CAPÍTULO 23

Dália Menezes 


Christopher pelou muito para conseguir nos acalmar, estávamos eu e Vinicius bem nervosos e só depois que Chris insistiu muito, Vini nos disse que como não conseguiu ver o pai foi ver televisão e quando ligou estava no noticiário, que o meu pai fica assistindo para ver as tragédias e acabou que o garoto viu a reportagem, o que ele viu eu não sei mas Vini dormiu exausto e enquanto Chris foi o colocar na cama, aproveitei e liguei a tevê desistindo de tentar ligar para Fernando pela milésima vez, cancelo a ligação e presto atenção na tela quando encontro um canal internacional com a foto séria de Fernando no canto inferior esquerdo da tela.                              
                        
"Diretamente da Zona Leste de São Paulo, Brasil, temos mais informações do caso Magalhães, diretamente do local do crime é com você, Joares!

— Boa tarde, Chances. — A repórter morena intitulada Tatiana Joares, cumprimenta e se volta para o prédio atrás de si. — Como podem ver, estamos na frente de um hotel muito conhecido aqui na região, o Montserrat e foi aqui que tudo aconteceu! Segundo a recepcionista, Fernando Magalhães deu entrada aqui hoje, pela parte da manhã e foi um dos primeiros clientes e o mais importante, Chances, acompanhado por uma ruiva, até então desconhecida e sem um rosto ou identidade! — A mulher começa a adentrar o lugar e continua falando os detalhes. — Os policiais já estão com as câmeras de segurança e investigando todo o caso a procura de provas; agora, estamos aqui com o hóspede que ouviu tudo o ocorrido. Boa tarde senhor Jeremias, pode nos contar o que sabe?

— Boa tarde, Brasil! — O homem careca abre um sorriso empolgado e logo continua com sua explicação. — Olha moça, tudo que eu sei é que já era quase meio dia quando eu escutei vozes alteradas e coisas sendo quebradas no quarto do lado. — O homem para pra respirar e passa a mão pela barriga de um jeito estranho, faço uma careta e escuto passos na escada, Chris está voltando. — Então né, eu fui ao corredor, não que eu queria bisbilhotar, longe de mim, mas então por pura coincidência eu fui parar dentro do quarto desse homem aí… Como é mesmo o nome dele moça? — Jeremias faz outra pausa e questiona a repórter.

— Fernando. — Respondo sentada no tapete em frente a tevê, Chris se senta ao meu lado e escutamos a repórter repetir do outro lado, enquanto o homem do meu lado aperta meu ombro em consolo, sorrio e apoio minha cabeça em seu ombro. — Fernando Magalhães.

— Esse mesmo! Aí, quando eu entrei no quarto já logo vi um vaso quebrado e fui perguntar se estava tudo bem, já que a porta estava aberta. — Chris ri sem acreditar na discrição do homem. — Foi então que eu vi o corpo, moça. — Jeremias faz uma careta e passa a mão no rosto. — Ele estava todo ensanguentado! E, olha dona, eu nem consegui chegar mais perto, sai correndo e gritando e depois contei pra recepcionista tudo que eu vi!

— Obrigada, senhor Jeremias. — Tatiana agradece e volta-se para a câmera. — Não demorou muito e a emergência foi chamada, levando o corpo ainda com vida de Fernando Magalhães para o hospital mais próximo aqui da zona leste, em uma situação muito crítica e grave! — Explica e solto um suspiro meio aliviada, ainda bem que ele está vivo, Tatiana continua seu relato. — Outra curiosidade, é que não foi encontrado a mulher com quem Fernando entrou neste hotel e ainda não se tem notícias do atual estado de Fernando, Chances!"

Chris pega o controle perto de minhas pernas e desliga a tevê assim que a reportagem acaba. Me viro e passo meus braços em sua cintura, estou me sentindo tão impotente, tão fraca e é como se a cada segundo eu me lembre de minhas novas responsabilidades, soluço puxando sua camisa entre meus dedos, ele usa uma mão e acaricia meu couro cabeludo e a outra sobe e desce por minhas costas, é relaxante tenho que admitir. Mas ainda sinto tanta culpa!!

Agora eu entendo o porquê de Fernando não ter me atendido, as notícias e informações vão tomando formas e sinto minha cabeça doer ao pensar com quem Fernando esteve neste hotel, porém, isso não faz o menor sentido, pois eu tinha conseguido falar com ele, foi pouco e bem rápido mas consegui! Pisco confusa, poxa vida, ele ainda estava com a tal mulher no hotel quando falou comigo, nego ainda segurando a camiseta de Chris entre os dedos, segurando o choro feio e as lágrimas pesadas. Por que eu não acreditei no estúpido do Eduardo? Eu fui muito sonsa! Muito ingênua! Como duvidei daquele cara? Ele tinha me contado e eu… Eu… Espera! Eu não tenho culpa! Não tenho que me martirizar! A culpa disso tudo é da ruiva e de Eduardo que se não estiver envolvido, podia ter impedido!

Respiro fundo e desenrosco meus dedos de sua roupa, me afasto bem pouco e olho pra cima, Chris me sorri olhando pra baixo, sinto sua respiração refrescante de hortelã e isso me desconcentra por um instante, sua boca tão perto e os lábios convidativos… Pisco e afasto as imagens quentes falando de uma vez.

— Acho que preciso ir embora, Chris. — Sussurro sentindo minha garganta arranhar, limpo-a, meu advogado me olha confuso. — Eu… Eu… Preciso ir hoje mesmo, gatinho.

— Claro que não, Dália! — Chris murmura e segura meu rosto, olho dentro de suas íris escuras e seus cílios longos, vejo a dor e sinto por tê-lo magoado mas ele mora aqui e eu no Brasil com, agora, as minhas duas crianças. — Você viu como está perigoso e agora com duas crianças é pior e…

— Por isso, mesmo Chris! — O interrompo lembrando da audácia de Eduardo de ter vindo aqui me ameaçar. — Imagina se eu não fizer o que Eduardo mandou, viu como ele pode ser instável e violento. Eu vou fazer o que ele pediu, mas é aí que você entra.

— Eu? — Ele ri e tira a mecha de cabelo dos olhos, ergo a mão e passo em seus negros longos e macios fios. — E como eu faria isso, pode me dizer professora?   

— Como advogado, amigo de infância e… — Paro quando percebo que ia completar com amigo de cama, Christopher sorri abertamente, eu não terminei mas sei que ele entendeu, espertinho! Suspiro meio perdida. — Olha, sei como você é inteligente e preciso que percorra as entrelinhas do que Eduardo deixou para passarmos a perna nele, o que acha?

— Está me usando, professora? — Pergunta sério, arregalo os olhos.

— Não era minha intenção e… — Nego rapidamente, suas mãos sobem por meus braços até meu rosto, aproxima nossos rostos e então cola nossos lábios, seguro seus bíceps e retribuo me entregando em seus braços e em nosso calor pela segunda vez desde que cheguei ao México.


ßāßā


Já é de noite quando Chris para o carro no estacionamento do aeroporto, Vinicius mais do que rápido solta o cinto no banco de trás e exclama em um misto de reprovação e empolgação, sorrio olhando para o motorista, não consigo esquecer de seus beijos e toques em meu corpo.

— É onze e vinte e sete, a gente tá atrasados! — Vinicius exclama contrariado olhando para seu relógio do Ben dez no pulso.

— Sem surtar, Vinicius, sabemos bem do nosso tempo. — Digo abrindo a porta e indo em direção ao porta malas, Chris destrava e enquanto ergo a mala de Vinicius, coloco no chão e me volto vendo que Christopher já está ao meu lado, olho para Vinicius pegando sua mochila no banco. — Chris… — Murmuro apoiando em sua mão na alça da mala, ele me observa, sempre em silêncio, isso me mata, suas sobrancelhas se erguem e ele une os lábios firmemente, suspiro. — Vou entrar sozinha com, Vini.

— E por quê? — Pergunta puxando a mão para junto do corpo e depois soltando um suspiro longo. — Você sabe que não precisa disso não é, Menezes? Por que está querendo me afastar? Para de ser tão teimosa, meu Deus! Você não precisa ser forte o tempo todo, caramba!

— Preciso! Preciso, sim, Christopher! — Murmuro o encarando e aperto brevemente os olhos. — Agora, mais do que nunca, preciso ser forte por mim, por ele, — Aponto em direção à Vinicius e sua mochila, depois ergo a mão para o céu do lado esquerdo. — por Julia e…

— E? — Questiona ele pressiona ainda sério, está bravo, sei disso, mas, não posso colocar em perigo todo mundo que está a minha volta, já me basta carregar e me responsabilizar pela vida de duas crianças.

— E por nós dois! Por nós dois, Christopher! — Exclamo pegando a mala que faltava em um puxão. — Porque eu querendo ou não, nós nos nomeando ou não, você é importante demais! Não posso deixar de gostar de você e não deixarei que fique se colocando em perigo! Posso e vou ser forte, por todos enquanto você me ajuda à distância!

— Está errada. — Comenta firme, nego em um aceno.

— Você mesmo disse, Gutierrez, sou teimosa demais pra mudar de ideia. — Me inclino e beijo o canto de sua boca, me afasto e fecho o porta malas tão rápido quando comecei essa conversa. — Vamos, Vinicius! — Exclamo inclinando as malas para começar a andar, Vini corre até meu advogado e abraça suas pernas, se despede e eu aceno me virando e indo embora mais uma vez, segurando as lágrimas e tentando me manter sempre forte e independente!

ßāßā


Saio do elevador em uma luta entre puxar as malas pra fora do elevador, segurar minha bolsa que está caída em meu braço direito, amparar as sacolas do mercado no braço esquerdo e não deixar que Vinicius fique preso entre as portas de ferro. Largo as coisas no corredor e abro mais a bolsa procurando as chaves enquanto escuto Vinicius perguntar novamente:

— Por que estamos aqui? — Reviro os olhos por sua persistência e insistência, puxo o chaveiro da rosquinha verde e marrom e a chave balança em minha mão. — Na verdade, onde é aqui?

— Vinicius, por favor! — Destranco e abro a porta do meu apartamento, da minha verdadeira casa e o único lar possível. Dou espaço para a criança passar e ele entra saltitando batendo a mochila nas costas enquanto pego as sacolas no chão, depois faço a mesma coisa e tranco a porta assim que largo as bagagens perto do sofá. — Pra que tantas perguntas, garoto?

— Se você responder uma eu paro! —Resmunga andando, olhando e tocando nas coisas pela casa.

— Beleza. — Ando até as janelas, puxo a cortina e abro os vidros para arejar a casa. Olho em volta, precisa de uma faxina e então vai ser aconchegante e linda como sempre; eu ignorar em parte o que Eduardo me pediu, voltar para o meu apartamento é o começo já que fiz como ele disse e voltei para São Paulo, porém, não para a moradia ele desejava. Caminho até cozinha depois de mostrar aonde é o banheiro para Vinicius, abro a geladeira e coloco as coisas que comprei dentro, enquanto coloco outras na pia, escuto os pulos de Vini e suspiro. — Vai! Pergunta! Mas vamos com calma, três por vez. — Murmuro e apoio no armário o encarando séria, acabo de lembrar de algo importante. — A sacada está terminantemente proibida!

— Tá! Tá, bom! Sem sacada! — Resmunga revirando olhos pra mim e estreito os olhos pra ele ameaçadoramente. — Onde é aqui?

— Minha casa. Vamos morar aqui e de agora em diante, vai ser a nossa casa. — Corto dois pães francês e coloco queijo e presunto, me viro e pego dois pratos no armário, passo uma água e lhe entrego o sanduíche com o prato colorido que comprei na loja de um real, mas que eu nunca entendi esse nome, as coisas são tudo menos um real. — O que mais você quer saber?

— O quê? Como assim? — Pergunta surpreso. —  Eu mudo mais de casa do que como!

— Que exageroo! — Cantarolo enquanto pego o celular para ligar pra Jaqueline, quero minha gata de volta. — Vai! Próxima pergunta.

— O que o meu pai foi fazer na casa dos seus pais? — Por essa eu preciso admitir que eu não esperava.

— Conversar. — Digo apenas tentando escolher as palavras, mas, Vinicius não é bobo pois qualquer deslize ele vai fazer mais e mais perguntas que eu não estou pronta para responder. — Ele tinha uma conversa pendente comigo, querido. — Completo a frase para que ele acredite ainda mais. Tiro o telefone do ouvido, estranho... Jaqueline não atende.

— Ahhh!  — Suspira desanimado, certeza que ele esperava por algum carinho por parte do pai, sinto muito por ele mas não tenho porquê ficar alimentando essa ilusão ou depois vai ser ainda pior.

— Vai, próxima, Vini.  — Murmuro não alimentando a tristeza, abro a caixinha de suco de maçã e coloco num copo, lhe entregando.

— É... — Ele começa a mexer nas migalhas de pão no prato e morde o lábio. Pego um pano de prato perto e atiro nele, que me olha surpreso. — Eii! 

— Fala logo, Vinicius!

— Quem é Julia? — Estava demorando! Já imaginava que essa pergunta chegaria, suspiro, ajeito o pão para morder e antes comer o respondo.

— Sua irmã! — Continuo mastigando, aperto no nome de Jaque e coloco no viva voz em cima da bancada, até que ela atende. Olho para Vinicius e peço um minuto, ele se vira e sai andando com o prato e o copo nas mãos. — Alô? Jaque! Mana! Tudo bem? Cheguei viu?! Onde você tá? Tá em casa? — Questiono meio eufórica, estou com saudades e querendo pôr o papo em dia, desvio minha atenção quando escuto o controle da tevê cair, consigo ver Vini abaixado tentando pegar enquanto minha amiga me diz que está em casa, sorrio. — E minha filha? Bolhota está bem? Vou aí! — Jaque me interrompe dizendo para ir daqui vinte minutos pois vai tomar banho e desliga, afasto o aparelho com o cenho frazido, que situação mais bizarra. Olho para Vini que mastiga bem devagar e me observando sério. — Que foi? Vai querer perguntar mais alguma coisa, coisinha?  

— Claro né! Você disse que Julia é minha irmã, como assim minha irmã? Eu tenho irmã? Por que ninguém me contou? Onde ela está, então? — Pergunta desesperado, agoniado e com o semblante mais triste que já vi, suspiro meio derrotada, fui muito infeliz lhe dizendo sobre Julia daquele jeito, vejo uma lágrima descer por seu rosto e outras tentarem fazer o mesmo. Me sento ao seu lado e seco suas lágrimas, beijo seus cabelos.

— Sinto muito. Devia ter sido mais atenciosa, é que sou nova nesse papel de responsável e mãe. — Comento e ele solta uma risada abafada em nosso abraço. —  Bom... Você tem uma irmã, sim, e, como já sabe ela se chama, Julia. — Explico à Vinicius que acena mas estou incomodada, pois tenho certeza que sua cabeça deve estar uma bagunça. — Eu não sei porquê nunca te contaram dela, eu mesma fiquei sabendo faz pouco tempo.

— Como você soube? Quem te contou? — Pergunta interessado.

— Eu fiquei sabendo em prestações, seu tio me falou um pouco e seu pai me falou o resto. — Eu posso ter lido nas cartas de Eduardo mas isso é quase como uma confissão, então conta e ele não precisa saber dos detalhes. — E... Você perguntou onde ela está, sinto dizer, Vinicius, mas a Julia está no hospital, internada.

— O quê? Por quê? Quê que ela tem? — A preocupação genuína me faz querer chorar, acho que sempre foi um sonho dele ter um irmão ou irmã e agora saber que ela está no hospital deve ser horrível.

— Sua irmã estava doente esse tempo todo, Vinicius. — Explico com calma vendo seus olhinhos sempre tão curiosos, molhados. — Todos esses anos, ela esteve em um hospital, internada e dormindo. — Sua tristeza me deixa mal e solto sem pensar muito. — Beleza! Vou te levar para ver a Julia ainda hoje, se você puder entrar. — Vejo no exato momento em que o brilho volta para seus lindos olhos. — Vamos depois do almoço, quando formos visitar seu tio, ai a gente pergunta, okay? — Tivemos muita sorte por estarem no mesmo hospital, só que em prédios diferentes e próximos.

— Tá legal!! — Pula do sofá e começa a pular pela sala. — Eu tenho uma irmã! Ebaaa!!!

Dou risada da sua alegria e suspiro meio agradecida por não ter sido tão difícil como imaginei mas ainda torcendo para que ele e eu possamos ver Julia. Escuto a campainha soar pela casa e meu coração já começa a bater mais rapidamente. Deus me livre se for Eduardo, que ele não tenha descoberto assim tão fácil nossa casa e que esteja blefando sobre me seguir em cada lugar, não vou suportar isso! Engulo em seco e levanto do sofá e sigo para a porta, olho pelo olho mágico e me deparo com Ricardo, o motorista de Eduardo. Sinto o coração bater no ouvido e olho em volta, pego a vassoura encostada na parede ao lado e abro a porta me deparando com Jaqueline ao seu lado, franzo a testa.

— Você não ia tomar banho? — Questiono tentando entender e então olho para Ricardo e vejo o cabelo molhado, aspiro o ar e sorrio sugestivamente. — Ahh, tá! Entendi o que está acontecendo aqui! — Jaque faz um olhar de “Desconversa! Depois te conto!” — Vejo Vinicius se infiltrar ao meu lado e encarar os dois a nossa frente, lá vem o senhor curioso. — Vinicius, essa é Jaqueline. Minha melhor amiga e nossa vizinha. — Ele acena, então se vira e entra em casa de novo. Volto minha atenção para Ricardo e Jaqueline, ela me estende a caixinha de Bolhota e sorrio contente demais! — Filha! — Exclamo feliz da vida enquanto solto minha gata. — Bolhota! Aí, meu amor que saudade!

— Ricardo veio semana passada te procurar com um advogado e como não estava convidei pra entrar e ele disse que voltava depois a sós para um almoço. — Jaque me explica sorrindo e franzo a testa confusa, isso é estranho, Jaque não convida homens pra ir em sua casa porque Millena não gosta, prefiro não comentar nada por agora.

— Eu decidi vir hoje para o almoço com as meninas e por coincidência, você voltou hoje. — Ricardo termina de explicar com um sorriso no rosto e finjo que acreditei em toda essa ladainha.

— Então tá, amados. —Digo por fim e abro um sorriso deslavado. — Será que tem como você nós levar ao hospital, Ricardo? — Pergunto e acrescento para convencê-lo e economizar no dinheiro da passagem de ônibus ou do táxi. — Precisamos visitar o Fernando e uma outra pessoa importante...

— Essa pessoa é a minha irmã, Rick! —Vinicius exclama pulando na minha frente, todo alegre e contando detalhes da nossa vida para o homem que é funcionário do Eduardo, em quem não confio nadinha!

— Que bom, carinha! — Exclama bagunçando o cabelo de Vinicius. — Eu já vou indo, se querem uma carona a hora é agora. — Ricardo murmura sorrindo.

— Beleza! — Comemoro e entro rapidamente pegando minha bolsa as chaves e o moletom de Vinicius. — Vamos, Vinicius. — Puxo a criança, fecho a porta e me inclino até Jaque, beijo seu rosto. — Obrigada amiga. Na volta a gente coloca a fofoca em dia!

ßāßā


— Obrigada, Ricardo. — Agradeço fechando a porta do carro. — Vem, vamos, Vinicius. — Seguro a mão da criança e atravesso a rua.

— E se ela não quiser me ver? — Escuto Vinicius murmurar e o puxo pela mão já que ele empacou na entrada do hospital.

— Não seja bobo, todo mundo gosta de você. — Pelo menos quando ele deixa a pessoa se aproximar.

— Meu pai, não gosta! — Ele diz chateado e continua meio revoltado. — Nem se despediu de mim, lá no México.

— Não leve pro pessoal, Vinicius, eu que expulsei ele, me desculpa por isso. — Me abaixo perto dele e acaricio seu rosto. — Sei que deve estar sentindo saudade dele e vou tentar ajudar você em que precisar pois agora somos dois... — Olho em volta, estamos em um hospital e logo mais vamos conhecer e amar Julia, então... — Seremos nós três, eu, você e Julia por longo e ótimo tempo, seremos parceiros combinado? Confiamos tudo um pro outro, beleza? Combinado? — Ele acena e passa os braços por meu pescoço em um abraço gostoso e verdadeiramente cheio de significados e sentimentos. — Vamos deixar pra conversar depois e ir ver sua irmã.

Andamos até a recepção e depois de me informar, seguimos para o elevador e quando estou prestes a entrar na sala do médico, sou interrompida por uma enfermeira.

— Esse menino não pode entrar! — Diz puxando Vinicius pela mão e como já estava segurando a pequena mão, o puxo de volta. 

— Está louca? — Pergunto juntando as sobrancelhas com raiva. — Pois ele vai entrar e quero ver quem vai me impedir! Você vai querer tentar? — Seguro a mão de Vinicius mais firme e entro no consultório deixando uma enfermeira raivosa pra trás. — Com licença, doutor. — Falo quando passamos pela porta, o encaro bem seria. — Não posso deixar passar, sinto muito, essa enfermeira aqui fora, precisa tratar melhor os pacientes.

— Sejam bem vindos. Fiquem à vontade. — Doutor Tavares sorri educado. — Nossa! Por que fala assim de Clementina?

— Porque essa senhora, apertou o braço de meu filho como se estivesse segurando uma vassoura! — Aponto para Vinicius e só então me dou conta que me referi a ele como filho, engulo em seco, ando dando cada furo, pigarreio e rapidamente mudo de assunto para abafar essa furada. — Então doutor? Quando poderemos ver a Julia?

Doutor Tavares acena, acredito que confuso pela mudança repentina de assunto, fazer o que se estou com os nervos à flor da pele por conta dos acontecidos recentes. 

— Primeiro, peço desculpa por Clementina. Hoje mesmo falarei com ela, tem a minha palavra. — Abre um sorriso ainda educado, aceno em concordância e ele continua, Vini balança os pés ainda sentado concentrado em algum jogo no meu celular. — E segundo, vocês estão com sorte. Julia está acordada, já tomou banho, comeu e... — Olha no relógio chique em seu pulso e volta a nós encarar, sorrindo. Caramba! Esse é feliz. — Julia deve estar voltando da fisioterapia, agorinha mesmo e devo incrementar que a recuperação da garotinha está indo muito bem! Julia tem uma disposição e inteligência, inacreditável! A cada dia que passa, nem parece que passou quatro anos em coma, o seu desenvolvimento e resistência é ótimo e até mesmo quase inexplicável para nós médicos. 

— Que bom! Nossa! Que notícia maravilhosa! — Exclamo contente e empolgada, olho para Vinicius e ele sorri e exclama para Tavares:

— A inteligência e disposição Julia puxou de mim. — Fala sorrindo genuinamente. — Sabia que ela é minha irmã?    

Após mais algumas informações e esclarecimentos, somos encaminhados para o quarto de Julia e assim que entramos, nos deparamos com Julia voltando do banheiro, mas, claro que com a ajuda de uma enfermeira. Enfermeira essa que tenho total reconhecimento, Clementina, e, que me olha com uma careta, por tê-la desafiado.  

— Lógico que você estaria aqui! — Murmuro pra mim mesma, mas aposto que todos me ouviram e não estou nem ligando.   

— Você! — Clementina fala com raiva e ressentimento, olhando em minha direção.

— Eu mesma, querida! Algum problema, amada? — Pergunto sarcasticamente mas sou distraída pelos movimentos de Julia. — Ai meu Deus! Julia!

Julia olha para Clementina e aponta para mim, confusa, porém, paralisa quando Vinicius sai de trás do médico, vai em sua direção e se apoia na cama onde ela está sentada, ele sorri e também recebe um sorriso da princesa.

— Oi? — Vinicius sussurra e envolve a mão de Julia. — Eu sou seu irmão, sabia? — Murmura sorrindo e depois se vira pra mim ainda segurando a mão da irmã e pergunta. — Ela não me entende?

Olho para doutor Tavares em dúvida, eu mesma não sei o que responder, então ele se dá conta e responde em meu lugar.

— Bom... Descobrimos recentemente que Julia entende, sim. — Explica calmamente para que Vinicius entenda. — Porém, precisamente só responde e obedece ao que lhe convém. — Concluí olhando pra mim e depois nossa atenção se volta para os irmãos que parecem já ter uma grande amizade, uma amizade de anos.      

— Urso... — Julia entrega um urso para Vinicius que sorri e aperta a mão do urso como se estivesse o cumprimentando.

— Olá urso! — Vini fala sorrindo.

— Ela fala! — Murmuro chocada, pensei que não tinha como, então, Tavares rapidamente me explica.
— Fala! Julia, fala! — Concorda anotando algo em sua caderneta. — Mas só fala, uma única coisa. — Aponta para o urso já novamente nos braços de Julia. — Urso. Desde que ela acordou e ganhou o urso do pai, parece que sempre soube o que é um urso e que se denomina urso, além de que toda vez que tentamos separar ela do brinquedo, é uma guerra!

— Nossa! Impressionante! — Concordo chocada, mas algo em sua fala me chamou atenção. — Espera um pouco! Ganhou de que pai? Eduardo? — Pergunto mas não teve tempo para resposta, pois volto a olhar para os dois quando escuto novamente a voz fina e sussurrada.

— Viih! — Julia sussurra com um pouco de dificuldade, mas, falou e aponta para o irmão e sussurra de novo abraçando o urso. — Urso.

— Olha! — Vinicius pula feliz da vida. — Olha Dália! Julia falou meu nome! Obrigada irmã. Amo você! — Sorrindo, Vinicius tenta abraçar a irmã, mas, não consegue, pois, a altura impede, então abraça o braço da irmã, sorrio tentando segurar as lágrimas.     

— Você não pode agarrar ela assim, menino! — Clementina reclama de novo e dessa vez é Tavares que se opõem, comemoro internamente.

— Clementina! Acho que por hoje está bom, pode se retirar. — Fala severamente.

Clementina o olha chocada e com raiva, depois sai do quarto pisando duro. Dou de ombros e me aproximo de Julia e juntos Vinicius e eu conversamos com a pequena princesa por um ótimo primeiro tempo, para quem irá ser uma nova família e que eu farei de tudo para proteger!       
  


ßāßā


Saímos do hospital infantil logo após nos despedimos de Julia e prometer que voltaremos amanhã. Caminhamos pela calçada enquanto Vinicius fala e planeja várias e várias coisas para fazer com a irmã. Estamos indo para o hospital ao lado, onde o Fernando está internado.

— Você pode levar eu e a Julia para a casa de seus país? — Pergunta de repente balançando nossas mãos pra frente e pra trás.  

— Posso. Um dia eu levo.

— Vamos ver o seu namorado de novo?

— Quê? —  Paro no meio da calçada e o encaro, da onde esse garoto tirou isso? — Que namorado, Vinicius?

— O Chris, né?

— Não sei do que está falando, vamos logo. — Desconverso e volto a andar o puxando comigo.             

Continuamos andando por mais três minutos e então chegamos ao hospital onde Fernando se encontra. Chego na recepção e pergunto à senhora no balcão.

— Boa tarde. Eu gostaria de saber sobre o paciente, Fernando Magalhães, por favor. — Falo educadamente.

— Boa tarde. Só um minuto, sim? — Aceno e a jovem loira se volta para o computador e digita com agilidade. Vinicius ao meu lado puxa minha blusa e me abaixo para saber o que ele quer.

— Aquele homem ali. — Aponta para um homem de preto encostado em um canto. — Tirou fotos da gente.
— Acho que não, Vinicius. — Sorrio tentando o tranquilizar. — Você deve ter visto errado.

— Senhora? — Levanto assim que a jovem me chama. — Olha, pelo que vi aqui, esse moço está em coma. Mas eu já chamei o médico e ele vai te explicar melhor. — Aponta para o lado e me viro vendo o senhor encarar seu prontuário e mesmo assim me responde.

— Pode me acompanhar, senhora. — Murmura com um sotaque meio espanhol e começa a andar nós o seguimos, quando entramos, sento em uma cadeira e Vinicius em outra.

— Olha, senhora, a situação de Fernando Magalhães não é boa, muito pelo contrário, é complicadíssima. — O homem que ainda não se apresentou começa a falar. — Ele levou três tiros, um no pé e os dois que agravaram a situação, no peito perto do coração e no lado esquerdo da cabeça. Por muito pouco, pouco mesmo, ele não morre. — Continua falando e Vinicius aperta minha mão, nervoso. — Quem atirou, queria ele morto! Fernando passou por três cirurgias, a terceira no pé e foi perfeita, a segunda no peito e ele teve uma parada respiratória, quase morreu, de novo! Só que ficou vivo. E a primeira na cabeça a bala se alojou na orelha esquerda, contudo, teve uma complicação e ele morreu...!

— O quê? — Vinicius e eu exclamamos juntos, Vinicius chorando e eu horrorizada.  

— Calma! — Tenta nós acalmar inutilmente. — Como estava falando e fui interrompido! Ele morreu, mas, conseguimos trazer ele de volta. Porém, agora, ele está em coma induzido e em estado crítico.

Vinicius soluça ao meu lado e eu o abraço tentando o acalmar e me acalmar também.

Meu Deus! Que médico louco!

— O senhor está maluco? — Exclamo completamente perturbada. — Como que fala uma coisa dessas? E ainda nessa frieza? Você tem algum problema? 

— Ora! Você quer o que? Que eu enrole? — Pergunta fingindo ofensa e isso só me irrita. — Eu tenho mais o que fazer!

— Não precisa enrolar, mas... também não precisa ser rude dessa maneira. — Reclamo tentando respirar. — Você nem ao menos se apresentou!

— Quer saber meu nome para quê? — Pergunta rude novamente. — Não vamos nós casar!

— Olha chega disso!  — Corto antes que eu bata nele aqui mesmo, seja presa e perca as crianças. — Eu posso ver ou não o Fernando?

— Não! — Diz somente e grosso. — Qual foi a parte de em coma induzido e em estado crítico, que você não entendeu, senhora?

— Olha o senhor é muito do grosso! — Grito revoltada. — Não serve para ser médico! Não se vai tratar as pessoas dessa forma!

— Ah! Assim a senhora me ofende! — Fala se levantando. — Se retire por favor!

— Com toda certeza! — Falo me levantando e puxando Vinicius. — Seu médico de meia tigela!

Saio da sala e bato a porta com toda força que reúno.

— Venha querido, vamos para casa. — Caminho com Vinicius para fora do hospital, pensando que terei que contatar Chris mais rápido do que imaginava, vou ferrar esse médico! — Amanhã é um novo e feliz dia!

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