043 | I Dream of Waking Up

043 | Sonho em despertar
RAYNA




"Sempre que você estava feliz, alguém morreu." Disse Octávia, no seu último suspiro, morta pela espada de Roan naquele Conclave de anos atrás.

"Sempre que você estava feliz, alguém morreu." Disse Benjamin Wallace, com tantos tiros marcando sua alma que ele se transforma em uma peneira com luzes ultrapassando seu peito.

"Sempre que você estava feliz, alguém morreu." Disse Aspen, sua pele pálida naquela cadeira, preso, tanto sangue preenchendo ele que é difícil saber as origens real do que matou ele.

"Sempre que você estava feliz, alguém morreu." Disse Roan, após depositar aquele beijo nos meus lábios.

"Sempre que você estava feliz, alguém morreu." Disse a menininha Charlote, que se matou após ouvir minhas palavras ácidas.

"Sempre que você estava feliz, alguém morreu." Por fim, quem disse foi Clarke, com mais do que uma criança nos braços. Outra criança acompanha Maddie na morte nos braços de Clarke.

Despertei em um sobressalto na tenda, deitada em uma montanha de lençol no chão entre a cama de Clarke e Maddie. Sentei-me, sem ânimo para voltar ao dormir, com medo de realizar tal ação.

Encarei Clarke e seu rosto sereno do sono. Ela provavelmente acordaria em minutos, contando que ela tinha sua própria cota de pesadelos. Seu cabelo loiro com um novo cumprimento mal chegava a cobrir sua cara como fazia.

Suas sobrancelhas começaram a se franzir aos poucos e desejei adentrar sua mente, apenas para saber quais eram seus pesadelos.

Eu a perseguia como ela fazia comigo?

Conferi Maddie antes de sair da barraca, deixando um
selar em seus cabelos como despedida, torcendo para todos aqueles deuses que nunca olharam para mim para que a garotinha não tivesse um sequer pesadelo.

E se viesse a ter, fosse apenas humanos.

Eu os mataria para que ela pudesse relaxar em seus sonhos. Maddie... Ela era a simbolização de tudo aquilo que eu nunca mais teria.

Inocência. Ouso falar até um pouco de altruísmo. Amor maternal...

Adicionei uma adaga em meu contorno, então amarrei meu cinto com as outras armas em minha cintura, pesando meu corpo. Peguei minhas três espadas, um pano surrado do lençol que estava retirando o frio do chão e passei pelo portal da tenda para fora, vendo o leve caminhar de guardas para lá e pra cá.

O fogo queimava ao longe, iluminando algumas passarelas.

Mas eu não queria luz.

Não olhei para ninguém enquanto desviava de tendas e de olhares. A essa altura do acampamento, eu já estava me acostumando com eles.

Com as perguntas em seus olhos duros: Por que nos deixou, Heda?

Pelos deuses, eu enfiaria a faca em qualquer um que ousasse perguntar em voz alta. Que viesse ao meu encontro em busca de auxílio. Eu não sou uma líder. Desde aquele maldito primeiro acampamento quando era um ser desprezível de burra.

Ou quando Dante Wallace revelou minha verdadeira genética.

Nem sou a heroína de seus contos de fada, como Clarke. Não salvo as pessoas. Não consegui salvar eles do fogo Praimfaya, assim como não salvei Benjamin e Roan de mim.

Não sou a solução e nem a resposta.

Deixei as três espadas encostada ao meu lado em uma entrada pequena do que parecia ser um beco. Dava para ver daqui as tendas, o cantar da coruja ou qualquer pessoa que ousasse atacar a noite.

Sentei-me novamente no chão imundo, peguei uma das espadas e comecei a passar o pequeno pano sobre a lâmina.

Com o sangue seco de pessoas desconhecidas a essa altura, o pano não ajudava em muita coisa. Mergulhei ele em uma poça de água ao meu lado, retirei o excesso dela e passei novamente.

A lâmina começou a brilhar exposta ao luar.

Nunca me permiti pensar naqueles dois primeiros anos sozinha na terra. Sozinha, pois era deste jeito que eu queria ficar. Odeio admitir que Bellamy retirou uma grande parte da minha alma antes de se lançar para o espaço.

Talvez tenha danificado mais do que minha alma aqui dentro.

E não me importa se doeu nele, se ele se culpou e sente muito, Bellamy Blake me destruiu de uma forma que meus inimigos não conseguiram. E esse simples fato... Este fato de que não foi os terrestres, nem Pike, Alie ou o fogo Praimfaya, mas ele que levou minha alma, dói.

Doía, na verdade.

Doía tanto que ficar sentada danificava o resto do meu corpo. Ficar com Maddie e Clarke me deixava apavorada. Então eu saia e ia para o mais longe que eu conhecia.

Encaro o morro acima de Polis, onde jazia meu coração. Eu vinha até ele, porque era mais fácil lidar com a sua ausência do que com os problemas.

Eu deitava naquele remexido de terra sem cor, naquela cruz de madeira que de algum jeito aguentou tanto tempo, e olhava para o céu. Fiquei ali muitas vezes em chuva de areia com estilhaços, cobrindo apenas a minha cara e me deliciando com todos os cortes.

Era como se a terra me puxasse para estar ao seu lado, como se os céus se abaixassem e o vento parasse.

Como se Benjamin estivesse ali novamente, acariciando meus cabelos.

Fui uma idiota por não amá-lo o suficiente. Por não conseguir direcionar meu coração no lugar certo. Eu deveria ter feito alguma coisa. Deveria ter entrado em sua frente quando aquele segundo tiro soou.

Deveria ter feito mais do que me virar, tentando segurar o coração que saia.

Saia.

Pulsava em minhas mãos e eu não podia fazer nada.

Nada.

— Polindo suas armas para o pescoço da minha irmã?

Reconheci sua presença antes mesmo dele ousar respirar àquela distância de mim. Antes, sua presença era esmagadora, me encapsulava no lugar, me fazia transpirar meu desejo.

Agora me faz querer explodir em seu rosto, arrancar sua alma como fez comigo. Respirei fundo em vez disso e sem olhá-lo, respondi:

— Ela mereceria.

— Eu sei. — Soprou Bellamy, parecendo envergonhado. Então encostou na parede ao meu lado e arrastou suas costas até o chão, até estar sentado com os joelhos elevados como eu. — Não consigo reconhecê-la.

Não respondi. Não teria resposta para aquilo além de uma concordância extrema. Não acho que esteja boa o suficiente para concordar com ele ainda.

Virei o outro lado da lâmina e recomecei o processo de passar o pano.

Bellamy continuou ali. Não olhou para o meu rosto, para mim, porém, enquanto falava.

— Como alguém pode se tornar... aquilo?

Não aguentei engolir o silêncio.

— Como não se tornar?

Ele parou no lugar e franziu a testa para o chão, analisando minhas palavras. Achando argumentos para rebater no começo, mas percebendo que era um abismo de questões com múltiplos sentidos.

Bellamy me olhou, mas eu continuei com o rosto abaixado, limpando a lâmina que agora reluzia a lua.

— Senti sua falta. — Meu peito parou de descer. Minhas mãos pararam de limpar. E, porra, amaldiçoei meu coração por ter sido o único que continuou a trabalhar. Muito rápido. — Todos os dias, naquele espaço. Desejei voltar atrás e fazer as coisas diferentes.

Então ergui meus olhos para os seus.

Aqueles que eu evitava por saber que ficaria fascinada em um grau de extremo que pararia no ar, absorveria tudo, mas só desejaria olhá-lo.

Apertei forte meus dentes um no outro quando senti aquele bolo na garganta começar, a parte de trás dos meus olhos queimar. Não, droga. Ele não podia falar estás coisas. Não para mim.

Não sentado aqui, longe dos olhares curiosos. Perto da lua. Não quando se eu virasse apenas um pouco minha atenção, veria uma fresta da sua tenda, onde mostrava o corpo nu de Echo coberto.

Aquela lembrança balançou minha cabeça e a queimação nos olhos passou para um trêmulo olhar. O coração passou a trabalhar com raiva.

Terminei com a primeira espada, mas não iria conseguir terminar as outras com ele aqui. Então simplesmente afastei a limpa das arruinadas e soltei um suspiro para os céus.

— Como posso recompensa-lá por aquilo, Rayna?

— Não pode. — Rápida, como um raio que corta céus e terras. — Não há palavras que me façam entendê-lo. Não há ações que me façam perdoa-lo.

Me sentindo ridícula o suficiente por uma noite, levantei-me. Bellamy fez a mesma coisa na mesma hora, bloqueando minha passagem para a minha tenda. Eu poderia chutar uma das minhas lâminas para minha mão, então rasgaria carne e ossos, mas recuei.

Como uma maldita, recuei.

— Fui sua, Blake. — Ele puxou o ar e torceu a cara, como se quisesse exalar aquelas palavras, mas doesse. — Entreguei-me a você como não tinha feito para ninguém. Ninguém.

— Rayna...

— E no momento seguinte, me acusou. Acusou de ter se entregue para outro alguém. Como uma vadia!

Vadia. Foi o termo exato que ele usou naquela noite depois que fizemos... o que fizemos.

E tudo que eu conseguia pensar, me perguntar, era se errei em alguma coisa durante aquele ato. Não demonstrei o bastante? Não disse o bastante para que ele pensasse duas vezes em dizer aquelas palavras?

— Eu estava com raiva.

Acenei, de uma maneira que parecesse ser compreensiva. Atrás dele, nas tendas, aquela amiga de Clarke entrava na nossa. Niylah, eu acho.

Agarrei os cabos da minha espada, colocando duas de cada lado do cinto e a outra — que estava limpa — ficou livre em minha mão. Eu iria conferir se estava tudo bem na tenda de Clarke. Com a espada em mãos.

Antes, encarei Bellamy.

— Passou em sua cabeça apenas me perguntar e acreditar na resposta? — Questionei, pois precisava daquela resposta antes de cortar qualquer laço com aquela lâmina.

— Estava cego, Rayna. — Bellamy abaixou a cabeça, envergonhado. — Cego.

— Tudo bem. — Dei de ombros e ele levantou a cabeça. Então, forcei-me a sorrir. A quebrar qualquer coisa. Qualquer laço que ele pensasse que ainda estava ali para juntar. — Fala sério, conseguiria ver nós dois juntos, de mãos dadas andando por este acampamento? Eu estou bem sozinha e você está bem com a Echo.

Ele parecia ter levado um soco no estômago ao ouvir o nome de sua namorada. Tão forte que recuou. Não deixei que aquilo me segurasse e avancei para a minha tenda.

No meio do caminho, captei Clarke e sua amiga fora da tenda, conversando aos sussurros. Apressei meus passos, apertei mais o cabo da minha espada. Mas Gaia chegou primeiro e com um pano, deixou a amiga de Clarke inconsciente.

— Que diabos? — Rosnei, baixinho, ficando ao lado de Clarke, mas ainda sem levantar a espada.

— Ela descobriu sobre Maddie. — Não precisava de uma
explicação mais aprofundada. Gaia me encarou. — Se descobrirem sobre ela — sobre o sangue dela, Gaia não disse —, vai querer colocá-la no trono.

— Achei que sua ordem que fazia isto — disse eu, inspirando.

— Não obrigamos crianças — ela pareceu rosnar como eu fiz. — Além disso, os antigos Comandantes ainda querem você, Rayna kom Skaikru. — Meu sangue gelou, Clarke me encarou. Ignorei. — Talvez esteja apta a ser a Heda agora. Sem um rei puxando sua coleira.

— Não ouse falar do Roan.

Usei meu auto controle restante para não avançar. Não pode falar dele, não quando sua vida, seu ar, tenha sido garantido por ele dentro daquele campo de batalha.

Arrastamos Niylah  para dentro da escuridão da noite, longe dos olhos curiosos, naquela sala de reunião que vimos o povo de Octavia se reunindo a pouco tempo para discutir como cruzariam o deserto.

Não podíamos colocá-la na barraca, onde Maddie ainda adormecia.

Ignorando a última coisa que Gaia disse, vejo-a largando aquela mulher em qualquer canto e então, virando para Clarke que fechava a porta atrás de mim.

— De que lado está? — Perguntou Clarke. — É uma Guardiã da Chama ou uma Wonkru?

— Blodreina salvou minha vida — Gaia respondeu, mexendo em alguma coisa na mesa —, mas não significa que esqueci minha fé.

Ela agarrou um tônico. Veneno.

— Está louca se acha que vou deixá-la matar minha amiga — Clarke interrompeu.

— Ela serve a Blodreina — afirmei, entrando na conversa. — Se tiver problema com isso, eu mesmo faço.

Gaia olhou no fundo dos meus olhos e assentiu. Alguma
coisa brilhava em seus olhos e não quis pensar o motivo dela gostar de eu propor o meu envolvimento nisso. De concordar com ela.

— Niylah não é sua amiga. — Virou-se para Clarke. — Você é um Wonkru, ou é o inimigo. É nisso que ela acredita. É a única maneira de vocês protegerem a Maddie.

— Eu disse não.

— Clarke. — Avisei.

— Maddie não é uma ameaça à Octavia — ela argumentou, encarando nós duas.

— Fale baixo.

— Deveríamos cortar a língua dela, então. — Dei de ombros, quando as duas estavam em suas próprias lutas internas.

— Ela sabe escrever.

— Então eu corto os dedos!

Clarke lançou um olhar mortal para mim, mas eu não recuo diante à isso. Se ela não queria se tornar um monstro para proteger Maddie, eu não a culpava. Que virasse as costas e fechasse a boca, então.

Mas se Niylah tivesse que morrer, ou que perder alguns membros do corpo para que a ascendência de Maddie não fosse revelada, então para mim, não tinha problema algum em ser o monstro.

— Conversarei com ela — disse Clarke, olhando para a mulher que começava a acordar. — Deixem que eu resolva sem morte.

— Espero que saiba o que está fazendo — indagou Gaia e saímos do lugar, mas eu fiquei parada do lado de fora.

Se o jeito de Clarke falhasse, então eu interviria.

Não deixaria que isso se espalhasse. Octavia não colocaria as mãos em Maddie.

Gaia parou de andar ao me perceber parada. E olhou-me. Me olhou muito. Retribui a atenção, reparando que ela havia retirado aquelas tranças, priorizado seu cabelo curtinho e loiro.

Ela ergueu mais o queixo e lembrei imediatamente de Indra.

— É uma pena que não quer ser reconhecida como Heda. — Sua voz pareceu dançar com a brisa até chegar em mim.

— Achei que eu não cumpria os requisitos para ser uma — rebati, puxando aquele nosso primeiro encontro quando ela me sequestrou.

— Eu era jovem e burra. Não conseguia ver o que estava tentando nos dar e nem o que perdeu no processo. — Desviei o olhar pro chão. — Kane desabafou um dia sobre Corpo, Cabeça e Coração. Como você aguentou?

Ela estava falando de quando Alie me fez torturar Aspen e Marcus matou Benjamin.

Não aguentei, era o que o meu corpo inteiro parecia dizer. Não, mais do que o corpo. Aquela parte do meu cérebro que apenas eu conseguia ouvir, conseguia alcançar. Mas não podia dizer isso a ela. Não podia confidenciar que tudo o que restou de mim naquele dia foi minha carcaça.

Perder não apenas Benjamin, mas Aspen naquele dia...

Lembrar do garoto fez com que meu coração se afundasse.

Eu não sabia onde ele estava, não questionei Bellamy sobre isso. Não tive coragem. Saber que Aspen estaria bem era um alívio, mas sou egoísta o suficiente para me sentir mal caso soubesse — imaginasse — que ele não sentia minha falta.

— Você sequer sobreviveu?

Gaia se foi, dizendo-me sem precisar abrir a boca que ela não queria uma resposta audível. Só queria que eu pensasse sobre isso.

Desgraçada.

(...)

Clarke podia ter sido menos estúpida. Parar no lugar e pensar, e tomar conta de alguém que não fosse ela, teria nos poupado desse fiasco.

Agora Maddie sumiu.

Não, ela não sumiu. Algo pior aconteceu. Foi atrás de Octavia e contou sobre sua verdadeira genética. Chegamos tarde demais. Clarke lamentou e correu até onde as duas estavam fazendo um pacto, uma aliança de sangue.

Ela tentou desertar mais cedo com os outros. Com Echo. Evitei um riso irônico.

Não um desertamento de verdade, apesar do que Octavia fez parecer quando atirou no seu próprio povo que corria para sobreviver sem ser embaixo de suas asas.

Como Clarke pôde ser tão tola ao pensar em desertar junto? É óbvio que a Blodreina não ia aceitar traidores, não além de Echo, que estava lá para espionar. Um passo esperto para não morrer, admito.

— Escute-me, Octavia. — Agarrei seu bíceps quando ela ousou passar por mim.

Clarke interceptou Maddie, com um machucado superficial. Octavia encarou onde minha mão permanecia e então ergueu seus olhos para me encarar. Não havia nada daquela garota do primeiro acampamento.

Sempre que você estava feliz, alguém morreu.

— Não sei quais são seus planos para ela, mas não serão realizados. — Octavia tombou a cabeça, torcendo um sorriso. Gostava daquilo. — Octavia. Cancele seus planos.

Quais planos?

Retirei minha mão de seu braço, então fiquei em sua frente. Bellamy não ousou se aproximar, Clarke apenas colocou Maddie atrás dela.

Cara a cara, com uma distância de centímetros entre nossas faces.

Sempre que você esteve feliz, alguém morreu.

— Você não estava errada mais cedo. Mas... Oc, não estou mais feliz. A partir de agora, quem morrer, será pelas minhas mãos. Consegue entender?

Estreitei os olhos em sua direção, os seus miraram-se nos meus. Bem a fundo. Lendo completamente a minha alma, ou o que ela imaginava ser.

— Completamente — Então curvou a cabeça —, Whampleida.

Passei por ela, controlando o máximo que eu podia para não bater meu ombro contra o seu e jogá-la daqui de cima para aquela arena lá embaixo. Encarei Bellamy e esperei de verdade que ele soubesse o quão verdadeira eu estava sendo.

E que conseguisse me entender, apesar de ser sua irmã.

Bellamy apenas virou as costas para Octavia e me seguiu. Tive vontade de sorrir para o significado. Não por tê-lo ao meu lado, não. Mas por saber que ter-o apoiado a mim, era apenas uma arma.

Que Octavia ansiava e não tinha.

Segui até a sala onde Monty estava monitorando aquele Olho no céu. A partir do momento que fosse conectado, significaria que Echo conseguiu; e que não estava morta.

Lá entro, nos painéis improvisados, apenas Harper estava supervisionando. Monty deveria estar pegando alguma pausa entre a madrugada de ontem e a de hoje. Eles mal estavam descansando, antes mesmo de Echo estar em perigo.

— Deixe com a gente por agora, Harper. — Bellamy tocou gentilmente em seu braço.

Ela olhou para mim, que não lhe dei atenção ao dar a volta na mesa com os computadores e encarar cada informação nas telas. Ou a falta de informação.

— Certeza? — Ela questionou, claramente por mim.

Elevei uma das minhas sobrancelhas e a acompanhei sair da sala quando ele acenou com a cabeça. Bellamy rodou a mesa e parou ao meu lado.

— Represento algum perigo? — O tom de minha voz era claro o suficiente para que ele risse em vez de travar para dizer sim.

— Muita gente está com medo de você, Rayna. Muita mesmo.

Nossos olhos se conectaram.

— Echo...?

— Você é a Rainha dela. Conquistou este lugar. — Tento não lembrar de Roan. — E agora parece que quer a cabeça dela.

— Está me acusando de sentir ciúmes?

— Isso diria que eu acredito que sinta alguma coisa por mim, então não. — Meu rosto ardeu. Não com vergonha, mas como se eu recebesse um tapa. — Mas ela pensa que sim.

Uma forte sensação de deja vu se arrastou até mim. Gina vem a minha mente. Fiquei de lado para Bellamy e me apoiei na mesa, minha cabeça pendendo para baixo.

— Como sempre acabamos aqui? — Sussurro, para ninguém em específico.

Como sempre acabamos aqui, lidando com o parceiro alheio do outro sentindo ciúmes? Querendo corroer nossas almas e nossos corações. E tudo o que Bellamy conseguia fazer, assim como eu, era recuar.

Apenas recuar para um casulo.

— Odeio dizer, mas a culpa deve ser nossa...

— Por não parar de sentir — completei.

O silêncio bateu na porta e prevaleceu quando passou por ela, como se não passasse de nuvens e ar e vento.

— Estou esgotada desse ciclo, Blake.

Mas ele apenas sentou na cadeira e não retirou seus olhos da tela do computador pelas próximas 8 horas. O abandonei em algum período disso, inclinada a buscar alguma ração no refeitório e entregar a Maddie, que ainda devia estar em seu treinamento com as outras crianças e com Gaia.

A presença de Bellamy não costumava ser bem-vinda. Não era bem-vinda.

Então, não teoria, não deveria ser difícil deixá-lo partir enfim, para que Echo retire essas dúvidas. Para que ela entenda uma vez por todas que nunca seríamos bons um para o outro.

Mas por que meu coração não parece concordar com isto?

Por que minha pele deseja o teu olhar?

Meus olhos sua atenção.

Por que diabos sinto vontade de apertar a garganta de Echo para que ela retire qualquer pele da dele, qualquer beijo dos seus lábios, qualquer coração de sua mão. Queria rosnar e tomá-lo pra mim.

Paro no lugar.
Droga, Bellamy.

Meus pés parecem receber alguma ordem distinta quando refaz todos aqueles passos. Ele tem um sobressalto quando eu entro novamente, perguntando se eu estava bem.

Mas tudo o que ele faz é ficar parado.

No espaço curto entre a gente, graças a mim, ele exala a minha presença e sua mão apoiada na mesa se fecha em um punho. Ele inspira, então diz, tão levemente, suspiradamente, que sinto um vento mexer meus cabelos, mesmo que não tenha janela por aqui.

— Rayna — ele sussurra, não parece implorar para me afastar, nem lamentar por fazer aquilo.

Era como uma canção. Uma canção linda. Uma adoração.

Então ele me beija e me pega no colo, então eu me sento na mesa e contorno seu corpo com minhas pernas, enquanto sugo sua alma com minha língua.

Bellamy se inclina e me deita na mesa, então chupa meus lábios e suspira Deus... e respira, mas não com a boca porque está usando ela em mim. Em meu corpo. Em minha boca, principalmente.

Suas mãos puxam minha blusa pra baixo, então ele desliza elas por debaixo da blusa, onde acaricia minha pele, adora meus seios enquanto roça na minha intimidade coberta pela roupa.

Roupa demais, eu acho que digo...

Ele geme quando eu retiro sua camisa e, droga, eu o odeio.

Odeio por me fazer se sentir assim.

Viva.

É o que eu gostaria de ter feito quando parei naquele corredor. Quando meu coração palpitou mais do que aquele ponto entre minhas pernas. E bufo pela sensação apenas por imaginar aquilo acontecendo.

Mas os nomes encharcam a minha cabeça.

Echo. Octavia.

Bella.

Então aquela imaginação escorrega para a parte mais sombria do meu cérebro e eu me obrigo a avançar quando tudo o que meu corpo pede é avançar para aquela porta e ver o que ele realmente poderia fazer comigo.

Jamais deixaria que ele descobrisse o seu poder sobre mim.

Arrancaria meu coração em vez disso.

Espero que estejam gostando.

Ok, 99,5K de visualizações? OBRIGADA. Vocês são incríveis e devo a todos vocês por terem embarcado nessa loucura comigo. Pretendo não sumir por tanto tempo como aconteceu agora.

Relevem qualquer erro.

Já resolvi bastante dos meus problemas e estou de volta!

QUEM AÍ caiu na minha trolagem? Eu quero saber!

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