CAPÍTULO 27

Dália Menezes

Estaciono o carro em uma vaga na frente do hospital e desço travando as portas. Faço meu caminho rotineiro para dentro do hospital e passo pela recepção cumprimentando Judy, já viramos amigas, de tanto que venho aqui e desde o primeiro dia em que estive aqui, para saber de Fernando, ela foi simpática e muito amável comigo, diferente do médico infeliz que ficou com o caso de Fernando até hoje, mesmo depois de dez anos.

Desenvolvi uma repulsa enorme por esse homem, a forma como ele me trata já me irrita, só que no dia em que ele tratou mal o meu Vinicius, eu me revoltei! Perdi toda a compostura e falei tudo que estava engasgado durante todos os anos. E no mesmo dia eu tentei mudar de médico, expliquei e argumentei de todas as maneiras possíveis para o diretor do hospital e tudo o que eu ouvi foi:

Lembranças ativadas:

A senhora não tem provas que prejudique o Doutor Camargo. — Murmurou o senhor passando o dedo em seu bigode horrendo, junto os lábios contendo minha revolta. — Portanto,  pare de arranjar confusão atoa! Ou será preciso transferir o paciente Fernando Magalhães, para outro hospital! O que eu não aconselho, já que estamos com ele desde o inicio do caso e, até você conseguir uma outra vaga, em um outro hospital… Olhe senhora, só pare de encrenca! É o que eu lhe indico. — Ele arruma o crachá na roupa e me sorri falsamente.

Lembro de ter saído do hospital tão ou mais revoltada como o primeiro dia que fui recebida pelo médico em questão. Depois disso, eu consultei meu advogado, o Chris e tudo que ele me explicou foi ainda mais fora do comum.

Realmente, você não tem provas contra ele, Lia. — Murmurou pelo telefone, naquele ano ele ficou no México para aprimorar e adiantar a filial de sua empresa para o Brasil. — E você só ia se irritar, tudo o que me disse é revoltante e se trata de um médico mau caráter só que pensa comigo querida, vai ser complicado achar um hospital com vagas e que tenha médicos competentes para atender o Fernando, não como nesse hospital e não aí em São Paulo. — Me explica e então depois de um suspiro continua. — Sem contar que se você entrar com um processo médico contra ele e não ganhar, ele tem livre acesso ao paciente, que no caso é o adormecido do Fernando, e se ele tem livre acesso ao Fernando…

— Ele pode prejudicar o Fernando de alguma forma. — Completei a linha de seu pensamento respirando fundo, não tinha muito escolha a não ser seguir tentando achar provas escondida desse maldito médico.

Lembranças desativadas.

No fim eu fiquei uns dois dias falando atravessada com Christopher, porque ele não quis me ajudar, entendi lá no fundo que ele estava com ciúmes de Fernando mas não tinha cabimento! O cara estava dormindo e quem estava o tempo todo ao meu lado era ele, não tinha porque dessa desconfiança idiota comigo, eu só estava cuidando do Fernando como sei que ele faria comigo, mesmo que não tenhamos nenhum envolvimento amoroso realmente sério, faria isso por qualquer amigo meu. Tudo o que eu queria era paz ao ir visitá-lo todavia foram dez anos de pura revolta, tendo que suportar o Camargo e ele à mim, pois eu não facilito nenhum pouco pra ele!

Fico pensando no meu advogado enquanto ando, estou com saudade dele, do meu lindo, companheiro e inteligente Christopher Gutiérrez, e pensar que estudamos juntos na época da escola e que ele fazia planos para o futuro com o Daniel, só que foi comigo que ele se juntou no final das contas. Me sinto protegida ao seu lado, segura de verdade e o amo ainda mais e de maneira diferente e melhor quando o vejo em torno dos meus filhos, Julia o ama como pai desde que o viu, vê nele alguém em que ela pode confiar e amparar quando precisa, seus olhinhos brilham toda vez que ele chega e conta pra ela de algum caso que marcou seu dia. Vinicius é mais reservado mas sei que o ama e também se sente seguro quando ele está por perto, no geral, nós três agradecemos por todo o seu amor durante todos esses anos.

Olho no relógio do celular e pela hora, ele já deve estar na audiência, é um caso que ele e Julia ficaram horas discutindo opiniões e mesmo eu e Vini achando estranho ele levar em consideração as opiniões dela, ele afirma que sempre ajuda na hora do tribunal. Isso me lembra que tenho que passar no mercado e comprar queijo, minha filha e meu namorado, ou sei lá o que somos, decidiram fazer um jantar para comemorar. O que é muita confiança na minha opinião, nem sabem se vão ganhar e já se prepararam para comemorar. E depois ainda temos que sentar e continuar estudando o contrato em que o Eduardo passa a responsabilidade de tudo que é dele para meu nome, tenho que achar uma brecha e Chris diz que sempre tem alguma brecha.

Chego em frente ao consultório, que o estúpido Camargo atende e bato na porta já tomando frente e entrando, encontro o folgado encarando a tela do computador com o cenho franzido, não estou com paciência para suas incompetências hoje.

— Boa tarde, Camargo. — Cumprimento pois no final das contas, mamãe me deu educação acima de todas as suas críticas. — O que temos pra hoje?

O infeliz nem ao menos me olhou, continuou encarando o computador e só depois que eu dou uma batidinha na mesa com o punho, ele parece me notar e ergue os olhos me dando atenção.

— Então? O que tem de novo? Alguma novidade? — Incentivo com um movimento com minha mão, então Camargo começa a falar.

— Estava lendo o comunicado que me mandaram e que tem a ver com o caso de Fernando. — Camargo explica  arrumando os óculos no rosto mas o que me chama a atenção, é o fato de ter enfim alguma coisa nova na situação de Fernando.

— Verdade? E o que dizia? Quem mandou? — Pergunto esperançosa e ele já impaciente começa a escrever em uma folha e depois me encara nada feliz, porém, com isso eu já estou acostumada.

— É um comunicado muito, como posso dizer… — Move a mão em círculos tentando achar uma palavra para se expressar. — É estranho, por assim dizer. Em todos os meus anos de experiência, isso nunca me aconteceu. — Camargo se explica e respiro fundo, não me parece mais algo bom. — Há dois dias, a Secretaria da Saúde, mandou-me um e-mail pedindo informações sobre o caso de Fernando, eu achei bem estranho mas mesmo assim enviei alguns dados. — Camargo solta um suspiro e em dez anos nunca o vi nessa postura de confusão. —  Então, hoje eu recebi o retorno do tal e-mail e aqui dizia que a família do paciente, Fernando Magalhães, pedia para que os medicamentos e recursos usados em seu tratamento, fossem cortados! — Ele me diz exasperado e seguro minha respiração momentaneamente, como assim? Me pergunto atormentada.  — Para que a vaga em que Fernando ocupa fosse desocupada, quando ele partisse! A senhora pode me explicar o por quê disso? — O médico a minha frente parece realmente confuso e surpreso mas não tem como ele estar mais chocado que eu.

— Eu… — Tento explicar alguma coisa, argumentar que esse pedido não partiu da minha pessoa, sou eu que pago por tudo, com o dinheiro de Eduardo é claro, mas eu que movimento então tenho esse direito. Porém, estou confusa com toda essa informação e só consigo encontrar envolvimento de Eduardo em tudo isso, só pode ser ele, quem mais séria?

— Olha, Menezes, eu estou realmente surpreso! — Ele me observa por cima de seus óculos e o encaro tentando reunir argumentos. — Fernando Magalhães, vem tendo uma melhora significativa! Pois ele levou, três tiros e não uns tapinhas! Me surpreende demais, saber que a mulher que estava toda valente querendo sempre o bem deste homem, já não quer mais isso, mudando de opinião e vontade sem ao menos me consultar, eu sou o médico dele, Dália! E de uma hora pra outra você resolve cortar os laços com o paciente? Preciso de uma explicação!

— Pare com isso! — Exclamo chocada com suas palavras, isso já é mais do que já conversamos em dez anos. — Eu não fiz nada, Samuel! Aí está falando que foi eu, que pedi isso? Tem meu nome pedindo esta intervenção? — Pergunto já nervosa, o que esse louco do Eduardo está tramando, agora?

— Não diz que foi a senhora, mas, também não conheço outro parente de meu paciente! — Exclama ainda sem levantar o tom de voz, é sempre assim, nessa frieza e acidez. — Que eu saiba, você e aquelas crianças são os únicos parentes de Fernando. São só vocês que o visitam.

— É porque somos! — Afirmo com veemência — Somos os únicos o visitam, não é? Durante todos esses anos, sou eu que cuido da conta do hospital, o que não é nenhum troco de pão, se fosse para eu desistir, tinha sido muito antes de toda a fortuna que depositei nesse lugar! — Exclamo meio puta da vida, paguei todo uma grana preta para não ter segurança nessa bosta. — Não tinha que estar acontecendo coisas desse tipo! Não tinha que ter nem uma desconfiança. E outra, Samuel, você não tinha que me perguntar antes de sair por aí enviando os dados de Fernando? Eu como responsável legal? Com o passar do tempo eu só acho mais desilusões neste hospital! — Explodo revoltada, se isso não for mais que uma prova de descaso, não sei o que pode ser.

— Exatamente por ser a responsável legal que eu tenho que perguntar, pois com esse comunicado me pareceu que a senhora não passa de uma louca que jogou dinheiro fora, já que quer matar o meu paciente. — Rebate também alterado.

— O senhor está me ofendendo! — Murmuro raivosa. — Não tem o direito de me tratar dessa maneira. Não admito uma coisa dessas! E não autorizei e nem assinei papel nenhum cancelando o tratamento, e se não quiserem um belo processo, acho melhor acreditar em minha palavra!

Samuel Camargo abre um sorriso satisfeito bem aqui, na minha frente e eu faço a minha melhor careta para esse homem completamente ridículo! Eu digo e repito que toda vez que venho aqui, eu me estresso e perco um mês de vida. Quando Fernando acordar, vou fazer questão de cobrar tudo de volta e com juros.

— Podemos, enfim, começar a falar sobre o quadro de Fernando? Ele teve alguma melhora? — Pergunto um pouco mais calma e ele assente me respondendo em seguida.

— Ontem, quando a enfermeira foi fazer a visita diária e aplicar a terceira dose do remédio diário. — Começa sua explicação com a mais pura paz, homem chato de galocha! —  Fernando mexeu o braço e disse em sussurro um nome.

— Quê? E você só me fala agora? Que nome ele disse? — Pergunto meio histérica, sorrindo alegremente, finalmente! Finalmente ele resolveu despertar! Samuel se volta para os vários papéis em sua mesa e depois de achar o prontuário de Fernando e achar uma folha meio acabada, ele lê o que está escrito no pequeno papel.

— Alexa…? Alexa! — Murmura depois de ler e então confirma e ergue o olhar tranquilo me questionando. — Alexa. A conhece, Menezes?

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