A semana passou rápido e logo chegou o dia tão aguardado por todos os moradores da cidade. Não fui encontrar Oliver naquela tarde, não conseguiria olhar em sua cara e mentir novamente. Sem falar que toda a cidade estava animada com o baile. Então, por onde se ia, tinha alguém falando sobre ele. Por isso fiquei ajudando vovô com a colheita, amava a tranquilidade que o campo nos trazia. Até que uma carruagem passou pelos portões.

- Estamos esperando alguém? - Perguntei para vovô, mas ele não respondeu. Fitava a carruagem com uma intensidade que estranhei. Quem poderia ser capaz de fazer vovô ficar emocionado? Me lembrei da carta. Deveria ser o visitante da Inglaterra.

- Eliza!

Ouvi alguém gritar e, quando me virei, vi vovó na porta dos fundos, me chamando com a mão.

Me despedi de vovô rapidamente e corri até a porta.

- Quem é, vovó?

- Uma visita importante - respondeu. Ela estava emocionada, seus olhos estavam cheios de água e sua mão estava sob seu coração. - Dalia já está a sua espera, vá trocar de roupa e desça para nos encontrar.

Subi a escada correndo e Dalia me esperava com um de meus vestidos novos. Ele era lindo, mas tinha um espartilho, que Dalia fazia questão de apertar até acabar com todo meu ar. Pelo menos me distraía da curiosidade em saber quem era nosso visitante. Era a primeira que receberíamos alguém em casa de nossa país natal e, pela reação de meus avós, essa pessoa era muito importante para eles.

Agradeci Dalia pela ajuda e sai apresada do quarto. Quando pisei no ultimo degrau da escada, eu o vi. Estava abraçando vovó, que não parava de chorar. E vovô estava ao seu lado com um imenso sorriso, algo que eu nunca tinha visto na vida.

Ele se separou de vovó e limpou carinhosamente o rosto dela. Foi quando ele olhou em minha direção e nossos olhos se encontraram. Ele estava me analisando e não fazia questão de esconder isso. Aproveitei e o analisei também, ele parecia muito com vovô. Talvez seja algum parente próximo, pensei. Pela sua estatura, diria que era um soldado. Era muito alto e com o corpo definido para ser um trabalhador comum e suas roupas pareciam simples de mais para ser era alguém da nobreza.

Ele se aproximou e vi que seus olhos estavam carregados de lágrimas.

- Olá... - disse, meio envergonhada. Isso nunca tinha me acontecido. Respirei fundo e desci o último degrau da escada, ficando de frente para ele.

- Jack, está é Eliza - vovó disse quando ele não me respondeu.

- Desculpe - murmurou, piscando os olhos e me estendeu a mão. - É um prazer conhece-la, senhorita.

Peguei sua mão estendida e o puxei para um abraço. Senti sua mão subir devagar até minhas costas e acabei rindo com sua timidez. Ele me apertou forte e começou a chorar forte.

- O que você é de vovô? - Indaguei, quando nos soltamos. - São tão parecidos.

- Nós...somos... - ele coçou a cabeça e encarou vovó, pedindo ajuda.

Não estava entendo nada.

- Ela já esta na idade de saber, Jack, está na hora de contarmos a verdade.

- Verdade? Que verdade? - Questionei, me afastando um pouco.

- Eu sou... - Ele se interrompeu e respirou fundo. - Sou seu pai, Eliza.

Descobrir que meu pai estava vivo foi um choque. Eu estava com apenas doze anos na época, não sabia o que fazer com aquela informação. Mas a ideia de finalmente ter um pai foi maior do que todos os outros pensamentos. Não parava de lhe perguntar coisas, queria recuperar todo o tempo perdido. Ele me ensinou muito e todo dia me contava uma de suas aventuras.

Me contou que a muito tempo atrás ele era um guarda real, mas acabou sendo afastado para trabalhar numa vila numa das fronteiras da Inglaterra. Lá ele aprendeu muito e passou grande parte da vida. Até que conseguiu ser promovido a general e após uma longa negociação, conseguiu um mês de folga para finalmente vir nos visitar.

Após o baile, soube que a família real e seus convidados tinham voltado para a capital. Nunca mais encontrei Oliver, achou que ele ficou chateado com minha mentira e não quis se despedir. Mas eu continuei indo até a árvore todos os dias, na esperança de ele aparecer.