CAPÍTULO 24
Dália Menezes
Duas semanas depois...
Sinto como se estivesse em um pula-pula, mesmo que eu nunca tenha gostado desse brinquedo na infância e que agora eu não esteja pulando no mesmo, alguém está, e, isso me incomoda profundamente!
— Por favor! — Gemo tentando acertar o braço em quem que está pulando na minha cama. — Me deixa dormir!
— Não! — Reconheço imediatamente a voz de Vinicius, reviro os olhos, toda manhã eu esqueço que agora sou... mãe? Suspiro virando o rosto no travesseiro, agora sou mãe de duas crianças. — Se você não acordar, vou trazer minha arma secreta! — Parou de pular no colchão para sussurrar em meu ouvido, nego me fingindo de tonta e lembrando que Vinicius sempre vem com essas tramoias. Abro os olhos e pego o celular na cabeceira ao lado, 09:00 horas da manhã de um sábado!
— Não acredito, Vinicius! — Exclamo revoltada e cubro minha cabeça com a coberta, sinto o movimento no colchão e logo Vinicius está coberto comigo. — É nove horas da manhã! É sábado! E eu quero dormir, então, vai dormir!
Respiro aliviada, só mais uns trinta minutos e será perfeito, fecho os olhos e sinto que estou prestes a entrar no mundo dos sonhos quando também sinto a movimentação ao meu lado, os passos baixos e contidos pra fora do quarto, suspiro de alívio pela segunda vez e me aconchego em minha preciosa cama quentinha. Então, do nada e sem que eu espere, Bolhota coloca o nariz molhado e gelado em meu pescoço, pulo automaticamente de susto, abro os olhos meu cabelo no rosto não me impede de ver Vinicius rindo bem na minha frente, respiro fundo, esse garoto precisa de limites ou ele nunca vai me respeitar. Estreito os olhos e abro a boca para reclamar quando Bolhota pula em meu colo e começa a lamber meu rosto, junto os lábios para que ela não os lamba e a seguro gentilmente pelo gordinho e felpudo corpo e a coloco no colchão ao meu lado.
Arrumo o cabelo num coque fraco e solto uma risada nasal, aí, só rindo! Me junto a Vinicius e caio na gargalhada.
— Beleza! — Me rendo finalmente, ergo as mãos e pulo pra fora da cama quando Bolhota volta a se aninhar em meus braços. — Já acordei! Para, Bolhota! — Reclamo quando ela começa a se espreguiçar e esticar as garras em meu braço. Olho para Vinicius. — Pra que esse desespero, Vinicius?
— Julia vai sair hoje, ué! — Explica e para no meio do quarto pra me encarar. — Você esqueceu, é?
Paro no batente da porta e sorrio internamente com uma ideia, me apoio na madeira e franzo a testa e me viro me fazendo de confusa e encaro o meu menino perdido.
— Julia? Quem é Julia? — Pergunto da forma mais teatral que consigo, coloco as mãos no cabelo e bagunço tudo de novo. Me ajoelho no chão do quarto e desço as mãos até o rosto e finjo um choro. — Quem é você? Quem sou eu? Onde estou? Que ano é esse? Você sabe meu nome pequeno leprechaun? — Olho para minha gata agora dormindo e depois olho para Vinicius alarmada. — De quem é esse cavalo? — Aponto para a peluda e então, arregalo os olhos e coloco a mão no peito enquanto me jogo no chão e finjo um desmaio.
Sinto a presença de Vinicius chegando cada vez mais perto, porém cauteloso, como se estivesse esperando uma reação minha e falando que é brincadeira. Vinicius pega algo na cômoda e sei disso porque ele arrasta o objeto na madeira e então cutuca meu pé direito com o objeto, está tentando me fazer cosquinha, garoto esperto! Ele se move e vai até a minha cabeça e começa a fazer cafuné em meus cabelos. Seguro o sorriso, carinho gostoso pelos pequenos dedinhos em meus cabelos e não aguento, abro um sorriso.
— Isso é bom, leprechaun! — Murmuro ainda sorrindo já sabendo que ele me pegou, criança esperta.
— Sabia! — Fala beijando minha bochecha e aqui, nesse tapete que comprei na promoção na americanas, eu finalmente aceito, eu amo esse garoto porque ele é agora e sempre, o meu filho! Vou fazer de tudo por ele e por Julia pois os amos e nunca vou me arrepender de amá-los como amo.
— Sabia nada! Você estava é morrendo de medo que eu sei! — Puxo ele pra cima de mim e passo os braços ao seu redor, o abraçando forte, beijo seu rosto com amor que pensei que nunca iria sentir e após muitas risadas, cosquinhas e a participação de beijos molhados de Bolhota, levantamos e o coloco pra tomar banho enquanto preparo o café da manhã e converso com Chris por vídeo chamada.
Hoje é realmente o dia em que eu e Vini estamos tão empolgados, é enfim o dia que Julia terá alta e virá pra casa conosco, seremos nós três pelo tempo que o destino desejar e espero que seja um tempo interminável! Vinicius vem contando as horas durante toda a semana, e, com sua empolgação e energia eu aproveitei para que ele me ajudasse à arrumar e redecorar a casa.
Durante as duas semanas que transcorreram, foi preenchida por um cronograma lotado de afazeres que de um lado tinha Chris com as papeladas legais e do outro lado, Vinicius e eu com a arrumação aqui do apartamento. Como minha casa só tem quatro cômodos sem contar o banheiro e a varanda, um quarto continua sendo meu e o outro, foi lá que empenhamos todo o nosso tempo e trabalho, primeiro tivemos que desentulhar o quarto que já é pequeno, todas as coisas que colecionei ou trouxe do México e que percebi que não tinha muita utilidade, vendi tudo no bazar aqui perto. Depois o Vinicius convidou a Millena para se sujar, pois foi isso que eles fizeram enquanto pintávamos o quarto. Com o dinheiro das coisas que vendi eu comprei os móveis num outro bazar, só de móveis, tinha coisa nova e coisa usada e com a ajuda até mesmo de Julia, porque a gente tirava fotos e depois mostrava pra ela, afinal das contas ela vai morar aqui e precisa encontrar um lar conosco e se sentir confortável com tudo, então minha pequena também nos ajudou.
No fim eu não posso dizer que não aprontei, deixei Vinicius com Jaque e fui na casa de Eduardo, eu ainda tenho a chave que era do Fernando, cheguei lá com um caminhão, daqueles de mudanças, sabe? Dei um dinheiro combinado para o motorista e pro ajudante dele e juntos nós pegamos os móveis do quarto dele, as roupas de marca, peguei as coisas do quarto de Vini também e levei tudo embora, vendi também! Tudo por despeito, porque ele usou o amor que eu tenho pelas crianças para me chantagear, um idiota arrogante que se um dia voltar e não for preso, não vai ter uma cama pra deitar, vai dormir no sofá ou empoleirado em uma cadeira, mas não vai ter uma cama se quer! É claro que o Chris não sabe disso, ele nunca iria deixar, como advogado que é, mas eu não sou advogada e não me importo nenhum pouco com as coisas daquele sem escrúpulos do Eduardo!
O advogado de Eduardo também não demorou para dar as caras, ligou na semana passada e de início eu pensei que fosse o Eduardo, todavia, era o advogado do diabo me intimando para uma reunião no dia seguinte, e assim, lá fui eu novamente deixar meu filho com Jaque, cheguei na empresa depois de muito tempo sem nem colocar os pés no lugar, dessa vez eu fui bem atendida, é claro que tinha um motivo, o folgado do Eduardo me passou maior parte de suas ações na empresa, os acionistas não gostaram muito do que o advogado informou mas não tinha volta, ele me deu carta branca contando que não venda tudo ou leve tudo a falência.
No dia eu lembro de ter ficado revoltada, já não bastasse toda a responsabilidade que ele me incumbiu, mesmo ficando aliviada que ele tenha dado uma procuração me passando a guarda dos gêmeos, ainda tinha a empresa, contudo, Chris me explicou que ele fez isso porque como sou a responsável das crianças, não sou suspeita de nada do que ele aprontou e por isso para ele não perder tudo de uma vez e como ele fugiu, colocou tudo no meu nome, ou seja, um ordinário! De qualquer forma e contra a vontade de Christopher, eu liguei para o espantalho, xinguei, gritei e mesmo que tenha ficado falando com a caixa postal todo o tempo, ameacei largar as crianças no primeiro orfanato que achasse, só que nem assim ele retornou a ligação, acho que sabia que eu estava blefando.
Conclusão, depois de toda o meu surto histérico ao telefone, fomos, eu, Milli, Vini e Jaque comemorar em uma pizzaria do amigo de Jaque. Quando terminamos de comer, para não fazer vontade pra ninguém, fizemos uma vídeo chamada para Chris, queria que Julia estivesse presente mas não foi possível. No fim da noite, por mais estranho que achasse, Ricardo apareceu e nos parabenizou.
Outra coisa que aconteceu durante essas duas semanas, foi com Fernando, ele saiu do coma induzido porém não acordou. O médico ignorante falou o que todos os médicos falam nessas situações, "Ele está no tempo dele, quando o corpo achar que está tudo em ordem, ele vai acordar. Pode não ser hoje, pode não ser amanhã e nem a semana que vem, ele pode acordar daqui a anos ou nem mesmo acordar." então eu o mandei à merda! E faltou pouco para eu não denunciar ele.
Paro o carro no estacionamento do hospital, e tem mais essa, já que eu tenho que me locomover com duas crianças pra todo lado daqui pra frente por um bom tempo e ainda por cima ter que ir a empresa três vezes por semana, nada mais justo que ter um carro não é? Então eu pedi um carro ao advogado de Eduardo e ele cedeu. Foi assim que eu desconfiei que ele tinha contato diariamente com o ridículo do Eduardo, porque só assim para ele aprovar ou não as minhas decisões e as coisas que eu peço, por isso outro dia eu joguei verde quando pedi ao advogado três passagens só de ida para o Egito e então ele pediu licença, saiu da sala de reunião, fez uma ligação e voltou falando que era impossível, colhi maduro, Eduardo está esse tempo todo em contato com o advogado.
— Estamos demorando muito, Dália. — Vinicius reclama no banco de trás me tirando de minhas lembranças, balanço a cabeça em negação, ele está numa impaciência tremenda, me viro pra ele sorrindo.
— Tudo bem, vamos lá pequeno ansioso. — Pego minha bolsa no banco do passageiro e saio do carro, abro a porta que fui obrigada a travar para Vinicius não abrir por dentro, descobri isso da pior forma possível, esse garoto é impossível!
Vinicius desce do carro e de mãos dadas caminhamos para a entrada do hospital, passamos rapidamente na recepção e quando somos liberados, por já saber qual é o quarto de Julia, não precisamos de muitas informações a não ser, saber que o doutor Tavares está preparando a papelada para a alta, subimos de elevador até o segundo andar.
— Juuh! — Vinicius grita entrando no quarto e pula na poltrona ao lado da cama, sem se importar que estamos em um hospital. Murmuro um shii que é completamente ignorado.
— Viih! — Julia grita de volta e pula sentada na cama. Os dois já se completam, pedir pra fazer silêncio é inútil relacionado a ambos. Me aproximo da cama quando Vinicius já está sentado junto de Julia e se abraçando com o urso no meio.
Sorrio feliz por saber que de alguma forma eu que estou propondo esse momento feliz e com muito amor para eles, pois se fosse Eduardo, lembro das cartas, isso não seria possível.
— Oi querida. — Digo sentando na cama ao lado dos dois, acaricio seus longps e macios cabelos. — Como vai?
— Oi! Dalha. — Julia fala umas das novas palavras que Vinicius gentilmente à ensinou. Ela tem confiança e amor pelo irmão e isso a ajudou para se desenvolver e aprender, gosto de saber que também já tenho seu amor e confiança. — Vamo pra casa?
— Vamos sim, princesa! Já, já estaremos em casa. — Exclamo sorrindo e beijo seu rosto e depois somos afastada por Vinicius que entra em uma conversa paralela e instrutiva, com novas palavras para ser ensinadas à irmã.
Observo a interação dos dois com um sorriso no rosto, estou realmente feliz e é em momentos como este que me vejo agradecendo Eduardo; pego meu celular e tiro uma foto, quero deixar registrado cada pequeno ou grande momento! Coloco a foto de capa do meu celular, como lembrança para o dia em que nos tornamos uma família.
— Eita! Veja se não são as crianças mais empolgadas deste hospital! — Doutor Tavares diz adentrando o quarto e para ao meu lado. — Também são o motivo da nossa enfermeira chefe estar soltando fogo pelos ouvidos. — Ele explica e depois olha para meus meninos. — Quem quer ir para casa?
— Euu! — Os dois gritam em uníssono, sorrio balançando a cabeça, se por acaso Tavares dissesse que ela não fosse sair hoje, eles não iam aguentar.
— Pois muito que bem, aqui está a alta de Julia, Dália. — Tavares assina um papel em sua prancheta e em seguida me entrega sorrindo, parece feliz por esse feito, feliz por Julia e não como forma de se livrar dela ou de nós.
Agradeço também sorrindo e me viro, vejo as duas crianças, como duas verdadeiras crianças devem ser, pulando, felizes, alegres e abraçados, se amando como deveria ter sido desde o ínicio, e como pretendo que a partir de hoje seja. Amo os dois e mesmo que passemos por problemas ou dificuldades, nunca vou abandoná-los, pretendo dar tudo de mim para os dois, assim como quando eles entraram em minha vida, virando tudo de cabeça para baixo e dando sentido a minha vida, porque antes eu não tinha nada, meus dias eram monótonos mesmo comendo miojo e ovo mexido com somente a companhia de Bolhota quase todos os dias, era chato e é preciso admitir, reconhecer que com eles estou melhor e vice e versa. Eu posso odiar Eduardo com todas as minhas forças todavia também agradeço e sempre vou agradecer à aquele maníaco por me presentear com esses dois tesouros, que um dia ele se desfez mas eu nunca vou abandonar.
Uma vez eu li em um livro do poeta Pablo Neruda, "Viva hoje! Arrisque hoje! Faça hoje! Não se deixe morrer lentamente! Não se esqueça de ser feliz!" e é isso que eu irei fazer, viver intensamente junto com os meus filhos, porque eles agora são meus! Arrisquei a minha vida toda desde que saí do México para vir ao Brasil, mas, vai ser só agora, em meu futuro com mais dez anos em companhia deles, que viverei verdadeiramente feliz, loucamente alegre e me faço essa promessa aqui e agora, diante dos meus dois filhos que o destino me deu!
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