008 | Slaps and kisses

008 | Tapas e beijos
RAYNA KANE

— Ainda acho que o abrigo seria melhor.

Depois que os respingos de chuva começou a ficar mais furioso e impossível de suportar, começamos a correr atrás das nossas coisas e procurar alguma caverna.

Bellamy queria ficar no não-abrigo, por questão de cobertores e seus xodós barra armas. Estou começando a reconsiderar minha ideia dele ser um sociopata nato.

O que a sua cabecinha oca não pensou foi que além de ter goteiras no teto, as paredes serem úmidas e o chão molhado, ainda teríamos que fechar os olhos sentindo o cheiro de morte daquele lugar, sabendo que havia cadáveres ali.

— Não te obriguei a me seguir — me volto para ele que estava fazendo o que podia com os únicos lençóis que restavam em nossas mochilas.

Tentamos proteger de todas as formas essas mochilas, mais pelos lençóis do que pela comida que estava ali. E agora estamos molhados da cabeça aos pés e os lençóis estão úmidos.

A noite apenas começou e já sei que será aborrecível. Encontramos essa caverna a poucos metros do que aconteceu a briga contra aquele garoto, Dax.

Voltar para o acampamento nessa situação não é uma opção. Íamos levar com a gente as armas daquele abrigo e os cobertores.

E ainda precisávamos saber o que fazer com o corpo daquele pobre garoto. Apesar de, bom, ter tentado nos matar, ele ainda era um jovem menor de idade com pais na Arca, que irão descer apenas para descobrir que a Terra é um inferno e que seu filho morreu.

— É o meu máximo — indaga Bellamy, consertando sua postura e se afastando para ter uma visão melhor da cama improvisada.

Sobrou apenas um lençol para nos cobrirmos.

— Foi o que eu imaginei — murmurei, tentando não demonstrar a minha preocupação. Um vento passa pela caverna, arrepiando todos os meus pelos de frio. Cruzo os braços. — Vamos revezar.

Bellamy vira o rosto para me encarar e seus olhos escuros passam por todo o meu corpo molhado, tremendo dos pés a cabeça. Ele não estava muito diferente da minha situação com seus lábios tremendo.

— Iremos morrer de hipotermia antes de amanhecer — ele refutou, não como de costume, com malícia e apenas para me irritar.

Era um fato. Assim como ele, eu não apenas só tinha o conhecimento, como já podia sentir minha pele gélida.

— Dex não nos matou, mas o frio vai — esbravejo, tentando rir mas sai mais como um som desesperado por socorro. — Que legal.

— Merda — seu tom muda e ele leva as mãos para a parte de trás do seu pescoço para apertá-lo.

Quero rir da situação, mas meus lábios estão duros como pedras.

Bellamy, de cabeça baixa na mesma posição há um minuto, ergue a cabeça para me encarar e seus olhos se fecham em lamentação. Mas apenas por um segundo, pois logo ele está em minha frente, retirando sua jaqueta pesada e seus tênis.

— O que está fazendo, Bellamy? — Pergunto, choramingando pelo frio.

— Tire suas roupas.

— Oi?! — Me assusto tanto que até descruzo os braços. — Oh, meu Deus — murmuro desviando o olhar quando ele retira a camisa debaixo, revelando seu peitoral nu.

Ele treme de um jeito violento e está parecendo um louco se livrando de suas roupas.

— Calor corporal — ele diz rápido, desabotoando sua calça jeans. — Nossas roupas estão encharcadas. Estamos atraindo o frio.

— Ah, estou entendendo — ironizo. — Tire-as então, certeza que o frio irá sentir medo de tocar a sua pele — aumento o meu tom no final da frase por ele não me escutar e retirar as calças.

— Tire suas roupas, Rayna — ele diz sério, abraçando seu corpo seminu. — Essa é a nossa única chance.

Engulo em seco, sem saber o que pensar.

Eu estudei, sabia bem o que ele queria explicar com aquilo. Mas há partes do meu cérebro que não estão mais mandando comandos para o meu corpo. Essa parte é a que odeia Bellamy Blake por ter me colocado em uma cela sem pensar duas vezes.

Mas não estou fazendo isso para salvar a sua vida, farei pela minha. Isso irá me ajudar também.

Oh, meu Deus. Merda. Merda.

Movimento meus braços rápido mas parece que estou em câmera lenta com os olhos de Bellamy sobre mim, pressionando meus movimentos. Retiro a jaqueta que cai de maneira intensa no chão ao lado das roupas de Bellamy.

Usando apenas uma blusinha de alça, meus pelos se arqueiam e meu corpo treme.

Quando Bellamy e eu percebemos que não estou em câmera lenta e sim que meus movimentos estão lentos pelo frio, ele vem até mim rapidamente e antes de se ajoelhar a minha frente para retirar meus sapatos, Blake passa suas mãos pelos meus braços para me esquentar o suficiente para que eu retire minha blusa.

Suspiro pelo calor que suas mãos causam em minha pele fria e tento administrar meus movimentos. Retiro minha blusa pela cabeça e ajudo-o a retirar meus sapatos, ficando apenas com as minhas meias.

Ele levanta a cabeça para me encarar e dada a aproximação, quando ele respira, bate em minha barriga descoberta. Eu contraio o meu estômago, sentindo ele formigar.

Sem respostas para isso, seus dedos trêmulos e quentes tocam no zíper da minha calça, roçando em minha pele e me causando um conforto sem igual.

Morrendo de vergonha, mas muito mais de medo de morrer, deixo que ele abra a minha calça e abaixe pelas minhas pernas. Ele não me toca mais nesse caminho e eu apenas ergo meus pés, um de cada vez, para que ele retirasse.

Assim que estou com apenas minhas roupas íntimas, ele se levanta e ficamos um de frente para o outro. Ele coça a garganta e sai da minha frente, fazendo um gesto de cabeça para eu deitar naquela cama de lençóis.

Nenhum dos dois diz nada enquanto realiza a ação de se deitar um ao lado do outro, sem fazer nada de ínicio.

O lugar é tão pequeno que uma parte do meu corpo está sobre as pedras e terras do chão. Bellamy percebe isso, pois assim que ele cobre nossos corpos com a coberta, ele se ajeita no chão e toca em minha cintura por baixo do lençol, me trazendo para perto de si.

Os dois suspiram quando nossos peitos se encostam e é quando qualquer hesitação se esvai. Queremos mais daquele calor e, quando nos damos conta, minha cabeça está sobre o braço dele e nossos corpos estão cem por cento conectados.

— Isso é b-bom... — murmuro, sobre a minha respiração pesada, se acostumando com aquela posição.

O Blake assente com a cabeça, os olhos fechados de alívio.

Com a mão que está em minhas costas, ele começa um leve deslize com as pontas dos seus dedos e, de forma involuntária ou não, relaxo minha cabeça em seu peitoral. Nossas pernas se cruzam e quando vejo, não há nenhuma parte de nossos corpos que não se encostam e isso é tão agradável e acolhedor que penso em nunca mais sair.

Quando os dois relaxam mais com o calor coporal do outro, afrouxamos o nosso aperto, relaxando mais com o contato do outro e sem toda a tensão do ínicio.

— Bellamy? — Sussurro um tempo depois, ouvindo sua respiração se descompassar apenas por um segundo pelo ar quente da minha boca.

Tenho medo que ele já esteja dormindo, mas com a outra mão servindo de seu próprio travesseiro, ele resmunga de olhos fechados:

— Hum?

— O que vamos fazer com ele? — Continuo no modo sussurrar e os circulos em minhas costas começam novamente. — Com o Dex.

— Por enquanto, nada — ele me responde da mesma forma. — Temos que levar o quanto de armas e cobertores que conseguirmos. Depois, iremos formar uma equipe para pegar o resto e ai, levamos Dex de volta.

Me impresiono ao perceber que ele já havia pensado sobre isso e arquitetado tudo. Não digo mais nada por algum tempo, apenas ouvindo o seu coração acelerado pelo frio e a chuva bater forte lá fora.

— Tivemos que fazer aquilo, certo? — Questiono-o, sem levantar a cabeça para encará-lo. — Não tivemos outra saída?

— Hey — Bellamy cochicha e eu coloco meu queixo em cima do seu coração, encarando-o de baixo. Seus olhos, uma linha fina e intensa, me encaram. — Ele ia nos matar. Era ele ou nós.

Anuo com um movimento quase inexistente, mas por algum motivo, não volto a minha posição anterior com a cabeça. Continuo daquele jeitinho, encarando a face de Bellamy com sono ou frio.

Nessa altura do campeonato, eu não sabia se havia mesmo funcionado ou estavámos morrendo aos poucos, mas de forma confortável nos braços um do outro.

Mas após me ver encarando-o, Blake não volta a fechar os olhos. Ele me fita na mesma intensidade, suas mãos subindo das minhas costas para os meus ombros, meu pescoço e agora, para o canto da minha bochecha.

Posso ter chegado, facilmente, na fase de delirar, mas estou fixando seus detalhes em minha mente e analisando cada um deles. Seus cortes pela briga recente serve apenas para realçar mais ainda, marcando a maça da sua bochecha e o maxilar apertado.

Ele me analisa na mesma proporção, me queimando muito mais com seus olhos. É como uma brasa, crescendo entre nós dois agora e dada a necessidade de sentir tal elemento, nos aproximamos e nos desejamos porque essa chama é dentro da gente.

Bellamy inclina sua cabeça para a minha e cola nossas testas, me fazendo perceber o quanto seu peito sobe e desce embaixo da palma da minha mão e o quão desrregulada a minha respiração está.

Sua mão cola em minha bochecha e ele se aproxima mais, sem descolar nossas testas.

— Espere — sussurro, com seus lábios a centímetros dos meus. Ele para e abre os olhos, me encarando de pertinho. — Não faça isso.

— Você... não quer?

— Não faço a mínima ideia de como reagir depois, Bellamy — confesso a verdade, mas fugindo da pergunta ao mesmo tempo. — Vai ficar estranho e...

— Não tô pedindo explicações, Kane — ele me interrompe. — Se não quer, tudo bem.

Pressiono meus lábios e assinto, voltando a deitar com a cabeça em seu peito para fugir de sua expressão. Fecho os olhos em arrependimento quando sinto seus lábios tocarem o topo da minha cabeça e seus dedos voltarem a deslizar pelas minhas costas.

Por todo o tempo que eu não dormi, fiz mil cenários para voltar atrás. Mas assim que criei coragem para levantar um pouco minha cabeça, Bellamy já tinha seus olhos fechados, a expressão pacífica e a boca entreaberta.

Suspiro, decepcionada comigo e me viro, deixando minhas costas colada ao seu peitoral, na intenção de dormir logo.

Sei que Bellamy se remexeu naquele momento e se virou junto à mim, passando seu braço pelo meu estomâgo e me trazendo mais para perto, ainda assim, não criei coragem para nem abrir os olhos.

E foi assim que eu adormeci.

(...)

Amanheceu.

Enquanto íamos nos preparando para a caminhada de volta para o acampamento, não demos uma só palavra além do necessário. Acordamos da mesma forma que fomos dormir, agarrados como se fossêmos botes salva-vidas.

Eu não queria ser a primeira a acordar, então esperei um pouco para ver se ele acordava e, sei lá, se levantasse. Bellamy realmente acordou, mas em vez de se levantar e se vestir, ele começou um carinho em meus cabelos, na intenção de me acordar.

Não tive para onde fugir. Fingi uma leve sonolência e abri meus olhos, olhando sobre meus ombros para ele.

— Bom dia — ele me recepciona com um sorriso sem desgrudar os lábios. — Acho que ainda temos uns minutos antes de ter que levantar.

Anuo, devolvendo o sorriso e me virando de frente para ele.

— Acha que devíamos levantar? — Questionei, após a passagem dos minutos em silêncio.

— Espera um segundo — ele me pediu e me olhou. Seus dentes deslizaram pelo lábio inferior. — Seu corpo ainda está aquecendo o meu.

E naquele momento, minha mente estralou e aquela parte que eu deixei de lado ontem para não morrer, invadiu o comando do meu cérebro e me fez levantar no mesmo segundo, indo atrás das minhas peças de roupa.

— Ei... — Bellamy se apoia com os seus cotovelos no chão, o lençol escorregando do seu tronco e parando no final da sua cintura. — O que foi?

A partir daquele momento, começamos a nos preparar para voltar ao acampamento e agora, aqui estamos, segurando sacos sobre os ombros, refazendo nossos passos apagados pela chuva de ontem.

Logo avistamos o acampamento e os portões são abertos, permitindo a nossa entrada. Tinha um grupo reunido no centro, com a fogueira apagada, eles conversavam com o tom alto.

Bellamy não gostou de saber que o terrestre fugiu na bagunça de pessoas chapadas com a semente que todos ingeriu, mas não foi capaz de deixar sua entrada triunfal de lado.

— Que venham os terráqueos — ele chama a atenção de todos, que deixam a gente passar. — Temos tido medo deles por tempo demais. Por quê? Por causa de suas facas e lanças. Não sei vocês... mas estou cansado de sentir medo.

Ele vira a face para me encarar e assentimos um para o outro, retirando o conjunto de armas em nossos ombros, amarrados por uma corda.

Clarke, bem na nossa frente, encara estagnada todas as nossas conquistas.

— Isto são armas, certo? — Ela diz, após um tempo de indignação de alguns e maravilhas de outros. — Não brinquedos. E temos de estar preparados para entregá-las à guarda, quando chegar a nave.

O pessoal em volta concorda com a cabeça, não pensando duas vezes na possibilidade de vencer os terrestres.

— Mas, até lá — digo, dando um passo à frente —, elas vai nos ajudar a nos mantermos seguros.

— E há muito mais onde essas estavam — informa Blake. — Amanhã, começamos o treinamento. E, se os terráqueos vierem, estaremos prontos para lutar.

As pessoas vão se afastando aos poucos e os comparsas de Bellamy, ajudando-nos a carregar todas essas armas em uma tenda específica. Clarke fica para fazer uma outra coisa, mas assim que temos só nós dois na tenda, viro-me para encará-lo

— Então, decidiu ficar? — Cruzei os braços.

Bellamy olhou para baixo ao assentir com a cabeça, terminando de deixar a última arma com as outras.

— Não vou abandonar todos no meio do caminho. Se estamos juntos, é até o final.

Mordi a língua e sem deixar que ele percebesse, sorrio satisfeita.

— Sobre Jaha, você não precisa...

— Eu já me decidi sobre isso também. Clarke está preparando a reunião — concordo com a cabeça, admirando sua decisão no silêncio.

— Acho que foi a melhor decisão que você tomou até agora, Blake — soou sincera, mesmo que eu saiba o quão baixa é o nível de importância sobre o que eu acho.

Ele sorri e passa a mão pelos cabelos, caminhando para sair da tenda.

— A gente se vê daqui a pouco, então? — Ele para pra esperar minha resposta.

— Pra quê?

— Achei que ia querer ver ao vivo como você estava certa — ele dá de ombros, sorrindo daquele jeito malicioso e desafiador. — Mas se não quiser...

— Eu vou.

— É?

— É — concordo, compartilhando do mesmo sorriso. — Mas não ache estranho se eu te difamar mais.

Bellamy revira os olhos e empurra meus ombros para que eu saia da tenda.

Ele me guia até a tenda onde estava sendo realizada as ligações e ao adentrarmos, Clarke já estava retirando o fone e vindo em nossa direção.

Ela tentou aplacar a surpresa de que eu provavelmente iria ajudar nessa reunião enquanto explicava:

— Está conectado — olho na direção da mesa em que o computador estava, com a face do Chanceler Jaha. — Só precisam pegar os fones e... falar.

— Obrigada, Clarke — Bellamy agradeceu.

— Boa sorte — ela desejou, afagando meu ombro antes de dar o pé da tenda.

— Pronto? — Questionei, ainda parada. Bellamy apenas assente, como se pra si mesmo e se senta em uma das cadeiras.

Repito o seu gesto e conecto meu fone de ouvido. O olhar do Chanceler parece tomar um foco.

— Sr. Blake — começou ele, controlado. — Faz um bom tempo que quero falar com o senhor.

— Antes que comecem, eu... Quero me pronunciar sobre — tomo conta do rumo e continuo quando Jaha acena com a cabeça. — Não há mais ninguém que o odeie mais do que eu, senhor Jaha.

Bellamy se engasga ao meu lado, mas consegue disfarçar passando a mão pelos lábios.

— Seja objetiva, Srta. Kane.

— Sim, a Terra é perfeitamente habitável. Mas se não fosse por Bellamy e Clarke, teríamos morrido no momento em que cruzamos com os terrestres. Ele é um de nós agora e assim como os outros, merece uma segunda chance.

Sem mudar sua expressão, Jaha me responde imediatamente:

— Agradeço e admiro seu gesto de ajudá-lo, Rayna. Mas não é tão simples.

— Na verdade, é — eu continuo, cruzando minhas mãos em cima da mesa. Consigo sentir o olhar do acusado, mas não me deixo atingir. — Se sentencia-ló a morte, o senhor nunca saberá quem lhe quer morto e será uma questão de tempo até essa pessoa achar outro alguém que esteja disposto a atirar no senhor. Alguém com mira, dessa vez.

— Aí! — Bellamy se ofende e eu levanto uma das palmas de minha mão, sem desviar o olhar do Jaha.

Esse que se inclina mais para câmera e se assemelha com a minha posição, desviando seus olhos dos meus e encarando Bellamy.

— Bellamy Blake, está perdoado por seus crimes.

Sou incapaz de não sorrir satisfeita com isso. O resto da ligação é apenas sobre a política da revelação e a surpresa em si.

Logo o Chanceler desliga, totalmente desnorteado ao descobrir que era um de seus guardas que ele mais confiava.

Bellamy retira o seu fone enquanto eu me levanto e sem esperar que ele agradecesse, porque se ele fizer isso, eu juro que tenho uma colisão de conflitos. Saio e me afasto da tenda, procurando e achando bem rápido uma certa pessoa que eu tenho histórias pendentes.

Aspen estava entre Jasper e Monty, os três pareciam engajados na conversa em que estavam e apesar de me sentir mal por ter que interromper, faço mesmo assim porque preciso.

— Aspen — chamo sua atenção ao parar em frente ao trio. Ele levanta a sua cabeça e abre um sorriso. — A gente pode conversar?

Seu sorriso diminuiu um pouco, mas ainda assim ele pedi um segundo para os meninos que não demoraram para o liberar. Andamos por uns segundos, até achar um lugar privado o suficiente.

— Fiquei preocupado quando Clarke disse que era uma viagem de um dia e vocês não voltaram à noite — ele afirma e eu me coloco na sua frente.

— Foi... complicado — informo-o, procurando a forma que explicaria tudo. — Pode acreditar, foi uma longa noite.

Aspen concordou comigo com a cabeça e ficou um bom tempo analisando o meu corpo e, ao chegar no rosto, seus olhos foram diretamente para o canto do meu olho.

— O que foi isso? — Ele perguntou, estendendo a mão para tocar. Assim que o fez, me recolhi e ao levar os dedos para tocar naquele local, percebi o quão inchado parecia.

Minha mente me levou, de forma imediata, para o momento em que Dex me presenteou com uma cotovelada no rosto. Mas eu ainda não havia falado isso para Aspen, então ele presumiu o pior.

— Foi o Blake? — Sua voz saiu rouca e ele deu um passo à frente. — Eu vou matar aquele merdinha.

— Não foi o Bellamy. Foi o Dex — fui rápida em explicar antes que ele sumisse em um volto da minha frente.

— O Dex? — Concordei com a cabeça e comecei a explicar tudo o que houve nas últimas horas, inclusive que Bellamy me salvou. — Que loucura — ele disse, após ouvir tudo com atenção.

É claro, deixei de lado a parte em que eu dormi agarrada ao Blake naquela caverna, seminua. Não estou pronta para afirmar isso em voz alta e nem acho que Aspen está pronto para ouvir.

— Pois é. Mas não é por isso que lhe chamei — admiti.

— Estou ouvindo.

Troco o peso do meu corpo para outro pé e limpo o suor de cima dos meus lábios. Olho-o bem nos olhos, para que ele entenda tudo o que eu vou dizer e veja o quão sincera vou ser.

— Não acho que você me condenou, Aspen — neguei com a cabeça, já sentindo meus olhos queimarem ao ver a lembrança de ter falado aquilo. — Não acho mesmo. Mas eu estava nervosa e tinha acabado de encontrar Octavia e todos os sentimentos se juntarem e eu apenas... — encolhi meus ombros — explodi. Em você.

— Ray, eu entendo — Aspen me disse, com um suspiro.

— Não deveria entender — ele negou diante das minhas palavras, mas sustentei o que eu disse. — Não deveria, Asp. Fui má com você e na hora pareceu que foi para proteger o Blake, mas não foi.

— Tá tudo bem.

Deixo com que um suspiro saia dos meus lábios, mas não é de alívio.

— Não está tudo bem, O'Connor. Briga comigo, poxa — estendo o braço, querendo muito mais que uma reação compreensiva. — Me xinga e diga que eu fui uma vadia com você.

— Tá de brincadeira? — Ele me perguntou, olhando nos fundos dos meus olhos. — Eu não vou fazer nenhuma dessas coisas. Você está aqui, jurando para mim que está sendo sincera, não é? — Concordo imediatamente com a cabeça. — Bom... que bom. Então eu te perdoo.

— Sei lá, eu só... — puxo uma grande parte do meu cabelo para trás. — Só não quero que Bellamy estrague isso, que nós temos. Ele já estragou muita coisa.

Vou encarar Aspen, mas não sou eu quem ele está encarando. Ele está olhando sobre os meus ombros com um olhar retraído demais e, então, já sei o que irei encontrar se eu me virar. Quem.

— Bellamy... eu não...

O mencionado nega com a cabeça, me impedindo de continuar e passa por nós dois, indo na direção do portão e da parte de fora da floresta.

Meus olhos se voltam para Aspen que coçava a sua testa, provavelmente sem jeito pela situação.

— Merda — resmunguei para mim mesma e retirei o suor de cima dos meus lábios.

—  Vá atrás dele.

— O quê? — Volto-me para meu amigo, surpresa me corroendo.

— Olha só... — ele respira fundo, deixando as mãos cair ao lado do seu corpo. — Se ele te salvou mesmo do cretino que fez isso ai — Aspen apontou para o meu olho —, talvez ele não seja o monstro que estamos pintando.

E parece ser ridículo, mas é como se a minha mente estivesse esperando a confirmação de Aspen que iria ficar bem e não bravo, caso eu fosse atrás de Bellamy.

Corro na direção em que o Blake mais velho se foi, desejando que eu encontre-o no meio do caminho ou tenha alguma pista de onde ele possa estar.

Seja sorte ou não, encontrei-o no morro em que aconteceu a triste tragédia com Wells.

Bellamy estava de costas para mim quando parei de correr e fui me aproximando aos poucos para não o assustar. Ele estava em pé, com uma mão na sua cintura e a outra caída ao lado, sem nenhuma utilidade.

Ainda estou pensando em como me mostrar para ele, por isso que o susto é enorme quando ele começa a falar, já sabendo que estou aqui:

— Achei que estivéssemos superando isso — sua voz não continha nenhum sentimento e sem nenhuma expressão, me pego olhando para o seu rosto agora.

De frente para mim, ele consegue perceber que o som que eu solto da minha boca beira ao sarcasmo e incredulidade.

— Você me colocou na Prisão Juvenil — informei para ele porque parece que ele ainda não pegou. — Por dois anos e, quer saber? Tinha razão! — Afirmo, jogando meus braços para o ar. — Se eu não fosse filha de quem eu sou, teriam me flutuado ano passado, quando completei 18 anos. Por uma coisa que eu nem cometi.

— Eu precisava proteger minha irmã — ele apontou o dedo em minha direção, não gostando das verdades ditas em sua cara. — Você sabe disso.

— Sim, eu sei — concordo com sarcasmo. — Agora. Mas, caso eu morresse, não ia saber de mais nada. Você me condenou para a morte certa sem pensar duas vezes, porra!

— Mas que caralho, Rayna — ele leva as duas mãos para a cabeça —, você está viva, porra.

— Não graças a você — afirmei, negando com a cabeça com pesar.

Se instalou o silêncio no meio de nós, cada um com seus fardos e mentiras, se remoendo para falar as próximas palavras.

Estávamos em um lugar totalmente aberto, sendo beijados pelo sol e com uma distância segura um do outro, mas parecia que iríamos começar a sufocar a qualquer momento.

— Você nunca vai conseguir me perdoar, não é? — Ele me perguntou, olhando pela primeira vez no fundo dos meus olhos.

— Estou tentando —  disse a verdade, mas ele não acreditou. — Estou mesmo, Bellamy.

— Não, droga! — Ele discorda. — Você não tenta porra nenhuma. Você olha para mim e só vê a merda da pessoa que te colocou na prisão.

— Isso não é verdade. Eu vejo que você me salvou muitas vezes e...e, tipo... Caralho, eu acabei de te defender para o Chanceler.

Ele para de repente, negando com a cabeça e coçando o seu queixo. Eu sinceramente não sabia o porquê dele estar levando isso tão a sério, minha indiferença não deveria afetá-lo em nada.

Mas afeta e eu posso ver isso.

— Então está me perdoando? — Pergunta de forma irônica e, então, parece que a distância tinha diminuído e Bellamy estava há três passos de mim.

Sorri de forma nervosa com meio sorriso e recuei um passo.

— Por que está tão preocupado com isso?

— Eu... — ele estava, definitivamente, perto. Ele precisava se afastar, certo? — Rayna, eu...

Percebo o quão ridícula é essa discussão e decido que já está indo longe demais. Bellamy e eu não tínhamos motivo além do nosso ódio para se falar há poucos dias. Não iria mudar agora. Pouco importava se ele tinha uma falsa ilusão de que algo mudou entre a gente.

Não mudou. Certo?

Quero dizer, eu podia perdoa-lo, mas nada além disso. Certo?

Soltei um bufo em resposta ao seu silêncio absoluto e passei por ele para voltar pro acampamento, mas em uma ação impulsiva e ágil, ele segurou meu pulso e puxou meu corpo para si, fazendo com que nossos peitos colidissem em um baque só, que até mesmo ele se assustou.

Com um espaço menor do que três centímetros entre nossos corpos, ergo a minha cabeça para encarar Bellamy. Sua mão continuava firme em meu pulso e de forma nada irônica, esse contato era a única coisa que impedia que nossos corpos se colassem definitivamente.

Minhas íris colidiu com as suas da cor de caramelo e não pude deixar de notar suas sardas mais de perto. Lá estavam elas. Algo tão adorável que acaba se perdendo nas outras características brutas dele. Adorável? Eu quis dizer aceitável.

Tentei puxar o meu pulso para mim, mas ele aumentou o aperto e me encarou com raiva. Me senti em lados opostos, pois, de todos nossos encontros face a face, esse olhar vinha de mim.

Vê-lo com eles era algo novo, mas desafiador o suficiente para que eu não desvie. Ou talvez — algo que eu não queria admitir tanto assim —, eu esteja perdida nos milhares de detalhes que Bellamy podia ter mais de perto.

Um frio estranho em meu estômago se apossa de mim quando seu olhar desce pelo meu rosto, analisando-me tanto quanto eu estou o fazendo. Suas íris encaram meus lábios que acabam se entreabrindo e eu impeço o caminho que o ar estava começando a traçar até os meus pulmões.

— Bellamy... — ofeguei aos sussurros, não lutando para sair. — Devia se afastar.

— E se eu não quiser? — Retrucou no mesmo tom, os olhos subindo para os meus mais uma vez.

Seu tom é desafiador e acende algo dentro de mim, algo que quer explorar mais esses sentimentos, que quer se aproximar o suficiente para que eu consiga decifrar seu cheiro, que quer desfrutar de presença mais do que eu realmente o faria em sã consciência.

— Me desculpa — ele me pediu, inspirando de uma só vez o ar. Eu só conseguia me perguntar como diabos ele conseguia.

Franzi as sobrancelhas.

— Pelo o quê? — Foi um resquício de voz, pois eu já estava cansada de lutar contra.

A mão livre de Bellamy ergue até o meu rosto e retira uma pequena mecha rebelde da minha face, colocando-a atrás de minha orelha e aproveitando para deixar sua mão ali também, entre meus fios, o que foi mais que o suficiente para eu me arrepiar.

Era uma sensação nova e avassaladora. Encara-ló não me dava mais ódio. Por uma fração de segundos, eu sentia vontade de me aproximar mais.

Ele não deixou de notar a diferença que passou pelo meu rosto entre uma expressão e outra. E quando eu percebi, nossos narizes estavam se tocando e agora eu sabia exatamente o que ele cheirava; café e hortelã.

Pareceu que durou uma eternidade até ele murmurar um xingamento e terminar com a distância, reivindicando meus lábios para os seus. Não posso dizer que foi algo delicado e novo.

Foi novo porque nunca tínhamos testado isso antes — principalmente eu, com zero experiências amorosas. Mas também não foi delicado. Foi como se todo a raiva e o ódio que tivéssemos acumulado um do outro por todos esses anos, colidisse de uma vez só de uma forma que beneficiasse os dois.

Seus dedos exploraram mais meus fios e quando sua mão soltou o meu pulso e eu não parei, pelo contrário, apenas agarrei a camisa dele e o puxei mais para mim, tudo tornou-se muito mais selvagem e necessário.

Ele recuou sem descolar nossas bocas, mas deixando um espaço grande demais entre nossos corpos. Não durou muito tempo. Minhas costas bateram de forma grosseira em uma árvore e eu soltei seus lábios para ofegar em um misto de prazer e dor, mas ele não parou.

Bellamy aproveitou a oportunidade para explorar meu pescoço e contornar minha cintura, acariciando e apertando como se me odiasse.

Seus lábios eram macios e perigosos, o atrito aos meus era grosseiro e seu gosto era ardente. E eu sabia disso porque estava retribuindo. Eu estava retribuindo o beijo de Bellamy Blake.

E naquele momento, eu não sabia se era apenas um desejo de um corpo carnal que nunca teve contato nenhum com a parte amorosa ou era os conflitos entre todos os sentimentos que me pegaram de jeito nos últimos dias, mas retribui.

Naquele finalzinho de tarde, foi a primeira vez que Bellamy Blake me beijou.


Espero que tenham gostado do capítulo. Digam-me o que achou dele, pleaseeee

Não se esqueçam de interagir!!!

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