010 | Stomach wraper
010 | Envolvedor de estômago
RAYNA KANE
Meus olhos se abrem como fendas e agradeço por não ter nenhuma luz super iluminada para me fazer se retrair. Estava tudo escuro, em contra partida, um barulho do cão.
Estou deitada na maca onde Finn estava há pouco tempo, com uma ferida bem pior que a minha. Tentei me mexer, mas desisti quando percebi que tinha alguém inclinado sobre mim ao meu lado.
Para a minha surpresa, Bellamy Blake tinha seu rosto entre as mãos, olhos fechados e aparência meia cansada. Fecho os olhos e suspiro. Sinto o exato momento em que ele ergue a cabeça e começa a me analisar.
— Tá fazendo o que aqui, Blake? — Resmungo, ainda de olhos fechados.
— Você desmaiou e não acordou mais — respondeu ele de imediato e eu tombei minha cabeça, abrindo os olhos para encara-lo. — Achei que ia morrer.
— Pelo visto — tentei me sentar e ele se levantou do banco, me ajudando de longe, sem me tocar —, não foi esse o caso. Sua irmã já voltou? — Olhei para ele sobre o meu ombro.
Vi quando sua expressão se fechou. A raiva tomou o lugar da preocupação e seus olhos se estreitaram em câmera lenta, como se ele estivesse juntando algumas peças em sua cabeça.
— Você sabia. É claro — ele complementa, rindo de si mesmo. — Você concordou em mandá-la para lá?
— Precisávamos saber se tínhamos chances — ele negou com a cabeça incrédulo, colocando a mão em sua cintura. — Tinha gente morrendo, Bellamy.
— E minha irmã poderia ser uma delas, através de um terrestre que a faz de boba — ele jogou em minha cara, avançando ríspido. — Como pôde? — Cuspiu em minha cara.
— Bellamy... — chamo-o ao notar o quão chateado ele ficou com isso. Quase como se eu o tivesse traído pessoalmente. Traído a confiança dele. — Espera.
Ele me dispensa com um rápido aceno de mãos e vira as costas. Não chega muito longe. Logo está caindo pela tontura que o acerta. Corro para ajudá-lo a se sentar no chão sem perigo de bater a cabeça. Seu nariz começa a sangrar.
— Ah, Blake... — murmuro, tombando a cabeça para baixo. Já ele, encosta a sua na parede e começa a ficar muito ofegante. — Eu disse para você não ficar próximo, cara.
Ele abriu um meio sorriso, ainda de olhos fechados. Mas não comentou nada sobre isso, provavelmente lutando contra a sua raiva e dor.
— Afaste-se — ordenou, sem ar, tentando me empurrar para longe.
— Não é hora de ficar bravo comigo — revirei os olhos e busquei em volta, tentando achar alguém que possa me ajudar aqui.
— Acha que eu estou...- — ele tenta falar, mas começa aquela tosse seca que machuca toda a garganta.
— Aham, tá — debochei, me abaixando ao seu lado e passando o seu braço por meu ombro. — Jesus Cristo, como você é pesado — soltei em um ruído, forçando os meus pés no chão. — Bellamy, não solte seu peso em mim, por favor. Consegue andar?
Sua cabeça cai meio mole pra baixo, mas vejo-o se esforçando para ficar em alerta e assentir do jeito que conseguia.
— Ótimo. Sem pressa, isso... — "isso" nada, assim que demos um passo à frente, ele se desmanchou e tive que flexionar meu joelho para não cair. — Merda.
Não sei bem quem foi o ser abençoado que reconheceu o garoto todo escorado em meu corpo e veio me ajudar, mas agradeço muito de antemão. Levamos Blake para a área que estavam cuidando dos feridos e fico aliviada por encarar Octavia e ver que ela estava bem.
— Bell? — Ela o chama, correndo até a gente. — Não. Abram espaço! Ponham-no chão.
— Com calma — rui meus dentes ao fazer o esforço de colocá-lo no chão sem machuca-lo.
Ele tem um espasmo e começa a se engasga com o sangue saindo de sua boca. Imediatamente viramos-o de lado para que ele vomite todo o líquido. Ele volta a nos olhar com os seus olhos cheios de lágrimas.
— Ei, irmão mais velho — chamou Octávia, com a voz demonstrando medo puro.
— Estou com medo — ele relevou ofegante e com a boca manchada de seu sangue.
Por algum motivo que eu não soube reconhecer, meu peito se apertou como nunca senti antes e a vontade de chorar veio na hora. Eu não sabia o que estava acontecendo mas quando um instinto primitivo de pegar em sua mão chegou até mim, não tive tempo de pensar e apenas obedeci.
Ele me encarou sem mexer a cabeça e apertou a minha mão. Eu me sentei ao lado dele e trouxe meus joelhos até o meu peito, esticando seu braço para ficar encostado em cima dos meus joelhos e eu deitar por cima.
Sua pele estava gelada e eu sabia que era o efeito da doença. Bellamy tinha uma pele quente. Eu já senti ela contra a minha. Senti a sua palma em meu rosto.
Fechei os olhos ao ouvir ele se desculpando com sua irmã pela briga que os dois tiveram naquele dia. Bellamy começou a dormir e Octavia e eu ficamos monitorando sua respiração, as duas portando do mesmo medo. Ela com mais intensidade, por ser seu irmão.
Até que mais pessoas começaram a vomitar e passar mal, alguns até piorando e não aguentando. Ela não parecia afetada com aquilo. Eles precisavam de sua ajuda.
— Pode ir — sussurrei para ela e seus olhos me encararam, ela estava morrendo de medo pelo irmão.
Suas íris recuaram para onde minhas mãos se entrelaçaram com a de seu irmão e ela franziu as sobrancelhas.
Mas não discutiu. Não era hora para isso.
— Rayna? — Ela me chamou após se levantar e dar três passos para longe. Ergui a minha cabeça. — Fico feliz que esteja bem.
— Conseguiu a cura? — Perguntei, esperançosa. Eu sabia que não, seria a primeira coisa que ela faria para ajudar Bellamy.
Octavia negou e abaixou a cabeça. Encarou por mais alguns segundos nossas mãos e virou as costas. Meus olhos se voltaram para a barriga do jovem que subia e descia, denunciando que ele estava vivo. Torci para que não mudasse.
Meus olhos se fecharam uma ou duas vezes,
mas eu não demorei para despertar-me do sono, vendo Bellamy preso no seu.
— Ele está bem? — Perguntou uma voz, me fazendo erguer a cabeça. Era Murphy segurando um pano branco e úmido. — Vi tudo o que houve. Achei melhor não me aproximar.
Anuo, soltando a mão de Bellamy com todo o cuidado do mundo, deixando-a em cima de seu peito. Pego Murphy olhando para a cena com uma sobrancelha arqueada, mas ele não comenta nada e estende o pano.
Encaro-o desconfiada.
— Vamos lá, pegue — ele inclina mais o pano. — Só quero retribuir o favor de mais cedo.
Ainda desconfiada, mas com o pensamento de que seria bom limpar todo aquele sangue seco do rosto de Bellamy, recolhi o pano e Murphy apertou seus lábios um no outro, dando as costas ao perceber que não receberia um obrigada de mim.
Eu teria que estar sem opções. Quer saber, quase morrendo para agradecê-lo por algo.
Apertei mais o pano para retirar o excesso da água e comecei a limpar o rosto do homem que dormia relaxado. Nunca o vi desse jeito, com a expressão serena. Ultimamente, se ele não está me irritando, está preocupado demais com esse acampamento para tirar um tempo pra si.
Acho que ele deveria fazer mais isso.
Quero dizer... é para isso que servem dois líderes, certo? Claro que Bellamy e Clarke são dois lados de uma moeda, mas os dois não precisam carregar um mundo nas costas. Não sozinhos. Eles poderiam fazer turnos, sei lá.
Mas o que é que estou pensando? Rio de mim mesma e passo uma parte do pano que está limpa pelos lábios de Bellamy, onde tinha mais sangue. Um pensamento que era para ser puro e sem constragimentos vira contra mim e começo a lembrar do que houve entre a gente.
O beijo.
Se eu fechar meus olhos, ainda posso sentir seus lábios nos meus, duros como pedras chocando-se uma nas outras. Um sentimento ou sensação, sei lá, novo para os dois.
Naquele momento, foi a primeira vez que não compartilhamos raiva. Mas também não sei dizer o que poderia ser aquilo.
Talvez tenha sido por isso que ignorei tanto. Soltei um suspiro ao notar meus pensamentos e terminei de limpa-lo, jogando o pano no chão ao seu lado e abaixando a cabeça, tentando entender algo a mais do que estava acontecendo aqui.
Não pensava que descer até a Terra, respirar um ar não poluente, seria tão complicado.
Sua agitação me desperta e eu recuo para trás, ainda sentada. Bellamy abre os olhos e os estreita para conseguir uma visão melhor. Sua cabeça tomba para o meu lado depois de um tempo que ele usa para arrumar seus pensamentos e ele parece surpreso por eu ainda estar aqui.
— Déjà vu, huh? — Tento descontrair e ele até tenta rir, mas sua garganta está seca, então sai um ruído.
Me levanto para pegar um pouco de água para ele e quando volto, ele já está sentado no colchão feito de lençóis grossos.
— Aqui, pegue — estendi para ele, me sentando ao seu lado. — Vai precisar se hidratar.
— Você não morreu — ele comentou com a voz escondida pela roquidão após beber um pouco d'água.
— E nem você — ponderei, olhando para ele e apertando os lábios como um conforto. — É alguma coisa, não?
Bellamy conecta suas íris na minha e começa a assentir sem desviar os olhos, me causando uma breve sensação na boca do estômago. Seu olhar se perde em suas mãos e parece estar procurando algum vislumbre do real.
— Rayna, olha...
Sua fala é interrompida por Clarke dispensando Murphy que estava se aproximando e depois me pedindo para lhe dar um tempo com Bellamy. Eu assenti e mandei uma indireta de que ele precisava descansar, apesar de ter ficado a noite toda dormindo.
Ao sair da base, a luz forte de um amanhecer acaba me cegando e por instinto, coloco a mão em frente ao rosto para criar uma sombra e eu conseguir enxergar.
Parecia que ninguém dali havia dormido devidamente naquela noite, alguns preocupados com os doentes e outros, sendo os doentes.
Minha pele se arrepiou, fazendo-me notar que eu só usava a minha blusa de alça branca que agora estava meio suja com sangue e terra. Sem contar em alguns buracos por ela. Rio comigo mesma e nego com a cabeça. Essa era a minha última blusa. Vou ver com Aspen, talvez ele possa me emprestar alguma.
Vou determinadamente em direção a barraca que Aspen estava dividindo com Finn, mas não encontro ninguém. Decido ir atrás de Raven em sua barraca que não tinha nenhuma cama, apenas ferramentas para construir mais balas e outras dezenas de coisas. Ela não estava lá.
Começo a me preocupar no momento em que ninguém sabe me dizer o que rolou. Dou uma rodinha para chegar até a nave, mas Bellamy e Clarke saem de lá antes que eu os intercepte.
Até mesmo o sentimento de recusa por não ter deixado Bellamy dormir se apaga entre a preocupação.
— Clarke — seus olhos avermelhados de uma noite sem dormir e dores me encaram enquanto eu dou uma corridinha até ela. — Sabe onde Aspen está?
— Não contou para ela? — Questionou Blake, encarando a loira com confusão e destreza.
Meu coração afunda no peito e sinto uma parte do meu cérebro me preparando para qualquer que seja a coisa ruim — porque só pode ser coisa ruim.
— Desculpe, Rayna — Clarke lamenta, coçando o meio das sobrancelhas. Sua atitude demonstra que ela havia mesmo esquecido. A garota suspira e começa a explicar.
Basicamente, quando mandamos Octavia para o encontro do terrestre, ela não conseguiu uma cura, mas não veio de mãos vazias. Veio com informações de que o nosso acampamento iria ser invadido ao amanhecer. Era meio óbvio, se eu fosse parar pra pensar.
Eles mandaram Murphy para infectar todos nós para quando eles chegarem aqui, tenha o trabalho apenas de esmagar o nosso crânio.
Finn deu a ideia de explodir a ponte que interceptava o nosso lado com o deles. Fiquei meio surpresa, levando em conta que o garoto é um pacifista, mas acho que isso não se aplica a momentos desesperadores.
Raven fez a bomba caseira com capacidade máxima de explodir uma ponte que sobreviveu a uma bomba nuclear que devastou o mundo. Mas ainda precisavam achar um jeito de explodir toda aquela pólvora e um tiro certeiro era o suficiente. É aí que Aspen entra.
O idiota se destacou pra caralho na arte de atirar. Ele era bom, tinha mira, conseguia manter a calma e não vacilava em momentos de indecisão.
— Precisava ser ele — disse-me Bellamy, com os lábios torcidos.
Acho que agora sei o que ele sentiu quando mandei sua irmã para o terrestre. Não é bem um ar de traição e nem a mesma coisa, já que são situações diferentes e Aspen nem vai precisar ficar de frente para um terrestre, mas... E se algo acontecer?
E então, aconteceu.
Uma explosão faz com que todos desse acampamento pare tudo o que estivesse fazendo e depositasse sua atenção para a fumaça negra que tinha tomado conta do céu há alguns quilômetros. Era a ponte.
Aspen conseguiu.
Um tempo depois, todos eles chegam no acampamento e são recebidos com aplausos. Eu — que ainda estava junto de Bellamy e Clarke, roendo as unhas de nervoso — não perco tempo e ultrapasso todo aquele espaço, batendo meu corpo contra o de Aspen antes mesmo que ele pudesse ter me notado.
Seu corpo recuou junto ao meu e quando a surpresa se esvaiu do seu corpo, ele circulou a minha cintura e encostou a testa em meu ombro, revelando seu cansaço com apenas uma arfada.
— Tá tudo bem? — Quis saber, me desvinculando do seu aperto o suficiente para conseguir analisar todo o seu rosto e depois seu corpo. — Você atirou? Oh, meu Deus, eu não acredito que não me disse.
— Eu estou bem. Sim, eu atirei. Meio que Jasper estava nervoso demais — manejou com a cabeça e eu sorri orgulhosa. — Você estava doente. Queria muito estar por você lá, desculpe. Mas Bellamy...
— Eu disse que precisava dele — o mencionado chega até a gente, me fazendo se afastar de Aspen para que os dois se cumprimentasse. Apenas um aceno de cabeça, já é alguma coisa. — Obrigada.
Pareceu doer, mas isso passaria. Sorri em direção de Aspen que me olhou de volta e sorriu também, revirando os olhos logo depois, se achando o maioral pelos aplausos.
Bellamy se afastou após olhar discretamente entre Aspen e eu.
Logo nos reunimos com os outros. Finn, após deixar Raven descansando em uma rede dentro da nave, veio nos explicar o que houve. Pelo jeito, a garota saiu escondida de todos com a lata de pólvora para fazer o trabalho todo sozinho. Ela é louca, só pode. Mas bem foda.
Não sei se eu faria isso.
O resto do dia foi comemoração por estarmos vivos, mas quando a noite caiu, lamentamos pelas pessoas que perdemos. Quatorze. 14 pessoas, 14 enterros, 14 filhos. Não sei se iríamos conseguir superar isso tão cedo, mas iríamos lutar até o fim pelas vidas que não puderam continuar sua jornada.
Minhas pernas estão no modo automática quando vou até Bellamy que estava sozinho em frente aos túmulos, mãos no bolso, olhar fixos no lugar em que cada corpo foi enterrado.
Parei ao seu lado em silêncio, sei que ele me notou, mas não acho que estávamos prontos para romper com aquela coisa por palavras bobas e sem sentido.
Eu não falei nada e ele também não. Mas eu notei tudo. Cada detalhe pequeno. A forma como ele trocou o peso de perna, como retirou suas mãos dos bolsos apenas para fechá-las em punhos e deixá-las caídas ao lado do corpo, seu olhar para estrelas...
Era uma vista bonita, mas eu sabia que era apenas pra impedir que seus sentimentos saíssem escorrendo pelos seus olhos.
Ele sentia. Bellamy sentia tanto que estava começando a transparecer. Fiquei triste pelo seu episódio, mas feliz por ele se deixar mostrar mesmo em minha presença. Mesmo sabendo que meus olhos não saíram de si todo esse tempo.
— Você é um ótimo líder, Blake — digo quando desvio meus olhos dele e anuo para mim mesma. Ele era mesmo. Tinha algo que muitos líderes não tinham.
Ele soltou uma risada de escárnio. Não levei pro pessoal, apenas o encarei em busca de respostas pela reação.
— Disse uma vez que eu era quem eu mais odiava — abaixo minha cabeça, envergonhada pelo passado vir à tona. Mas me impressiono por ter deixado essa marca nele. — Não vamos fingir que não estava falando de Jaha.
— Está certo — admito e seus olhos voam até os meus. Sua pele é iluminada pela luz natural e suas sardinhas no rosto me fazem o achar muito agradável. — Mas... eu estava errada. Você nunca poderia ser ele.
— Eu não consegui fazer nada por eles — Bellamy indagou, como para retrucar a minha fala.
Ele não apontou, mas eu sabia que ele estava falando dos que morreram.
— Mas pode fazer pelos que ficaram — rebati de forma rápida. — Isso é mais do que você pensa.
Bellamy me encarou de canto de olhos, cabeça abaixada e levemente inclinada. Sei que consegui entrar em sua mente, então senti que era o momento certo para vazar e deixá-lo sozinho. Ele merecia a privacidade.
Prensei meus lábios em sua direção e ele ficou encarando aquela ação por alguns segundos antes de desviar. Toquei levemente em seu ombro na hora de passar por ele para entrar no acampamento.
Esperava mesmo que ele não ficasse ali a noite toda.
(...)
Dois dias se passaram e acho que é uma boa notícia os terráqueos ainda não terem invadido. Mas sabíamos que era uma questão de tempo, eles iam vir com toda a sua potência, uma hora ou outra.
Mas enquanto não, trabalhávamos para prosperar o máximo que podíamos, mas os terrestres não pareciam ser os nossos únicos inimigos. Talvez houvesse um ser maior que odiasse a gente, já que tudo estava dando errado ultimamente.
A nossa comida se fora. Toda a carne que tínhamos caçado e armazenado, havia pegado fogo por um erro imbecil de ter muito lenha. Apesar disso, não dava tempo de ficar com raiva. Tínhamos que tomar uma decisão, pois, caso os terrestres viessem mesmo, não podíamos estar mortos de fome.
Clarke sabia disso e convenceu Bellamy a formar grupos para caças. Todos se animaram para participar, reconhecendo a fraqueza do nosso grupo e querendo ajudar com algo. Pensei em chamar a loira, mas ela parecia entretida demais com um adolescente que babava nela e Finn.
Eu não queria passar minhas próximas horas enterrada em drama, então fui atrás de Aspen. Ele estava de dupla com Bellamy.
A "amizade" deles estava me impressionando muito, apesar de eu não achar mesmo que seja algo com esse rótulo. Talvez algo que beneficiasse os dois no momento.
Não me sentia confortável em passar um tempo com Bellamy depois do que houve da última vez, mas Aspen estaria lá, então eu não tinha que ficar necessariamente colada com o Blake.
Saímos para a caça. Fora difícil achar animais em solo, parecia que eles podiam sentir quando era época de caça e se escondiam. Optamos, depois de um tempo no fracasso, a seguir em direção ao rio, com esperanças de ter alguns peixes.
Foi nesse momento em que Aspen se afastou um pouco para liderar o caminho, dizendo que ia muito naquele lugar para se banhar. Me senti preocupada com a revelação, mas não achei que seria o melhor momento para uma discussão.
Minha faca pesava em minha cintura e meus braços estavam relaxados ao lado do corpo, enquanto eu seguia os mesmos passos de Aspen, na brincadeira de tentar não fazer barulho. Totalmente alerta em tudo o que se passava a minha volta, eu soube quando os passos de Bellamy se igualaram aos meus, do meu lado.
— O que foi, Bellamy? — Quis ser direta ao perceber que ele queria falar algo.
— Queria agradecer por ontem — disse baixinho, os olhos pregados na direção que deveríamos seguir. Não posso dizer que não fiquei surpresa, eu não esperava mesmo. — Você foi legal.
— Eu fui sincera.
Notei ele acenando com a cabeça pela visão periférica, sem precisar mexer a cabeça para tal.
— E sobre o outro dia... — sua voz parecia neutra e até ele podia estar neutro. Não estou dizendo que fora algo demais para ele. — Me desculpe por ter te beijado daquele jeito.
Sinto minhas bochechas arderem com a menção direta do que aconteceu. É claro que eu penso, mas nunca disse em voz alta o que houve naquele dia. Torna as coisas mais reais.
— Tá tudo bem — dei de ombros.
— Sério?
— É — ergui a mão para tirar o suor de cima dos meus lábios. — Foi um erro, né? Não deveríamos ter feito aquilo — ele ficou quieto, me fazendo olhá-lo. Bellamy encarava o chão agora, as sobrancelhas levemente franzidas. — Blake?
— É, é — ele assentiu, o maxilar mais marcado. — Como quiser.
Me deixando bastante confusa com a reação, ele aperta o passo. Ainda pensando que esse tipo de lugar não é bom para nenhum tipo de drama, eu deixo que ele se feche consigo mesmo, conversando uma hora ou outra comigo ou Aspen.
A sorte parecia estar dando as caras pra gente e até que conseguimos bastantes peixes para colocar no balde e levar até o acampamento, já que estava quase anoitecendo e não seria muito bom sair por aí quase que desarmados, com a ameaça mais real do que nunca da invasão dos terrestres.
Fomos um dos últimos a chegar, perdendo apenas para Clarke, Finn e o outro adolescente que não haviam chegado ainda.
Colocamos tudo o que conseguimos encontrar em um canto só e enquanto alguns iam limpando os peixes, outros faziam o mesmo com esquilos e coelhos. Não encontramos muita coisa, mas tinha que ser o suficiente por hora.
— Você está se sentindo bem? — Aspen chegou até mim, as mãos limpas e o cabelo meio despenteado. Se sentou ao meu lado no tronco de galho e me encarou gentil. — Por que não descansa um pouco?
— Eu vou — assentimos com a cabeça juntos. — Mas preciso ver se Raven está bem primeiro e... — suspiro. — 'Cê sabe, preciso esperar Clarke chegar.
Aspen arqueou as sobrancelhas, uma mão em sua coxa direita, fazendo-o ficar levemente inclinado em minha direção.
— Desde quando é a segunda no comando?
— Não sou — digo de forma rápida e prática, até mesmo me assustando. — Você entendeu errado. Preciso saber se ela está bem. Estão demorando demais.
Ele murmurou um "aaa" com a cabeça e analisou um pouco a fogueira que brilhava bem no meio do acampamento, depois, as pessoas. Estavam todos tensos com a morte dos quatorze, ninguém sorria apenas por sorrir mais.
— Por que ficou tão assustada com a probabilidade de sua liderança? — Quando eu pensei que as perguntas tinham acabado, Aspen me lança essa. Eu não o encaro, estou observando meus pés. — Não me entenda mal, Bellamy e Clarke estão fazendo um ótimo trabalho. Mas você seria tão boa quanto eles.
Nego com a cabeça após sorrir de maneira debochada e olhar para Aspen com aquele olhar de: "sério que você disse isso?" e ele me lança um: "você sabe que sim".
Rimos juntos e fico feliz por ter algo normal no meio de todo o sufoco. Era bom saber que ainda podíamos ler um ao outro, mesmo depois de dois anos. Era muito para dois amigos que se viam todo dia.
— Eu vou ver como Raven está — soltei por soltar, respirando fundo e me colocando de pé.
— Você não me respondeu — Aspen me lembrou, apontando em minha direção depois que eu me afastei uns seis passos.
Fiz um gesto de desdém com as mãos que eu sabia que ele iria receber na brincadeira, não é como se eu tivesse desdenhado de verdade dele. Enfim, balanço a minha cabeça para afastar os pensamentos e entro na nave.
Raven não está lá. Ninguém sabe onde ela está. Me sinto preocupada imediatamente e vou até Aspen, mas ele não está mais no lugar em que eu deixei. Minha mente começa a se preocupar sobre ele ter saído para toma um banho naquele lago.
Calma, uma preocupação de cada vez.
— Murphy, você viu Raven por aí? — Cheguei ao garoto que limpava peixes. Eu não sabia desde quando ele tinha saído de prisioneiro para ajudante, mas eu não iria questionar agora. — Ela deveria estar descansando.
Murphy da um sorrisinho que eu não entendo muito, mas ele me responde que ela havia ido atrás de Bellamy na barraca. Mesmo com dúvidas me cercando sobre o assunto que ela teria com o imbecil do Blake, vou até lá.
Acho que Aspen tem razão, eu tenho que descansar. Vão me avisar quando Clarke chegar. Eu só preciso checar Raven primeiro. Não conversei muito com ela depois que...
Silêncio. Surpresa. Terror. Desconforto. Vergonha. Raiva?
São tantos sentimentos se batendo um no outro assim quando eu ultrapasso sem avisar para o lado de dentro da tenda de Bellamy que fico um tempo parada, encarando sem acreditar, presa naquele chão abaixo de mim.
Eles me percebem assim que eu entro, ela tinha acabado de se levantar daquela cama, completamente nua. Eu desviei meus olhos, claro, mas uma sensação estranha começou na boca do meu estômago e foi subindo bem devagar, de um jeito tão torturante que fiquei estacada no lugar, parecendo uma idiota.
Raven também estava envergonhada. Bellamy parecia envergonhado. Eu estava o triplo, mas não era só esse sentimento que predominava em meu peito.
— Rayna...
Era tão explosivo que eu ao menos soube distinguir quem estava me chamando. Eu apenas virei as costas e sai da tenda, segurando o meu coração que parecia prestes a pular do meu corpo e deixar um buraco vazio no meu peito.
Bellamy e Raven. Juntos.
A visão foi a personificação do inferno para mim. O pior? Eu realmente não sabia o porquê.
Espero que tenham gostado. Será que Rayna está com ciúmes, será? 🤔🤨
Desculpem por qualquer erro.
Não se esqueçam de interagir!!!
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