016 | Prisoner


016 | Prisioneira
RAYNA KANE


— Você é neto do Dante Wallace — o intuito foi de afirmar, mas saiu mais como um questionamento quando eu levantei meus olhos para confirmar. — Por que o chamam de Presidente?

O garoto — cujo nome era Benjamin — já havia se levantado do banco à minha frente. Seu caderno de antes estava fechado e guardado em cima de sua cômoda do lado da cama, enquanto o prato vazio residia em cima da bandeja.

Depois que ele me disse o seu nome, não demorei para começar o questionamento. Foi quando ele optou por se levantar e esticar-se.

Benjamin me confirmou que ele era neto do Presidente e depois não soube muito explicar o motivo do porquê de chamarem seu avô assim, que isso foi passado de geração a geração. Mas que, se ele tivesse que opinar, ele chutaria que era pra ter uma ordem.

"Tudo que instala a paz precisa de um nome, Castanhas" ele afirmou, se apoiando no batente da divisória.

Foi quando percebi que alguma parte minha trabalhou para confirmar o que ele disse. Não éramos muito diferentes, nós do Espaço. Para eles, Presidente. Para gente, Chanceler. Qual seria o selo de paz dos terrestres?

— Por que estava lá quando eu acordei? No quarto do hospital — especifiquei quando vi suas sobrancelhas se juntarem.

E então, ele tombou a cabeça até que ela se encostasse no batente, uma mecha rebelde de seu cabelo caindo pela sua testa.

— Observando você.

— Você não faz o tipo de segurança — rebato imediatamente. — Aliás, não demorará muito para você ser o Presidente.

Se ele percebeu o tom de deboche em minha fala ao título, não reagiu de maneira nenhuma. Ele bateu os cílios, seus braços cruzados na frente do peitoral, um olhar leve ao dizer:

— Nunca disse que estava sendo o seu guarda. Observando você — ele repete suas palavras, as quais chegam com mais qualidade em meus ouvidos. — Apenas observando.

— Por quê?

Eu estava apenas o rodeando com perguntas de baixo escalão até chegar na qual realmente importa. Não que as que eu esteja fazendo para preparar sua mente não me deixe com uma pulga atrás da orelha, mas descartaria elas se ele me desse apenas uma chance para perguntar algo.

— Seria loucura se eu dissesse que já sonhei com você antes de te conhecer? — Suas palavras me pegam de surpresa. Não sei o que dizer no meio tempo que ele leva para explicar. — Não com você, você. Mas com o que representa nesse momento.

— E o que eu represento? — Saio do roteiro criado em minha mente na última hora.

Ele desencosta sua cabeça do batente da divisória e o movimento que ele faz com seus olhos, é quase como se pudesse me ver dos pés a cabeça, mas eu ainda estou sentada, então sei que sua visão é do meu estômago para cima.

Seu olhar está suave quando ele responde:

— Restauração.

A palavra que ele usa se repete em minha mente e tento encaixa-lá há alguma realidade da minha vida, mas simplesmente não faz sentido.

Restauração é o conceito de consertar algo danificado pelo uso demasiado. Entender o significado não é o problema, mas sim associá-lo a mim. Restauração é trabalho constante, conhecimento, cura...

Quando percebi que a ideia era impossível e encarei Benjamin que ainda me depositava aquele seu olhar tranquilo, fiquei com medo de estar lidando com um maluco.

Então, calmamente, arrastei a cadeira rolante e me
coloquei de pé. Ele seguiu minha ação com os seus olhos castanhos. Parei de frente com a mesa e me apoiei na borda dela.

— Como eu poderia ser a sua cura?

E seu rosto, que transmitia alguma paz inalterada, se reformulou em uma expressão séria. Notei a forma como seus ombros cresciam enquanto ele se colocava retamente, desencostando todo o seu corpo do batente.

— Você não é a minha cura — ele cuspiu tão ruidosamente que ajeitei minha postura e reformulei o meu plano de saída. Benjamin suspira quando percebe que me assustou e diz, mais suavemente: — Vamos. Tenho que levá-la de volta.

Ele me dá as costas.

— Espera — dei um passo à frente —, eu vou voltar pra lá?

Encaro suas costas formadas por baixo da camisa social, seus ombros sobem e depois desce. Não sei qual foi o motivo da sua mudança de humor, mas foi o suficiente para que eu acordasse para vida e entendesse que eu não podia sair confiando em qualquer um por causa de um prato de comida.

— E o que você achou? — Benjamin pergunta com aspereza enquanto segura a maçaneta. — Que iria morar aqui comigo?

Minha bochecha não demorou para se esquentar mais uma vez de vergonha.

Ele estava certo, afinal. O que eu estava esperando?

Não fiz questão mais de encara-ló pelo resto do caminho. Comecei a andar desleixadamente, meu instinto de vingança gritando para que alguém nos pegasse e ele fosse exposto, mas logo depois percebi que em uma situação conflituosa, ele sairia na melhor do que eu.

Logo estávamos de volta no andar da minha prisão e fui designada para a porta de ferro. Estudei a fechadura, tinha um cadeado trancado em volto de corrente.

Acho que isso me responde se sou ou não uma prisioneira.

Observei Benjamin encarar aquela câmera que tem no topo, bem na frente da minha porta. Era um modelo diferente do que estava no quarto de hospital, assim como todas as outras câmeras que eu vi pelos corredores e elevador.

Soube o que significava em poucos segundos de raciocínio.

— O que querem de mim? — Perguntei enfim. Muito menos confiante do que antes, mas disposta a acabar com tudo isso.

Benjamin focou seus olhos em mim, estreitando-os e me analisando de cima à baixo.

— Por que pensa que queremos algo de você?

Soltei um suspiro de desdém e troquei o peso de perna, logo depois passei a mão em cima do meus lábios para limpar o suor.

— Por favor... — soltei uma risada sem humor. — Prestei atenção quando veio me roubar daqui. "60 minutos de pausa" você disse sobre aquela câmera — apontei por cima de seus ombros —, igualzinha a todas as outras.

— Rayna...

— Menos, é claro, a do quarto de hospital que eu estava — ignorei seu aviso. — Que dava uma pausa de apenas 60 segundos para recarregar. Agora me diga, Benjamin Wallace — dei um passo em sua direção —, se não querem nada de mim, por que se preocupam tanto com quem está naqueles quartos?

— Está delirando.

É o que ele diz, mas consigo ver a forma como ele ficou surpreso por eu ter visualizado esse pequeno detalhe.

Ele me chama de louca, mas está me dando munição pela sua forma de agir para que eu apenas conclua que estou certa.

— É por causa do Sangue Escuro? — Minha voz saiu menos autoritária, quase como se fosse um xingamento. — Ele é importante de alguma forma pra vocês?

— Quem te disse isso? — Benjamin me questiona, seus olhos levemente arregalados.

— O Presidente. Ele me contou sobre a minha possível genética alterada pelos remédios. Estou certa? É por causa dele?

— Não — respondeu firme, suas íris fundas nas minhas. Ele não pareceu muito sincero e repetiu baixinho enquanto invadia o quarto: — Não se deixe entrar nessa.

— Por quê?

— Eu não... — ele suspira pesado e olha para o banco ao lado, seu maxilar trincado. — Apenas não... confie em ninguém.

— Nem em você? — Testei, recuando um passo conforme estudava o seu corpo.

Ele deixou um sorriso de lado sair quando entendeu esse meu recuo como terror. Talvez por eu estar sozinha aqui e nenhuma das câmeras estarem funcionando.

Principalmente em mim — sua ênfase é bem destacada e ele estende sua mão. Não sei o que quer até que ele mexe seus dedos. Ele quer provar um ponto. — Dê-me minha arma de volta, Castanhas.

— Pare de me chamar assim.

— A arma — fechou um pouco o dedo mindinho para pegar a tal arma pela boca. — Agora.

Mordi a minha língua, sabendo que eu estava contra a parede e que eu não podia fazer nada além de pegar a arma escondida em minhas costas e deixá-la em sua mão.

Ele sussurra um obrigada irônico e vira as costas para sair da sala. Ele para com a mão na porta, pronto pra fecha-lá.

— Você vai voltar? — Benjamin sorriu e eu ergui o queixo, me obrigando a não ficar com muitas esperanças.

— Você vai ter esperar pra ver, Castanhas.

Reviro os olhos enquanto ele termina de guardar a arma e começa a pegar algo do seu bolso.

— Não curto muito suspense — dou-lhe a informação, estreitando os olhos confusa pro pequeno controle na mão dele, onde seu dedo polegar residia bem encima do botão.

— Estou lhe dando mais um motivo para segurar sua sanidade — então ele apertou o botão e a luz se ligou. — Até mais, Castanhas.

Ele fechou a porta, me deixando de boca aberta sem saber o que pensar.

Era ele.

Benjamin era a pessoa que estava ligando as luzes ao chegar o dia e apagando na noite.

Abaixei meus ombros, aceitando a ideia que eu não iria conseguir entender a mente de Benjamin tão cedo e que, talvez, eu nem deva tentar. Algo me diz que isso só acabaria complicando as coisas, tanto pra ele como filho do segundo no comando quanto para mim, uma prisioneira.

Os dias acabam se passando mais uma vez e a partir do dia seguinte à minha saída, minha alimentação começa a melhorar.

As bandejas com prato de comida começam a chegar regularmente, de manhã e de noite, junto com a tão adorada garrafa de água.

Surpreendentemente, a garota — Maya — não desistiu de seu cargo de me levar para tomar banho de dois em dois dias.

Isso me fez questionar sua lealdade. Ficou óbvio que tudo aquilo fora escondido e que ela estava ajudando Benjamin. Mas por quê? Ela não apoia algum método de quem está no comando? Quais seriam os segredos obscuros que Dante Wallace guarda em sua sala?

Eu estava disposta a descobrir, mas eu não sabia como. Eu só tinha teorias e possibilidades.

Se o quarto de Benjamin era no nível 6, eu só podia teorizar que o escritório de Dante também poderia ser lá. Mas como eu chegaria até ele? Eu ao menos sabia se voltaria a ter a visita de Benjamin.

No final, ele estava mesmo certo em dizer que me deu um propósito para não enlouquecer, pois agora eu só consigo pensar em planos para entrar naquele escritório e descobrir o que diabos eu estava fazendo ali e onde meus amigos estavam.

Sim, eles podiam estar mortos, mas eu confiaria no que meus olhos veem. Benjamin me aconselhou a não confiar em ninguém e estou disposta a seguir esse conselho.

Decidi que se eu iria mesmo acionar esse plano, estava na hora de começar a plantar os cultivos. Correr não adianta. Preciso dar passinhos de bebês agora e não ser pega de jeito nenhum.

Por isso que quando Maya e seus dois seguranças me buscam naquela madrugada, eu os acompanho como sempre faço. Os caras liberam o caminho para o banheiro e nós duas entramos.

Maya estica a bolsinha com produtos lá dentro, como sabão, esponja, pasta e escova de dentes, gilete e essas coisas de higiene pessoal. Eu aceito e falo a primeira palavra para ela:

— Sou Rayna — ela se assusta com a minha voz, pois nunca precisamos trocar nenhum tipo de falácia.

Mais um motivo para eu ir com calma, não podia deixar espaços vazios para serem completados com dúvida. Não importava se ela estava do lado de Benjamin ou Dante, eu não sabia exatamente quais especificações esses lados protegiam.

— Desculpa por ter apontado aquela arma pra você — forcei um sorriso simpático sair.

Maya tentou replicar a minha ação, mas ela acabou fazendo uma careta e para disfarçar, indicou sutilmente o chuveiro para mim.

Percebi naquele momento a forma como sua pele do rosto estava avermelhada, quase como se tivesse se queimado levemente em algum lugar.

Comecei a me despir bem em sua frente, seguindo o caminho traçado em minha mente por todos esses dias.

— E obrigada pela comida — ela aceitou o agradecimento com a cabeça e apenas forcei o suspiro que já ia sair da minha boca, sair com mais pesar.

Dou-lhe as costas e ligo o chuveiro. Tomei o meu banho o mais rápido que eu consegui, sabendo bem que eu tinha tempo e que ele estava passando.

O chuveiro foi desligado cinco minutos depois, comigo pensando como é que eu irei carregar essa conversa. Minha mente me levou para todos os olhares ressentidos dela para mim.

Eu não sabia o motivo, mas sabia que não estava delirando e que poderia usar ao meu favor.

— Tem uma garota. Ela teria adorado isso aqui — Maya olhou levemente por cima do seu ombro, fingi que não percebi. — Na real, acho que todos meus amigos teriam gostado. Você provavelmente gostaria deles também.

Ela saiu de sua posição de costas para mim pra ir até a porta. Sei que foi uma forma de me apressar, mas também foi o seu jeito de se mexer nervosamente sem me mostrar.

Maya era esperta, mas eu estava desesperada e meu desespero, moído com a esperança, me tornava mais arisca.

— Como funciona as coisas aqui? — Sequei meus cabelos com a toalha menor, já vestida. — Sei sobre os níveis, Benjamin me contou um pouco sobre.

Maya arriscou um olhar fraco em minha direção, sua mão cobria a outra, seus lábios prensados. Tentei ser realmente indiferente quando dei de ombros e falei:

— Tudo bem se não quiser me falar, eu entendo. Só queria não ficar tanto no escuro quando fosse falar com o Presidente — larguei a toalhinha e dei as costas a ela, pronta para escovar meus dentes.

— Conversar com ele? — ela repetiu e agradeci a minha escolha de escovar os dentes agora, pois me impediu de sorrir. — O que você quer conversar com o Presidente?

Aumentei a sua fome por respostas no tempo que usei para terminar de escovar os dentes, enxaguar a boca e guardar os produtos usados.

— Não vejo motivo para as minhas hospedagem atual. Sei que vi pouco, mas estou realmente disposta a participar dessa família — sorri dócil para ela enquanto estendia a bolsa de necessidades. — Quero dizer isso a ele. Acho que irá me ouvir e com um pouco de sorte, não terá mais que me escoltar pra um banho.

— Você não pode!

Não fingi quando recuei um passo com os olhos estreitados. Não sei o que eu estava esperando, mas certamente não era uma mini explosão de sua parte.

Maya pareceu perceber a forma como se alterou e abaixou seus ombros, talvez se martirizando pela última cena.

— Por que eu não posso, Maya? — Aproveitei a sua fragilidade.

Eu gostava da garota, ela parecia gentil e boa. Não queria usá-la, mas também não queria ficar no escuro.

— Por que eu não poderia ser uma de vocês? — Dei um passo cauteloso em sua direção. — Há algo que eu deva me prevenir antes de conversar com o Presidente? Acha melhor eu falar com o filho dele, o segundo no comando?

Seus olhos assustados voam para mim.

— Não. O Cage não — Maya avança e me surpreende de verdade quando pega as minhas mãos. — Não confie de jeito nenhum nele.

— Está me assustando, Maya — torci a minha cara, trabalhando no acúmulo de lágrimas. — Cage é o filho do Presidente? Por que eu não posso confiar nele?

— Porque ele está disposto a fazer de tudo pelo filho.

Franzi as sobrancelhas. O que esse tal de Cage precisaria fazer pelo seu filho, Benjamin? E onde eu entraria nessa história? Quanto mais eu cavava, mais dúvidas se formavam.

Infelizmente, não consegui aniquila-las ali, pois batidas firmes foram ouvidas. O nosso tempo acabou. Maya ajeitou a sua postura na defensiva e me forçou até a entrada, logo, até a sala escura.

Cage Wallace era filho de Dante Wallace e pai de Benjamin. Ok... pelo o que Maya disse, deu a entender que o Cage era o menos confiável entre os outros.

Eu devo manter distância dele. Anotado. Mas... entrando na linha de raciocínio que ele me quer aqui, presa, sem convívio com a sociedade, o que ele ganharia com isso?

Tudo bem que eu apontei uma arma pra o filho dele, mas isso não é motivo para me isolar de uma sociedade de forma tão fria assim.

"Apesar do que meu filho acha, meu neto e eu concordamos que não precisa ser algo desconfortável sua estadia aqui." Essas foram as exatas palavras de Dante Wallace quando ele veio me visitar pela primeira vez aqui.

Cage não acha que minha estadia precise ser boa. Ele me quis presa aqui e conforme as ações que foram passadas, acho que o que me mantém aqui é a sua opinião. Mas como sua palavra seria mais forte do que do Presidente?

Se Dante me queria mesmo em sua grande família, porque simplesmente não passar por cima da palavra do filho? Por que fazer o querer dele e me deixar presa?

Foi naquele momento que eu percebi que eu estava fazendo a pergunta errada por todo esse tempo. Não é o que eles querem de mim.

Minha mente reviveu o episódio com Benjamin. Ele estava se escondendo do próprio pai. Ele estava se revoltando naquele momento, mas por quê? Se era algo que Cage queria para o filho, por que o filho não estava na mesma página?

O que eu poderia ter que Benjamin precise? E se ele precisa mesmo, por que apenas não me falar? Por que agir como se seu pai fosse o inimigo?

Encaro minhas mãos. Mas o que eu... tenho. O Sangue Escuro. Só pode ser isso, certo? Não tenho mais nada de interessante. Mas por que Benjamin precisaria disso?

E se não fosse do sangue? E se fosse pelo remédio? Será que ele também era um Natblida e quer mudar esse traço genético? É por isso o grande interesse de Dante no medicamento? Só pode ser, não é?

Mas por que apenas não me soltar e me pedir? Tudo bem que eu não tenho aqui, mas eu poderia ir pegar e trazer. Depois eu saio e eles nunca mais precisam me ver de novo.

Nada disso faz sentido, mas eu também não tenho mais nada pra pensar ou teorizar.

Deito-me no chão e pelos próximos dias, eu espero. A segunda fase não dependia muito de mim.

O que aconteceu foi que eu esperava matar dois coelhos em uma cajadada só ao falar com Maya sobre minha possível conversa com o Presidente.

Se ela fosse mesmo alguma parceira de Benjamin, provavelmente ela o manteria informada e basicamente, para dar certo, ela precisa repassar essa informação para ele.

Então, ele esperará dois dias e como antes, vira conversar comigo, mas antes me levará para o seu quarto, no sexto andar.

Como tenho tanta certeza disso? Fácil. Quando ele veio me pegar na primeira vez, há alguns dias, Benjamin tomou mais cuidado que o necessário.

Podemos começar pela forma como ele encarava o corredor de cinco em cinco segundos enquanto tentava me convencer de segui-lo. Isso me fez pensar que ele não havia apenas enviado alguma ordem para os guardas da porta saírem, não. Ele veio me buscar na troca de turno dos guardas e por isso estava tão receoso sobre ser pego.

Então, tinha a porta. Se ele tivesse apenas ordenado aos guardas a saírem, ele não teria tomado tanto cuidado em fechar a porta com fechou ou em apagar a luz.

Se desse certo e Benjamin fosse vir me buscar, ele repetiria o mesmo processo e eu estava contando com isso.

Mas, caso ele não venha, então precisarei recorrer a outros processos menos elaborados. Como pedir diretamente para Maya uma reunião com ele. Não contarei o motivo, ela passará a mensagem para ele e Benjamin ficará tão curioso que não suportará a ideia de passar mais nenhum dia sem vir.

Como eu disse, não depende apenas de mim e saber disso já era o suficiente para não conseguir dormir direito nem mesmo com o lençol que eles me deram há alguns dias.

Minha mente metralhava possibilidades que poderia levar a um caminho muito errado. E se Benjamin estivesse pouco se fudendo para mim e estou que nem uma trouxa esperando por ele? Ou pior, e se com todo esse showzinho, ele quer a minha confiança apenas para me trair logo depois?

Como ele mesmo disse, eu não podia confiar nele. Benjamin poderia ser um meio para um fim, mas ainda assim era um meio duvidoso e que deveria ser tratado como inimigo.

Encarei o teto, o lençol servindo como travesseiro. A luz não se ligou nesse último tempo e para a minha mente danificada pela solidão, isso me servia como se fosse uma resposta; Benjamin soube que eu queria falar com o seu avô.

Então ou ele queria brincar comigo ou estava ocupado demais para lembrar de ligar a minha luz. Mas eu sabia que só havia passado um dia.

Com a luz apagada o dia inteiro, eu não tinha chances de saber em que período estávamos, mas com o tédio me assolando por todo esse tempo, eu percebi uma outra coisa; a troca de turnos.

Os guardas costumam andar muito por esses corredores, mas sempre acabam parando ao lado da minha porta. Eram feitas duas trocas de turnos ao dia.

O primeiro era no começo da madrugada e eu sabia disso porque tudo ficava muito silencioso quando a luz apagava e dentro de cinco minutos, já estavam andando por aquele corredor, passos diferentes do outro. Depois, quando a luz liga pela primeira vez. Os passos personalizados do primeiro volta e o outro, vai embora.

Isso acaba me dizendo quando é dia e quando é madrugada.

Fechei meus olhos por um curto período de tempo naquela madrugada, não aguentando muito ficar se remexendo. Mas eu não demorei muito tempo descordada, pulando do chão no susto pelo sonho.

Recuei até a parede, abraçando meus joelhos. Sonhei com Bellamy. Não foi um sonho ruim, mas foi irreal.

O sonho começou de boa, comigo na cela. Então a porta era aberta e ele estava lá, estendendo sua mão para mim e me puxando para fora de toda essa loucura.

Não sei qual foi o baque pior, se acordar e ver que nada fora real ou que eu estava sozinha e que a única que podia me salva era eu mesma.

O que me faz ficar surpresa, afinal? O que eu estava esperando? Eu nem sei se Bellamy continua vivo e simplesmente coloco minhas esperanças em ser salva? E mesmo que ele tivesse por aí, por que ele me procuraria?

Bellamy me prendeu e eu não devia esperar que ele me salvasse agora.

Talvez essa fosse a parte da minha mente tentando me proteger de uma possível idealização, mas era o que eu precisava fazer. Eu não podia parar pra pensar sobre o que eu sinto por ele. Se eu desacelerar agora, temo que nunca mais volte pra pista.

Então estarei moldando a minha raiva dele.

O barulho seguinte da porta faz meus ossos rangerem e eu erguer meu rosto dos joelhos. Sentada e encolhida no chão, não sei o que esperar enquanto a porta é aberta, mas sei o quanto fiquei satisfeita ao reconhecer Benjamin.

Diferente da última noite, ele estava com uma calça jeans, uma blusa social azulada e uma jaqueta por cima. Ele rodou o lugar inteiro com seus olhos antes de parar em mim.

Ele fez um gesto para que eu não falasse nada e me guiou para fora do quarto, reconstruindo os mesmos passos de antes.

Isso!

Logo estamos no quarto dele e Benjamin não espera nem por um segundo antes de de virar para mim e me analisar. Estou pensando demais nesse momento para travar agora, apesar de imaginar sua visita apenas amanhã, não vou dar pra trás.

O quanto antes, melhor. Certo?

Deixo meus ombros baixos e não sei dizer se quando engoli em seco em seguida foi pelo teatro ou pelo passo que ele deu na minha direção.

— Queria falar com o meu avô — afirmou com prepotência. Então, Maya o avisou. Eles eram amigos. — Por quê?

— Estou cansada disso tudo. Não tem o porquê de eu estar presa, sendo que posso ser uma de vocês. Eu quero ser.

Benjamin estuda a minha face com senso e meu coração desperta o medo de ser pega, mais meu suspiro acompanha o seu.

— As coisas não são tão simples, Rayna — ele nega, sentando na ponta de sua cama com os cotovelos nas coxas. — Tem coisas que... que fogem do nosso controle.

— Eu sei disso. Mas, Benjamin... — ele levanta seus olhos para me encarar —, estou cansada de não fazer mais parte de nada.

Ele ajeita sua postura e com as sobrancelhas levemente franzidas, eu consigo sua atenção:

— Como assim?

Dou de ombros, torcendo os lábios e indicando o lugar ao seu lado. Ele se acomoda mais para a ponta da cama pra que eu pudesse sentar ao seu lado.

— Era assim com meu povo, sabe? Eu não me sentia muito por dentro das coisas. Eu era apenas mais uma naquele acampamento — meu peito se apertou quando eu reconheci a verdade no meu tom. — Não era o meu lar, entende?

— E você quer que aqui seja? — Acenei com a cabeça, evitando seus olhos. — Ah, Rayna... — ele passa a palma da mão na testa.

— Por que você vê a ideia como um problema? — Não obtenho respostas, isso acaba me deixando um pouco tensa. — Talvez você pudesse conversar com o seu avô comigo. Talvez com você falando... não sei...

— Eu não posso.

— Por quê?

— Porque você... — vejo a forma como ele aperta os olhos e depois pega impulso para se levantar. — Eu disse para não entrar nessa.

— Não estou entrando — mantenho minha voz calma. — Apenas quero sair daquela cela.

— Quer um quarto? É isso? — Ele aponta. Seus movimentos indicam que ele está nervoso. Tenho que resolver isso antes que saia do controle. — Eu consigo um para você.

— Quero socializar!

— Posso ir te visitar mais vezes.

— Qual é, isso é sério?

Ele levanta sua mão direita para coçar seu braço esquerdo, enquanto vira-me as costas para respirar. O que diabos está acontecendo? Qual é o grande problema aqui?

Ele fica daquele jeito por um bom tempo. Essa conversa descontrolada não estava nos meus planos, por isso que eu não soube direito o que fazer quando ele disse para eu lhe esperar aqui e que ele iria tentar resolver.

— Apenas não saia daqui. Por favor — foi o que ele exclamou antes de bater à porta.

Eu não estava esperando que ficar sozinha em seu quarto fosse tão fácil, então apenas aproveitei o tempo que eu tinha.

O plano inicial era apenas sair por esse corredor procurando o escritório central, mas pensando um pouquinho mais, eu sabia que era muito arriscado.

Então comecei a fuçar as coisas de Benjamin. Por sorte, não demorei para achar um tipo diversificado de mapa. Ele apresentava 7 níveis e condizia o que cada um era.

Fiquei surpresa quando soube que, na verdade, o escritório de Dante era no sétimo nível. Eu teria que pegar o elevador.

Era muito arriscado sair daquele quarto sem aquele mapa, então apenas o dobrei em quatro e coloquei em meu bolso da calça de moletom cinza. O que me fazia lembrar que... se eu acabasse trombando com alguém, eles precisavam ter outra ideia do que eu estava vestindo.

Retiro rapidamente a minha blusa de alça e coloco uma das camisetas de Benjamin que encontrei em sua cômoda. Não me preocupo em buscar esconder os vestígios. Quando ele voltar, estarei muito longe daqui ou ao menos, com respostas.

Com uma rápida analisada no corredor, saio daquele quarto e fecho a porta delicadamente. Estudo mais uma vez o local antes de correr até o elevador e apertar o botão várias vezes.

A cada segundo que ele demorava para chegar, era uma nova gota de suor que se formava em minha testa. Passei minha mão embaixo do meu nariz e o elevador chegou.

As portas abriram. Alguém estava lá.

Meu corpo gelou, estanquei no lugar de uma forma tão vergonhosa que a pessoa levantou sua cabeça para me ver. Era um homem vestido com terno. Sua pele clara jazia algumas rugas e suas íris claras passaram pelo meu corpo antes de sorrir e passar o braço pela porta do elevador.

Sorri tensamente e agradeci pela atenção, enquanto entrava naquela caixa e ele saia.

Ok, ele não me reconheceu. Isso é bom.

Apertei no botão de número 7 e não demorou para a porta se fechar e a caixa descer. Demorou menos ainda para parar e eu chegar. Usei esse tempo para estudar em que parte do corredor eu ia sair e para onde eu tinha que ir.

Não sei se era uma questão de sorte ou não, mas o escritório de Dante não era muito longe. O elevador parou de frente a uma esquina de um corredor que parecia ser bem movimentada. Acho que era o Centro de Comando.

Abaixei minha cabeça e usei o caminho inverso, comecei a procurar pelos índices da porta.

Sinceramente, não foi muito difícil achá-la, era a única sala com portas duplas e de vidro. Mesmo aqui de fora, dava para ver os detalhes de lá de dentro. E não tinha ninguém.

Nenhum guarda cuidando da porta, nenhum Presidente ou sub-Presidente tomando o seu lugar de direito. Eu não podia parar de sentir que algo estava prestes a dar errado a qualquer momento, mas eu não podia recuar.

Olhei sobre o meu ombro antes de entrar, segurando a porta até que ela voltasse a se fechar. Então, fechei as cortinas e estudei o local. Era tudo tão... artificial. Livros, pinturas e uma espada samurai. Uma mesa bem no centro, recheada de papéis extra confidencial.

Dei uma corridinha até ela enquanto prendia meu cabelo em um coque nada elaborado mas que ficou super preso.

Conferi rapidamente os papéis com os meus olhos, descartando alguns na mesma hora e lendo outros que mostram ser decepcionantes antes de terminar. Vou para as gavetas embaixo da mesa. São pastas de pessoas.

As primeiras gavetas não são tão interessantes, com nomes que eu nem chego reconhecer. Mas aí chega a terceira e as coisas começam a esquentar dentro da minha caixa torácica.

Jasper Jordan
Status: Vivo.

Monty Green
Status: Vivo.

Clarke Griffin
Status: Viva.

Pisco uma terceira vez para ter certeza que eu não tô delirando. Porra. É isso. Eles estão vivos. Eles estão aqui? Estariam presos também? Porra, eu nem me preocupei em procurá-los por aquelas outras portas de ferro naquele corredor da cela.

Eu deveria voltar. Eles provavelmente estariam lá. Guardei todas as pastas no mesmo lugar e virei-me para dar uma última conferida na mesa. Pelo canto do meu olho, algo chamou a minha atenção.

Era uma poltrona confortável com uma mesinha redonda ao lado para apoiar o braço, mas não era isso que estava na minha visão. Era as duas pastas em cima daquela mesa.

Chego em pequenos passos lá e pego a primeira. Era a pasta de Benjamin. Lá tinha dados como nascimento, peso, status psicológico, QI. Tudo isso resumido em uma pequena folha, mas tinha uma informação, a última daquela folha, que rendeu o resto da pasta.

STATUS DE RADIAÇÃO:
Super Alta.

Franzo as sobrancelhas aos poucos, deixando meus olhos caírem pelas informações e depois, para a última pasta ali. Era a minha pasta.

Estiquei a mão para pega-la, mas alguma coisa se engatilhou atrás de mim. Sei que era uma arma. Meu primeiro instinto foi virar para a porta. Ela estava fechada.

— Eu falei, papai — disse a voz maléfica e meu estômago se revirou de medo. Como eu fui tão idiota? — Não podemos confiar em uma Natblida.

Virei para olhá-los nos olhos, mas algo foi disparado e acertou em meu pescoço. Fiz menção de tocar, mas meus joelhos foram mais rápidos em falhar. Cai de joelhos, as pastas caindo e minhas mãos enterrando-se nos tecidos da poltrona.

Tentei ficar acordada, mas logo meus braços adormeceram e eu estava completamente deitada. Meus olhos picaram duros.

A última coisa que eu vi foi a pasta de Benjamin caída ao meu lado, eu estava na última folha e bem no meio dela, escrito à mão, estava lá:

CURA:
Rayna Kane.

— Até logo, "Castanhas".

E eu caí.


Espero que estejam gostando.

Ok, só pra vocês saberem, a 2º temporada será rápida desse jeitinho mesmo porque, basicamente, Rayna não é como os outros. Vocês entenderam melhor no desenrolar. Mas esperem muita emoção

Desculpem-me pelos erro e não se esqueçam de interagir!!!

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