004 | Being hunted


004 | Sendo caçado
RAYNA KANE


Ao passarmos pelo portão improvisado que guardava o nosso acampamento, as pessoas começam a murmurar a nossa volta e o corpo que Bellamy carrega nos braços só aumenta suas questões e sussurros.

Meus olhos encontram, como um raio, Aspen rindo com um grupo ao seu lado, mas isso acaba quando seus olhos chegam até mim e o meu corpo sendo ajudado pela garota de cabelos cacheados.

— Ei, você está bem?

— Leve-a até a nave — pede Clarke para Aspen. — Vou ver o seu pé assim que acabar com Jasper.

— Não tenha pressa — grito, mas ela já entrou na nave.

Então, Octavia passa por mim como um furacão e cai ao lado do corpo coberto por um lençol amarronzado.

Meus olhos estudam aquela cena com confusão, até entender, por suas lágrimas, que Atom deveria ser importante pra ela. Sei que fiz o que fiz para que ele parasse de sentir tanta dor, mas ainda assim, meu peito se afunda.

Com a ajuda de Aspen, entro na nave e me sento em um dos bancos improvisados do chão. Aspen se ajoelha ao lado do meu pé machucado e começa a retirar o meu sapato para dar uma olhada.

— Foi a névoa ácida?

— Perderam alguém? — Pergunto, ao ter minha esperança de que não tivesse chegado até eles pisoteada.

— Não — suspiro de alívio.

— Eu acabei tropeçando enquanto corria.

— Você costumava correr bem — ele comenta, erguendo um pouco a minha calça para ver até onde ia o inchaço.

— Acho que dois anos sentada da nisso — era uma piada, mas ele não pareceu muito bem com isso. — Ei... sabe que eu não te culpo, não é? — Questiono, quase ouvindo seus pensamentos. — Asp.

— Era pra ter sido eu.

— Você teria sido flutuado. Além do mais, como conseguiu entrar nessa nave?

Ele não poderia estar preso, ele tem quase vinte anos. Se ele fosse pra prisão, teria sido flutuado em menos de um mês. Seus lábios se estendem e ele se contorce um pouco pra pegar algo no seu bolso.

Ele me entende um frasco branco.

— Tem mais de onde isso veio.

Hesitantemente, pego o frasco e abro, apenas para confirmar que eram as mesmas pílulas que eu costumava tomar na Arca. E ele só podia ter pego com uma pessoa.

— Marcus Kane me colocou na nave.


(...)

De ontem pra cá, houve muitas coisas para se preocupar. Começando pelos terrestres que atacaram mais uma vez o nosso acampamento, na sorrateira da noite. Ninguém se machucou. Ninguém, além de Wells Jaha.

Seu corpo foi encontrado nos limites, onde ele estava fazendo a guarda, sem vida. Enterramos-o e fizemos um pequeno funeral, com as únicas pessoas sendo Clarke, Octavia, Finn e Aspen.

Logo depois, Clarke pediu um tempo sozinha e a demos. Mas agora já se passou duas horas e, apesar de não nos conhecermos mais do que uma semana, ela me ajudou bastante com o meu pé.

— Viu a Clarke? — Parei um delinquente qualquer para questionar.

— Dá última vez, vi ela entrando na nave.

Agradeço pela ajuda e vou em direção ao local coberto. Assim que eu passo pelas cortinas, trombo diretamente com a Griffin.

— Clarke, estava te procurando.

— Me achou — disse ela, sem querer ser ignorante, mas o momento não permitiu que ela fosse tão gentil.

— Eu sinto muito pelo Wells — pego seus pulsos, afim de consola-la, mas acabo sentindo falta de algo em específico. — Onde está sua pulseira?

Ela olha na direção de Monty, que estava mexendo em algo; em sua pulseira.

— Monty precisava de uma pulseira funcionando — ela explica, recolhendo o pulso pra si.

— Mas, Clarke... Sua mãe vai te considerar morta.

— É temporário — responde, friamente.

Reconheço isso como uma despedida, então apenas assinto com a cabeça e volto a sair.

Não sei o que ela está sentindo, mas não vou me meter em suas decisões, não tenho nem autoridade para tal e muito menos intimidade. Mais tarde, descobriríamos que não resolveu em nada e que, na verdade, a situação piorou com todas as pulseiras soltas dos pulsos.

Me aproximo de um punhado de gente que estava carregando madeiras para a barricada/portão improvisado.

— Precisam de ajuda?

— Seria ótimo, obrigado.

Então, começo a ajudar levando tábuas, pedaços de pau ou de concreto, tudo para conseguirmos nos proteger ou termos alguma chance contra os terrestres.

Era um trabalho árduo, levar madeira para eles que montariam o portão com apenas peças de roupas rasgadas para segurar, alguns pregos sendo batidos com pedra e muitas outras coisas que tínhamos que ir na improvisação.

Mas quem diria que cem adolescente conseguiria com um trabalho de equipe em dia, eu não diria. E esse pensamento é por conta do maior babaca do acampamento: John Murphy.

— Nada de água até está seção estar levantada!

Ele não fazia nada, apenas resmungava ordens como se fosse o dono de tudo isso. Quando ele repreendeu mais uma pessoa por fazer uma pausa para beber água, foi o estopim para mim.

— O quê? — Ele pergunta, vendo meu olhar mortífero para ele. — O que está olhando, anarquia?

— Ah, nada — dou de ombros e me aproximo dele. O garoto repreendido por beber água vai embora. — Apenas o grande babaca covarde que você consegue ser. Como é, Murphy? Você já nasceu assim ou teve que tomar remédios demais para isso?

Seu rosto fez com que o arrependimento batesse em minha cara na mesma hora.

Eu sabia o ponto fraco dele e apertei, uma parte de mim se sente horrível por isso, eu jamais deveria zombar do motivo que levou uma pessoa mais que importante na sua vida para a morte, não deveria ser usado.

Mas depois dele gritar, bater, mijar nessas pessoas que estão ajudando o manter vivo, minha racionalidade e solidariedade se foi.

— Por que você não repete isso? — Indaga ele, a voz sem nenhum pingo de brincadeira, se aproximando de mim.

— Se afasta dele, Rayna!

O grito vem de trás e antes que eu pudesse virar pra olhar, essa pessoa toma a minha frente e empurra Murphy.

— Qual é o seu problema? — Ele questiona, achando graça na explosão de Clarke.

— Reconhece isto? — A loira ergue um pedaço de ferro, moldado em uma faca.

— É minha faca — ele tenta pegar. — Onde a encontrou?

— Onde a deixou cair, depois de matar Wells.

Todos murmuram e eu busca alguma resposta no meio daquela loucura. Bellamy, Octavia e Jasper haviam acabado de se juntar a loucura e eles sim pareciam ter a resposta.

— Onde eu o quê? — Seu sorriso foi embora e se aproximou da Griffin. — Os terráqueos mataram Wells, não eu.

— Sei o que você fez. E vai pagar por isso.

— É mesmo? — Murphy olha para algo atrás de mim. — Bellamy, acredita realmente nessa besteira?

O mencionado continua de braços cruzados, sem dar nenhuma resposta.

— Você ameaçou matá-lo — continua Clarke. — Todos ouvimos. Você odiava Wells.

— Muitos aqui odiavam Wells. O pai dele era o Chanceler que nos mandou para a cadeia.

— É, mas você foi o único que lutou com a faca com ele.

É. Mas não o matei, então.

— E tentou matar Jasper, também — Octavia contribuiu àquela conversa.

— Isso é ridículo. Não tenho que dar satisfação a vocês. Não tenho de dar satisfação a ninguém!

Murphy nos da as costas.

— Como é? — Pergunta Bellamy, estreitando seus olhos e fazendo o garoto parar.

Agora sim ele parecia preocupado com a situação.

— Bellamy, ouça, estou dizendo — ele se movimenta pra ficar na frente do amigo —, cara, não fui eu.

— Acharam os dedos dele no chão, com sua faca.

As próximas cenas passaram rápidas demais em minha vista. Clarke começou um discurso sobre o quanto a ideia de sociedade sem regras nos afundaria, e que teríamos que fazer justiça.

Mas as pessoas ao redor são criminosos, que, provavelmente nem se preocuparam em prestar atenção na aula de português sobre interpretação, então justiça para eles, remete a devolver no mesmo troco, ou seja, vingança.

Clarke tentou refutar e fiquei confusa sobre o seu propósito, uma hora jogava Murphy na fogueira e outra o defendia das pessoas que, agora, queriam sua cabeça.

De qualquer forma, nem mesmo ela pôde controlá-los dessa vez. Para atacarem Murphy foi uma questão de segundos depois e ninguém mais pôde impedir.

A única pessoa tentando era Clarke.

Não sabia se ainda era a surpresa do momento ou as minhas ideias que me fizeram ficar parada, vendo o ódio de quase a metade das pessoas sob apenas um garoto.
Um garoto estúpido, repugnante e nojento, sim! Mas que não merecia morrer sem um julgamento.

Meus pensamentos voltaram, junto com o movimento do meu corpo, quando a distância para a morte de Murphy era do pé de Bellamy até o caixote que o mantinha respirando.

Com uma corda enrolado no seu pescoço, agonizando, assustado e com pavor da morte, John Murphy nunca pareceu tão humano. Clarke tenta impedir, mais uma vez, a desnecessária morte, através de Bellamy que tem seu nome rugido por todos ao redor, procurando vingança apenas porque sim.

Eles nem gostavam do Wells.

— Bellamy — seu nome sai como um sussurro, meu corpo e pensamento destravando-se.

Mas era tarde demais. Bellamy já havia chutado a vida de Murphy. Depois, foi uma gritaria.

Felizes por Bellamy ter chutado, pela atitude revolucionária. Com Murphy se debatendo no ar, de mãos atadas, a única correndo por sua vida era Clarke.

— Parem! Está bem? — Todos nos viramos para a voz fina. — Murphy não matou Wells! — Charlotte grita se tremendo. — Fui eu.

— Meu Deus!

Esbugalho meus olhos, sem chances de processar as palavras, eu apenas recuo desacreditada, olhando a criança. Uma criança com aparência tão inocente há um dia, e agora, o motivo de um homem ter perdido sua vida.

Enquanto Murphy se recupera, no chão, aproveito a chance para recolher Charlotte até uma barraca mais próxima. Bellamy segue em minhas costas no mesmo minuto. Não estou defendendo sua atitude, mas isso não é uma coisa pra conversar com uma criança na frente de noventa e nove pessoas.

Me apoio na mesa improvisada e deixo meus olhos recair em Bellamy, que parecia estar meio sem rumo.

— Por quê, Charlotte? — É a sua reação.

Clarke e Finn entram na barraca.

— Só estava tentando matar meus demônios, como mandou.

— De que diabos ela está falando? — Esbraveja Clarke, confusa demais, com sentimentos demais.

— Ela me entendeu mal. Charlotte, não foi isso que eu disse.

Caramba.

Um homem foi morto por uma garota de treze anos, que leva tudo no literal da vida. Lá fora, Murphy gritava por vingança.

— Por favor, não deixe que me machuquem — ela implorou e meu peito deu alguns pulos estranhos.

— Se vocês tiverem alguma ideia brilhante, podem falar — Bellamy arregou, parecendo bastante desesperado. — Agora ficam quietos.

— Aqueles são seus seguidores, Bellamy — lembro-o.

— Isso não é culpa minha, e você sabe — ele aponta o dedo na minha cara, nervoso. — Se ela tivesse me dado ouvidos — agora aponta para Clarke —, os idiotas ainda estariam construído uma muralha.

— Quer construir uma sociedade, princesa? — Grita Murphy, lá fora. — Vamos construir uma sociedade. Tragam a menina.

— Não! Por favor, Bellamy.

— Charlotte — ele se inclina para ficar do tamanho dela —, vai dar tudo certo. Fique com eles.

Bellamy sai da barraca e todos nós nos olhamos, sem saber o que fazer agora. Charlotte pula em meu corpo e arrodeia minha cintura com seus braços, chorando.

— Eu estou com muito medo.

Com os braços contraídos para o meu corpo, olho sem esperança para Clarke e Finn. Eu não podia simplesmente empurrar a garota, mas... Meus pensamentos me traem para todas as vezes que Wells Jaha foi legal comigo e com todos aqui desse acampamento. Do quanto ele era bom e estava disposto a nos ajudar.

Não posso evitar de empurrar os ombros da garotinha delicadamente para longe de mim e lhe entregar apenas um sorriso. Um sorriso falso, mas a única coisa que poderia sair de mim naquele momento.

Ficamos ali por um tempo, ouvindo a discussão lá fora entre Bellamy e Murphy. As coisas começam esquentar após um silêncio decisivo.

— Vocês precisam ir — me viro para o casal. — Levem-a daqui, Murphy não vai parar até tê-la.

— E você? — Clarke pergunta, enquanto Finn chamava a garota para perto.

— Três pessoas já chama atenção, quatro é demais. Vou tentar dar um jeito daqui.

Clarke balança a cabeça e abre espaço, atrás da barraca, pra saírem.

— Ei, Clarke — ela para, inclinada para baixo. — Sinto muito ter que lhe colocar nessa situação.

Ela fica uns segundos com os olhos nos meus, até sua cabeça se mexer e ela seguir em frente. Respiro fundo e saio da tenda. Bellamy estava vindo em minha direção quando Murphy se aproximou-se por trás e acertou sua cabeça com um pedaço de pau.

— Filho da mãe! — Octavia tentou avançar, mas Jasper a puxou novamente e tomou um soco por isso.

— Venham, vamos pegar a menina.

Caio ao lado do corpo de Bellamy apagado e com mais força do que o esperasdo, viro-o para deitar-se de barriga para cima.

— Você! — Meu braço é puxado violentamente pelas pessoas que estavam do lado de Murphy. — Onde está aquela vadiazinha?

Encaro Murphy fumaçando de ódio.

— Responda!

—Senão o que? Vai me atacar pelas costas também? — Seus olhos mortais se lançam para o meu. — Vá em frente, Murphy.

Vejo seu maxilar se apertar antes dele soltar um grito de ódio e pedir para que seus companheiros o acompanhe. Aspen aparece empurrando as pessoas e depois, tenta chegar até mim, mas Murphy entra em sua frente. Os dois se encaram.

— Saia da minha frente, Murphy! — Aspen se estica por cima dos ombros dele e aponta para os meninos que me seguravam. — Soltem ela!

Murphy empurra Aspen, ele perde um pouco o sentido, mas não demora muito para se levantar e aniquilar Murphy com o seu olhar. Os dois ficaram naquela guerra até que Murphy soltasse um bufo e se afastasse. Sou largada no chão com nenhuma delicadeza e logo sinto Octavia vir ao meu encontro.

— Está tudo bem?

Olho-a, com a respiração presa no peito.

— Ajude-me a arrastar seu irmão para a tenda.

Octavia pega em um braço e eu pego no outro. Começamos a arrastar o corpo do homem até a tenda mais próxima, ignorando o caos que haviamos deixado do lado de fora com as pessoas que não estavam dentro dessa.

— Ele está bem?

— Está vivo — sou sincera, vendo a respiração lenta dele. — Preciso que vá pegar as coisas dele na tenda em que ele dorme — peço ao ver seu olhar aterrorizado na direção do irmão. — Agora, Oc!

Ela parece acordar e corre para fora.

De joelhos na frente daquela cama improvisada (como todo o resto), pego o único lençol a vista e rasgo um pedaço dele.

— Aqui — Octavia chega bem na hora. — Trouxe um pouco de água também.

— Ótimo.

Nós duas nos viramos quando o garoto começa a gemer, querendo se mexer.

— Bell — Octavia clama, mudando de posição. — Graças a Deus.

— Oc... O que... Charlotte!

— Ei, ei, ei — o impeço de fazer qualquer outro movimento. — Acho melhor você ficar parado, cara.

— Onde está Charlotte? — Ele pergunta, voltando a fechar os olhos de dor.

— Está bem. Está com Clarke e Finn. Agora, tente não se mexer para que eu possa analisar esse seu ferimento.

Após molhar o pano com água morna e retirar o excesso, inclino-me sob o seu corpo o máximo possível para verificar seu ferimento. Ao lado de sua cabeça, há poucos centímetros de sua orelha direita, o sangue já havia se secado e grudado em todo o seu cabelo.

Molho aquela região, apertando mais o pano e logo ouço a primeira reclamação dele. Não ligo no começo, mas quase no final, quando tinha terminado de limpar o ferimento e agora confirmava se havia sido algo sério, quando ele resmunga pela milésima vez sobre minha indelicadeza, eu perco a paciência:

— Pare de ser um bebê chorão, benny boo — dou um tapinha em sua orelha e ele se encolhe. — Para a minha infelicidade, Murphy não bateu forte o suficiente.

Octavia suspirou aliviada, já o irmão, pareceu ter ouvido o que tanto esperava e se levantou em um pulo.

— Eu disse que não foi forte o suficiente, mas não descartei a convução.

— Não vou ficar parado sem fazer nada enquanto há um sociopata querendo a cabeça de uma criança!

Ok, quando ele falava assim... sua possível convução deixava de ser uma opção tão grave.

— Tá — dei de ombros e Octavia arregalou os olhos em minha direção. — Deixe-me apenas pegar uma nova jaqueta.

— Você não vem comigo — ele resmunga como uma menininha mimada, me seguindo enquanto eu saia da tenda e ia até a minha.

— E você não vai sozinho — devolvi, retirando aquela jaqueta que eu estava e colocando uma nova por cima.

— Você vai me atrasar.

Suspirei e parei em sua frente, com uma expressão tediosa.

— Se encontrar Charlotte e, sei lá, ter um treco — movimentei minhas mãos em gestos expressivos —, alguém precisa continuar o trabalho por você.

Bellamy bufou e revirou os olhos, mas nada disse antes e nem depois de passar pela barreira do nosso acampamento comigo a sua sola. Ele não facilitou o meu trabalho, suas pernas eram maiores e sua resistência também, então eu praticamente tinha que correr para conseguir ficar em suas costas.

— Charlotte! — Ele grita.

— Fique quieto! — Repreendo, avançando em sua direção assustada e fazendo seu corpo bater em uma árvore.

— Quer encontrá-la ou não? — Ele pareceu acusar, inclinando sua cabeça.

— Lembra que temos um possível assassino a solta, Blake? — Franzi as sobrancelhas. — Sem dizer nos outros milhares de perigos que habita nessa floresta. Caso Charlotte esteja por aqui, todo esse perigo pode ir pra ela.

Ele pareceu entender minha explicação, talvez por o único barulho nesse lugar ter sido minha voz sussurrada ou pelo meu dedo indicador que insistia em bater em seu peitoral para dar mais credibilidade.

"Ok" ele siliba, com o maxilar trincado e eu ofego a procura de ar, enquanto me afastava de seu corpo e seguia um caminho na escuridão.

Meu jeito não estava dando muito certo, mas Bellamy não cogitou em continuar do jeito dele, o que já foi um alívio e tanto. Mas logo depois de uma longa viagem a pé no escuro, sendo cautelosa por onde ando e controlando a respiração de milhões, trombamos com uma figura pequena que se assusta com a abordagem do Blake.

— Vamos.

Começamos a correr ao ouvir a voz (vindo de longe) de Murphy, a procura da criança. Mas para a nossa surpresa, era ela quem estava relutante para seguir-nos.

— Me solta!

— Estou tentando... — ela se debate do aperto dele e ele a puxa para perto. — Estou tentando ajudar você.

— Eu não sou sua irmã! — Ela esbraveja. — Pare de me ajudar! — Isso pareceu ter causado algo nele, já que ele a soltou e ela correu. — Estou aqui!

— Qual é o seu problema? — Empurro ele e corro na direção da garotinha. — Quer que eles nos matem? — Ela arregala os olhos apavorada quando eu a agarro. — Pois é isso que vai acontecer.

— Rayna...

— Não! Ela não quer ir com eles? — Olho para Bellamy antes de voltar a focar em Charlotte. — Pois bem, saiba o que eles vão fazer com você. O que ele vai fazer com você. Murphy vai te matar, Charlotte, mas antes ele vai garantir que você sofra do mesmo jeito que ele sofreu. E não estou falando dos seus sentimentos. Está preparada para isso?

— Rayna!

— O quê?!

— Ela é só uma criança — sua voz parecia apelar de um jeito que eu nunca vi ele fazer.

— Uma criança que está afim de se matar, Bellamy. Que elas conheça as regras, então — sorrio sem graça e umedeço meus lábios. — Sabe o que é estrangulamento, Charlotte?

— Já chega — Bellamy puxa a criança das minhas mãos e a joga em cima de seu ombro. — Vamos embora.

Mas então ela grita, sem pudor algum, para que Murphy possa a encontrar. Seus gritos continuam, como se fosse a gente que tivesse a machucando, até chegarmos em uma rua sem saida; em um penhasco.

Quero dizer, teria saída se Murphy não tivesse chegado naquele momento com seus comparças.

— Bellamy! Rayna! — Ele segurava uma tocha. — Não podem lutar contra todos nós. Entregue-a.

Blake e eu nos olhamos e então damos um passo a frente de forma sicronizada.

— Talvez não, mas garantimos que levaremos alguns com a gente.

Na verdade, eu não garantia, mas não iria acabar com o filme do garoto no meio dessa jogada.

— Bellamy! Pare — Clarke chega pelas árvores, junto a Finn. — Isso foi longe demais — ela diz a Murphy. —Acalmem-se. Vamos falar sobre isto.

Murphy encara-me e depois a criança, que treme de medo. Ele então ataca Clarke e a coloca em frente ao seu corpo, com uma faca no pescoço.

— Estou farto de ouvir você falar.

— Solte-a! — Grita Finn com a respiração entre cortada.

— Para trás! Eu corto a garganta dela.

Charlotte grita.

Tento impedir, com apenas um olhar (burrice, eu sei), que Bellamy faça uma loucura nessa altura do campeonato, mas ele parecia pronto para atacar a qualquer momento.

Murphy, então, é covarde o suficiente para fazer um acordo com uma criança.

— Você vem comigo, agora. E eu a solto.

Clarke resmunga contra e isso parece apenas fazer com que ela lute para se entregar. Bellamy segura-a, até ela parar de se debater com um olhar de raiva e determinação.

— Não posso deixar mais nenhum de vocês se machucar — Charlotte murmura, olhando-me com lágrimas que faz com que meu estômago embrulhe. — Não por mim. Não depois do que fiz.

Encaro-a de sobrancelhas franzidas e ela encara-me quando eu dou um passo em sua direção, mas não consigo fazer nada além disso.

— Estava certa. Eu não tenho nenhuma noção de sobrevivência.

E contra todos, ela se joga do penhasco.

E eu sinto como se tivesse recebido um murro tão forte em meu estômago que eu até perdi o ar, pois cheguei a me curvar e abrir a boca a procura de algo a mais do que a culpa em meu peito.

Ouço gritarias, talvez esteja acontecendo alguma luta, mas eu jamais saberia, porque estou sentindo como se mais uma vez o mundo fosse retirado dos meus pés e eu tivesse flutuando, sem ar nos meus pulmões, sem vida na minha alma.

Charlotte... Cubro minha boca com as mãos, assustada com a realidade.

Atom. Charlotte.

Charlotte pulou remoendo suas palavras. Charlotte pulou por sua causa.

Quem diria que, no final, eu faria com que uma criança se sinta obrigada a lutar contra a vida.

(...)

A noite parecia ter esgotado muito antes de eu voltar para esse acampamento e ver as pessoas — que a poucas horas estavam pedindo a cabeça de um homem — envolta de uma fogueira alta e calorosa.

Não senti um pingo de vontade de sentir o calor, então me afastei do grupo que queria saber as novidades, do grupo que queria saber do Murphy e do que queria saber da criança.

Subi um pequeno morro afastado da barreira do acampamento, sabia o quão perigoso era e não me entendam mal, não virei uma suicida, mas realmente não acredito que o destino cagaria tanto na nossa cara ao ser capaz de enviar terrestres até mim e matar-me.

Ou uma criança que teve seus pais assassinados pelo meu pai.

A terra era maravilhosa e eu não mudei o meu jeito de pensar, apenas... Por que parece que aqui há mais descontrole e sofrimento?

Em poucos dias morando no solo, tivemos que lidar com um colega com uma lança no peito, Octavia sendo atacada por uma cobra do mar, a rebeldia estúpida de Bellamy e seus comparças, Wells sendo assassinado por uma criança de doze anos e a perseguição de Murphy.

Longe de mim dizer que as coisas eram mais fácil na Arca, até porque, eu estava do lado certo da hierarquia. Não posso nem imaginar o alivio de não ter que fugir de Aspen, poder viver sem temer algo como flutuação por ter nascido.

Mas também não diria que está sendo mais fácil na Terra.

— Achei você — olho sob o meu ombro e vejo Aspen se aproximar com um cantil. — Tá tudo bem? Me contaram sobre Charlotte e...

— Asp, não é um tópico que eu queira falar agora — falo baixo, tentando demonstrar-lhe o máximo.

— Claro — ele coça a garganta. — Só... lhe trouxe seu rémedio — Aspen se ajoelha ao meu lado e deposita o rémedio de coloração escura na palma da minha mão, junto com o cantil cheio de água.

Ah, claro.

O rémedio que salvou a sua vida.

Ainda é difícil acreditar que Marcus fez com que Aspen fosse um dos cem apenas para me entregar uma caixa cheia de frascos com esses comprimidos. Isso explica o porquê ele não tem a pulseira. Mas e eu?

— Não demora muito ai — é a última coisa que ele diz, antes de se colocar de pé e virar pra ir embora meio sem jeito.

Engulo o rémedio com uma pequena porção de água e não posso deixar de impedir o suspiro que irrompe do meu peito.

— E tudo fica muito mais claro — a voz no meio das árvores me assusta e ainda demora uns segundos até que a pessoa se revele. — Quem diria que os privilégios te seguiriam até aqui, princesa Kane.

Giro meus olhos e abaixo meus ombros, junto com a minha guarda. Não que eu não acredite que Bellamy poderia me matar, mas acredito que ele está tão cansado quanto eu desse dia.

— Você fala de privilégios — respondo-o, observando sua pele bronzeada acender com a luz do luar —, mas está aqui. Na Terra. Com seus vinte e... quantos anos? — Debocho.

— Não mais do que... — ele diz com dificuldade por estar subindo o morro e se jogando ao meu lado — você. Sente o cheiro de hipocrisia? — Sorri para mim.

— Estou confusa — continuo com o meu tom falso. — Esclareça-me como você entrou na nave, por favor.

— Sou o guarda encarregado por vocês.

— Acho que não — contrabato. — Prevendo o perigo, eles lhe dariam mais armas e com o cartucho cheio. E não quer que eu acredite mesmo que logo você, Bellamy Blake, irmão de Octavia Blake, foi encarregado pela nossa segurança, não é?

Ele não desiste do combate entre nossos olhos, mas também não é como se ele estivesse lutando com farpas, apenas está ali, pregando seus olhos nos meus enquanto o canto de seus lábios erguiam-se.

— Você é esperta, anarquia — reviro os olhos —, eu posso admitir isso, mas me sinto na obrigação de avisá-la o quão suicidas os inteligentes são.

Seus olhos parecem brilhar de êxtase quando ele abaixa os olhos lentamente para a área da minha mandibula apertada.

— Quanto tempo você acha que eles vão dar ao seu papai ao descobrir que ele enviou duas pessoas maiores de idade?

— Ele não te enviou — digo entre dentes.

— Não — maneia com a cabeça. — Ele te enviou e enviou Aspen.

Ele estava certo. Eu tinha 19 anos. Era para eu ter sido flutuada há um ano atrás, em vez disso, ganhei uma colega de cela e fui esquecida.

Engulo em seco e prendo a respiração quando inclino minha cabeça em sua direção para sussurrar:

— Já que estamos trocando conselhos... permita-me — ele umedece os lábios e olho para os meus. — Mantenha-se longe do meu caminho, Bellamy Blake.

Sua mão se ergue e seu polegar toca em meu queixo para erguer minha cabeça.

— Você que está no meu caminho, anarquia.

Contorço a cara e afasto meu rosto de sua mão, mas antes que eu pudesse voltar a encara-lo para dar alguma resposta, uma coisa no céu chama a minha imediata atenção.

Primeiro, a coisa é bonita demais para eu desviar o olhar e, depois, ela vira real e perto demais para que eu consiga respirar.

Bellamy — sussurro, sem voz e com as sobrancelhas franzidas, ele segue meu olhar.

— Vamos.

Bellamy se coloca de pé e eu o acompanho, aceitando sua ajuda para descer o morro naquele breu de escuridão e correndo de volta para o acampamento.

Se aquela coisa não estivesse em alta velocidade em nossa direção, não teríamos que estar em tanto alarme, mas estava e não era só a gente que estava em alerta. Bellamy corre até a sua barraca e eu procuro acalmar as pessoas ao redor que, em grande maioria, queria correr até o negócio desconhecido.

Mas o garoto consegue fazer muito mais que isso ao decretar que iríamos procurar apenas ao amanhecer. Entendo o seu conceito de perigo, mas se esperarmos muito e os terrestres encontrarem primeiro — considerando que o que está dentro daquela capsula nos ajuda —, iremos estar ferrados.

Em uma tentativa de acalmar mais uma adolescente ansiosa, vejo Clarke e Finn entrarem no acampamento e virem até mim.

— Vocês viram aquilo? — Pergunto antes que eles pudessem fazê-lo. — É da Arca, certo, Griffin? Só pode ser.

— Bem... — ela dá de ombros com um sorriso animado —, iremos descobrir. Pegue suas coisas e procure recrutas.

— Ah... sobre isso — coço minha testa e a vejo franzir o cenho. — Bellamy proibiu qualquer um de sair desse acampamento para ir atrás dessa coisa.

— O quê?

— É. Ele começou a se preocupar com todos de repente e... — paro quando algo soa em minha mente.

— Rayna? — Clarke dá um passo a frente, parecendo preocupada com o meu silêncio absoluto. — Tudo bem?

— Aquele filho da... — seguro-me até ter certeza e dou as costas para o casal, indo em direção a barraca que eu havia visto Bellamy sair da última vez.

— Não sabe bater, vadia?

Ergo minhas sobrancelhas, não tão surpresa por encontrar duas meninas na barraca que — agora com certeza — pertence do Blake.

— Eu rasgarei a barraca da próxima vez como aviso, pode deixar — respondo de forma ironica e a menina acordada e uma fera, sorri maldosa.

— Onde diabos está Bellamy? — Pergunta Clarke o que eu vim perguntar.

— Saiu, faz um tempinho.

— O equipamento sumiu — observa Finn.

— Aquele merdinha... Ele foi atrás da cápsula sozinho — viro para Clarke com a informação ao sairmos da tenda.

— Nós iremos atrás dele. Seja lá o que esteja dentro daquilo, ele quer.

Assinto e vejo ela ir se preparar para sair mais uma vez. Faria o mesmo se um corpo não tivesse estancado em minha frente.

— O que está acontecendo? — Pergunta Aspen, olhando ao redor. — Primeiro dizem que não iremos procurar a cápsula essa noite, agora estou vendo vocês se preparando para sair e nenhum sinal do merdinha do Blake.

— É uma longa história — pego seu braço. — E eu te conto no caminho, só me diga se você viu por onde Bellamy foi... — imploro, flexionando meus joelhos.

— Não vi.

— Que merda!

Passo a mão pela minha boca e meu queixo, querendo retirar o suor que me pertence.

— Mas... — encaro-o — vi quando Octavia saiu. Talvez ela tenha ido...

— Isso — me animo. — Vamos.

— E os outros?

— Eles nos alcançam — pego sua mão. — Bellamy está prestes a trair todos nós e eu não vou deixar que ele nos afunde.

Aspen intercala seu olhos entre os meus e assente, deixando ser puxado por mim para fora daquele acampamento.

Foi uma grande perseguição nessa floresta, tão grande que apenas encontramos os outros quando chegamos até a cápsula, onde Clarke ajudava uma garota com a testa rachada a descer.

Foi rápido, depois daí.

Ao confirmarmos o que Bellamy queria ali — um rádio —, nos separamos para ir atrás dele. Não tanto, já que a garota, chamada Raven, estava machucada e não queríamos que mais ninguém se ferisse.

O rádio era importante demais e torço muito para que Bellamy só tenha pegado ele para ouvir algumas músicas. Sem o rádio, mais de trezentas pessoas irão morrer hoje e, apesar de ter tanto ressentimento quanto qualquer aqui pela Arca, sei bem qual serão os escolhidos.

A luz do dia chegou na hora certa para nós e ficou muito mais fácil distinguir os barulhos, os passos e até mesmo as árvores. Talvez tenha sido ela, ou as horas na floresta, que fez com que a gente se batesse com o Blake nos próximos minutos.

— Isso é sério? — Questiono em um tom de voz alto e ele apenas da uma olhada rápida sob o ombro. — Qual é, Blake, achei que estivessemos nos acertando!?

— Dando um passeio pelo bosque, anarquía?

Abaixo meu sorriso irônico.

— Nem você pode ser tão horrível desse jeito — cuspo. — Tem noção do que acabou de fazer com trezentas pessoas? — Sussurro de um jeito pausado para ver se entrava logo na mente dele.

— Bellamy! — Finn corta o ar entre nós dois, empurrando o corpo do mais velho. — Onde está o rádio?

— Não faço ideia do que está falando — mente, devolvendo o empurrão.

Raven, Clarke e Aspen chegam ao meu lado.

— Bellamy Blake? — Raven Reyes se pronuncia, com um tom sabido. — Estão a sua procura lá!

— Cale a boca.

— Não, Raven, fale — o desafio. — Adoro histórias incriminadoras e cheias de suspense — levanto e abaixo minhas sobrancelhas em um êxtase fingido.

— Ele atirou no Chanceler Jaha — minha falsa diversão passa, pegando a surpresa no colo.

Aspen me olha assustado com a revelação. Não que não tivéssemos outros assassinos naquele acampamento, mas nenhum de um Chanceler.

— Uau... — suspiro com as peças se encaixando em minha cabeça.

— Por isso você tirou as pulseiras — interliga Clarke. — Precisava que todos pensassem que tínhamos morrido.

— E tudo aquilo de "o que quisermos"? — Aspen aparece na conversa, fazendo uma careta como se suas palavras fossem veneno. — Só se importava em salvar sua própria pele, não é mesmo, Bellamy?

O mencionado olha de cima abaixo para meu amigo e nos dá as costas, passando a mão no nariz.

— Pistoleiro! — Raven avança junto. — Onde está meu rádio?

— Saia da minha frente.

— Onde está?

— Eu deveria ter matado você — os dois param um em frente ao outro —, quando tive chance.

— É mesmo? Ora, estou bem aqui.

Bellamy a agarra pelo pescoço e pressiona seu corpo na árvore, com algo que eu acho que seja muito mais que um reflexo, Raven estica uma faca perto do rosto do agressor e repete com mais determinação:

— Onde está meu rádio?

— Certo — Clarke intervém. — Parem.

Os dois se soltam.

— Jaha merecia morrer — Bellamy indaga, voltando a dar as costas. — Todos vocês sabem disso.

— Não será ele que você terá assassinado, Bell — exclamo, fazendo questão de que ele lembre da irmã dele, que poderia ser uma das jovens que morrerá lá hoje.

— É, ele não é meu preferido, tampouco — diz Raven. — Mas ele não morreu.

Olho-a.

— O quê? — Sussurra o "pistoleiro", surpreso.

— Sua pontaria é péssima.

Solto um riso de desdém e todos olham para mim enquanto faço meus passos até Bellamy. Encaro-o divertidamente e dou dois tapinhas em seu ombro, passando por ele e seguindo meu caminho até o acampamento.

(...)

Após a descoberta que o rádio foi jogado no rio, a procura começou e não foi muito difícil achá-lo. Acho que devemos agradecer por ser um rio com pedras o suficiente para prendê-lo e não deixar a correnteza o levar.

Mas ainda assim, Raven não podia fazer nada com ele. Bellamy tinha o danificado o suficiente para conseguir arrumar antes que desse a hora das mortes lá em cima.

Então a nova ideia surgiu:

"E se... conseguíssemos um jeito de chamar a atenção deles?"

Isso tinha tudo pra dar certo, então começamos a construir os foguetes que soltavam fumaça vermelha do zero. Não me julguem pelo nome nada prático, eu não sou a Raven.

As horas de trabalhos se passaram e todos ajudaram, ninguém — além de Bellamy Blake — queria que inocentes dessem suas vidas para que os membros dos conselhos pudessem respirar mais um pouco.

E me peguei pensando em Marcus Kane e na fala de Bellamy.

Nessa altura do campeonato, eu nem deveria estar considerando algo que saísse da boca daquele... dele.

Mas eu pensei.

E se Marcus houvesse se metido mesmo em problema por ter colocado sua filha de dezenove anos em uma nave que era pra transportar apenas adolescente de dezessete? Não é um problema meu, eu sei, ele me abandonou há dois anos como se eu fosse descartável e deveria fazer o mesmo por ele nesse momento.

Mas é meu pai.

Apesar de tudo, quando os foguetes são lançados deixando resquícios de fumaças na coloração vermelha, pego-me pensando... torcendo para que Marcus Kane não esteja com problemas.

Encaro Aspen ao lado de Clarke, os dois conversando com sorrisos nos rostos e olhos brilhando pela esperança.

Quero mais daquilo. Mas a única coisa que eu consigo ao voltar pra mim, é perceber a presença ao meu lado.

— O que você quer, mercenário?

— Mercenário?

Desvio o olhar do céu para o encarar, espero que esteja conseguindo ultrapassar a barreira da minha mente e ele note que eu não sou tão besta assim.

— Elogiou minha inteligência mais cedo — respondo-o, passando a mão pelos meus lábios. — Sua aposta era que tudo se encaixaria em minha mente quanto tempo depois que eu descobrisse a sua armação? — Bellamy encara o céu e vejo seu pomo de Adão descer e subir. — Ou devo dizer... a armação de alguém?

— Fique fora disso, Rayna — ele diz com uma voz séria, se virando para mim.

— Você não é um guarda, Bellamy — sigo o seu movimento e nego com a cabeça. — Bastou uma simples conversa com alguém que havia sido preso recentemente pra saber. Você desceu o nível quando mandaram sua irmã para a prisão.

— Princesa Kane... — ele troca o peso de pé.

— O que quer dizer que você não teria como ter uma arma a sua posse — aponto. — Ok, mas vamos teorizar que você tenha conseguido roubar. Não teria tempo o suficiente para você atacar o Chanceler, o que eu devo adicionar que vive cheio de guardas, e entrar naquela nave.

Ele estreita seus olhos e trinca o maxilar.

— Você só foi parte de algum joguinho, não foi, Blake? — Me aproximo mais dele para ganhar a sua atenção. — Alguém lhe deu aquela arma com cartucho pela metade e lhe ofereceu salvar sua irmã pela morte de Jaha.

— É — ele ri de um jeito estranho, dando de ombros —, teoria massa, anarquia. Talvez você tenha talento para a escrita.

É a minha vez de estreitar os olhos e estudo suas reações.

O jeito como ele mexe no cabelo e desvia os olhos, usando a bela vista dos foguetes no céu para distrair-me e lhe dar tempo e espaço para pensar. Eu não fiz nenhuma aula de linguagem corporal, mas se eu não estiver certa dessa "teoria", eu estou muito próxima.

— Quer saber? — Chamo sua atenção. — Pela falta de guardas com o Chanceler...

— Não sabe se ele não tinha guardas.

— Agora eu sei — olho-o de cima a baixo. — Você teria sido parado por meio guarda, Bellamy. Chanceler Jaha estava sem a cavalaria, o que quer dizer que... A pessoa que está acima de você nessa, tem acesso total aos guardas.

— Já chega.

— Vamos lá... — tombo a cabeça —, diga-me quem quer a cabeça do Chanceler Jaha.

Bellamy abre a boca, murmura algo desconexo e volta a fechar, então ele dá um passo a frente, deixando com que nossos corpos quase se toquem e nossos rostos fiquem a centímetros de distância quando ele faz questão de se inclinar e sussurrar:

— Como eu disse... — faz uma expressão pensativo e depois olha para mim — inteligentes suicidas.

Quando ele se afasta, eu engulo em seco e o que desce... desce rasgando a minha garganta.

Raiva.

Não.

Suspiros.


Espero que estejam gostando e me desculpem pelos erros.

Não se esqueçam de interagir!!!

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