CAPÍTULO 41
Dália Menezes
— Sempre soube! — Solto uma risada observando Chris fechar a porta do carro e dar a volta pra ir ao volante. Depois que ele senta e se dobra para me ajudar por o cinto continuo. — Mas é sempre bom acertar mais uma vez!
Chris começa a rir e abro o porta luvas para pegar o óculos de sol que deixo aqui, estamos no auge do sol, quase meio dia! Acabamos de sair do hospital, a consulta hoje foi mais longa que o normal e a cada dia os cuidados e preocupações aumentam assim como a dificuldade de mobilização! Minha capacidade para colocar uma calça? Não existe mais! Prender o cinto de segurança? Nem me contorcendo!
— Agora é oficial! Vamos ter mais uma menininha!! — Chris comemora e buzina para o ônibus que lhe deu passagem, está todo feliz! O sorriso e a risada não saem de seu rosto! — Mais uma gatinha para eu amar!
— Mais uma áurea para iluminar e colorir nossas vidas! — Massageio minha barriga e ela chuta, alegre e desperta desde cedo.
Continuamos conversando, rindo e comemorando até chegarmos na rua da escola, ainda sinto minha barriga doer toda vez que venho junto buscá-los mas eu vou superar!
— Olha lá! Os dois vindo. — Chris aponta para a minha janela, olho na direção e vejo os dois acenando até entrarem no banco de trás.
— Oiie mãe! Oii Chris! — Vinicius cumprimenta colocando o cinto.
— E então gente!? — Julia exclama colocando a cabeça entre os bancos. — É menino ou menina?
— Coloca o cinto, Julia. — Chris pede e assim que ela faz eu respondo.
— Uma menina! — Digo sorrindo e emocionada.
— Vou amar mais que a Julia. — Vinicius começa a provocação e escuto o resmungo de Julia logo em seguida, reviro os olhos.
— O quê?! Mãe, pai, olha o Vinicius aqui!! — Julia empurra o ombro do irmão e depois cruza os braços revoltada.
— Não vai começar, hein?! — Falo abrindo o video para entrar um vento. — Filho, não fale assim com a sua irmã.
— Olha, como hoje é um dia especial e estamos todos felizes, podiamos sair pra comer e comemorar. — Chris exclama mudando de assunto e diminui a velocidade ao chegarmos em um farol. — Hoje é sexta, tem aquela pizzaria perto do metrô que tem uns combos maneiros. — Ele para o carro e encara um por um. — O que acham?
— Você disse pizza!? — Eu e os gêmeos perguntamos como o corvo Jubileu, de um episódio de Pica-pau, Chris solta uma risada e o acompanhamos.
— Então está combinado, noite da pizza!!
Soltamos um Ehh, em comemoração com as mãos pra cima em vitória e sorrio, estou tão feliz! Minga família me completa cada dia mais!
ßāßā
Fecho a gaveta da cômoda no canto do quarto, é onde guardo documentos e coisas importantes para rápido acesso. Tinha aberto a procura do cartão de vacina dos gêmeos e achei uma coisa ainda mais valiosa!
— Olha gatinho, o que eu achei. — Falo andando até Christopher, deitado na cama.
Chegamos tem umas duas horas, eu vim tomar banho, os gêmeos estão na sala assistindo televisão e Chris tinha ido resolver um problema do escritório. Agora estamos prontos para o merecido descanso, sento do meu lado da cama com a ajuda de Chris que pergunta:
— O que você achou, amor?
O encaro sorrindo empolgada e balanço o álbum que montei com as nossas fotos de maiores lembranças. Ele ergue as sobrancelhas surpreso e chega mais perto; posiciono o álbum na coxa e abro, logo na primeira página eu vejo cinco fotos dos meus filhos com sete à onze anos de idade.
Sorrio emocionada, é tão lindo e trás tantas boas lembranças, que consigo visualizar cada uma delas!
A primeira foto é do dia que fomos fazer um piquenique no Parque Ibirapuera, era 2020 e eles tinham sete anos, deitados tranquilos sobre a toalha na grama. A segunda foi no ano seguinte, 2021 e eles tinham oito anos, eu quis refazer a foto do ano anterior e só mudou a posição mas ainda deitados sobre a toalha.
Na terceira foto, nós tinhamos ido na biblioteca Mário de Andrade na Consolação, em 2022 e eles tinham nove anos, estavam debruçados sobre o mesmo livro sobre dragões e seres fantásticos, ficaram lendo e lendo o mesmo livro durante as quase três horas que ficamos lá. Foi o dia mais silencioso e pacífico que já passamos juntos!
As duas últimas fotos são cada uma com eles individualmente; na de Julia ela tinha dez anos e os cabelos tinham começado a escurecer, teimou que queria fazer duas tranças, não conseguiu e como não para quieta nunca, ficou duas maria chiquinhas bagunçadas mas linda de qualquer forma com um vestido listrado em azul escuro e branco.
Na de Vinicius, ele tinha onze anos. Não fui eu que tirei a foto porque foi um dia que ele e Christopher saíram sozinhos, mas ele estava todo elegante para um dia nublado em São Paulo.
— Meus bebês sempre lindos, fofos e fotogênicos!! —Comento passando os dedos sobre as fotos.
— Realmente! E sempre muito unidos, né? — Chris concorda e aceno, é algo que amo neles dois, a parceria.
— Muito! Desde a época em que Vini descobriu sobre a irmã, nunca mais se largaram! — Balanço a cabeça afastando as cenas das duas piores semanas me vêm a mente. — A maioria das coisas, eles aprenderam juntos. Vinicius a ensinava e Julia alegrava o dia do irmão que sempre foi sozinho.
— Um completa o outro! — Christopher murmura e deita na cama de barriga pra cima, me apoio no colchão e deito apoiando a cabeça em sua barriga, estico os braços e passo a próxima página.
— Caramba, essas são antigas! — Dou risada olhando as quatro fotos, duas minha com Vinicius, uma minha com Julia e outra minha com a Bolhota filhote, logo que cheguei em São Paulo.
— Não acredito, que essa aqui é você! — Diz apontando para a foto em que eu e Vini estamos apoiados em um carro. Esse dia foi ótimo, foi logo que voltamos para o Brasil, depois do acidente de Fernando e de Julia despertar.
— Pior que é! — Confirmo e sorrio. — Foi depois que te deixei lá no México, aí pintei o cabelo de vários tons de roxo!
Vejo quando ele revira os olhos, detesta todas as vezes que nos separamos por culpa e teimosia minha, fazer o que? Eu sou complexa!!
Passo novamente a página e dessa vez são fotos só minha com Chris. Cinco fotos também, de épocas diversas de nossas vidas, desde o tempo que ainda morava no México e nos encontrávamos com os amigos para fazer maluquices de adolescentes! Eu e ele aproveitávamos para ficar nos beijando e com o tempo os beijos evoluíram até chegarmos a cama, no fim o nosso rolo sempre foi complicado!
— Não acredito! — Chris aponta justamente a foto que estávamos no parque, foi um amigo dele que tirou essa foto e me mandou, nós dois nos balanços da praça. — Olha só, o tamanho do meu cabelo! — Exclama ainda chocado pegando o álbum de minha mão. — Essa foto é uma relíquia!
— Exagerado!
— Lembro desse dia. — Começa e encara a foto mais um tempo lara confirmar e batuca o dedo na imagem. — Foi quando você me disse que não queria mais morar com seus pais. Me disse que ia pra bem longe e eu não acreditei. Só caiu a ficha quando vi você com a mala e a passagem só de ida na mão.
— Foi uma decisão difícil, deixar você e meu irmão pra trás...
— Tudo bem. Vamos continuar. — Chris desconversa e suspiro, ele indica outra foto, nós dois de óculos escuro. — Essa foto em que estou de boné, foi quando fomos no Rock in Rio, não é? — Pergunta sorrindo.
— Foi isso mesmo!! — Exclamo puxando o álbum pra ver mais de perto e depois devolvo. — Nossa! Eu amei ir no Rock in Rio! Temos que ir de novo!
— Com certeza! — Concorda. — Mas primeiro temos que esperar essa princesa nascer! — Sussurra colocando a mão em minha barriga.
— Ainda vamos fazer muitas coisas juntos, querido. — Completo e respiro fundo, daqui a pouco preciso mudar de posição. — Temos tempo!
Pego o álbum de sua mão e passo a página, me deparando outra vez com fotos só nossa.
— Nosso casamento!! —Murmuramos juntos, olho pra ele e sorrio com lágrimas nos olhos, foram dias lindos e felizes ao lado do meu advogato!
— O dia mais doido e feliz da minha vida!! — Seco as lágrimas e fungo emocionada. — Foi uma realização! Assim como o dia que conseguiu a guarda dos gêmeos pra mim.
— Esse foi o melhor dia pra mim, simplesmente inesquecível! — Se inclina para me beijar e retribuo da mesma forma. — Vai estar sempre guardado em minha memória!
— Na minha também, mas saiba que nossas mães querem nós casar de novo! — Aviso e me apoio no colchão para tentar levantar, minhas costas doem. — Logo depois que a bebê nascer.
— Já imaginava, as duas não desistem tão fácil assim! — Acaricia meus cabelos quando sento de vez na cama. — Como vai se chamar nossa bebê?
— O que você acha de, Samanta? — Ofereço um dos nomes que separei.
— Ah não! Samanta me lembra salamandra. — Resmunga e reviro os olhos, têm nada haver! — Que tal, Emily?
— Emily? — Testo o nome algumas vezes e não é ruim. Gostei! — É...! Emily é bom, gostei!
— Ótimo! Então nossa princesa vai se chamar, Emily Menezes Gutierrez!! — Beija meu rosto e o encaro segurando seu rosto entre minhas mãos, cada detalhe mais lindo que o outro! Amo demais esse homem! — Escolhemos o nome rápido, hein?!
— Eu gostei demais! E ela vai amar, assim como eu amei logo de primeira! — Olho mais uma vez para sei rosto sempre iluminado e antes de beijá-lo eu cochicho. — Eu te amo, Christopher!
Sorrindo ainda mais e maior ele responde:
— Eu também te amo, professora!!
ßāßā
Três meses depois...
Fecho os olhos apertado e seguro na borda da bancada da cozinha me equilibrando e tentando não cair feito pedra no chão! Aperto os dentes no lábio inferior para evitar gritar e extravasar a dor que estou sentindo, é quase noventa e cinco porcento de chances deu estar com contrações, a maldita dor do parto e como eu nunca estive grávida na vida, não tenho certeza mas se não for isso, pode apostar que estou sendo desmembrada de dentro pra fora!
Quando minha médica disse feliz da vida, que era uma maravilha eu ter chegado no nono mês de gestação, não sabia que ia sofrer tanto assim e sozinha! Todavia estou contente que consegui levar minha filha o mais seguro e por mais tempo possível!
A dor vai passando devagar porém deixando um resquício do que vem pela frente e respiro fundo, tomo coragem, puxo o ar para meus pulmões e solto a bancada indo para a sala me escorando nos móveis. Já são cinco da tarde, estou sozinha e sofrendo essa dor no escuro, e não porque eu não sei o que fazer e sim, porque tudo o que a doutora aconselhou foi jogado no canto escuro da minha memória e não lembro o que devo fazer, só estou seguindo os meus instintos humanos que é pedir ajuda.
Com muita dificuldade eu pego o telefone na mesa de centro entre os sofás e sento soltando um suspiro de alívio no braço do sofá mais próximo. As crianças foram passar o dia com Millena e só chegam mais tarde; Christopher teve que resolver um problema que surgiu no caso de um colega dele no tribunal e não tenho ideia se a audiência já acabou e para eu poder telefonar e gritar por socorro! Isso porque eu insisti para ele ir, disse que ia ficar arrumando a bolsa da maternidade e Chris foi ainda ressabiado.
Aperto e seguro o número três, gravado para o telefone de Jaqueline. O número um e dois é o meu e de Christopher para os gêmeos ligarem em uma emergência, mas no fim sou eu que preciso de ajuda. Jaqueline atende no quinto toque e suspiro de alívio já fechando os olhos me preparando para a dor que está voltando.
Ligação ativada:
— Fala safada! — Ela atende rindo e escuto as risadas no fundo, encaro um ponto fixo na parede tentando desviar a minha mente da dor.
— Jaque, amiga. — Aperto minha coxa e os dentes. — Acho que vai ser hoje...!
— O que vai ser hoje? — Pergunta séria e uma nova contração me atinge, gemo de dor e aperto o telefone em minha mão.
— Que vai nascer! Que a Emily, vai nascer! — Exclamo rugindo de dor e volto a fechar os olhos, não dá pra desviar essa bosta!
— Aí meu Deus! Vai nascer! Calma, cadê o Christopher?
— Ele teve que ir ao tribunal hoje... Deve estar chegando só que as contrações estão piorando! Não sei o que fazer!!
— Certo! Senta em algum lugar e controla sua respiração, já tô chegando! Aguenta firme e tenta manter a calma pra não subir a pressão!
Ligação desativada.
Assim que ela desliga a chamada, ignoro o que ela disse e levanto, as vezes ficar em pé pode ajudar mais do que ficar sentada me desesperando. Eu me conheço, não vou ficar me dando falsas esperanças! Não tem como ficar calma nessa situação!!
Chego ao pé da escada com um pensamento de ir pegar a bolsa que larguei lá em cima, mas assim que ergo o olhar e vejo todos aqueles degraus, desisto imediatamente! Por que eu fui estúpida ao ponto de comprar um apartamento com escada?
Vejo Bolhota descer devagar a escada, com dificuldade por conta da idade e assim que me vê solta um miado agudo avisando que entende meu sofrimento. Faço uma cara de choro e ela vem se enroscar entre minhas pernas, bem no momento que sinto um líquido escorrer por minhas pernas e sinto vontande de chorar.
A dor vai chegando mais uma vez e decido seguir o que Jaque falou, sento no sofá com muita dor por conta da nova contração e tateio o estofado a procura de meu celular, sei que joguei ele aqui mais cedo. Chuto um sapato na minha frente para transferir a dor para o mais fraco e só fico com mais raiva!
Acho o celular e entro no aplicativo de mensagens, clico na conversa de Christopher, vou mandar uma mensagem e seja o que Deus quiser, quem chegar primeiro, amém!
Cacete! Que dor demoníaca é essa?!
Digito ainda tremendo usando as sugestões de palavras e envio.
Eu: Christopher, socorro!!
Espero um minuto e ele não responde. Porra viu!
Eu: Chris vem pra casa! Agora!
Mais um minuto e nada, outra contração e ele nem ao menos visualizou! Que ódio! Se arrependimento matasse!
—Aííí meu Deuus!!! — Grito agarrando a almofada do sofá e mordendo pra abafar o berro.
Aperto o microfone na tela do celular e aproximo o celular do rosto.
— CHRISTOPHER, PORRA! ME RESPONDE! A EMILY VAI NASCER!
Espero mais um minuto ansioso e então ele visualiza. Graças à Deus! Começa a digitar até a mensagem chegar segundos depois.
Chris♡Amor: Está com muita dor? Consegue respirar?
É o que? Franzo a testa, que espécie de pergunta estúpida é essa?! Não, só pode ser brincadeira!
Me preparo para mandar outro áudio, limpo a garganta e espero a contração chegar, o que não demora. Quando a dor chega dando pontadas e me queimando de dentro pra fora, solto o grito de dor que venho segurando todo esse tempo e envio.
Olho para a Bolhota deitada de olhos saltados no sofá à frente e peço desculpa, não tinha a intenção de assustá-la, respiro fundo e com a mão tremendo eu mando outro áudio.
— Isso se chama dor mortífera! Se estou com dor, estou respirando. Respondi sua pergunta, querido?! — Exclamo ironicamente e segundos depois ele responde com um áudio.
— Calma, estou chegando. Respira fundo, Lia!
Jogo o celular ao lado porque de nada vai adiantar ficar com ele e tento controlar a respiração como Jaqueline aconselhou. Fico nessa situação de falsa calma e resistindo a dor até que dez minutos depois, tanto Jaqueline quanto Christopher entram apressados pela porta e agora já estou em estado crítico, suando demais e respirando com muita dificuldade. Não aguento mais essa dor em minha costela, e há meses que ela não dá as caras!
Christopher é o primeiro a chegar ao meu lado. Ele se abaixa para falar comigo e então estico a mão, segurando seu ombro.
— Por que você demorou tanto? — Rosno de dor ficando as unhas em seu ombro.
— Aíí! — Ele solta um gemido entredentes. — Imagino que isso tudo seja dor.
— Não tenha dúvidas! — Resmungo com dificuldade, sinto as lágrimas brotarem no canto dos olhos. — Estou entrando em trabalho de parto, Christopher! Me ajuda!!
— Tudo bem, tudo bem!! — Pega minha mão e retira de seu ombro. — Jaqueline pega a bolsa das duas para mim, por favor?!
Jaque acente e corre escada a cima, enquanto Christopher me pega no colo e começa a ir em direção à porta. Jaque se junta a nós logo em seguida, entramos elevador e depois no carro de meu marido. Outra contração chega e aperto o braço livre de Christopher enquanto grito.
Não sei quanto tempo depois, chegamos ao hospital vivo, eu já rouca, sem direção e com as forças mais escassas que água em deserto! Sou preparada, examinada e direcionada para a sala de parto, seguro firme a mão de Christopher que continua ao meu lado o tempo todo para vermos juntos nossa filha vir ao mundo!
Christopher Gutierrez
Quatro horas mais tarde...
Seguro firme a mão de minha forte e guerreira esposa, Dália está fraca e cansada mas espera ansiosa e firme o momento que irão trazer nossa filha. Ela pisca lentamente e tenta me sorrir mesmo que com sono.
Levo sua mão aos lábios no instante que escutamos um choro alto e potente preencher o quarto, me viro e vejo a enfermeira passar pela porta segurando um pacotinho rosa e depois e entregar a Dália.
Chego mais perto e admiro a magnífica cena a minha frente, mãe e filha tendo o primeiro contato e é de encher os olhos de qualquer um! Nossa menininha está com os olhos bem abertos, olhando tudo a sua volta e fazendo reconhecimento, tem cabelos claros e lindos e brilhantes olhos azuis como os de Dália. Com isso, prometo aqui, diante das duas que vou fazer o impossível para que ela nunca perca esse brilho!!
— Oii, minha princesa!! — Dália exclama chorando e segurando a mãozinha da bebê. — Minha Emily! Eu te amo tanto, filha!! — Dália ergue o rosto molhado e estico a mão secando-o, sorrio.
— É de verdade, uma princesa. — Sussurro e ela segue minha voz com os olhos. — A nossa princesa! Oi, minha menina!
— Ela é linda, não é, Chris? — Dália pergunta e eu concordo em um breve aceno. Observo cada detalhe de minha filha, cada pequeno traço delicado e perfeito.
— Somos uma bela família. — Digo levantando os olhos para minha esposa, ergo a mão e acaricio seu rosto. — Três filhos lindos e saudáveis, que amo demais!
— Sim! Nossos filhos, Christopher! — Beija minha palma e dou um beijo na testa de Emily. — Obrigada, por me acompanhar em mais essa etapa!!
— Esse é só começo! — Murmuro sentindo a mãozinha apertando meu dedo mindinho. — Ainda temos muito o que percorrer, obstáculos para vencer e etapas para completar na nossa história! — Completo vendo o mesmo brilho alegre e emocionado de anos atrás. — Mas vai dar tudo certo, porque estamos juntos!
— Amo você, Christopher! — Exclama me sorrindo abertamente.
— E eu amo vocês!
Dália Menezes
22 de dezembro de 2028
— Emily! Vem aqui!! — Ando pelo corredor chamando e fecho a porta do banheiro. — Julia! Me ajuda aqui!!
Paro um instante, coloco as mãos na cintura e me alongo para trás, esticando os músculos tensionados. Estava dando banho em Emily e ficar abaixada dói as costas, ela te um ano e um mês, porque fez aniversário mês passado e já está sebendo a andar, por isso em qualquer ocasião ela foge e se esconde. Como está acontecendo agora, voltei ao banheiro para pegar a escova de cabelo e a tiara que ela ganhou da mãe de Chris, e quando voltei, Emily não estava mais lá!
Quando ela começou a engatinhar pela casa, tivemos que colocar um portão tanto no início e no final da escada, porque se deixar ela rola escada abaixo! Com isso, sabendo que tem o portão no final do corredor, sei que ela está escondida em um dos quartos e todos estão com as portas abertas, então vou verificando e fechando as portas para ela não mudar de esconderijo.
— Emily!! — Chamo alto fechando a porta do meu quarto e paro no meio do corredor quando Julia abre a porta do quarto de hóspede na curva do corredor e me encara.
— O que foi, mãe? — Pergunta jogando puxando o cabelo pra cima de prendendo num coque desleixado e andando até mim. — A baixinha fugiu de novo?
— Sim!! —Respondo indignada que ela tão pequena pode ser tão ágil assim, e ainda se esconder e ficar quieta pra ninguém achá-la! — Procura o toco de gente descabelada e descalça!
— Ela não tava tomando banho? E tá descalça?! — Aceno e entro no quarto de Vinicius. — Quem ela puxou, não é mesmo? — Julia debocha da porta enquanto olho embaixo da cama, e não está para variar.
— Vou fingir que não entendi esse seu deboche. — Murmuro e ela dá risada. Julia disse isso porque por algum motivo eu ter passado boa parte da minha gravidez descalça, me trouxe uma menininha com aversão a chinelo e sapato em geral!
— Não podia perder essa oportunidade, mamãe! — Julia murmura e sai ainda rindo a procura da irmã e continuo no quarto de Vinicius, ele é cheio de tranqueiras, livros jogados pra todo lado e umas roupas saindo do guarda-roupa, que quando ele chegar vai arrumar toda essa zona!
Abro a porta do guarda-roupa e não a vejo, só o pardieiro montoado de roupas! Esse garoto tá tão desleixado!! E para piorar, ela sabe fazer diversas coisas porque o Vinicius ensinou! Ele ensina ela aprontar tudo que já aprontou e outras mais, Emily conhece vários esconderijos pois ele indica cada canto e tenho que admitir, Vinicius sabe ser um bom irmão mais velho, apoia em tudo como faz com Julia e as duas o amam incondicionalmente!!
— Oh, mãee!! — Escuto Julia cochichar da porta e me viro vendo ela fazer sinal para segui-la e assim que paro a sua frente, ela volta a sussurrar. — Ela está no meu quarto. Na cama de Bolhota.
— O que?!? — Exclamo baixo cbocada, esse lugar é novo mas já imagino o tanto de pelo em sua roupa limpinha.
Entramos em seu quarto e cada uma fica de um lado, a cercando. Puxo a coberta que Julia comprou para a gata e Emily abre os olhos sorrindo por ter sido encontrada. Ela ergue os braços em vitória e pula ainda na cama de Bolhota, depois salta e segura a perna de Julia.
— Acho! — Emily exclama contente e Julia a pega no colo rindo. — Jula!!
Emily falou antes de começar a andar, ela tinha quase oito meses quando falou Vini. Depois gritou por mim, mamã, no dia que ia sair e a deixei no berço até Chris sair do banho. Em seguida ela aprendeu as últimas quatro muito rápido, chamou por Chris, papa, quando estava fungindo de mim para não colocar os sapatos. Jula, para ser pega no colo e ir pra rua passear; agua quando está com sede e por último e a dua preferida, acho, porque vive se escondendo e ama quando a acham.
— Não tem nem tamanho e está dando um baile na mamãe!! — Julia conversa com a irmã que cai em uma deliciosa gargalhada.
Elas começam a ir para fora do quarto e seguimos para o quarto de Emily, aonde juntas terminamos mais rápido de arrumá-la. Sento no sofá branco no canto do quarto da minha caçula, enquanto ela engatinha até a estante de brinquedos do chão e começa a brincar distraída. Puxo o cabelo para trás e prendo em uma rabo de cavalo, vendo Julia fechar uma gaveta da cômoda e pegar algo em cima interessada.
— Mãe, você fez um álbum para a Emily também? — Vira o porta retrato em minha direção e nego brevemente.
— Não exatamente. — Digo e aceno para ela se aproximar, pego um dos portas retratos de suas mãos. — Emily não aparece nem em vídeo direito, quem dirá em uma foto! Não para quieta um só minuto!! — Explico já vendo a dita-cuja caminhar pelo quarto arrastando uma boneca pelos cabelos e um carrinho na outra, o fazendo voar. — As fotos que consegui tirar, a maioria ela estava dormindo e só pude montar dois porta retratos!
— Esse e esse? — Ergue cada placa de vidro em uma mão e assinto, pego um de sua posse e ela se senta ao meu lado.
Observo as cinco fotos amostras em repartições dentro do objeto; duas de eu ainda grávida segurando a barriga protuberante; duas de Emily, uma recém nascida e outra ela com cinco meses. A última foto é logo que voltamos pra casa após seu nascimento, somente Emily de marcação azul, cabelos ralos e bem clarinhos e Christopher a apoiando na barriga sorrindo orgulhoso.
— Nessa foto aqui você está com o maior barrigão, mãe! — Julia comenta espantada e dou risada do exagero. — Nessa outra foto aqui com o papai, a Emily parece um menino.
— Foi o macacão que seu avô Leandro deu. — Explico sorrindo, ele deu quando ainda não sabíamos o sexo e meu sogro afirmava que era um menino. — Ele achava que ia ser um menino!
— Mamã! — Emily chama me entregando sua galinha pintadinha de pelúcia e aceito, vendo ela sorrir e ir por onde veio e voltar rapidamente com uma boneca de pano roxa e branca que ganhou de minha sogra de aniversário e entregar a Julia, e então satisfeita ela retorna a seus brinquedos espalhados no tapete.
Julia pega o porta retrato e me entrega o ourro, sorrio emocionada, é sempre bom relembrar os bons momentos mas é engraçado ver como o tempo está nos tapeando e quase impossível de acreditar que minha filha já viveu tudo isso e ainda tem muito mais a conhecer e se maravilhar!!
Na outra placa, cinco fotos somente de Emily, desde uma foto marcando seu primeiro mês com um conjuntinho de tricô com touca e calça rosa bebê, que minha mãe a presenteou, à fotos dela mostrando língua quando os fios de cabelos estavam crescendo, e, o seu primeiro dia em uma praia mexicana nas férias de meio de ano que viajamos para lá.
— Essa que ela está mostrando a língua, foi o Viih que ensinou! — Julia aponta a imagem e concordo, Vinicius ensina de tudo um pouco assim como foi com ela. — Essa outra de touca com a franja a mostra, fui eu que tirei a foto, tem uns quatro meses!!
— Verdade!! — Concordo vendo a foto que ela indicou, estava uma graça nesse dia, elas se acasalharam para irem brincar no playground do condômino. — Está ficando uma mistura sua e de Vinicius. — Falo levantando e seguindo para o meio do quarto, devolvendo a pelúcia para Emily. — Bagunceira como o irmão e encantadora como a irmã!! — Reflito e respiro fundo me virando para vê-la atravessada no sofá, os pés no encosto e a cabeça pendendo pra baixo assim como os cabelos. — E como está indo o treinamento, lá na academia?
— Legal! — Diz jogando os braços sobre a cabeça também os deixando pendurados. — A professora pega no pé porque a apresentação é daqui cinco meses. — Julia murmura sorrindo ao ver a curiosa Emily andar até ela e mexer em seu rosto. — O que foi, baixinha?
— Julaa!! — Emily cantarola rindo e sorrio.
— Você vai arrasar, minha filha! — Afirmo com convicção, Julia tem firmeza em tudo que deseja, ela persiste até alcançar. Nego num aceno vendo Emily tentar subir no sofá para imitar a irmã. — Só não extrapola, lembra o que o médico disse...
— Não passe do seu limite, dona Julia! — Me interrompe repetindo a frase que seu médico sempre insiste, tentando imitar sua voz e revira os olhos, depois se arruma no sofá, pega Emily nos braços e olha no relógio analógico na cômoda. — Caramba, hein!? O pai e o Vinicius, estão demorando uma eternidade!!
Viro o rosto para ver a hora e puxa! Demorei mais do que esperado para dar banho em Emily e nada deles chegarem! Escuto os resmungos vindo do sofá e vejo Emily se retorcer nos braços de Julia, querendo ir para o chão e assim que consegue, corre tropeçando até sair do quarto exclamando empolgada:
— Papa!!
— Seu pai ainda não chegou, Emily! — Aviso sendo ignorada pela teimosia em pequena dose que já desapareceu pelo corredor.
— Já era!! — Julia dá risada colocando os porta retratos no lugar. — O Vinicius também só inventa!! Eu que queria ter ido buscar os nossos avós no aeroporto!
— Quando eles saíram você estava ocupada! Deixou para fazer sua obrigação tarde porque quis, Julia! — Comento e me lembro do quarto de Vinicius, vou ter uma boa conversa com esse menino, não fez a obrigação e saiu sem nem titibear! Escuto a campainha tocar e Emily chamar por Chris ainda animada. — Vamos descer. Não é o Chris, ele tem a chave, deve ser a Jaque. Eu preciso ver a lasanha no forno e você abre a porta.
— Tá bom. — Julia diz ainda contrariada, o azar dela foi que eu fui colocar toalha no guarda roupa do quarto de hóspede e vi que ela não tinha arrumado as coisas. — Esse é o primeiro natal que vai passar todo mundo juntinho!! Vai ser muito legal!!
Quando saímos do quarto colorido de Emily, nos deparamos logo de cara com o toco de gente agarrada as barras do portão e olhando para baixo com esperança.
— Emily!! Desce daí, agora! — Esbravejo e ela obedece mudando de plano e pedindo colo, pego-a nos braços e desço a escada com Julia em meu encalço.
Ao chegar na sala, deixou Emily dentro do cercadinho que também é um chiqueirinho perto da escada com seus brinquedos e sigo para a cozinha. Ainda falta praticamente dois dias para o Natal, mas a casa já está toda enfeitada e pronta para receber nossa família, que vai passar o primeiro Natal conosco em que Emy está entre nós! Tanto a minha parte da família, os Menezes; e a família de Christopher, os Gutiérrez, só conseguiram vir e comprar a passagem para ontem e chegar hoje. Chris e Vinicius foram buscá-los no aeroporto.
Todos eles amam os meus filhos, cada um com sua personalidade e peculiaridades, os aceitaram como são e todos sabem como eu sou com essas coisas, os meus filhos são livres pra serem eles próprios e quem acha ruim nem me visita. Apesar do meu pai que continua implicando com qualquer coisa nova que eu faço, todos são educados e respeitosos.
Porém eu quero só ver como meu pai vai reagir; no começo da semana eu e Julia fomos no salão beleza, a intenção era somente cortar as pontas do cabelo e fazer uma hidratação, Julia fez o que planejamos mas eu fui além, resolvi que ia pintar o cabelo, voltar um pouco as minhas origens pois estava muito sem cor, sem brilho e então pintei! Pintei uns três dedos de cabelo da nuca de azul, um azul galinha pintadinha que Emily amou, ficar tocando!!
Emily era a única, que nunca havia me visto com as madeixas coloridas. Vinicius sorriu saudoso e tenho certeza que sentimos a mesma coisa, foi como reviver nossos primeiros momentos. Julia sorriu animada e disse que quando fizer dezoito vai raspar a lateral da cabeça, eu apenas dei risada porque a conheço e até lá, ela já esqueceu! Christopher, eu vi os olhos brilharem de emoção e desejo como era no começo de nosso namoro, tudo o que posso dizer é que foi uma noite quente e agitada!!
— Eii! E aí?! — Escuto a voz de Jaqueline soar na sala de jantar e logo aparecer na porta da cozinha com minha Emily nos braços. — Meu Deus, cachorra!! Pintou o cabelo! — Solto uma risada, suas reações são sempre as melhores! Emily enfia as mãos nos longos cachos pretos empolgadissima. — Sumiu essa semana, pensei que estava ocupada arrumando a casa pro Natal.
— E eu estava mesmo! — Digo abrindo o armário e pegando os pratos normais mesmo, da minha coleção eu só vou usar na ceia. — Viu não? Como a casa tá lindona e eu toda descabelada e amassada?
— Pois é, tô vendo. — Diz puxando um banquinho e sentando com Emily, que pega um pote na bancada e começa a morder, deve estar com a gengiva coçando por conta dos dentes nascendo.
— Adivinha quem é a responsável?! — Cantarolo e Emily bate o pote na bancada e canta algo incoerente. — Isso aí! Você mesmo senhorita!
— A minha afilhada? — Jaque finge surpresa e beija os cabelos claros de minha filha. —Imagina! A doce Emily não faria nada de errado! Não puxou você, Lia.
— Doce!?! A minha Emily? — Solto uma risada pegando os talheres na gaveta. — Emy só é doce, com quem ela quer e sempre com um interesse oculto!
— Calúnia! Não é bebê da tia?! — Exclama teatralmente e Emily entra na farra, abaixo para pegar a lasanha no forno.
— Bebê da vovó, isso sim!! — Escuto a voz de minha mãe e levanto com a travessa nas mãos e posiciono na boca do fogão. Me viro e vejo Emily pular alegre olhando minha mãe e dona Mónica beija Jaque no rosto sorrindo. — Oi Jaqueline querida, tudo bem?
— Tudo sim, e a senhora? — Minha amiga responde e entrega Emily pra ela que vai de bom grado.
Mamãe me olha sorrindo e incrivelmente, o sorriso não morre de vergonha ao me ver como antigamente, ela vêm até mim e beija meu rosto, sorrio meio emocionada e engulo em seco ansiosa.
— Está linda, minha filha!! — Sua mão passa carinhosamente arrumando meu cabelo bagunçado, depois desce por meu rosto e segura a ponta do meu queixo. — A casa também!
— Obrigada mamãe!! —Beijo seu rosto e ela se afasta voltando para perto de Jaque, as três vão para a mesa do outro lado da cozinha e sentam começando uma nova conversa.
Volto a me ocupar com as minhas coisas, coloco a lasanha pronta de volta no forno para manter a temperatura e quando o fecho, escuto a voz tensa e sussurrada de Christopher, passando no cômodo ao lado e depois sumindo pela casa.
Franzo a testa, por que ele está tenso? Saiu daqui estava animado e de bom humor; lavo as mãos rapidamente e puxo um pano de prato pendurado na parede indo até ele, encontrando-o na sacada falando ao telefone.
— E o que mais? Me mantenha informado, por favor. — Paro ao seu lado quando ele se despede da outra pessoa e solta um longo suspiro. Curiosa como sou, já tento sanar a minha dúvida.
— Quem era, Chris? — Pergunto terminando de secar a mão no pano de prato e olhando em seus olhos meio nublados. — Para ter te deixado, assim, tão tenso?
Christopher respira fundo e me encara com o semblante sério, como se estivesse pensando como me contar, começo a ficar nervosa quando vejo ele passar a mão pelos fios escuros, só faz isso quando foi surpreendido e está estressado.
— Ontem a tarde, encontraram o Eduardo desacordado e muito ferido em sua cela!! — Explica e arregalo os olhos, por essa eu não esperava, faz muito tempo que não escuto esse nome.
Chris olha para a porta de vidro que deixei aberta e fecha, meio temeroso, não quer que escutem. Ele me puxa para o canto da sacada e apoia uma das mãos no beiral.
— Ao que parece, os guardas do plantão deram uma investigada básica e ele estava devendo. — Solto um eita, meio involuntário e ele acena continuando. — A dívida estava crescendo tem uns meses, parece que ele foi pedido, e o Eduardo prometeu algo, enrolou, enrolou e como não pagou, deu no que deu!!
— Mas... — Cochicho segurando seu braço e me aproximo meio surpresa. — Ele estava pedido por quê, Christopher?
— Por conta, das coisas que ele fez com a Alexa... — Sussurra movendo a mão e o indicador, indicando o passado. — E também porque arranjou encrenca lá dentro, sabe como ele é...!
Assinto ainda meio chocada, não sabia que isso ainda acontecia em presídios, essa história dos presos castigarem e ou matarem quem abusa aqui fora. Pra falar a verdade, essa história entre Alexa e Eduardo eu nunca vou entender por inteiro, ninguém nunca me contou os detalhes mas em momentos como esses, eu bem que queria uma explicação.
— E... — Volto a falar e meu marido me observa esperando que eu continue. — Ele está vivo? O Eduardo?
— Como ele ficou bem ferido. — Christopher volta a passar a mão no cabelo olhando para a porta. — Vão transferi-lo para um novo presídio, um teste do governo. Um presídio meio específico, sabe?
— Não. Como assim?
— O governo construiu um presídio de segurança máxima, específico para detentos com doenças mentais! — Me explica e passa a mão por meu cabelo, desmanchando o coque e penteando com os dedos. — Depois que foi internado as pressas ontem, foi diagnosticado como algumas que o Fernando não citou no tribunal e agora ele, e vários detentos doentes, mantidos em presídios, vão ser transferidos.
— Entendi...! — Sussurro mordendo o canto da boca, olho dentro de seus olhos e questiono por fim. — Então, Eduardo não morreu? — Christopher nega ainda acariciando meu cabelo.
Abro a boca para perguntar se Fernando ficou sabendo, mas além da minha mãe e pai entrarem com Emily, tenho certeza que Fernando não foi avisado e não quis ser avisado, pelo o que Christopher me disse que aconteceu no dia do julgamento. Fernando não quer ser encontrado e nem ligado a nada relacionado a Eduardo, por isso ligaram para meu marido, de uma forma ou de outra, estamos ligados! Solto um suspiro e me viro com um sorriso.
— Olha, não sei vocês, mas nós estamos com fome!! — Meu pai diz depois de um tempinho nos observando, ele olhou bem meu cabelo e depois respirou fundo e sorriu, me abraçou e apertou a mão de Chris.
— Verdade! — Minha mãe comenta. — Leandro, Cristina e Daniel já guardaram a mala nos quartos e estão descendo.
— Vocês comem tão cedo assim? Seis e pouco ainda, gente!! — Comento torcendo o nariz, tudo bem que está pronto mas né!
— Mimida! — Emily exclama com os braços erguidos sobre a cabeça com um bico enorme, até que ela olha ao redor e vê Christopher, o bico se desfaz e aparece um sorriso baguela no lugar. A ação se completa quando ela estica os braços querendo o colo que estava almejando há um tempo e grita empolgada. — Papa!
Christopher se afasta de mim, chega até minha mãe e pega nossa filha nos braços dando risada.
— Minha pequena jóia! Está com fome, meu amor?! — Questiona e ela assente com as mãos em suas bochechas. — Então vamos comer!
— E a baixinha ganha mais uma vez!! — Escuto Vinicius exclamar admirado da sala e logo em seguida os risos de Julia e Millena, reviro os olhos concordando mentalmente, essa bebê sempre vira o jogo!
— Pois é! — Murmuro num suspiro. —Parece que vamos comer!
— Ahh ehh!!! — Escuto todos gritarem fascinados e dou risada, enquanto entramos para comer.
ßāßā
24 de dezembro de 2028
Dez horas da noite, saio da cozinha com a pilha de pratos coloridos que comprei na feira aqui perto de casa, uso somente em eventos especiais e também só tenho esses!
Coloco em cima da mesa já com copos, talheres e tudo mais, escuto as conversas paralelas no andar de cima e sei que é povo terminando de se arrumar. Me viro para voltar pra cozinha e ajudar minha mãe e sogra com o resto das comidas, quando escuto passos apressados na escada e giro.
— Eu já disse, para parar de correr nessa escada!! — Exclamo e então Julia chega até mim e me estica a escova de cabelo.
— Mãe, me ajuda?! — Pergunta esperançosa e ergo a sobrancelha. — Por favor, mãezinha!! É só uma coroa de trança!
— Tá bom, Julia! — Murmuro pegando a escova e indo para o banheiro perto do escritório. Entramos nós duas e começo a trançar enquanto conversamos. — Sua irmã ainda está dormindo? Com toda essa conversa lá em cima?
— Sim, o Viih tá lá no quarto dela.
— Ótimo, já jantou, tomou banho e só tem que acordar amanhã! — Digo satisfeita, se ela acordar, meu Deus, não vai dormir tão cedo!
— A Milli que não chegou ainda! — Julia bufa quando estou prendendo a trança, penteo o cabelo na parte de trás e ele cai sobre suas costas.
Assim que devolvo sua escova, a campainha toca e ela corre desembestada para atender. Saio do banheiro fechando a porta e cumprimento Jaque e Millena, depois seguimos para a sala onde já estão meus sogros, meu irmão e o marido, meus pais, e, por fim, Vinicius segurando Emily nos braços.
É... Vou dormir tarde hoje!
Julia passa correndo por mim e pega Bolhota se esgueirando por baixo da mesa.
Isso me fez parar, paro no meio do caminho e relembro tudo que vivi, quando era somente eu e Bolhota, por tantos e tantos anos e dificuldades que infrentamos juntas, por conta de um desentendimento entre eu e meu pai, que perdurou por muito tempo até eu dar o primeiro passo.
Foi difícil viver longe de quem eu amo, por pura incompreensão, antipatia e preconceito por parte do meu pai! Mas é triste saber que foi preciso tudo isso para eu chegar onde cheguei, com a minha família e tudo que alcancei! Precisei amadurecer na marra, desde do dia que sai de casa, ao dia que fiquei responsável do meu Vinicius!
Cada coisa foi levando a outra, promovendo e determinando como o destino iria se concretizar e aqui estou eu, de uma babá fantástica como o meu Vinicius me elegeu, para a mãe, esposa e mulher fantástica!!
Hoje sou o que sou, por conta de todos a minha volta! E agora consigo ver, tirei a venda da alienação e da ignorância, se não fosse pela pressão e tirania do meu pai, da alienação e silêncio da minha mãe, eu não tinha chegado ao Brasil, nem em São Paulo! Não tinha adotado minha Bolhota e muito menos o Eduardo, o chefe que mesmo com todos os percalços, me presenteou as melhores joias da vida, dois filhos!!!
Sinto o abraço caloroso e conhecido de meu marido me rodear a cintura e saio de meu transe quase melancólico. Ergo os olhos e imito seu sorriso quente com entusiasmo, me apoio em seu corpo e beijo seus lábios, que antes me fazia falta e eu não conseguia enxergar! Christopher era uma parte de minha vida que eu sempre mantinha distância, sentia falta, saudade e não enxergava de maneira alguma, a falta que ele me fazia! O quanto me completava e dava força!!
— Te amo...! — Murmuro com nossas bocas ainda roçando sobre a outra, ele abre um sorriso brilhante e aperta minha cintura.
— Também te amo, professora!
Ainda sorrindo, passo meu braço por suas costas e me viro para minha família, todos inseridos em seus próprios assuntos.
— EII, FAMÍLIA!! — Grito e todos me olham alarmado, sorrio ainda mais, amo uma farra. — AMO VOCÊS!!! — Completo ainda meio alto e eles sorriem, cada um dizendo de um canto e em um momento diferente, que também amam.
Afinal, eles também conseguem sentir! Família é isso no fim, mesmo com todos os defeitos, tentamos manter até as nossas últimas forças! É você amar acima até mesmo do vínculo de sangue, porque o que nos une é o amor! Aquele sentimento que se torna recíproco no instante que você pensa, que faria tudo e mais um pouco para garantir um sorriso e uma gargalhada!!
E nesta ocasião em especial, celebrando o Natal, eu clamo, que até mesmo aquela família que se partiu, que essa pessoa que agora está sozinha, possa encontrar a paz e seu verdadeiro caminho de sorrisos!!
ĀßĀßĀ
FIM!
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