045 | Burning Fire
045 | Chama Viva
RAYNA
"Seu sangue é a chave da profecia."
Foram as últimas palavras de Gaia para mim antes que fôssemos arrastadas até a arena, então até uma cela separada onde seríamos preparados até a luta. Não tecnicamente falando, claro. O preparo era ficar ali, com frio, sozinha, sem saber quando viria o baque de matar meus amigos.
A Chama em meu bolso parecia pulsar cada vez mais que o tempo passava.
Eu estava em uma cela grande, sem correntes e sem aquela mordaça, mas eu sabia o que me esperava caso eu tentasse fugir. Conseguia ouvir os passos dos guardas, o tilintar das armas sendo trocadas.
Quem quer que estivesse guardando minha porta, Octavia o achava eficiente o bastante para deixá-lo sozinho.
Tudo o que eu esperava era que Clarke já estivesse bem longe de Polis com Maddie. Que Octavia não descobrisse sobre aquela Chama em meu bolso, mesmo que eu não tivesse a mínima ideia do que fazer com ela.
Guardar-la para sempre?
Ou apenas por tempo o suficiente para que outro Natblida ascenda. Um que não seja uma criança de 12 anos que já foi testada o suficiente.
A movimentação e a falta de tempo me dizia que a luta na arena seria naquela noite. Eu podia esperar até que viessem me pegar para fugir, atacar os guardas que me seguravam e correr. Correr como nunca.
Sem minhas armas, eu teria que inutilizar um ou dois guardas para repor elas. Para que eu tivesse ao menos uma chance de não ser pega no fogo cruzado.
Mas Maddie estava em segurança, longe de Polis, afastada o máximo de Octavia e a Chama. Se eu fugisse... Se eu realizasse essa fuga, então estaria dando Maddie de mãos beijadas para Octavia, que sabia que eu ia procurar por ela.
Mas, em contra partida, se eu não fizer nada, se eu não pensar em nada, então serei arrastada para a arena e matarei as três pessoas que um dia já significou alguma coisa para mim.
Tento trabalhar mentalmente com a última coisa que Gaia me disse, mas não faz sentido.
Meu sangue é a chave da profecia?
O que ela queria dizer com tudo isso? E por que me contou aquela merda de profecia que não me deixava nem fechar os olhos sem pensar nela.
Sem... imaginar cada momento que Becca teve que passar aqui na terra. E, se tudo que Gaia disse for verdade, por que ela mentiu? Por que mentiu em relação ao Segundo Comandante, por que mentiu o nome e o motivo de tê-la matado?
Talvez Becca tivesse me manipulado.
Naquela época, eu precisava fazer uma escolha. Entre meu coração, meu corpo e minha cabeça. Eu estava relutante no começo, não queria perder nada — ninguém — para derrotar Alie.
Então Becca veio em meu sono e reverberou uma lembrança. Uma lembrança dela sendo morta pelo amor da sua vida, para que ele conseguisse ligar a Chama dentro dele.
Mas e se eu apenas entendi tudo errado, por conta do contexto da época?
E se Malachai — Bill Cadogan, tanto faz — queria ligar a Chama mesmo? Queria usá-la para qualquer tipo de desgraça que ele achava que podia consertar? E se Becca lutou contra, sabendo quem podia despertar? Se estou certa, então entendi tudo errado desde o começo.
Talvez Becca não tenha me aconselhado a perder as pessoas, mas lutar contra.
Sentada no chão com meu braço direito apoiado no meu joelho, apenas ergo o olhar para a porta quando ela é fechada — logo depois de ser aberta, dando a passagem para alguém.
Kallas está parado na porta, me encarando.
Seu machucado já tinha sido cuidado e estava sumindo aos poucos. Mas ele não parecia ligar para o sintoma que deixei nele quando tentei matá-lo logo quando cheguei e ele se ajoelhou prostrando-se.
Para mim.
Eu nunca parei para reparar muito em Kallas como olhei agora, apenas para matar o tempo. Sua pele branca estava consideravelmente mais bronzeada do que estava quando ele saiu da Cripta, seus cabelos agora estão grande o suficiente para raspar em seus olhos enquanto descem para tocar seus ombros.
Seus olhos azuis são gélidos, frios.
A beleza dos Azgeda é como um código que dá acesso para um labirinto de caracteristicas. Caracteristicas selvagens e frias como um cubo de gelo.
Kallas ainda tem as marcas de ferro em seu rosto, a marca que todos os Azgeda carregam no rosto, com exceção de Echo, por ela ser uma antiga espiã.
Nos dias mais frios, eu ainda sinto a minha latejar, logo acima da tatuagem dos Comandantes.
Eu reconheci Kallas imediatamente. Talvez por isso tenha hesitado no começo. Hesitado matar o guarda que seguiu minhas ordens enquanto eu estava aprisionada, que me ajudou na época do casamento com Roan e toda aquela burocracia de ser uma rainha.
Hesitei por esses momentos, mas eu o reconheci antes de tentar matá-lo. De escolher matá-lo.
E, mesmo sabendo de tudo isso — porque ele sabia, eu podia ver que sabia perfeitamente de todos esses detalhes —, continuava me olhando como olhou pela primeira vez. Quando abriu aquela cela e soltou minhas correntes. Como um súdito olha para a sua realeza.
Isso me incomoda.
É como se minha pele estivesse borbulhando de incômodo. Um incômodo tão grande tê-lo olhando desse jeito para mim que eu seria capaz de arrancar seus olhos.
Ou matá-lo para valer.
— As duas saíram de Polis com o Rover de Blodreina. — Eu não precisava dos nomes para suspirar. — Um soldado foi morto tentando impedi-la.
Ele também não precisava dizer que a ordem de pega-las era de Octavia, mesmo depois de provavelmente ter feito um acordo com Clarke. Bom. Muito bom que Griffin não tenha confiado inteiramente na antiga amiga e agora, visivelmente, inimiga.
— Só achei que gostaria de saber antes da... — ele engole em seco — arena.
— Algum conselho? — Questionei, ainda no chão.
— Ataque primeiro. — Foi o que ele disse antes de virar as costas. — Sei o que Bellamy Blake significou para você. O que Indra significou. Mas precisamos de você... — ele respirou e disse: — Rayna.
— Não sou ninguém. — Tento não mostrar o bolo que criei em minha garganta ao verbalizar. — Não posso ser a salvação de vocês.
— Mas é exatamente isso que você é. — disse, olhando sobre seu ombro para mim. — Entendo que não queira, mas você já é, Rayna. Qualquer um, dentro ou fora, se ajoelharia perante a você. Basta... querer.
— Octavia mataria vocês.
— Então morreríamos servindo a verdadeira Comandante. — Exalo profundamente. Kallas toca na maçaneta, mas não abre a porta. — Seria uma honra lutar por você, Rayna.
Ele sai da sala, mas de alguma forma, continua aqui. Reverberando dentro de mim.
Tenho preciosos quinze minutos antes que a porta seja aberta novamente. Dessa vez com confiança, sem medo ou reclusa. Sei que Octavia está me esperando ali antes mesmo de levantar e olhá-la.
A porta atrás dela continua aberta, revelando três guardas, incluindo Kallas.
Desvio o olhar dele rapidamente para Octavia, não querendo que ela fizesse suposições.
— Não acredito que chegamos a tanto — murmura pra si mesma, andando até o banco no meio da sala que eu me recusei a sentar. Como se fosse uma... boneca. — Lembra quando dividíamos uma cela desse tamanho na Arca?
— Quando tínhamos que escolher entre o desconforto do chão ou o frio da cama? — Pontuei, me aproximando, atenta aos dois guardas atrás dela, dentro da sala, atentos a qualquer passo meu. — É, eu lembro de uma ou duas coisas.
Octavia sopra um sorriso, mas ele não chega nem perto dos seus olhos ou do que um dia seu sorriso foi.
O sorriso que ela da é frio, se forem os guardas que estiverem vendo. Mas para mim, era como se fosse uma fechadura. Uma fechadura de uma porta que trancava suas piores dores, fracassos e decepções.
— Poderíamos ter feito grande coisas juntas, Rayna. — Ela, enfim, me diz. Seus olhos estão nos meus e a disputa de quem pisca primeiro começa. — Vencido essa guerra, juntas.
— Talvez se não tivesse colocado ela para ser sua centro-avante. — Octavia sabia que ela era Maddie. Eu não precisava explicar cada palavra para ela entender. — Foi um ataque direto à mim, Oc.
— Então Maddie é o seu povo agora?
Ergui o queixo e evitei olhar para Kallas quando respondi:
— Eu protejo o meu povo, Octavia. Eu sempre protegi.
— Deixou seu povo nas minhas mãos, porém. — Observou, atentamente.
E foi quando eu percebi que ela não estava aqui para se despedir. Não estava aqui para me perdoar. Ela queria me pedir uma coisa.
Ao perceber que eu já havia notado o que ela queria ao entrar nesse sala e começar com papos que envolvem memórias boas, Octavia suspira e desvia os olhos. Não é uma disputa, mas se fosse, eu teria ganhado.
— Mate Indra e Gaia. — Pisquei lentamente. — Se sobrar apenas você e Bellamy na arena, eu perdoo os dois.
Um sorriso me escapa, mas eu o disperso ao movimentar a cabeça para o lado, entendendo exatamente o que ela estava me pedindo.
— Com medo de seu irmão perder, caso eu esteja contra ele, Oc? — Tenho certeza que meu olhar é malicioso em sua direção.
Ela não me responde.
Apenas me encara. É o suficiente para uma conversa completa rolar entre nós. Porque apesar desse monstro frio que usa crianças, ela ainda ama alguém. O seu irmão. Não a mim.
Eu estar dentro desse acordo é apenas o que eu ganharia matando Indra e Gaia e deixando Bellamy vivo.
O que me leva a acreditar que ela pensa mesmo que entrarei para valer nesse jogo. Nessa mantida arena para matar pessoas tão familiares para mim.
— Pense bem no seu próximo passo, Ray.
— Eu já pensei — disse, com um ar de decidida.
Esse ar fez com que a Rainha Vermelha parasse no meio do processo de virar para sair da cela. Não Octavia, não a menina sob o piso. Mas a Blodreina.
— Acho que deixei as coisas abertas demais para que interpretasse como opções. — Arqueio as sobrancelhas em um "sério?", mesmo sentindo meu peito vibrar com o que parecia espreitar aquela sala. O que parecia prestes a atacar. — Mate elas, Rayna. Maddie pode depender se sua escolha.
Me recusei a desmanchar um sorriso frio da minha expressão. Recusei-me a abaixar meus ombros ou a minha guarda ou os meus sentimentos, assim como segurei-me para perguntar "senão...?".
Algo me fazia pensar que essa seria minha última decisão. De qualquer forma.
Então quando Octavia desapareceu junto com os guardas, a porta fechou, mandando embora o olhar intenso de Kallas, deixando-me sozinha em uma cela que guarda muito mais do que o meu corpo.
Não sou idiota o suficiente para não pensar que a menção a Maddie não fora uma ameaça à sua vida. Porque Octavia podia encontrá-las.
Talvez se Maddie estivesse comigo, eu a enfiaria em um buraco tão fundo no chão que até mesmo sua voz demoraria dias para chegar até a superfície. Mas com Clarke... Ela se preocupa com Maddie, mas se ela foi idiota o suficiente para fechar um acordo com Octavia, então ela não era a melhor opção para proteger a garota.
E descubro que não tenho problema algum em entrar naquela arena, pegar minha lâmina e passar no pescoço de Indra e sua filha, Gaia.
Não tenho problema em poupar a vida de Bellamy, em me tornar um monstro na frente de todos.
Se isso significa a vida de Maddie... Talvez eu...
Sentada no chão de concreto, com os joelhos para cima e meus antebraços apoiados nele, encaro a porta fechada de ferro. E, lentamente, quando o frio da madrugada adentra os espaços dessa Cripta, dessa prisão, dessa liberdade e desse furacão, eu deixo um sorriso sombrio se apossar dos meus lábios.
Fecho os olhos e respiro fundo, guardando todas as dúvidas em uma caixinha trancada com sete cadeados.
E quando abro os olhos, tudo está preto na minha visão.
E há apenas um pensamento.
Maddie.
Maddie não terá o mesmo destino que Bella.
(...)
A arena era como um grande show para os terrestres que ficaram presos na Cripta por seis anos.
Comentários avulsos já haviam sido dispersos algumas vezes, mas, definitivamente, isso aqui é muito mais do que eu me permeti pensar. E eu pensei muito sobre isso. Desde o momento em que entrei aqui depois de tanto tempo, reconhecendo as manchas de sangue pelo chão, antes, intocado.
Nada, nem mesmo meu desejo de entender como era estar participando desse jogos de justiças, me preparou para estar aqui, embaixo, rodeada pelos terrestres nos olhando com ansiedade.
Mas há um silêncio estranho o suficiente para me fazer entender que não é normal.
Estão todos inquietos, olhando-se.
Não... Encaro Bellamy que se manteve ao meu lado, Indra entrando na nossa frente com sua filha ao lado.
Isso aqui não era um show e sim um pedido de desculpas. Muito mais do que um velório, mas um memorial.
Um lamento firme e implorativo e bem ao lado de Octavia, Kallas kom Azgeda estava, seus olhos cravejados em gelo completamente em mim. Não exigindo, mas esperando. Calmo. Paciente. Ao lado de Octavia, mas fiel a mim.
A luz excessivamente vermelha fermenta o medo e o ansio quando Octavia se ergue do seu trono e diz:
— Nos reunimos aqui hoje para nos lembrarmos do que acontece com os inimigos dos Wonkru. — Ela não estava olhando para nenhum de nós. Envergonhada.
Octavia Blake, não a Blodreina, estava se esticando por dentro. Humanidade, farejo como um maldito cão.
— Não importa quem seja, se escolher lados contra nós, se nos dividir, nos desafiar, então não é um de nós. Antes de darmos a esses traidores uma segunda chance de serem chamados de irmãos — seus olhos se lança até os de Bellamy ao meu lado, então para mim —, irmãs ou Seda, pagamos tributos àqueles que morreram para que possamos viver.
Ela murmura o mantra, sendo seguida pelos os outros. Vozes baixas, hesitantes, até mesmo ela pode perceber isso.
— Não costumavam ter regras — ela diz, pegando todos de surpresa por pensarem que ela anunciaria o começo. — Mas esse, com uma Natblida no jogo, quero enviar uma regra para a arena. Rayna Kane não pode ser morta. Machucada, troturada... — Ela encarou Indra e se eu tinha alguma dúvida de que ela falou com ela antes, como fez comigo, desapareceu. — Sua vida deve ser guardada.
Não poupada, mas guardada.
Para um destino pior do que a arena, caso eu não escolhesse o que ela queria que eu fizesse.
— Seja o último.
Então Indra se vira para a filha e chuta seu joelho. Uma luta destrava entre as duas. Não até a morte, mas uma briga de quem morreria primeiro.
Recuo até a grade ao redor da arena, agarrando as armas ao meu favor. Passo direto pela espada, pelo machado. A única coisa que eu agarro é uma lâmina. Muito menor do que uma espada, mas maior do que uma adaga.
O primeiro movimento que faço com ela é para impedir o golpe que Indra lançaria para Bellamy que finalmente acordou e se mexeu, pegando uma espada.
Considerando que Indra tinha uma lança com pontas afiadas dos dois lados, muitos diriam que eu estava na desvantagem aqui. Mas eu não queria lutar com Indra, queria atrasá-la. Atrasar a minha decisão final. O meu decreto.
O meu Comando.
— Como respeito por você, Rayna kom Skaikru, não matarei o seu amor — indagou Indra, rodeando-me. — Deixarei que faça isso antes de morrer.
Soltei um sorriso que já fez homens pensarem em loucuras para me torturar e pulei em Indra, aplicando um golpe com o pé que cortou sua lança no meio. Então chutei seu peito e rodei a lâmina nas minhas mãos, aproximando-me de Indra.
Não para o golpe final.
Mas por não saber disso, ela pula do chão, dando-me uma rasteira que me faz bater forte a minha cabeça no concreto. Imediatamente sinto minha visão escurecer e brilhar, tempo o suficiente para que eu estivesse morta.
Se Bellamy não tivesse pulado em minha frente, entrando em uma luta contra Indra que tira proveito de sua lança cortada em duas por mim.
Estremeço no chão quando tento me levantar, mas ignoro a dor, a confusão, o quão lenta estou sendo para ficar em pé. Gaia se lança contra mim, então, rasgando minha pele do antebraço, rosnando como se fosse um monstro isolado por muito tempo. Mas Indra que se libertou de Bellamy empurra Gaia de cima de mim e abaixa a adaga para me perfurar.
Me eliminar.
Não, não fazer isso. Não me matar.
Mas me erguer, apertando meu antebraço da mão que segura a lâmina forte o suficiente para me controlar. Me manter firme.
Até que ela coloca um Bellamy ensaguentado em minha frente. Sem forças. Ele pode ter sido ensinado a lutar por Echo, mas Indra sempre foi uma chefe de guerra. De Lexa e da Comandante antes dela, seria a minha se eu tivesse tempo, e foi de Octavia até agora.
— Destrua-o.
Tento me soltar de seu aperto firme em meu pulso agora, que me empurrava para mais perto do coração de Bellamy. Aperto os dentes com força, segurando um grito angustiado ao fazer força e força e força e... Deus, Indra está no controle.
Percebo isso quando a ponta da lâmina rasga a camisa de Bellamy. Mas ele não recua.
Ele não está recuando.
Está machucado, sim, mas conseguiria pelo menos recuar, se desejasse. E ele não está fazendo. Quero gritar com ele, e chutá-lo, mas não tenho tempo para fazer isso. Não tenho tempo de sequer pensar em digerir a ideia de implorar para Indra.
Implorar para que não o levasse primeiro do que eu.
Que não fizesse eu fazer isso.
Não Bellamy.
Nunca ele.
Bellamy geme baixinho quando a lâmina atravessa a sua pele, um filete de sangue escorrendo pela sua pele. Ele abre os olhos, olhando para mim. Implorando-me. Não para parar, arfo ao perceber. Para continuar.
Para dar um fim a sua vida.
E estou presa, pensando em quem é o mais egoísta de nós dois. Ele, por me pedir isso ou eu, por não querer fazer isso com ele.
Indra faz mas força, mas o medo explode em meu corpo. Explode tão desesperadamente que paro de senti-lo por um momento antes de jogar minha cabeça para trás, fazendo-a recuar.
Retiro a lâmina de Bellamy rapidamente e antes que ela pudesse se regenerar, antes que pudesse pensar em me torturar dessa forma, levanto a minha lâmina, escolhida desde o começo por um único motivo. Não era para derrotar Indra, ou Gaia. Muito menos Bellamy.
Mas a mim.
Mas eu não iria sem causar o inferno de Octavia. Não deixaria que ela tivesse o gostinho dessa vitória. Da minha morte.
Então eu viro a lâmina para mim e abaixo em um movimento só.
Indra para no lugar, se interrompendo de me atacar. Bellamy congela com os olhos arregalados e Gaia está acordando somente agora do empurrão de sua mãe que causou um baque enorme em sua cabeça no chão.
Octavia se levanta em um vulto e avança o máximo lá de cima para ver. Como todos os outros. Sei disso porque ergui a cabeça para vê-la no momento em que encaixei a lâmina no meu estômago. Inclinei-me para frente sem desviar o olhar dos seus, sentindo a dor, guardando-a para uma última coisa antes de ir.
Deus... dê-me forças para isso.
Retiro minhas mãos do cabo da arma, e me xingo por ser tão lenta ao revirar meu bolso para agarrar ela. O começo de tudo para mim. O ínicio da minha jornada, antes que eu pudesse ao menos saber.
Ninguém guarda o ar para si quando eu levanto a Chama para que todos vissem. Real. Ela era real e estava comigo.
Abaixo ela até o meu estômago, até o meu sangue. Ninguém mexe um músculo para me ajudar. Alguns por estarem curiosos, já outros... Nem devem saber o que estão assistindo até que a Chama se liga. No silêncio, ela brilha mais do que já brilhou todas as outras vezes e é tanto brilho que a luz vermelha fica de segundo plano.
Então suas perninhas se movimentam no ar, buscando minha nuca, buscando o sangue de uma Natblida.
No silêncio, ela se ligou.
Deixo que eles entendam o que significa. Espero por segundos o suficiente para que parecessem minutos. Tempo. Eu não tinha tempo.
Aquela coisa que se espreitava na minha cela antes, quando Octavia entrou para falar comigo, estava próxima. A minha morte, a minha paz. A minha hora. Tudo isso estava me espreitando, sussurrando na calada da noite, como se tivesse voz, como se tivesse consciência.
Um último ato.
Eu não sabia como faria até estar ali, prestes a esfaquear Bellamy. Não sabia que eu precisava morrer até me esfaquear.
E quando o tempo se passa, quando eu sei que todos já descobriram o que eu esperei que eles entendessem eu retiro meu cabelo da nuca e aproximo a Chama da minha pele. Ela se encaixa perfeitamente, abrindo um buraco, se aconchegando ali.
— Chama Viva — ecoa a voz de Gaia no momento em que enfraqueço.
O único som que reside no próximo momento e dos ossos dos meus joelhos batendo no concreto sem qualquer saliência, sem proteção. Meus joelhos gritam de dor quando a calça se rasga e mais sangue se mistura em mim.
O som é endurecedor, a pior coisa que eu ouvi há muito tempo.
Meu corpo é pego antes que eu me choque no chão. Braços circulam-me, manchando-se com o meu sangue, recuando perante a minha dor. E seu toque... Eu reconheceria as mãos de Bellamy mesmo que estivesse sem sentidos.
Mas agora, ao precipício da minha morte, parece que tudo se intensifica.
Tudo.
Arfo, sentindo o gosto metálico do sangue enchendo a minha boca.
Bellamy sobe a mão para a minha nuca, apoiando minha cabeça para que eu pudesse olhá-lo nos olhos. Sua cara se contorce em uma dor, uma dor que parece pior do que a minha.
— Por que você fez isso? — Ele pergunta, desesperado, tentando verificar qualquer saída para a minha morte.
Mas cada vez mais esse chão era coberto com o meu sangue negros Um novo sangue para estampar o chão de concreto, já sujo. Um último sacrifício.
— Porque eu... — gaguejo, sentindo uma dor lacerante onde a lâmina continua fincada. Gaia se joga ao meu lado, pegando a minha mão. Sorrindo. Chama Viva, ela me chamou. Ela anunciou. — Porque eu ainda te vejo, Bell.
Ofego mais uma vez, sentindo que eu desmaiaria.
Não, não desmaiar.
Morrer. Descansar.
— Alguém... alguma coisa! — Bellamy gritava, com o quê de ameaça na voz.
Mas algo me diz que ele não precisou fazer muita coisa, pois logo braços me invadiram. Me levantaram. Me ergueram. E médicos me circulavam. Dizendo que me salvariam.
Que salvaria sua Chama Viva.
Sua profecia viva.
Mas a Chama Viva deles não quer mais viver. Não quer mais lutar.
Meu plano sempre foi virar uma mártir.
Espero que estejam gostando!
Esse capítulo NÃO foi revisado! Portanto, pode haver erros ortográficos que serão apenas corrigidos mais para frente.
Só pra saberem, eu imagino o Kallas como o NORMAN REEDUS.
Próximo capítulo... Será na visão do Bell, será? Vocês GOSTARIAM?
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