020 | Sector 7

020 | Setor 7
RAYNA KANE

90 dias.

Estávamos tentando reconstruir o que tínhamos. Alguns por meio da mentira, fechando os olhos e a mente sobre tudo o que houve; eles mal comentam sobre o período de Mount Weather mais.

Sei que é a forma como eles arranjaram de... superar, mas é frustrante caminhar por este acampamento, receber olhares e ouvir:

"— Você é Rayna, não é?"

Todos querem saber o que aconteceu na minha estadia naquela montanha. Pelo o que eu pude entender, Dante e Cage diziam que não me conheciam e que eu não havia chegado com os outros.

Então eles queriam saber onde eu fiquei, em que circustâncias isso aconteceu e como eu cheguei até aqui. Não apenas como, mas por quê?

O grande problema é que ninguém tem coragem de perguntar. Sei que não é por medo de mim, pois minha aparência atual assusta o total de zero pessoas, mas eles têm.

Então sugerem sobre o meu nome e esperam que eu comece a desabafar sobre todo o tempo lá. Não parecia... digno.

Lembro bem dos meus pensamentos no leito da morte. Desejei fazer diferente; parar de sentir tanto ódio, parar de sentir tanta pena de mim mesma e lutar pelo o que eu quero.

Eu ainda não sei o que eu quero exatamente, mas sei o que eu não quero e isso é se sentir impotente. Não vou fingir que ganhar aquela luta com Cage e os outros não foi sorte.

Pelo contrário, acho que meu bolso estava cheio de trevos de quatro folhas. Eu não sabia a arte da luta, a arte de portar uma arma no coudre e uma espada nas costas. Eu não sabia sobre defesas e ataques, de surpreender o inimigo.

Mas eu estava disposta a aprender mais do que nunca.

Estava feliz com a ideia de conseguir.

— Rayna — anunciou Lincoln assim que passei pela porta e ele não parecia feliz quando murmurou: — Você aqui. De novo.

— Vai ficar mais contente se eu disser que trouxe enlatados para esta tarde? — Sugeri, um meio sorriso enquanto erguia duas caixinhas de ração.

Lincoln encarou o meu sorriso e depois deixou os olhos caírem para a minha proposta.

— Tudo bem — ele deu o braço a torcer, mas não me deixou comemorar quando apontou o dedo em meu rosto e disse: — Mas você lida com Octavia.

Revirei os olhos e murmurei um "ok" enquanto ia deixar as duas latas no canto, aguardando o nosso treino do dia acabar para devorarmos ela. Já aprendi a minha lição nas últimas... três vezes que estive por aqui.

Sempre trazer alguma refeição se estiver disposta mesmo a treinar por uma tarde inteira.

Lincoln estava ajudando a maioria dos jovens com isso. Ele sabia muito bem dessa tal arte de luta e começou a dar aulas para um curto grupo de jovens empenhados em se defender sozinhos.

Eu era um desses jovens, mas... não me sentia bem treinando com os outros. Eu sabia que era uma aula com contato, lutas para calcular o desempenho e pouca roupa para não morrer de calor.

Eu não gostava dessas condições, mas gostava menos ainda de ser indefesa, então comecei a pegar no pé de Lincoln para aulas particulares. Sinceramente, não sei porque ele ainda me aguenta.

Um palpite? Octavia deve ter dado um empurrãozinho sobre isso. Nosso relacionamento está muito melhor depois que nos reencontramos há três meses. Ela virou uma lutadora nata, com sua espada e todas aquelas tranças.

Ela sim encontrou quem ela queria ser.

— Rayna — disse em forma de cumprimento, parando ao meu lado para recolher sua blusa.

Desviei meus olhos para ele conforme consertava a minha postura. Com as mãos brincando com os bolsos atrás da calça, observei Bellamy trabalhando para secar o suor que brilha em seu peitoral bronzeado e fortificado.

Quis me impedir, quis mais do que nunca e eu sou muito idiota. Não deveria ter feito aquilo. Era errado.

E ainda assim... aqui estou eu, abaixando minhas íris para estudar toda a pele exposta de Bellamy Blake. Ele era um dos jovens que estava treinando com Lincoln e o grande motivo para eu tentar evitar aparecer aqui durante as aulas.

Eu acabo sempre perdida no meio daqueles muscúlos e pele suada.

— Tudo bem? — Sua voz me retirou do transe e eu levantei meus olhos até o seu rosto.

Merda. Ele me pegou encarando o seu corpo.

— Claro — acenei, engolindo em seco e recuando um passo ao sentir o calor que irradiava do seu corpo. — P-Por que não estaria?

Ele estreita seus olhos em minha direção e depois encolhe os ombros enquanto pega uma garrafa de água e a abre para beber.

— Vai treinar com Lincoln de novo? — Ele quis saber depois de dar um longo gole naquela água, que expôs todo o seu pomo de Adão. — Algum motivo para não se juntar com a gente mais cedo?

Além de eu querer te evitar após o nosso último episódio juntos? Ah, sei lá, talvez eu só não queira que ninguém saiba que meu sangue é de outra cor e que era isso que me fazia tão especial para os montanheses.

Ok... pensar isso foi ridículo, não vou repetir em voz alta.

— Você... — aponto para a jaqueta que ele começa a vestir depois da camisa, em busca de não responder a sua pergunta. — Você tem uma missão?

— Ronda de mapeamento — ele deu de ombros sem fazer muita questão. — Setor 7.

— Legal.

— É.

Torci meus lábios, tentando deixar essa situação menos desconfortável, mas era impossível. Mal nos olhavámos nos olhos. Isso desde que voltamos de Mount Weather.

Uma hora, Bellamy parecia super disposto a proclamar o quão feliz estava em me achar. Por um pequeno momento, até achei que ele iria me abraçar. Eu quis isso. Mas não aconteceu e quando voltamos pro acampamento e tudo foi se resolvendo com os demais, percebi que nunca aconteceria.

Eu não sei o que eu poderia estar pensando, mas Bellamy Blake ainda era Bellamy Blake, apesar de ser um guarda admirado por todos, incluindo Marcus Kane.

E se Bellamy continua sendo ele, nada entre nós tem a chance de se curar. Talvez parte por culpa minha, não sei.

— Bellamy...

— Eu preciso ir — me cortou como se não fosse nada. — Nos vemos por aí. E, ah, seu pai estava te procurando.

— Desde quando virou o cachorrinho do Kane, Bel?

De costas para o destino e de frente para mim, Bellamy abriu os braços e ironizou:

— Só estou cumprindo o meu dever. É sobre o seu amigo.

Nota-se a diferença nesse ponto crucial. Antes dos montanheses, sua frase sairia mais perto de... "Só cumprindo o meu dever, anarquia."

Mas Bellamy não quer ter nada haver comigo. Ele virou alguém sério agora, não aquele garoto do primeiro acampamento, com guardas que protegiam suas costas. Ele não tinha mais tempo para provocações e farpas.

Ele estava certo, eu sabia disso. Então por que eu me sentia estranha?

— Ei, para onde está indo? — Questionou Lincoln ao me ver se preparando para partir. — Nem começamos.

— Desculpe. Vou precisar ir. Podemos remarcar?

— Tudo bem, mas deixe os enlatados — apontou zombateiramente.

Ergui as mãos em rendição e sai daquela área, pronta para seguir para o escritório que o homem que queria me ver estava. As portas, barradas por guardas, são abertas e liberadas assim que eles me identificam.

Bellamy chegou primeiro do que eu. Os dois pareciam estar no meio de uma conversa que foi interrompida pela minha chegada. Eu sabia que era sobre a missão que iriam enviar Bellamy. Setor 7 era sobre Azgeda, ou seja, Nação do Gelo.

É um dos grupos liderados pelo Comandante dos terrestres, pelo o que eu ouvi falar, Lexa. Ela que nos traiu e que decretou a morte de Finn Collins.

Descobrir isso durante uma conversa que era para se resumir em saudades com sua melhor amiga, não é a definição de bom. Finn perdeu a cabeça com o desaparecimento de Clarke e aniquilou a metade de uma aldeia terrestre antes de encontrá-la, sem dizer o homem que ele executou.

Eu simplesmente não consigo pensar nele assim, tudo o que vem em minha cabeça é aquela sua imagem antes de eu subir na nave e fechar as portas. Dele se sacrificando para ajudar Bellamy.

Mas é isso. Como vingança e chave para fechar uma aliança, ele está morto. Buscando não ver o amor sendo torturado por adagas e fogo, Clarke o matou.

Queria falar com ela sobre isso quando eu descobri, mas ela já tinha ido embora, não suportando encarar-nos após ter liberado radiação em uma Ala inteira; com crianças inocentes.

Eu a entendia e apesar de ser triste, não a culpava. Ela estava tentando proteger o seu povo.

Precisava ser feito.

Bellamy acena para algo que só os dois entendem e se prepara para sair da sala, mas eu interrompo ao decretar com ombros firmes:

— Acho que eu deveria acompanha-los nessa missão.

Bellamy riu, voltando para o seu lugar.

— Não mesmo — cruzou os braços e eu fiz uma careta em sua direção.

Ele tinha motivos para o recuo. Desde a última vez que me enviaram para uma missão com os Azgeda envolvidos, acabou comigo muito machucada e um ego ferido que quase causou uma outra guerra.

Mas não foi eu. Foi Bellamy.

Aquele urso trajado de vestes sujas de neve tentou brincar mais do que devia comigo. Ele não gostou da minha língua afiada e me atacou. Surpreendentemente ou não, Bellamy reagiu primeiro do que eu ao retirar o monstro de cima de mim e enchê-lo de porrada.

— Bellamy? — Marcus virou com os braços cruzados para observar o garoto ao meu lado. — O que acha?

— Com todo respeito, senhor, mas sua filha é um imã para problemas.

— Desculpe? — Me ofendi, virando para ele com escárnio. — Por que não mostra suas mãos, Blake? Ainda tem as cicatrizes da última briga?

— Que você causou porque não consegue calar a boca — revidou ele, se segurando no último segundo ao ver o ciclo prestes a ser repetido. — Rayna não devia ir com a gente.

Marcus intercalou seus olhos de mim para o seu soldadinho. Não preciso dizer qual opinião ele levou mais em conta. Bellamy se vangloriou sobre isso antes de ir, com apenas uma expressão.

Babaca.

— Então — virei-me para ele de braços cruzados —, o que queria comigo?

— Não da mais para evitá-lo, querida.

Eu sabia bem do que ele estava falando e eu não estava evitando ninguém.

E ele não podia me chamar de querida! Nossa relação não evoluiu nada, na verdade, com toda essa coisa dele ainda ser o segundo no comando e querer paz, está tudo piorando.

Não permiti que tivéssemos uma relação sólida depois da conversa sincera que tivemos após sair da Montanha.

Os dois ficaram aliviados por estarem vivos e não me responsabilizei pela ação de abraçá-lo impetuosamente. Mas a marcha para o Acampamento Jaha foi decretado e eu pude pensar com mais calma.

A verdade era que eu tinha sim que trabalhar sobre isso, mas que eu não conseguia perdoar Marcus por tudo. Sei que eu não deveria deixar-me viver do passado, que agora estamos na Terra e bem, sem nenhum inimigo, mas eu não consigo.

Marcus me deixou presa por dois malditos anos, mal me visitava. Eu fui a filha dele por 17 anos e ele me dispensou tão facilmente quanto o lixo.

Então tem o negócio dele me drogar com aquele remédio para a cor do meu sangue. É claro que eu pedi por explicações. Era o meu direito.

Mas sua resposta foi decepcionante e vaga.

"— Você não precisa entender agora, mas ser diferente no meio de pessoas querendo sobreviver, não é bom."

As coisas se alteraram entre essa nossa conversa, pois tinha se passado o tempo, ele viu tudo o que eu passei em Monte Weather e não é burro para ignorar o fato de ser pelo sangue. Ainda assim, parece disposto demais a esconder coisas de mim.

"— Não posso perdoar você — sussurrei depois que ele bateu o pé no chão e decretou que não era hora da conversa. — E também não posso ser sua filha se continuar escondendo esses segredos. Vou descobrir sozinha, Marcus, e esse processo vai me fazer perder-se de você."

Ele tinha escolha. Eu lhe dei escolha. Não ia prometer que viraríamos uma família de um dia para o outro, mas ele me contando a verdade naquele momento, seria um passo adiante para, sei lá, eu desabafar com o meu pai.

Mas ele escolheu a opção que me afastaria dele e que o meu ódio prevaleceria.

Então desde então, por três meses, temos essa relação conturbada que mal se encontra. Ele só me chama para uma coisa.

— Ele acordou e quer te ver.

Ele pode esperar, como nas outras vezes.

— Rayna...

Irredutível sobre a minha decisão, nego com a cabeça e viro-lhes às costas, não antes de cumprimentar Abby que tinha acabado de acordar de uma soneca no sofá.

Ela estava sofrendo a perda da filha e como os outros, queria encontrá-la, mas estava difícil consolidar tudo.

No meio do caminho que eu uso para dar o fora daqui, recebo o aviso de que os entregadores chegaram e corro até o armázem que também é feito como o refeitório.

Os entregadores são pessoas que foram encarregadas de voltar para a montanha e buscar as coisas úteis que tem por lá. Como armas, colchões, suprimentos variantes de comida a medicamentos. Eu pedi que me avisassem quando a remessa chegasse, visando encontrar um item lá.

Ao chegar no lugar marcado, debato-me logo de cara com o caminhão carregado de coisas. Mordisco meus lábios, desejando encontrar o esperado.

Dou alguns passos na direção do caminhão, encontrando o Rover construído por Raven que Bellamy e seus parceiros iriam para a missão de mapeamento. Tento ignorar e passar desapercebida deles, mas Raven tem olhos de águia.

— Tentando se esconder? — Coloca uma de suas mãos na cintura, arqueando suas sobrancelhas em busca de respostas.

Raven era uma garota espetacular e a amizade que não trabalhamos nos primeiros dias na Terra, foi colocada em dia nesses três meses. Jantamos juntas às vezes, digamos que... ela gosta de me dar conselhos que eu não peço.

— Só vim buscar algo da repescagem — aponto com o meu dedo polegar para as minhas costas. — Desde quando está no grupo do Bellybosta?

— Ele não te chamou? — Ela parecia surpresa, apesar de todas as nossas conversas sobre o garoto.

— Bellamy disse com todas as palavras para Marcus que não me quer nessa missão.

Seus olhos demonstram uma confusão que é extraída quando ela desvia seus olhos para algo atrás de mim. Curiosa sobre o motivo dela ter cortado sua próxima frase ao meio, viro-me na direção em que ela olhava.

Era Bellamy... com a namorada.

Gina Martin era uma das mulheres que desceu com a Arca para a Terra. Era um mulherão. Seus cabelos eram ondulados e batiam no ombros, com mechas mais claras que as outras, pele clara e olhos castanhos.

Conversamos uma vez ou outra, por ela estar no grupo que vai buscar suprimentos em Monte Weather.

Desviei os olhos quando os dois se separaram do beijo e ela entregou para ele um livro. Seus olhos não mentiam. Estavam apaixonados.

Ray...

— Tudo bem, Raven — revirei os olhos com sarcasmo ao voltar-me em sua direção. — Gina é boa.

— Boa demais para ele — cuspiu, encarando o amigo de cima a baixo.

No decorrer desses 3 meses, Raven se tornou uma das minhas melhores amigas. A única com quem eu podia falar sobre Bellamy. Acho que não seria muito... receptivo falar com Octávia sobre o irmão ser um canalha.

Em umas das primeiras noites em Arkadia, eu bebi umas das poções de Monty. Acabei pior do que eu imaginei e Raven que me ajudou.

Eu acho que dentre todos os problemas de bêbado, devo ter soltado uma coisinha ou outra sobre Bellamy Blake e desde daí, o garoto se tornou um dos nossos principais assuntos.

Falei sobre o beijo que aconteceu e sobre o que ele
falou sobre o próximo beijo ter que ser eu a tomar a atitude. Raven me encorajava a ir tirar essa história a limpo, mas Bellamy apareceu namorando antes que eu pudesse pensar.

De toda forma, acho que ele fez um favor para nós dois. Nada de bom poderia sair disso. Eu estava confusa sobre tudo o que vinha acontecendo, sobre a guerra.

A melhor escolha para Bellamy não era eu. Não funcionávamos juntos.

Ele percebeu isso antes de mim e... seguiu em frente.

— Enfim, boa sorte nessa expedição — pisquei para ela, afastando o assunto de vez.

Estava na hora de eu parar de pensar nele. Eu não sei o que causou essa mini obsessão por Bellamy, mas eu decido quando acaba, então está decidido. Acabou.

Vai ser meio chato sem você — decretou e eu sorri convencida, ajudando ela a colocar as mochilas dentro do carro. — E com o Jasper — acenou com a cabeça.

Lá estava o morto-vivo, sendo acordado por um
balde de água jogado por seu melhor amigo. Jasper Jordan estava decadente e depressivo depois da morte de Maya, seu mais atual amor.

Meu peito dói por ele, mas o mesmo não quer contato comigo. Não quando eu tenho algo que ele queria.

Solto um pequeno suspiro e me despeço de Raven que já ia montar no carro para ir. Passo por Monty que segura os braços do amigo que furta suas íris em mim.

Sorrio minimamente para eles, mas apenas Monty devolve antes que subissem no carro.

Ótimo.

Rayna, oi! — Meu coração descompassa quando reconheço o chamado. Tento fingir que não ouvi, mas eu meio que tava passando por eles. — Veio procurando pela mesma coisa que as outras vezes?

Meus olhos passam por Gina que tem suas mãos descansadas em cada lado da cintura de Bellamy. Os dois estavam próximos demais para que eu não teorizasse que antes da mulher me chamar, eles não estavam se beijando.

Puxo o ar e decido que começarei seguindo em frente por aqui.

Sabe sei lá o que eu achava que iria dar com Bellamy por causa da merda de um beijo, não vai dar e tenho que saber lidar com isso. Não é como se eu gostasse dele da mesma forma que os olhos de Gina demonstram gostar.

Apesar dos pecados, Bellamy merecia ser olhado daquele jeito.

— Um caderno, sim — contribui me aproximando do caminhão aos poucos com a mão no bolso da calça. — Mas já estou perdendo as esperanças.

Ela sorri com uma gentileza genuína para mim e se despede do namorado com um selinho sútil. Tento não perceber que Bellamy continuou com os olhos abertos e em mim enquanto se despedia dela e nos dava as costas.

— Acho que posso ajudar com isso — ela foi enigmática. Gina subiu no caminhão e revirou as coisas por um minuto antes de voltar com um caderno de couro com um pouco de poeira. — O que acha?

— Eu acho que você é incrível — pontuei e ela riu com vontade, negando o agradecimento. — Obrigada, Gina.

Ela pisca inocentemente para mim e decreta que posso chamá-la se precisar de mais algo. Sinto-me mal pelos últimos pensamentos sobre o namorado dela e selo o nosso destino ao dizer:

— Claro, talvez eu chame.

(...)

Estou encarando este caderno por longos minutos, decindo o que farei com ele. Como a maioria das decisões, há uma escolha certa para se fazer, mas que dói.

Estou sentada em uma das mesas aqui fora, onde as pessoas costumam sentar para clarear a mente ou beber com os amigos ao ar livre. Observo o ir e vir de todos. Fico feliz em reconhecer os rostos que foram salvos na montanha, mas triste ao sentir falta de alguns.

A cadeira em minha frente se arrasta e um corpo é colocado.

— Você sentada a essa hora? — Ele finge ver um horário ilusório em um relógio inexistente. — Que tipo de bicho te mordeu?

Meus olhos se escorregam para Aspen que me encarava com as sobrancelhas levemente arqueadas e um sorriso minímo nos lábios.

Três meses depois, sua aparência de garoto se transformou para de um homem. Seu cabelo estava um pouco maior, precisando de um corte. Os fios rebeldes caiam por seus olhos. Se ele não cortar logo, acabará escondendo o caramelizado das suas íris.

E também há uma barba crescendo rala pelo seu rosto.

Bellamy pode ter ganhado a posição de soldado preferido de Kane, mas Aspen ganhou o coração do povo e junto com Lincoln, está tentando ajudar aos outros com a sua especialidade:

Armas.

— Já faz 3 meses — confidencio sem o contexto, mas acho que ele sabe do que eu quero dizer. Qualquer um aqui saberia. — Marcus está me enchendo o saco.

— Sim, bem — Aspen se ajeita na cadeira e sei que ele está prestes a vomitar sinceridade —, ele está certo. De todos, você deveria se esforçar nesse quesito um pouco mais.

— Eu sei — solto um suspiro e limpo o suor imaginário de cima dos meus lábios.

— E então?

Encaro suas íris e suas sobrancelhas que cobrava uma atitude. Ok.

Acho que isso quer dizer que eu deva ir fazer agora.

Levanto as mãos em rendição e recolho o caderno, arrastando a cadeira e piscando em sua direção antes de refazer o caminho que eu faço toda semana, mas que sempre acabo amarelando e dando meia volta.

Os cubículos fazem história em minha mente conforme eu passo por eles e procuro o número certo. Andando por aqui, me sinto em um outro universo.

É a mesma Arca que eu cresci, mas... diferente.

Ao chegar na mesma porta de todas as outras vezes, levanto uma das minhas mãos para bater e anunciar a minha presença. Eu acabo hesitando várias e várias vezes até fazer.

A porta se entreabre sozinha, deixando um silêncio gigantesco tomar o corredor. Espio pela brecha que a porta me dá e prendo minha respiração ao me deparar com uma cena constrangedora.

Ele não tinha me notado ali ainda. Pelo jeito que a calça de moletom cai em seu quadril e seu peitoral está com gotículas de água, ele acaba de sair de um banho.

Seus cabelos estão encharcados, ainda assim, formando os cachos bagunçados de sempre. Seu peito descoberto recepciona o meu olhar. Ele não é coberto de músculos, apesar de não ser tão magro também.

Sua clavícula é bem marcada e um pouco mais para baixo... está a marca causada por causa de mim.

— Rayna?! — Ele se assusta ao me pegar observando pela porta.

Meus olhos sobem para os seus que me encaram desacreditados. Ele está aqui junto aos outros por 3 meses. Ficou quase dois em coma e acordou há pouco tempo, algumas semanas.

Ele continua no quarto, pois queria me ver antes de sair no exterior. Mas eu não venho aqui. Eu não aguento a ideia de encarar seus olhos depois de tudo.

Mas eu não podia continuar ignorando-o como se ele simplesmente não existisse e como se ele não pudesse existir. No começo, quando ele acordou, achei que o veria por lá fora, mas ele levou a sério o lance de me ver primeiro.

Então, com o caderno que eu o vi escrevendo uma vez, aqui estou eu, desejando retirar toda essa maldita culpa do meu peito.

Tento sorrir, mas acho que fiz uma careta.

— Olá, Benjamin.

Seu olhar se suaviza e faz um leve movimento para que eu terminasse de entrar no quarto que foi adicionado como seu.

Isso é...? — Apontou para o utensílio em meus braços e eu pisquei, saindo de um transe confuso, assentindo em concordância e esticando. — Obrigada.

Franzi o cenho.

"Obrigada"? Não. Ele não tinha o que me agradecer. Meu povo estava extraindo tudo do que um dia foi do seu povo. Eu estou aqui, encarando-o depois que tomou um tiro do seu pai por mim, que, ah, eu matei impiedosamente.

Eu não me arrependo de matar Cage, mas me arrependo do jeito que eu escolhi fazer, na frente de Benjamin, baleado.

Ele tinha acabado de ver o avô morrer em sua frente por Clarke e naquele momento, cega por ódio, não liguei se ele me veria — na verdade, nem pensei — matando o seu progenitor.

Cage era um monstro, mas isso não retirava o parentesco entre eles.

— Castanhas... — ele murmurou, largando o caderno na mesa dali e tentando se aproximar. — Sei o que pensa e eu não culpo você.

— Você é mais burro do que eu pensei, então.

Ele riu nasalado e negou com a cabeça, dando-me as costas para ir buscar uma camiseta. Eu nunca o vi sem aquelas blusas sociais, vê-lo com essas camisetas surradas com mangas curtas até que é divertido.

— Olha, escute...-

Rayna — o walkie-talkie preso à minha cintura atrapalha sua fala. Marcus me obrigou a andar com um desses por aí o tempo todo, para quando precisasse falar comigo.

Peguei o aparelho, apertando no botão que permitiria que ele me ouvisse.

— Estou aqui — decretei, os olhos presos nos de Benjamin.

Há um silêncio antes que Marcus fale mais alguma coisa.

Preciso que venha até aqui. É sobre a Clarke.

— Estou indo — aviso e coloco o rádio em seu lugar. — Tenho que ir.

— Você vai voltar? — Benjamin me questiona, repetindo os meus passos até a sua porta. — Rayna. Eu quero que você volte.

Paro de frente para a porta, de fora do seu quarto e o observo.

— Tem um mundo lá fora, Benjamin — conto-lhe, pois parece que sua mente ainda está presa em Mont Weather. — Com árvores de nozes, ar fresco — ele sorri imaginando — e novos amigos.

— Tem razão — ele admite, acenando com a cabeça e dando um passo para ficar mais próximo de mim. Então, encarando com o pescoço levemente inclinado pela diferença de tamanho, eu o ouço dizer: — Espero que me deixe ver essas coisas pela primeira vez com você ao meu lado.

Não fui capaz de desenroscar nossos olhos por um tempinho. Fazia 3 meses que eu não sentia medo de nada, mas isso mudou ao reconhecer aquela emoção em seus olhos.

Eu não queria ver aquilo. Eu não queria que ele me enxergasse com esses olhos, que me colocasse em um pedrestal tão alto que fosse o sufocar.

Não queria que ele me olhasse com os mesmos olhos que Gina encara Bellamy.

Então eu fugi e por meio da minha covardice, esperei que tudo acabasse.

Encontrei Marcus logo depois que sai de dentro da Arca, no meio do acampamendo, com Indra bem ao seu lado, estampando uma cara não muito boa.

Indra era a líder dos Trikru. Era a melhor guerreira dos terrestres. Tinha quase o meu tamanho, era reforçada de armaduras rasgadas e incompletas, pele negra e tatuagens como outros, algumas cicatrizes no lado esquerdo do rosto.

Como a Comandante não enviou nenhum pedido de Guerra, podemos levar em conta que uma paz momentânea reacordou em nossa volta.

Mas há uma vírgula e depois disso, tem Azgega, a Nação do Gelo. É um dos grupos dos terrestres que compadecem com a colisão. Pela explicação que Marcus recebeu há pouco tempo, a colisão é vários grupos de terrestres comandandos por uma pessoa só; Lexa kom Trikru.

— O que está acontecendo? — Busco saber ao chegar na frente dos dois e perceber a cara que gritava problemas em Marcus.

Como eu imaginei, tinha mesmo algo acontecendo e esse algo tinha cabelos loiros, altura média e muita culpa pesando nos ombros.

Clarke Griffin estava sendo caçada por todos os terrestres, mas especificamente, a Nação do Gelo, que queria entregar a cabeça da Wanheda para a rainha tomar o seu poder de comandar a morte.

Se a rainha conseguisse, Azgeda quebraria a colisão e decretaria uma guerra contra a própria Comandante. Esse foi o motivo de Indra ter aparecido e pedido a nossa ajuda. Ou achavámos Clarke primeiro que os da Nação do Gelo, ou poderíamos dar adeus a nossa paz e a nossa amiga.

— E você quer que eu vá? — Questionei incrédula, encarando Marcus que estava de braços cruzados. — Por quê?

Eu quero — Indra se mete no meio e meus olhos se conectam-se com os dela.

Não consegui decifrar seu olhar, mas com toda aquela pose de soldado perfeito, ela parecia ler cada parte da minha alma.

— Por quê?

— As conversas voam, Rayna do povo do céu. Sua versão sanguinária para salvar seus amigos está em uma dessas conversas.

Engoli em seco. De todas as imagens, essa era a que eu menos desejava espiritualmente.

— Como soube?

— Sua filha faz muitas perguntas — Indra comenta com uma revirada de olhos, marcando a nossa saída ao me dar as costas e passar por Marcus.

— Temos que passar para pegar Bellamy e os outros — Marcus chama a minha atenção. — Eles acabaram em um conflito com alguns Azgeda, tiveram que matar.

Descruzei meus braços, retirando a careta sem expressão.

— Estão todos bem? — Me preocupei, não esperando a ordem para me preparar.

Recolhi a arma que eu segurei por todo esse tempo, que eu matei Cage. A arma, na verdade, é de Benjamin, mas eu não consegui larga-lá para qualquer um abdicar-se.

A viagem feita com Marcus e Indra não é a definição de agradável, mas valeu a pena quando chegamos ao túnel e observamos a figura de Bellamy e Monty caminhar até a gente.

Bellamy escorregou seu olhar confuso por mim por um tempo, mas me ignorou ao começar dizer:

— Senhor, houve um bom motivo...

— Não estamos aqui por causa da sua artimanha com os Azgeda, Bellamy — cruzei os braços ao parar em sua frente ao lado de Marcus. — Ah, pode repetir? Eu sou o problema?

— Não comecem vocês dois — interrompe Marcus erguendo uma mão impassível. Bellamy desvia o olhar quando ouve: — A questão agora é Clarke.

O resumo que foi feito para mim é repetido e não preciso dizer que surpreendeu à todos.

Decididos a ir procurar, pegamos o Rover que estava sendo usado à pouco pelo grupo de Bellamy. Esse grupo que sobrou apenas o líder e Monty. Jasper, Raven e Octavia voltaram para o acampamento para cuidar de Jasper que estava levemente ferido.

O plano inicial era que Monty dirigisse, mas eu estava cansada de não fazer nada, precisava ocupar minhas mãos, então me habilitei a fazê-lo.

— Você tem carteira? — Zombou Bellamy quando eu consegui recolher as chaves de Monty.

— Não... — prolonguei, montando no banco do motorista e ele no passageiro. — Acho que vai ter que me prender.

Ele arqueou as sobrancelhas surpreso e depois soltou um riso desacreditado, virando-se para a janela e apoiando o queixo na mão. Esperei que Monty, Marcus e Indra subissem atrás para retirar o carro do lugar e seguisse o mapa que Indra disponibilizou.

— Mate Wanheda e comandará a morte — especificou Indra no meio da viagem, após o pedido de Monty sobre uma explicação mais precisa.

— Ela é só uma garota — refutou Marcus, desacreditado.

— Bem como a comandante. Clarke se enfraqueceu com aquilo no Monte Weather — encarei Bellamy pelo canto do olho. Aquilo havia usufruído dele também e o deixava igualmente mal. — A Nação do Gelo foi encorajada. A rainha deles quer a força da Clarke. Se o povo dela acreditar que ela tem essa força, vai sair da colisão e começar uma guerra.

— Claro — a atenção veio para mim quando eu tomei o silêncio, mas eu não desviei o olhar do caminho. — Tudo para que sua Comandante não seja comparada à fraqueza, certo?

Não fale assim da minha Comandante, Rayna do povo do céu — o tom de Indra foi auto explicativo.

Mas eu já tinha presenciado muita porcaria nessa vida e estava de saco cheio de toda essa maluquice. Isso não me tirava o medo, mas me deixava mais astuta.

— Chegamos no Setor 7 — informei depois de um tempo daquela conversa esclarecedora. — E agora?

— Se ela estiver aqui, precisará de suprimentos. Vamos começar pelos entrepostos.

Acenei em concordância e troquei a marcha para aumentar a velocidade. Meus olhos escorregaram um desafio para Bellamy que observou minha ação com sobrancelhas arqueadas.

A viagem continuou e dessa vez, mais silenciosa. Monty quis trocar de turno comigo, mas eu não permiti. Estava bem longe de Marcus e focada na estrada para não pensar em outra coisa. Como na conversa com Benjamin.

Visando o motivo do meu olhar perdido na estrada, senti o momento em que Bellamy me encarou de rabo de olhos e levantou o queixo.

— Foi vê-lo hoje?

Não esperava a sua pergunta, então dizer que fiquei surpresa ao ponto de franzir a testa e encarar-lo por um tempo é eufemismo.

Sabia que ele estava falando sobre Benjamin. Todos queriam falar sobre ele comigo. Todos queriam ver Benjamin desde que voltamos, ele com uma
bala no corpo por mim.

Isso nunca parará de ser uma loucura, não importa o quanto eu pense.

— Ele recebeu alta há pouco — sussurrei, desviando minha atenção de Bellamy. — Precisava dar à ele uma coisa, então... foi inevitável.

Tamanha explicação não era precisa, mas como eu disse, todos queriam saber um pouco mais e com Bellamy Blake não era diferente.

Ele só... queria saber coisas diferentes do que os outros. Queria saber como diabos Benjamin estava conseguindo andar sobre a Terra e também queria saber qual dos seus amigos morreu para que aquilo acontecesse. Queria saber o porquê eu confiava tanto em Benjamin mas me recusava a vê-lo.

Queria saber o porquê de eu ter o protegido tanto dos homens e mulheres que queriam decretar vingança para a única pessoa que sobreviveu dos montanheses.

Ninguém sabia que o sangue que habita em Benjamin é o meu. Ninguém sabe que eu fui a cura dele e é por isso que Cage me manteve em um cubículo só para ele, só para curar seu filho.

Ninguém sabe que as escapulidas de Benjamin me ajudou a sobreviver naquele inferno. Que ele me ajudou a sobreviver.

A única coisa que eles sabem é que eu confiava nele e que Benjamin Wallace, o terceiro da geração de Presidentes, estava sobre a minha proteção.

Bellamy não falava comigo, mas quando era sobre Benjamin, ele se confundia com o meu melhor amigo e queria saber de tudo.

— O caderno — murmurou em entendimento e eu o questionei nas entrelinhas. — Gina comentou que você parecia empenhada em encontrá-lo.

— Conversa com a sua namorada sobre mim?

Trocamos olhares inexpressivos, mas eu corto o barato quando olho para frente e freio com tudo em uma curva, que é impedida por uma árvore caída.

Indra avisa que a árvore foi cortada, o que conduziria a gente entendendo que alguém estava atrapalhando o nosso caminho.

— Não tem como saber — recepciona Bellamy, se levantando do seu lugar para passar pela escotilha nos bancos de trás, no topo do carro.

Curiosa, eu me inclino para ver sobre o vidro em minha frente e ao estreitar os olhos, me assusto com o tronco de uma árvore caindo atrás de nós. Estávamos cercados.

Merda.

Recolho minha arma no coldre e certifico-me das balas encarregadas. Bellamy estava com uma submetralhadora, Marcus com uma arma parecida com a minha, Monty também e tinha Indra, com sua espada.

Ficamos 3 horas esperando na merda desse carro. O dia amanhece e nenhum sinal dos Azgeda. Mas sabíamos que eles estavam lá, esperando a gente sair para nos dizimar.

Mas não dava mais para esperar. Bellamy subiria na escotilha e nos daria cobertura até chegarmos do outro lado, depois, faríamos o mesmo por ele. Era um plano simples e condizente, mas ele foi por água abaixo antes mesmo de sairmos da porra do Rover.

Colocaram uma faca no pescoço de Bellamy assim que ele saiu pela escotilha e ordenaram que se não saíssemos desarmados, o garoto não teria um final muito... bom.

Ninguém aqui queria pagar para ver, então obedecemos, sabendo que provavelmente seria as nossas últimas horas de vida.

Fomos jogados para o chão assim que abrimos a porta do Rover. Ganhamos um guarda para cada, para manter a gente no chão. Minhas costas foram prensadas pelo o joelho de um e marquei meu queixo na terra, encarando Bellamy que estava na mesma posição que a minha, bem à frente.

Monty foi colocado de pé e algo foi tirado do seu pescoço. Tentei me debater, mas o joelho em minhas costas pesou mais e meu rosto foi colado no chão. Rosnei enraivada, esperando que essa pessoa nunca mais me soltasse, pois eu acabaria com ela caso sim.

— É meu — Monty tenta lutar por sabe sei lá o quê. — Devolve!

— Monty, esqueça! — Ordena Bellamy, com medo do destino do amigo.

— Monty? — Repete uma das pessoas encapuzadas.

— Mãe?

Eu não sei bem o que está acontecendo, pois o meu rosto ainda está cravado no chão, mas consigo distinguir choradeira de alívio e... abraços?

— Pessoal, relaxar.

O joelho é retirado das minhas costas e eu não penso muito antes de pular para ficar em pé e chutar o peito do cara que estava me segurando.

— Oh, oh, oh! — Marcus avança para me segurar, o cara que eu derrubei se levanta e tenta avançar.

Bellamy está na minha frente antes que o cara pudesse chegar até mim.

— Algum problema aqui? — Ele pergunta, encarando um jovem da nossa mesma idade, fervendo de ódio por ter sido atacado por mim. — Então recue.

— Eu não preciso que você me defenda — julguei ele e Bellamy se virou lentamente para me ver.

— Então por que não relaxa? — Ele propõe, mas eu estou fumaçando de raiva. — São da Estação Agrícola.

— Não se meta mais em minhas brigas, Blake! — Apontei o dedo em sua cara e recuei do toque de Marcus. — E você também!

— Wow, essa é Rayna? — Um cara pontuou e o observei com mais atenção. Pike. — Sua filha, Rayna Kane?

— Pode apostar — decretou Marcus, feliz com a presença do amigo. — Ela mudou, acho que deixa nós dois no chinelo.

Pike dá dois tapinhas no ombro de Marcus e sorri para mim. Eu não estampo o meu sorriso para ele.

Charles Pike foi o nosso professor de arte da Terra quando ainda estávamos no Espaço. Olhando bem agora, faz sentido terem dado essas aulas para gente pouco tempo antes de nos mandar para a Terra.

Depois de tirarmos uma parte do tronco do caminho, decidimos quem iria e quem voltaria. A metade do povo da Estação Agrícola voltaria para a casa, a nossa casa, em Arkadia. Mas Pike, a mãe de Monty e o garoto que me prendeu no chão iria nos acompanhar.

Eu não tinha reconhecido antes, mas era o filho de Pike. Era mais alto que o pai, mas sua pele escura, seu cabelo quase escasso e seus olhos pretos não mentiam sobre isso.

Com o grupo montado, nos preparamos pra seguir o norte, onde achávamos que iríamos encontrar Clarke.

— Tente não matar o Pike menor — zombou Bellamy passando por mim para chegar até a porta do passageiro.

— Por que você não tenta se manter longe de mim? — Rebati, cansada e ainda enraivada por ele ter cortado o meu barato. — Vai causar uma tremenda satisfação para ambos.

Suas íris pareceu me julgar de cima à baixo enquanto sua cara se contorceu em confusão, mas eu não me importei naquele momento.

— Hey, Monty — chamei o garoto que estava ao lado da mãe. Joguei-lhe as chaves. — Pode ficar com o turno agora.

Passei por Bellamy sem o tocar e me acomodei no seu banco do motorista.

Ele ri incrédulo e nega com a cabeça, dando meia volta, fechando a porta e indo se acomodar atrás.

Ótimo.

Agora a viagem vai ser muito mais insuportável.


Espero que estejam gostando.

Desculpem pelos erros e não se esqueçam de interagir!!

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