CAPÍTULO 38 - PARTE 2
Christopher Gutiérrez
Rio de Janeiro
Assim que chegamos, descobri que não demora nada para viajar de São Paulo para o Rio de Janeiro, menos de quarentena minutos.
Seguimos para o carro que o detetive Alfredo Ferreira alugou, ele disse que assim é mais seguro pois não sabemos como anda a segurança de Eduardo, se ele tem informantes, vigias ou coisa parecida, é sempre melhor manter discrição.
Olho para Dália, sentada ao meu lado e olhando pela janela do carro, a rua passa em borrões coloridos e nublado, parece que a chuva nos seguiu até aqui. Observo seus braços tensionarem e vejo a mochila em seu colo ser apertada em seus braços, pressionando contra o corpo como se quisesse se fundir e proteger do perigo. Suspiro, já sei que ela está pensando em Vinicius.
Estico a mão e seguro em um aperto, ela me observa com olhar muído, parecendo sentir dor só em respirar e sinto meu coração doer, odeio o Eduardo a cada dia mais! Quero tanta levar conforto para se coração, passar um pouco segurança; puxo sua mão até meu rosto beijo a palma da mão delicada. Dália pisca afastando um pouco das nuvens que cobriam seus olhos, sorrio.
— Estou aqui! — Afirmo e sinto seus dedos passarem de leve em meu rosto, como se estivesse concordando. — Sempre vou estar, Lia!
— Estou com medo. — Sussurra apertando minha mão. — Estou tentando ser forte, mas não consigo conter meus pensamentos, Christopher!
— Logo você vai poder abraçar nosso menino! — Digo vendo as lágrimas transbordarem, é como se a barragem tivessem estourado! Sei que não estamos na melhor circunstância, mas ela está chorando tanto ultimamente, chorando como nunca vi antes e isso me assusta!
— Sim, o nosso filho! — Exclama convicta e se joga em meu corpo, me abraçando apertado, até ouvirmos o pigarreio.
— Então. — Começa assim que viramos para ele. — Ainda preciso passar na delegacia dessa região, confirmar o caso, repassar o plano de ação e validar os agentes que vão conosco até o local! — Alfredo comunica do banco da frente com seriedade e logo nos assustamos com a explosão de Dália.
— Ferreira! Não precisamos disso, não! — Exclama se apoiando no banco da frente e encarando o homem. — Você só precisa levar a sua arma, algumas munições e ter uma boa mira!
— Não é assim que funciona, senhora...! — Ferreira reafirma e abro minha porta, já estamos dentro do estacionamento do hotel, seguro o braço de Dália, quero sair daqui antes que ela bata no oficial e nós sejamos presos.
— Vem amor, a gente espera no quarto. — Chamo e sinto ela tremer mas me seguir, respiro aliviado, até ouvir ela murmurar pouco antes de fechar a porta do carro.
— Policial banana! — Exclama e vejo o rosto de Ferreira distorcer, ele abre a boca para responder e abro um sorriso amarelo tentando mediar. — Pamonha!
Arregalo os olhos e vejo ela andar até o elevador a passos firmes, ainda meio chocado pela explosão repentina, me despeço do detetive que é realmente um frouxo, me desculpando e pedindo para ele ignorar e manter contato e nos deixar a par da situação. Entro no elevador com minha esposa raivosa.
— Professora? — Chamo segurando a risada, ela me olha ainda meio contrariada. — Precisa se acalmar, e se ele te prende por desacato? Vai ser pior para o resgate de Vinicius.
— Desculpe! Sei que me exaltei mas ele é ridículo! — Bate o pé ainda revoltada. — Ele podia ter vindo na frente e já ter resolvido toda essa burocracia! A cada minuto que passa, o meu Vinicius corre mais perigo, ele parece um mongo! É uma vida em risco e eles está mais relaxado que tudo! — Suas mãos bagunçam o cabelo e aceno, o descaso é tanto que qualquer um com noção se revoltaria, mas é melhor que não seja Dália, não temos tempo a perder para eu ter que entrar com uma ação para tirar ela de trás das grades.
— Concordo em tudo, mas eu já te falei que é melhor acatar as ordens dele para não criar atrito e ele resolver nos barrar. — Explico e vejo ela assentir ainda contrariada. — A incompetência e o descaso só os torna mais rudes e arrogantes, com o ar superior, e se a gente rebater logo agora que vamos entrar em ação, ele vai nos bloquear e ai vamos ficar na ansiedade de assistir de camarote!
— Tudo bem, é porque já são duas semanas! — Murmura aceitando que é melhor a gente manter a paz com o estúpido. — E ele ainda quer que a gente espere mais! Odeio tanto o Eduardo e esse Alfredo! Não sei quem eu quero socar mais!
Sorrio, a inconstância nessa frase é engraçada. É meio logico que se for para socar alguém, primeiro teria que ser o causador de tudo, Eduardo. E depois socar o Ferreira por estupidez!
— Beleza, amor meu. — Murmuro saindo do elevador e seguindo para o quarto do número que indica a chave que Alfredo nos entregou. Dália me segue de perto, abro a porta e dou espaço para ela entrar. — Vamos entrar e lá dentro a gente conversa.
Após entrarmos, sigo para o banheiro quero muito tomar um banho e me preparar, entro no box e depois de alguns minutos vejo Dália entrar no banheiro e parar em frente ao espelho, penteando o cabelo e prendendo em um rabo de cavalo meio alto, franzo a testa, ela não estava com essas roupas escuras quando entrei.
— Dália, aonde você vai? — Questiono fechando brevemente os olhos, as vezes é difícil!
— Vou naquele endereço conferir eu mesma! — Desligo o chuveiro e puxo a toalha depressa.
— Não vai mesmo! Perdeu o juízo de vez? — Seguro sua mão quando ela resolve sair do banheiro. — Quer parar de agir por impulso, por favor?! Vai enfrentar Eduardo de frente, assim sozinha?
— Você vem comigo se quiser. — Fala segurando minha mão com toda uma gentileza e depois solta. — Mas eu vou de qualquer forma, não vou conseguir ficar aqui esperando, você me conhece!
Solto a respiração revoltado, totalmente contrariado. Consigo lembrar das várias vezes que essa mulher nos colocou em perigo quando éramos crianças, e aqui estamos novamente!
— Que porra! — Exclamo entredentes, ela me olha com os olhos pidões. — Eu vou, mas porque sei que você vai querer me passar a perna e ir sozinha!
— É, não deixa de ser verdade. — Responde sorrindo mas eu não retribuo, não estou de acordo e nem um pouco feliz. — É por isso que eu te amo tanto, você me conhece como ninguém! — Diz mais empolgada que nunca, sai do banheiro e começa a narrar seus pensamentos. — Verificando os registros de compras de imóveis no nome de Eduardo e da família dele, aqui no Rio de Janeiro ele tem uma casona no Leblon e outra menor em Petrópolis. — Explica calçando pegando o tênis preto e branco ao lado da cama, começo a me vestir já entendendo o que ela quer dizer.
— E foi exatamente em Petrópolis que Mateus disse que estavam! — Concluo seu raciocínio ainda meio contrariado.
— E é para Petrópolis que nós vamos! — Termino de vestir a calça e a encaro caçando algo na mochila. — Pega! — Me entrega uma pistola prateada, o peso do objeto é considerável, franzo a testa em completa confusão.
— Da onde que você tirou isso, Dália? — Questiono chocado, cara, não sei nem o que pensar!
— Do cofre de Eduardo na empresa. — Diz dando de ombros, completamente alheia as coisas que está fazendo, cerro os dentes. — Sei que você tem porte de arma, por isso...
— Sim, no México! Aqui é outro país, outras leis! — Me seguro para não tacar isso longe. — E como você abriu esse cofre? A cada hora você diz achar algo mais perigoso lá dentro! Me fala logo o que mais você pagou desse cofre?!
Dália senta ereta na cama, o rosto meio contorcido e sei que vai me contar algo que tem escondido. Suspiro cansado.
— Na semana passada, depois que levaram Vinicius, eu fui na empresa, lembra? — Pergunta e aceno, passo a língua sobre os dentes, foi no dia que ela passou mal. — Fui na antiga sala de Eduardo, meio perdida, rezando para que ele estivesse lá dentro e que tudo fosse uma alucinação! — Relata com os olhos perdidos na parede atrás de mim. — Mas quem eu encontrei lá dentro é que foi uma surpresa. O Fernando estava lá dentro tentando combinações para abrir o cofre, eu mesma já tinha tentando por vários anos e depois desisti! — Seus olhos voltam pra mim e já não sei se quero ouvir o resto, sei que é irracional mad meu ciúmes é boa parte rancor daquele cara, pensar que ela ficou com ele me deixa meio possesso, respiro tentando abstrair, continuo quieto só ouvindo. — Aí perguntei pra ele o que estava fazendo lá e ainda por cima tentando abrir o cofre do Eduardo, e Fernando me disse que queria a certidão de casamento de Eduardo com Alexa. Perguntou porque eu estava com cara de choro, descabelada e olhos vermelhos.
— E você disse do sequestro do Vinicius. — Presumo tentando chegar logo ao fim desse encontro, ela assente e arruma um fio de cabelo.
—Então ele conseguiu abrir o cofre e resolvemos dividir as coisas que tinha lá dentro. — Move a mão em círculos já adiantando que chegamos no final. — Eu peguei a arma porque ele disse que já tinha uma, peguei o computador, vários documentos comprometedores, e outros referentes a Choklad, como estou no comando nada mais justo que ficar comigo.
— E você escondeu tudo isso de mim, por qual motivo?! — Questiono meio puto, é meio revoltante saber que ela está escondendo coisas de mim sendo que não escondo nada dela. — Pensei que nossa confiança era recíproca!
— Eu ia te contar ontém, mas com todas as coisas que aconteceram eu esqueci! — Se explica e por um lado eu entendo, ontém foi agitado.
— Poxa, além de advogado sou seu marido. — Murmuro chateado, meio magoado até. — Faz uma semana! Podia ter me contado no mesmo dia!
— Okay. Eu sei que errei em omitir toda essa história. — Levanta e quando chega na minha frente, segura minhas mãos. — Me desculpa, sim? Eu não fiz por mal, meu emocional está desregulado, minha cabeça tá uma bagunça e eu acabei esquecendo!
— Estou com raiva que você encontrou aquele sujeito, foi por culpa dele que você passou mal? — Retruco meio inconsciente.
— Christopher, eu não marquei de encontrar o Fernando, ele já estava lá! Foi tudo uma grande coincidência! Não transforme isso em uma cena de ciúmes! — Dália reclama e continuo sério, ela saber que estou com ciúmes não me deixa mais feliz! — Eu me casei foi com você! Não com ele! E você mais do que ninguém deveria saber que eu não traio, nosso relacionamento não andou por anos justamente porque estava indefinida com aquele moribundo! Ele me traiu, Christopher!!
Respiro fundo, ela tem razão mas quem disse que a pessoa que tem ciúmes pensa racionalmente? É um sentimento obscuro, porque por mais que você confie no seu parceiro, você não confia é na outra pessoa e o mísero pensamento de Fernando a tocando me dilacera! Extrapolei, mas toda essa situação acaba influenciando!
— Me desculpe também, é o ciúmes me fazendo a cabeça! — Respondo bagunçando meus cabelos ainda úmidos, sento na cama e calço os tênis, depois olho no relógio que coloco no pulso. — Se é para ir, vamos logo!
— Isso aí, fazer drama é o meu papel! Não seja ciumento, eu amo você e só você me faz delirar!! — Paro no meio do quarto e vejo o sorriso descarado da minha loira, tenho vontade de jogá-la na cama no mesmp instante. Ela passa por mim ainda sorrindo safada e rebolando na calça preta. — Não esquece a arma!
— Eu não quero levar isso! — Aponto para o revólver em cima da colchão. — Não vou atirar em ninguém! — Mesmo querendo, o Eduardo me tira qualquer resccio de inteligência.
— Tudo bem, me devolve que eu mesma atiro! — Diz voltando e pegando a pistola, coloca de volta na mochila, fecho os olhos brevemente pedindo forças a Deus!
— Aliás, como você passou no aeroporto com essa arma? — Pergunto lembrando desse detalhe já dentro do elevador.
— Estávamos viajando com um policial. — Diz tranquila e me olha de soslaio, pedindo um uber pelo celular. — Vamos dizer que não foi complicado.
Assim que o carro chega, começo a ficar tenso, é como minha mãe diz, siga sua intuição e sinto que tem algo errado! Balanço a cabeça para evitar esses tipos de pensamentos.
— Que foi? Tá com dor? — Pergunto preocupado vendo ela com as mãos repousadas na barriga, ela sai do transe e me dá um sorriso amarelo, mais essa agora!!
— Não é nada não, gatinho! — Aceno meio a contra gosto, o motorista nos olha com estranheza e sorrio para ele que volta a prestar atenção na estrada.
Um tempo depois, quando enfim chegamos na estrada de Petrópolis, pedimos ao motorista para parar, primeiro porque não é seguro, segundo pois não faz sentido colocar mais uma pessoa em perigo e terceiro, não queremos chamar atenção chegando de carro no lugar. Então agora estamos andando em silêncio, já tem uns cinco minutos e resolvo me pronunciar mesmo sabendo que vou ser ignorado.
— Você se esconde do lado de fora e eu entro pra procurar o Vinicius. — Mal termino e ela está dando risada.
— Só porque você quer! — Dália debocha e reviro os olhos, já esperava! — Eu vou junto, sim! Você nem está armado, Christopher!
— Dália, nós não sabemos o que nos espera. — Falo cansado, ela é muito teimosa. — E também sabemos que não vamos atirar em ninguém logo de cara, não é?
— Claro, claro! — Desconversa fazendo pouco caso. — Já sabemos que o Eduardo é desequilibrado, não se pode esperar nada daquele cara!
— Vou ligar pro Mateus, para que ele nos ajude. — Murmuro já pegando o celular do bolso, ela envolve os dedos em torno do aparelho junto comigo.
— Larga de ser otimista! Esse cara não está mais do nosso lado e você sabe disso, Christopher! — Dália resmunga mexendo os ombros, se alongando. — Não avisa ele, tô te avisando!
— Você é muito desconfiada, professora. — Reclamo ignorando enquanto teclo em seu nome e começa a chamar, torço para ele atender e deixo no viva voz para que mesmo assim ela escute também!
— Oi...? — A voz receosa se espalha por toda a estrada mal iluminada e coberta por árvores, Dália olha para o celular de canto de olho.
— Oi Mateus. — Cumprimento feliz por ele ter atendido. — Estamos chegando aí onde vocês estão. Eu e a Dália! Tem como você ajudar a gente?
— Claro parceiro! — Concorda parecendo cansado. — Vou tentar soltar o menino e levar ele para entrada da casa.
— Valeu cara, vai tá ajudando bastante! — Comento até empolgado. — Preciso desligar, estamos quase aí!
Olho para Dália, está com os braços erguidos reforçando o rabo de cavalo enquanto me encara claramente contrariada com um bico de insatisfação, reviro os olhos e murmuro conforme nos aproximamos do que parece um local com menos vegetação e árvores em geral.
— Para de implicância, Lia! — Ela para e me encara meio chocada, continuo a falar. — Com essa sua perseguição, não vamos chegar em lugar algum, Dália! — Reclamo parado em sua frente, ela coloca as mãos no quadril e ergue a sobrancelha com um ar debochado, está claramente tirando sarro. — Precisamos de apoio e ajuda, nós dois sozinhos é mais difícil já que você decidiu não esperar auxílio da polícia!!
Dália abre a boca e então os cantos dos olhos enrrugam assim como os olhos que semicerram em uma risada que se transforma numa gargalhada, ela ergue o dedo fino e seca uma lágrima. Reviro os olhos, balançando a cabeça meio desacreditado, fala sério! Minha esposa se ergue depois do riso sarcástico e dá dois tapinhas de consolo em meu ombro.
— Vamos meu amor. — Chama quando começa a andar. — Você é muito engraçado!
A sigo ainda revoltado e após andarmos menos de dez passos, avisto uma luz meio fraca em meio a longos e grossos troncos de árvores e uma grama alta. Puxo Dália pelo pulso para adentrarmos a mata e logo mais a frente consigo entender onde está localizado a luz e o vislumbre de um carro estacionado na frente de uma casa mediana, logo abaixo de um barranco! Respiro fundo e observo que a casa antigamente poderia parecer confortável aos olhos, mas agora é somente um sombrio e perigoso cárcere, mantendo nosso pequeno Vinicius.
— Olha lá. — Aponto em direção a casa. — Deve ser ali.
— Lógico que é ali, Chris! Não tem outra casa no meio desse breu!! — Dália resmunga com a voz carregada de muitos sentimentos conflitantes.
Logo após Dália fechar a boca, escutamos um disparo e nos abaixamos atrás de um dos troncos, olho para a árvore ao lado e vejo o buraco pequeno do projétil, cerro os dentes e as mãos.
Como esse cara está atirando em nós lá de baixo? Deve estar lá em cima de alguma coisa que dá visão, esse cretino! Ainda posso ouvir mais dois disparos e então, no terceiro:
— Filho da puta! — Grito erguendo a mão esquerda e tocando o ferimento que o disparo deixou, sinto o sangue começar a jorrar um pouco abaixo de meu ombro.
Aperto os olhos e pressiono os lábios um no outro para evitar gritar de dor. Dália sai de meu lado e começa a engatinhar para trás de uma grande pedra que mais parece uma pilha de rochas! Assim que ela senta em meio a grama alta, se vira pra mim e acena com a mão me chamando, e não posso fazer mais nada ao não ser obedecer.
— Deixa eu ver, Chris! — Minha esposa me olha preocupada e se ajoelha nos meios das minhas pernas quando os disparos param. — Ele está querendo acertar somente você!
— Não é nada! — Reclamo trincando os dentes de dor, é parecido de quando fui atingido por uma bala perdida durante um assalto no mercado, e na época eu era adolescente! — Sai daí, Lia, ele pode subir o morro a qualquer momento! — Dália não me dá ouvidos e pega dentro da sua mochila inseparável e puxa de dentro um lenço colorido. Ela envolve meu braço como um torniquete improvisado e por fim, aperta os lábios e dá um forte aperto.
— Leva a porra de um tiro e ainda tem a cara de pau de me dizer que não foi nada!! — Reclama e senta ao meu lado pegando alguns frascos da mochila buraco negro. — Quanta desconfiança! Você é muito implicante! Nossa que perseguição! — Dália resmunga fazendo uma voz grossa e reviro os olhos, ela me observa de canto de olho. — Vai começar a me ouvir ou prefere levar mais um tiro, Gutiérrez teimoso?!
— Muito engraçado! Nossa! Patatá nova versão! — Debocho a encarando e ela me sorri. — Ainda bem que você tem uma dupla! Um nariz vermelho e vamos ser o Patati e Patatá mexicanos!
— Idiota! — Fingi resmungar e me dá um tapinha no braço bom enquanto ri, mas logo seu sorriso morre e ela me encara séria. — Vamos deixar o Eduardo pensar que te matou e eu entro sozinha!
— O que? — Exclamo perplexo e já começo q negar. — Tá louca?! Claro que não! Não tem nem discussão, Dália!! — Ela respira fundo resolvendo por enquanto não começar uma discussão no meio do mato e com um maluco nos caçando, então continua mexendo nas suas coisas. — O que é isso? — Pergunto pegando um dos frascos em seu colo.
— São bombas de fumaça que o Vinicius fez! — Explica sorrindo saudosa e orgulhosa, depois começa a argumentar mais um pouco. — Amor, eu acabei de mandar mensagem para o Ferreira, ele me xingou mas já está vindo. Aceito que fui estúpida e errei em te pressionar e fazer a gente vir sozinho, me desculpa? — Murmura me encarando, ergue a mão e passeia os dedos por meu braço. — Fui impulsiva e isso te causou um ferimento, não pensei com a razão mas com o coração.
— Eu aceitei vir, Dália! — Exclamo segurando sua mão e firmo seus dedos nos meus. — Eu sabia dos riscos, para de se culpar!
— Só quero que você entenda meu plano! — Começa ainda me encarando, solta um longo suspiro. — Quero ir...
Suas palavras param no ar, a sua intenção loucamente suicida fica esquecida no tempo quando duas pessoas se jogam em nossa frente, se protegendo dos tiros que retornaram, também atrás da pilha de rochas!
Minha expressão se fecha automaticamente! Sinto meu maxilar doer de tanto que cerro os dentes e aperto o punho, sentindo a tensão tomar conta de mim e a mão de Dália tremer ainda entre a minha, quando vemos Fernando nos encarar juntamente com uma ruiva que desconheço!!
— O que estão fazendo aqui? — Eu e Dália perguntamos juntos, sinto a raiva na voz de minha esposa.
— E ainda com essa mulher?! — Dália exclama com uma careta de revoltada ao mesmo tempo que eu resmungo chocado.
— E por que ele está aqui? — Pergunto a Dália que semicerra os olho me encarando com faíscas.
— E eu que sei, Christopher? Estou ao seu lado! Tão confusa quanto você!! — Rosna e solta nossas mãos apontando com fúria para a dupla recém chegada. — O que a Alexa está fazendo aqui, Fernando?!
— Oi Lia. — O retardado cumprimenta com um sorriso sem dentes, parecendo estar sem graça, não dou a mínima! Não suporto esse cara!
— Pra que essa intimidade!? É Dália pra você, palhaço! — Vocifero asperamente o encarando.
— Como eu estava falando e fui interrompido! — Me olha de soslaio rudemente e me seguro para não avançar e socá-lo! — Seguimos vocês e descobrimos todo o plano! — Admite e reviro os olhos enquanto Dália parece mais revoltada que o normal. — Depois pegamos o avião e aqui estamos! Vim salvar meu sobrinho e minha noiva está me acompanhando, não é querida?
— Sim, amore! — A tal da Alexa ronrona sorrindo e Dália faz cara de nojo, seguro a risada. — Prazer, Alexa! — A ruiva estende a mão para me cumprimentar e Dália aceita a mão dela em meu lugar.
— Prazer nada! Total desprazer! — Exclama passando a língua pelos dentes respirando fundo. —
Christopher meu marido e Dália a esposa! Não queríamos te conhecer, vamos fingir que ainda somos desconhecidos! — Minha esposa fala séria e Alexa acena se afastando com um suspiro.
Inicialmente eu realmente não entendi a repentina ira de Dália, mas então foi só usar um pouco de inteligência para conectar a ruiva à nossa frente como a ruiva Alexa, ex esposa morta de Eduardo e claro, mãe biológica dos gêmeos! Por isso que agora, eu entendo o porquê de Dália estar desse jeito, tão revoltada e agoniada!
Respiro fundo, penso comigo que a volta desta mulher só vai dar ainda mais problema! Merda! É melhor intervir antes de alguém exploda com toda essa tensão! Prefiro passar por cima do meu ciúmes e raiva por Fernando do que causar ainda mais desconforto para a minha Lia!
— Enfim gente, já que estamos todos aqui no mesmo intuito. — Começo puxando devolta a mão de Dália, para que ela saiba que eu entendi e estou aqui, para apoiar em tudo, sempre! — Vamos esquecer as diferenças, por um tempo, e trabalhar juntos!
— Certo! — Os três concordam acenando.
— Vou explicar o que tenho em mente! — Dália fala apertando os dedos nos meus. — Vou entrar com Fernando, porque ele sabe como controlar o irmão instável dele! — Explica séria, não vejo nem um traço de seu humor característico! Respiro fundo, prometi manter o controle. — A Alexa e Christopher, ficam por aqui esperando uns minutos e então, vocês entram também! Um ajuda o outro e quando a polícia chegar, saímos desse lugar todos salvos!
— É só para manter o Eduardo distraído? — Fernando pergunta e depois que Dália assente, ele acena concordando.
— Eu não concordo em você ir, você sabe disso! — Reclamo, não pela companhia, e sim pelo perigo, é o Eduardo lá dentro e não sabemos o que ele pretende!
— É a melhor ideia, Chris. Não quero que ele ache uma rota de fuga enquanto esperamos Ferreira, e ele suma com meu filho novamente! — Dália me pede com os olhos perdidos em desespero e agonia. Não tenho outra alternativa. Solto sua mão e seguro seu rosto, beijo rapidamente seus lábios.
Quando nos afastamos, Dália reabre a bolsa e pega um lenço branco, aponta para um galho quebrado caído perto de Fernando e depois que recebe, começa a amarrar o pano na ponta da madeira.
— Não acredito que você vai fazer isso! — Alexa reclama quando Dália ergue o braço para balançar o galho em desistência e pedindo paz.
Dália se vira rápido abaixando a bandeira, com a mão apoiada em minha coxa ela abre a boca para responder e vejo a raiva em seus olhos, intervenho antes que venha a paz momentânea desapareça.
— Não temos tempo, moça! — Abano a mão para que não haja mais interrupções, já estou com meu nível de estresse no máximo, quero sair logo daqui!
Dália então segue com seu plano, o sinal de paz e clemência é feita várias vezes até que escutamos a gargalhada grito vindo de não muito longe.
— Fracos, estúpidos e medrosos! — Eduardo exclama entre as árvores. — Já desistiram do moleque? — Sua voz descontrolada ecoa pela floresta.
— Filho da puta! — Dália e Alexa bradam juntas, se preparando para levantar. Porém eu e Fernando somos rápidos e seguramos seus pulsos, eu de Dália e Fernando de Alexa.
— Toma! Uma bomba de fumaça para cada um. — Dália diz mais controlada, estica a mão para eu e a ruiva. — Usem só em caso de emergência, esse negócio é muito fedido!
— Ótimo! Agora vamos, Menezes! —Fernando exclama e segura o braço de Dália para se levantarem, os dois erguem as mãos acima da cabeça e andam para fora de nossa pedra, novamente escutamos Eduardo a debochar.
— Ora vejamos só, meu irmãozinho e a florzinha! — Zomba ainda rindo e escuro a arma ser destravada, seguro a respiração me obrigando a ficar no lugar.
Minutos depois eu já não posso ouvir nada, nem mesmo um grilo para demostrar vida dentro daquele escuro. Me preparo para ir atrás, Dália não disse o tempo exato e eu não vou ficar esperando sentado!
— Foi o Arthur quem fez esse negócio? — Alexa pergunta encarando o objeto em sua palma, só assim eu lembro que ela está ao meu lado.
— Quem é esse? — Pergunto confuso.
— Meu filho!
— Você tem filho? — Não consigo não ser sarcástico! Não conheço a história completa dela, e sei que estou sendo egoísta pensando que eu sei o quanto Dália sofreu e lutou para ficar com os filhos! Não vi nem cheiro dessa mulher durante os anos em que as crianças ficaram sobre nossa segurança! — Não sei quem é esse, moça! — Murmuro finalizando qualquer indício de diálogo. Levanto e destravo a arma que Dália deixou no chão. — Melhor a gente ir!
Seguimos com cuidado por entre as árvores, tomando cuidado para não fazer barulho e depois que descemos o barranco, agachamos até encostar na parede descascada da casa.
— Eu vou por trás e você pela porta da frente! — Explico e a encaro. — Pode ser que se ele te ver, conseguimos mais tempo!
— Por que? — Questiona confusa.
— Até onde sei, pra todo mundo você está morta! — Explico e ela desvia o olhar, assente entendendo.
— É... Morta! — Sussurra parecendo triste, mas prefiro ignorar, não é o momento! Dou de ombros e me afasto seguindo para trás da casa.
Antes eu não queria atirar, mas se for para defender quem eu amo, não vou titubear!
ßāßā
Dália Menezes
Enquanto descemos o morro ainda com as mãos erguidas, vejo Eduardo chamar alguém dentro da casa e quando paramos a poucos menos de dois metros de distância, ele abaixa a arma e guarda no cós da calça.
A pessoa chamada, passa pela porta e deduso que é o tão confiável espião de Christopher, odeio esse homem falso tanto quanto o seu mandante! Esse cachorrinho adestrado! Mordo o lábio inferior para não abrir a boca e xingá-lo.
— Segure ele, Mateus! — Eduardo aponta para o irmão e o cachorrinho falta só abanar o rabo!
Eduardo anda até mim com um sorriso estúpido de vitória e ergo os olhos para seu rosto, tenho tanta mas tanta vontade de socar esse homem, não existe palavra lara descrever o meu desgosto e raiva.
Ele segura meu pulso e me arrasta até dentro da casa. Sigo aos tropeços ainda mordendo a boca, me contendo com todo o meu ser para não xingá-lo, por isso uso a minha mente e pensamento para ofendê-lo, o encaro com se pudesse queimá-lo!
"Seu estúpido! Arrogante de merda! Eu te odeio demais! Nunca senti tanto ódio por uma pessoa! Nunca vou te perdoar por ter feito os meus filhos sofrerem! Encheu eles de traumas!"
Ao entrarmos na casa, paramos no que era pra ser uma sala e ele me joga no sofá mofado e empoeirado. Segura apertado meu queixo, fazendo eu encará-lo.
"PICARETA!"
— Veio tentar roubar o meu filho, babá? — O sarcasmo pingando de suas palavras e fecho os olhos, tenho um nojo desse cara! Eduardo ri, a risada grotesca rebate profundamente com o ar fedido que ele emana e toda a paciência se esvai rapidamente!
Abro os olhos e a boca, cuspo com tudo em seu rosto vendo ele se afastar, sorrio.
— Meu filho! Seu merda! Seu bosta! — Grito com toda a raiva que ele me fez juntar durante anos. — Você contribuiu com o espermatozoide! Com uma miséra célula! Você não é nada! Nem mesmo um bandido você conseguiu ser! Um completo estúpido! Não serve nem para preencher uma cela suja e apertada na cadeia! Seu lugar é o inferno! Onde todos que você fez mal vão se vingar e se um dia eu morrer e for pra lá, vou fazer questão de te azucrinar! Nem morto você terá paz, seu merdinha! Você não é nada...
Com a minha explosão eu vejo ele ficar vermelho, tão vermelho quanto seus fios ruivos da barba e cabelo e então, tão rápido quanto eu xinguei e me expressei o tapa veio certeiro! Sinto meu corpo ir junto com a cabeça, apoio as mãos no sofá e os joelhos no chão, sinto o gosto de ferrugem do sangue e as vozes longe.
— Célula! Espermatozoide! — Fernando gargalha no fundo enquanto meus sentidos retornam. —
Eu disse a mesma coisa! — Fernando continua e então a voz fica séria e sei que está encarando o irmão. — Se duas pessoas disseram é verdade, maninho!
— Cala a maldita boca, Fernando! — Eduardo grita descontrolado, anda para onde me atirou e puxa meu cabelo pelo rabo de cavalo, é quando vejo Chris passar de fininho pelo corredor sem me ver e abre uma porta trancada no trinco. Ele entra e depois de segundos retorna com Vinicius, sorrio em meio a dor, sinto lágrimas encherem meus olhos de pura emoção. — Não vai gritar não, babá? Eu posso ser muito pior! Você merece!! — O doente puxa ainda mais meu cabelo e fecho os olhos, as lágrimas escorrem de meus olhos e ofego, procuro ar quando sinto sua mão apertar meu pescoço.
Ergo as mãos para tentar acertar algum lugar de seu corpo e ele solta meu pescoço para sacar a arma e apoiar em minha testa, arregalo oa olho sentindo o cano frio em contato com minha pele e então tudo acontece.
Escuto Vinicius gritar e pelo canto do olho, vejo ele soltar a mão de Christopher e correr em minha direção.
— Larga a minha mãe! — Quando chega até nós dois ele chuta a canela de Eduardo e pula em suas costas, mordendo sua orelha, escuto Eduardo gritar e me solta para tentar tirar o menino de cima dele. — Você não é legal! Você é muito ruim! — Ele grita quando Eduardo o segura pelos braços e chacolha.
— Não! Vinicius!! — Todos que estavam no local gritam com medo do que ele pode fazer. Mas não é conosco que Eduardo trava no lugar, a cor some de seu rosto assim que ele escuta a voz.
— Eduardo! Não faça isso!! — Alexa grita parada na porta. Eduardo larga meu filho que se joga com tudo em meus braços, aperto ele com todo meu ser, para protegê-lo e escuto a voz em choque e descrença.
— Alexa...! — Eduardo sussurra em total pânico, nunca o vi tão desconcertado! — Você está MORTA!! — Grita no mesmo instante que ele se vira e sem nem mesmo mirar, atira contra a mulher.
O som é tão alto que me deixa sem foco por uns segundos até ouvir e ver Fernando se descontrolar como também nunca vi!
— NÃO!!! Seu imbecil! — Fernando grita em desespero, se desvencilha de Mateus indo em direção a Eduardo e o socando com força duas vezes, depois corre até Alexa caída no chão sangrando e segura seu corpo enquanto chora. — NÃO!! Não, por favor! De novo, não!!
Eduardo por sua vez, ao ser socado tropeça em mim e Vinicius ainda no chão e olho para Christopher que me chama, vejo ele vir em nossa direção e sorrio, até que vejo Eduardo de soslaio apertar a arma em punho e ainda transtornado, se vira para Vinicius em meus braços.
Prevejo sua intenção antes mesmo de sentir seus olhos brilharem de forma sinistra. Arregalo os olhos e rodeio ainda mais forte os braços em torno do corpo do meu Vinicius, giro o corpo para protegê-lo e escuto mais uma vez o estrondo, o zunido atinge meus sentidos e minha pele queimar!
Aperto os olhos e arqueio o corpo com o impacto em que a bala perfura meu corpo, começo a me sentir tonta, meus olhos se enchem de lágrimas e viro o rosto para meu marido.
Tudo queima e sinto uma enorme vontade de dormir ao ponto que penso, salvei um filho e perdi outro! Minha mão desce das costas de Vinicius e seguro minha barriga.
"Meu bebê...!"
A dor da bala toma conta do meu corpo, assim como o entendimento toma conta da minha mente. Sinto uma enorme fraqueza e antes de desmaiar, consigo ver o pânico e a dor nos olhos de Christopher, ele me chama desesperado mas não consigo ouvir, o zumbido é muito mais alto!
Tudo o que ele não queria ver, acontecendo diante de seus olhos e me sinto culpada mas não por muito tempo já que sinto frio e a escuridão me toma por completo!
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