CAPÍTULO 22

Dália Menezes


Desço as escadas em tropeços a tempo de ver Vinicius dar um passo à frente em direção ao ruivo.      

— Pai?! — Vinicius exclama em um misto de surpresa e alegria.

—  Oi. — Eduardo fala em uma frieza sem limites e parece perceber que está sendo observado porque olha em volta até me achar, devo estar com olhos vermelhos, inchados e descabelada. — Ah! Aí está você também, Dália!

— Saia da minha casa, já! — Grito indo em sua direção. — Entra Vinicius! Saia agora mesmo, Eduardo! — Pego uma vassoura parada perto do vaso de costela-de-adão ao lado da porta e a levanto para tentar atingir seu lindo porém malvado rosto, mas ele segura o cabo a centímetros antes que eu consiga atingi-lo. Antes que eu pense em soltar a vassoura e entrar em casa, Eduardo me puxa em sua direção e em proteção, empurro Vinicius pra dentro e fecho a porta segurando a maçaneta.         
  
— Você me desobedeceu, Dália! — Eduardo exclama entredentes bem perto do meu rosto, sinto um frio nas pontas dos dedos quando tentam girar a maçaneta. — Qual foi a parte de não contar à ninguém que você não entendeu?

— Mas eu não contei! Seu doente! — Digo firme tentando convencê-lo mesmo eu tendo total certeza que ele tem realmente me vigiado, tremo só de imaginar.   

— Ah, faça me rir, Dália! — Abre um sorriso zombeteiro e passa o polegar em minha pálpebra inferior, viro o rosto com brusquidão e sua mão ao lado do corpo, quando volto a encará-lo, está quase espumando pela boca. — Então quer dizer que não contou ao Fernando? Pra cima de mim, mulher? Não ofenda a minha inteligência, Dália!        

— Quê? Eu não falei nada para o Fernando! — Olho para os lados atrás da minha vassoura e vejo que ainda está em sua mão, mordo o interior da boca pensando em uma alternativa.      

— Não tenho tempo para suas desculpas mentirosas. —  Eduardo olha em volta e se aproxima até me ter presa entre seu corpo e a porta, o que me desequilibra e solto a maçaneta. — Eu tive muita sorte de ainda estar aqui hoje, então essa vai ser a última vez que te aviso, presta bem atenção no que eu vou te falar. — Sussurra tentando segurar meu braço mas eu desvio. — De agora em diante onde você for vai ter alguém te vigiando, seguindo cada passo seu. Essa pessoa vai ser os meus olhos enquanto eu estiver fora. Você poderia ter evitado isso, mas preferiu me desobedecer e ligar para Fernando. — Diz enquanto me encara dentro dos meus olhos, assim que ergue a mão e pega uma mecha de meu cabelo, aproveito sua distração ergo meu joelho e acerto o meio de suas pernas, Eduardo se afasta meio curvado. — Sua vaca ordinária! 

— Não me ameaça, Eduardo! Eu não quero nem um sentinela me rondando, para de inventar moda. — Explodo respirando com dificuldade pelo discurso rápido e pego minha vassoura de volta. —  Minha vontade é contratar uns brutamontes pra te dar uma surra, pra ver se assim você larga de ser covarde!

— Acho que eu posso me encarregar desse detalhe. — Christopher aparece ao nosso lado e não parece estar feliz como sempre está, ele veio pela lateral da casa ou seja saiu pela porta dos fundos porque só agora que eu me toquei que com meu desespero segurando a porta para proteger Vinicius, acabei prendendo e impedindo o Chris de sair também, agora estou entendendo sua infelicidade. — Finalmente eu conheci o famoso, Eduardo Magalhães.

— Olha só, o outro! — Eduardo debocha inchando o peito feito um animal selvagem, Chris não fica atrás, seu sorriso sarcástico e seu olhar de advogado superior que usa nos tribunais e que tanto me encanta faz Eduardo se enfurecer ainda mais. — Me diz amigo, como é ser a segunda opção? Mas não! Não, não, eu já tiro o chapéu por você ter passado a perna no meu irmão.

— Para com isso, Eduardo! — Ralho achando ridículo esse ataque contra Chris. — Como você é infantil!                                                                                                                          
— Chega! — O ruivo grita e meio por instinto seguro a mão de Chris. — Eu não aguento todo esse drama. — Seu celular começa a tocar e então quando ele pega o aparelho, dá um passo pra trás meio perplexo e aturdido, depois abre um sorriso sinistro e me encara. — Espero que tenha se despedido do Fernando, parece que foram bem mais rápido que as três míseras horas.

— Como assim? — Sinto meu ar sumir por um instante, olho para Chris ao meu lado e não me surpreendo, não lhe contei da ameaça de Eduardo, nem deu tempo porque ele resolveu ser um abelhudo e vir aqui. Dou um passo à frente e me estico pra ver a tela e me deparo com a conversa de Fernando aberta, num impasse, sem pensar muito, estico a mão e bato em seu celular e o aparelho gira várias vezes e cai no meio das adálias de minha mãe, escuto uma risada e gargalho junto com Chris, Eduardo me olha com tanto ódio, seu maxilar travado me faz recuar e bato no braço de Chris que me segura antes que eu vá ao chão feito um trapo.     
  
— Pare de me provocar, Dália! — Vem em minha direção, segura e aperta firme meu braço, solto um gemido mais de susto do que de dor, Chris me solta e sem nem pestanejar, ergue o punho e atinge Eduardo que se afasta ainda cambaleante, seu rosto se ergue e vejo o sangue em seu rosto.

— Como você pode ver, Dudu. — Chris comenta e sorrio pelo apelido debochado, Eduardo nos olha irado. — Seja lá o que aconteceu com o seu  irmão, a Dália e as crianças, estão muito bem protegidos e comigo por perto, você não vai fazer nada com eles! — O ruivo me encara querendo uma confirmação e dou de ombros, não duvido do meu Chris, sei de suas capacidades e que sempre arca com suas promessas, não tem uma pessoa no mundo que eu confie mais que no Chris. Aproveito a deixa e aponto minha vassoura em sua direção, posso usá-la para defendê-lo e não tenho nenhum medo.                           
                                                 
— Apoio e concordo totalmente com, Chris. — Balanço a vassoura me contendo para não acertar sua cabeça.               

— Vejamos só! — Eduardo abre um sorriso monstruoso e arruma seu cabelo despenteado pelo golpe de Christopher. — Parece que temos uma mãe coruja e parasita por aqui.

— Uma coruja não chega nem perto do que eu vou me tornar se você ousar chegar perto deles. — Vejo ele se virar e descer as escadas, abaixar para pegar o celular e começa a se distanciar, passo por Christopher com minha vassoura mas ele me segura, então grito. — Espera! O que você vai fazer? Vai nos deixar em paz? Eduardo! — Consigo ver Dona Augusta, na casa da frente, a vizinha fofoqueira observar da janela toda a cena, finjo que não vi e volto minha atenção para Eduardo de braços cruzados me encarando sério. — Fala logo, encosto!

— Olha Dália, estava sendo sincero quando escrevi tudo aquilo na carta, não falei nenhuma brincadeira, não menti em nenhuma linha! — Me esclarece e pela primeira vez eu vejo verdade, eu vejo sinceridade em suas palavras e em suas feições, relaxo meus ombros desde que encontrei Vinicius em posse da caixa de seu pai. — Você precisa mesmo voltar o mais cedo possível para São Paulo com Vinicius, a Julia precisa de você de agora em diante. — Sua honestidade me faz soltar um suspiro pesado. — Seja a coluna que eles dois precisam pra se apoiar porque de agora pra frente, você é mãe solteira. — Seus olhos viram friamente para Chris. — Porque até onde eu sei, você não está em nenhum relacionamento! Nem com o Magalhães, nem com o Gutierrez! Até então, você é Dália Menezes, solteira e a responsável por duas crianças! — Fecho os olhos sentindo seu veneno peçonhento me atingir, como ele consegue sair de uma postura positiva e ir para uma negativa tão rapidamente, ele respira pesadamente e me olha. — Meu advogado entrará em contato quando você voltar pro Brasil. Aproveite seus anos com eles e boa sorte! — E assim como chegou, Eduardo falou, fez acontecer e se foi ainda mais rápido dentro de seu carro preto luxuoso. 

— Dália! — O grito em pânico de Vinicius me trás a realidade e por um instante deixo meus       pensamentos desesperados em meu subconsciente e me viro para recebê-lo, seu semblante carregado de lágrimas e angústia me machuca e ajoelho em sua frente o segurando em meus braços enquanto soluça profundamente. — Me-eu… Meu tio-o, meu tio Fernando…

Sinto os dedos de Chris afagar meus cabelos e volto a sentir todo o peso que a carta de Eduardo me causou, toda a responsabilidade que ela trouxe, tudo que terei que enfrentar e o medo de algo realmente séria tenha acontecido com Fernando então soluço, trazendo de volta minhas lágrimas e desespero, acabo ficando por bons minutos ali, ajoelhada com Vinicius e nosso pranto, até me reerguer com a criança e me tocar que Christopher ainda estava ali e não iria nos abandonar, naquele momento eu senti meu coração errar um compasso e depois acelerar, senti pela primeira vez que não queria me despedir!            

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