CAPÍTULO 26
Dália Menezes
Uma semana depois...
Fecho a geladeira com o pé, pois as minhas mãos estão ocupadas.
Estou fazendo o almoço mas desde a visita muda de Eduardo lá no México, eu estou desligada, estou muito preocupada, ele está quieto e não tem como isso ser bom. Coloco os ingredientes para um macarrão simples em cima da bancada mas me distraio com a imagem daquele animal parado ao lado do carro de Chris. O Eduardo chega me dá calafrios, porque afinal ele foi fazer o que lá? Me torturar, é claro, por qual outro motivo ele iria se não para falar que já se passaram os dez anos e que ele vai pegar os filhos de volta? Não! Ele não vai pegar os meus filhos, eles não vão voltar para as mãos daquele louco, nem que pra isso eu mesma tenha que me livrar dele.
Pego uma faca na gaveta para cortar as verduras da salada, eu meio que fui obrigada aprender a cozinhar e não foi fácil, é importante lembrar, já que eu tenho pequenos críticos dentro de casa. Olho para a faca em minha mão e isso me leva novamente para meus pensamentos, desta vez ainda mais sombrios. Acho que eu seria capaz de fazer uma loucura para proteger meus filhos, não planejado mas se eu os visse em uma situação perigosa, não pensaria muito, só agiria e pronto!
Entretanto, eu não sei por que estou me preocupando tanto, Christopher já me disse que Eduardo me passou a guarda das crianças, legalmente e que tem certeza que os documentos são válidos pois ele mesmo confirmou. Então sem neurose, ele não pode fazer nada! Coloco Eduardo na cadeia antes disso.
Abro o pacote de macarrão distraidamente e quando me viro em direção ao fogão escuto passos e paro, seguro a respiração e depois solto, meu Deus! Estou ficando paranoica! Estou me sentindo sufocada, coloco as mãos no rosto e apoio os cotovelos na bancada, no momento em que Vinicius e Julia entram na cozinha.
— Está com sono, mãe? — Ergo os olhos para eles, Vinicius pega uma maça na fruteira distraído.
— Lógico que não, Viih! — Julia repreende enquanto vem em minha direção e me abraça a cintura. — É óbvio que a mamãe está preocupada com alguma coisa. O que aconteceu, mãe? — Minha princesa murmura já me conhecendo tão bem, me viro e abraço seu pequeno corpo.
— Não aconteceu nada, princesa! — Afirmo beijando seus cabelos cheirosos, me afasto voltando para o pacote de macarrão. — Só preciso terminar o almoço e depois levo vocês para comprar seus materiais, beleza?
— Beleza! — Os dois respondem juntos, se sentam nos banquinhos da bancada e começam a conversar sobre o começo das aulas enquanto me distraio de novo, terminando minha tarefa.
— Mãe? — Escuto Vinicius me chamar enquanto mexo repetidamente o macarrão na panela. — Oh mãe! Você está bem distraída esses dias, heim! O que está acontecendo? — Questiona e observo ele me encarar completamente sério.
— Não aconteceu nada, querido. — Estico a mão e dou uns tapinhas em sua mão pousada na bancada. — É bobagem.
— Mas mãe, você está assim desde que voltamos da casa do vovô e da vovó. — Julia me exclama enquanto faz carinho em Bolhota. — E já faz uma semana! — Ela pontua deixando claro que não consigo esconder meus sentimentos deles. — Sem contar que ontem eu falei, "Mãe, eu posso pular de paraquedas?" e você concordou! — Exclama chocada e horrorizada. Vini continua a palestra de meus pecados.
— Verdade! — Aponta para a irmã concordando. — Começou a ficar assim no final da festa. Se assustava com todas as brincadeiras do tio Dani, e só aí já não é normal, já que você sempre revida. O que dessa vez, não aconteceu! — Vinicius exclama tão chocado quanto a irmã.
Pronto! Estou feita! Reviro os olhos. Quando esses dois se juntam, seja para conseguir respostas ou qualquer outra coisa de interesse mútuo, sai de baixo! Te colocam na parede assim como estão fazendo comigo e você não tem escolhas! Mentir também não é uma saída, eu não sei como eles conseguem mas descobrem quando a pessoa está mentindo, e isso me irrita demais! Abro meu melhor sorriso e respondo ainda tentando convencê-los.
— Fiquei triste, por ter que vir embora! — Digo da minha forma mais convincente. — Estou com saudade dos meus pais. É só isso meus amores.
— Mentira! — Gritam em uníssono, junto os lábios impaciente, Julia começa se explicar logo em seguida.
— Passamos o natal, ano novo e nosso aniversário com vovô e vovó. — Pontua contando nos dedos e conclui seu raciocínio. — Então, dois dias antes da nossa festa eu ouvi você falar enquanto lavava a louça, "Não vejo a hora de voltar pra casa", portanto… — Indica o irmão para que termine.
— Você está mentindo, mãe!
Não fui convincente o bastante. Caramba, porquê raios eles são tão detalhistas e observadores? Me pergunto enquanto mexo a salada, desligo o fogão e escuto a campainha tocar, suspiro aliviada, Christopher me salvou sem nem saber, ainda bem que esqueceu a chave em casa, falo para os dois:
— Primeiro, parem de chamar a mãe de vocês de mentirosa. Cadê o respeito? — Aponto o dedo para os dois que bufam. — Segundo, Julia vai arrumar a mesa e Vinicius, vai abrir a porta e pergunta antes de abrir. E por último, mais tarde eu explico à vocês, por hora, nada desse assunto! Estamos entendidos? — Pergunto seria e eles confirmam em um aceno curto, indo em seguida fazer o que lhes pedi.
Passo as comidas para as travessas que ganhei de mamãe, ela disse que agora que eu tenho minha própria casa e filhos, tenho que ter louças descentes e não copos de requeijão, reviro os olhos só de lembrar, tão fútil! Continuo usando os copos de requeijão, nem ligo mas as travessas são ótimas! Vou em direção a mesa e escuto Vinicius conversar com alguém na porta.
— Quem é Vinicius? — Pergunto colocando duas travessas na mesa, pensei que fosse Chris, mas se ele não entrou então não é ele. Escuto os passos chegando mais perto e me viro para ver quem é. — Ah! Oi querida! Como que vai? — Comprimento Millena sorrindo e a abraço antes de Julia. Essas duas são mais coladas que chiclete, tem dias que é preciso insistir que Millena vá pra casa ou que Julia venha para casa, elas não conhecem limites.
— Milli! — Julia grita e corre em sua direção me dando os pratos para segurar e pula agarrada com a amiga.
— Juuh! — Millena grita de volta também pulando.
Organizo os pratos na mesa mas ainda consigo escutar Vinicius murmurar com uma voz fina, imitando as meninas "Milli! Juuh! Quanta melação!", que menino ciumento, meu Deus! Contudo eu sei que ele não vai mudar.
— Cadê a sua mãe, Millena? — Pergunto voltando a cozinha para pegar as outras coisas. — Quem te trouxe?
— Minha mãe foi trabalhar hoje, então eu pedi para vir aqui e ela me trouxe antes de ir. — Explica sentando no meio dos gêmeos em volta da mesa, tive que comprar uma mesa consideravelmente grande, porque o meu pai veio aqui e criticou até a forma que as cadeiras estavam posicionadas.
— Entendi. O Ricardo não apareceu mais? — Pergunto tentando acalmar o bichinho da curiosidade dentro de mim, depois da traição, não confio mais nele.
— Ele foi lá em casa quando a gente chegou de viagem. Mas bem que a gente poderia comer esse macarrão aí, né? — Pergunta e eu sorrio, nenhum deles vão mudar. Millena já é de casa, é apaixonada por macarrão desde pequena e como nunca vi. — Está com uma cara tão boa!
As crianças começam a rir e eu os sirvo, puxo a cadeira para sentar e então meu celular toca, solto um suspiro impaciente, caramba meu, bem na hora da comida!
— Já volto. Sem bagunça! — Aviso para os três e vou atrás da minha bolsa. Só acho minha bolsa no andar de cima quando ele já parou de tocar. — Bom, se for importante vai ligar de novo. Eu vou comer, que estou com fome. — Volto para o corredor e começo a descer a escada quando o aparelho volta a tocar em minha mão, atendo depois de ver que não conheço esse número.
Ligação ativada:
— Alô? — Murmuro apagando as luzes que eles foram deixando acesa pela casa.
— Olha só, que bela casa que você conseguiu, hein, Menezes?! Me parece que você está muito bem, acho que precisamos de um pouquinho de ação nesse romance, não é mesmo?
— Eduardo?! — Paraliso no meio da sala, engulo em seco, escuto meu coração bater no ouvido.
— Parece que minha bebê ainda se lembra de minha voz! — Murmura e sinto meu rosto mudar de nojo. — Que fofa.
— Cala a boca! — Tento não gritar, não quero que me escutem. — Eu não sou nada sua, menos ainda sua bebê, seu perturbado! — Sibilo baixo mas com a raiva explícita em minha voz.
— Parece que nem mesmo o tempo deixou você menos azeda! — Murmura e tenho certeza que está sorrindo. — Não tenho tempo a perder, só liguei para que você saiba, que estou de volta e nenhum pouco satisfeito!
— Ora me poupe! Nem se atreva a chegar perto, eu tenho uma ordem judicial que proíbe você de chegar perto dos meus filhos. — Exclamo apertando o celular na mão e voltando correndo para a escada. — Você já tinha que estar sabendo, Dudu, seu advogado foi quem compareceu na audiência, o documento que você assinou passando a guarda dos gêmeos para mim, só comprovou que você é um péssimo e irresponsável pai!
— O quê? — Sei que consegui chocá-lo e isso me alegra muitíssimo.
— É meu bem, parece que você não está a par de tudo. — Cantarolo com minha pequena vitória e o escuto rosnar do outro lado da linha. Escuto Julia me chamando no andar de baixo e resolvo acabar logo com essa perda de tempo. — Agora se me der licença, tenho mais o que fazer. Passar bem, Eduardo!
Ligação desativada.
— Oi filha? — Pergunto ao chegar na mesa.
— A Milli quer saber se pode dormir aqui? — Explica tomando água no copo de requeijão, isso me faz sorrir.
— E por quê, a Millena não me pergunta? Ela está sem voz? — Pergunto pegando meu prato para esquentá-lo, poderia estar comendo mas não, estava brigando com o atraso de vida do Eduardo.
— O quê? Dormir aqui? De novo? Você não tem casa não, Millena? — Vinicius como sempre faz muitas perguntas e eu dou risada do seu exagero.
— Tia Lia, posso dormir aqui? De novo? — Millena pergunta com ironia e sei que é direcionada para Vinicius, volto da cozinha a tempo de vê-la sorrir respondendo a última pergunta balançando seus cachos com charme. — Sim Vinicius, tenho uma casa, onde você é bem-vindo. Mas se você acha ruim me ver na sua casa, é só fechar os olhos, porque você é o único incomodado, já que nem a Juuh e nem a tia me expulsaram! — Retruca fazendo um bico de despeito para meu filho, seguro a risada, diferente de Julia que se arrasa na gargalhada.
— Crianças parem de briga! — Digo e me sento respondendo Millena que encara Vinicius com um sorriso no rosto. — Sim, Millena. Pode dormir aqui, você sempre será bem-vinda. Não é mesmo, Vinicius querido?
— Lógico! — Vinicius murmura com um sorriso sarcástico. — A Milleninha, sempre será bem vinda, mamãe. — Murmura com um sorriso moldando seu lindo rosto.
Esses dois não tem jeito, vivem se atacando e discutindo. Millena tem uma língua afiada, não leva desaforo pra casa, puxou a mãe. E Vinicius é o Vinicius, sempre quer estar certo, sempre arquitetando mas é só a Millena que consegue deixar ele sem fala e ele sempre devolve depois, com alguma pegadinha. Já cansei de brigar com ele sobre essas pegadinhas, contudo, ele não me ouve, é inevitável, brigam mas se amam!
— Vocês ainda vão se casar, um dia! — Julia que até então só observava murmura de repente e é fuzilada por Vinicius e Millena que exclamam chocados.
— Eca! Que nojo, me casar com esse chato(a)! — Exclamam juntos e Julia cai na gargalhada, eu mastigo tentando conter meu riso.
— Ohh que fofo! Já estão até mesmo falando juntos. — Minha princesa faz cara de sonhadora enquanto suspira com as mãos nas bochechas.
— Para, Julia! — Exclamam juntos de novo com uma careta e Julia levanta da cadeira correndo e fazendo barulhos de beijos estalados, atormentando os dois que levantam e começam a correr atrás de Julia que corre rindo pela casa.
— Parem de correr! Vocês acabaram de comer, vão passar mal. — Exclamo, porém sou ignorada, então uso minha arma secreta. — Então tá, nada de sorvete para as crianças desobedientes. Só eu e Bolhota, vamos comer.
Termino de comer enquanto escuto a correria se acalmar e parar por completo e depois levanto da cadeira, começando a recolher os pratos sujos até os três interesseiros virem em minha direção e começarem a me ajudar a organizar a mesa, lavar, secar e guardar as louças.
Balanço a cabeça sorrindo, três caras de pau!
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