, e percebi um movimento sutil com o canto do olho. Dei um giro rápido e por pouco não fui atingida pela flecha de Urei que estava escondido a minha direita. Esse tempo curto foi a distração que Racon precisava, tudo bem, eu era boa, mas sem a surpresa do meu lado, eu não era páreo para meu pai. Ninguém ali era.
Ele investiu, abaixando sua espada com força obre a minha cabeça, eu desviei, percebendo o salão se encher ainda mais, Urei, e mais alguns homens correram em nossa direção, para se juntar à Racon em me derrubar. Eu cortei e estoquei, mas quanto mais matava mais mercenários apareciam. Quando meu pai fez menção de atacar novamente, eu soube que aquela luta estava perdida.
Um barulho ensurdecedor os fez congelar.
Era Modesh. Um novo rugido alto veio acompanhado de gritos, e o barulho de explosões. Ele estava queimando todo o acampamento. Ali, no salão, as pessoas demoraram um instante para entender o que estava acontecendo, a maioria deles nunca tinha visto ou ao menos ouvido falar de dragões.
Estava começando a ficar entediado.
O rosto de meu pai empalideceu, e aproveitei essa oportunidade para novamente o encurralar.
— O que fez com Kareno?
— É... é... um dragão! Se me fizer ficar aqui vai morrer também
Eu levantei uma das sobrancelhas, e dei um meio sorriso.
— Acho que vou tentar a sorte. — Provoquei. — Se quiser sair daqui antes que esse lugar inteiro exploda, é melhor me responder rápido.
Racon avaliou suas chances, além de Urei que tremia escondido em alguma parte do salão, todos já tinham corrido para fora.
Os gritos se tornaram mais altos, e o cheiro de fumaça não demorou a nos encontrar. O ar ficou cada vez mais quente, quando Racon resolveu falar:
— Eu não fiz nada com ele. Não tem ideia de quem ele é, não é?
— E como eu devo acreditar em alguma coisa que sai da sua boca?
— Vai ter que tentar a sorte. — Ele zombou, devolvendo a frase que eu tinha lhe dito.
Meu sangue se aqueceu, e eu olhei bem no fundo de seus olhos quando anunciei.
— Não brinque comigo, tem apenas três segundos para falar antes que eu te mate.
Ele devolveu meu olhar firme, e sorriu. Um.
— Não vai me matar. — Dois. — Eu sou seu pai.
Três.
Senti meu corpo sendo dominado pela fúria quando Estupidez entrou lentamente na barriga de Racon. Eu assisti quando seu rosto retorceu em dor, apreciei seu desespero quando ele cuspiu sangue, e finalmente revirou os olhos, com a torcida que dei em minha espada. Retirei Estupidez de seu corpo, e o deixei cair com um baque surdo. E me abaixei ao seu lado, limpando a lamina de minha espada gentilmente na camisa de linho branco que ele vestia.
Quando andei lentamente para fora do salão eu vi o caos. Homens e mulheres jaziam no chão queimados, o acampamento estava reduzido a sangue e chamas. Os que ainda viviam corriam desesperados apenas para serem pegos por mais colunas de fogo. Eu podia sentir o quanto Modesh gostava de matar, o quanto aquilo divertido para ele.
O cheiro de fumaça e pele queimada, me fez tossir. As chamas pareciam se abrir para que eu pudesse passar, mas com exceção de mim, Modesh não poupava ninguém. Inocente ou não. Quando finalmente consegui sair daquele lugar, eu me virei para olhar, escutando os gritos ficarem cada fez mais escassos.
Olhei para o lado apenas para ver Kiram e Lino se aproximando de mim em completo choque. Eu devia estar assim também, me lembrei. Eu tinha acabado de matar meu pai, e por minha culpa, muitas pessoas que nada tinham a ver com isso morreram, queimadas vivas. Mas minha mente estava fria, vazia, e tudo que pude fazer foi sorrir.
Finalmente eu estava livre daquele lugar. Para sempre.
— Acho que ele poderia estar falando a verdade. — Kiram falou, depois que contei o que tinha acontecido.
Eu não conhecia nada dos cinco reinos com exceção das terras sem lei, eles poderiam me ajudar, se quisesse encontrar Kareno.
— Vo-você disse que-que ele te -te cu-cu-curou. — Foi a vez de Lino falar. — I-Isso só-só pode ser magia na-natural.
Segurei por um instante o olhar profundo de Kiram, antes de me virar para observar Modesh, que dormia profundamente.
— Só existem três pessoas vivas que conhecem esse aspecto da magia. —Kiram explicou, com uma voz baixa.
Meu olhar retornou a ele rapidamente quando percebi o que ele quis dizer. Eu nada sabia sobre os aspectos da magia, mas conhecia a lendas os três grandes magos.
— Qual é mesmo o nome do seu amigo? — ele perguntou.
—Kareno. —Respondi.
Kiram torceu os labio, e Lino fez uma expressão concentrada, quando algo cruzou seu olhar.
— Po-poderia se-ser?
O rastreador olhou confuso em direção ao mago, antes de ele mesmo descobrir algo que o fez sorrir.
— Moreale Kareno? Ele não usa seu segundo nome... Por isso não percebi antes...
Olhei para os dois quando senti a presença de Modesh em minha mente, escutando.
— Por nenhuma chance um mercenário conseguiria ir contra Moreale, não nessa vida, nem das mil depois dessa. — Kiram riu.
— Como eu posso encontrá-lo? — Perguntei.
Lino franziu o cenho, com a minha pergunta.
— Na-não po-pode.
— O quê?
— O clã dos magos fica em uma ilha à leste do continente. Só os três podem entrar. Eles revezam, de vinte e cinco em vinte cinco anos, para viajarem entre os reinos, supervisionar as academias, e estudar e vigiar as atividades da névoa. Venha comigo para o reino da madeira, pode ser que demore um ano ou dois, mas Moreale virá, principalmente quando a noticia sobre você e Modesh se espalhar pelos cinco reinos.
Eu analisei a situação com cuidado, sem Kareno por perto, eu não tinha ideia de como iria fazer para lidar com Modesh, e aquela parecia a minha melhor chance de encontrar o velho.
Desista, Lorilae, ninguém pode lidar comigo.
Você tem um ego proporcional ao seu tamanho. Respondi.
E ao meu poder. Fizemos uma bela cena lá atrás. Não é atoa que nossos equilíbrios nos forçaram a nos unir. Sua essência é similar a minha.
— Eu vou. — Disse, por fim.
Oii, mais um capítulo cheio de mortes em a cavaleira de dragões, muahahaahahah, o que estão achando? Cliquem na estrelinha!
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