CAPÍTULO 18

Dália Menezes


— Relaxe! — Fernando murmura passando o braço por meus ombros e beijando meu rosto. — Até parece que nunca ficou longe dela. — Começa a rir e o encaro séria.

— E eu nunca fiquei longe dela! — Resmungo me afastando com minha mala e cruzando os braços. — Bolhota é a minha bebê! Nunca ficamos longe uma da outra! — Descruzo os braços e apoio a mão na alça da mala, fico apertando o botão de trava. — Estou avisando ela vai sentir minha falta!

— Bolhota não ficou com, Jaqueline? — Ele pergunta pra ter certeza e afirmo num aceno. — Então vai ficar tudo bem! Fique tranquila. — Aceno e por dentro a saudade aperta, queria poder estar levando minha filha comigo, sinto que estou lhe trocando. Fernando se aproxima e tira minha mão da mala, entrelaçando nossos dedos, ele me sorri e então se vira e olha o sobrinho. — Vinicius! Vamos!

Estamos no aeroporto, na área de embarque esperando anunciarem nosso voo, em plenas três da manhã. Fernando comprou a passagem ontem de madrugada pra hoje de madrugada e aqui estamos os três, Vinicius e eu nada contente em acordar cedo, principalmente eu que não pude me despedir de Bolhota, levamos ela para Jaqueline ontem de tarde, Fernando me convenceu que uma viagem longa ia ser cansativa e estressante e pra ela que odeia caixas de transportes, tive que concordar. Olho em volta, não tem muitas pessoas por aqui, é meio estranho já que em aeroporto é normal se ver muita movimentação mas acredito que por conta de ser no meio da semana e no meio da madrugada, está esse silêncio.

Nosso voo é anunciado enquanto observo Vinicius vir em nossa direção bocejando, com a maior cara de sono porém com os olhinhos brilhando de empolgação contida, sorrio e estendo a mão para ele, que aceita e já sinto sua pequena mão passar o calor que emana. Isso me deixa mais tranquila, esse momento aqui com Vinicius me deixa feliz como a tempos não fico.

Caminhamos entre as poucas pessoas que estão aqui e é bem provável que eles achem que somos uma família, um pai, uma mãe e um filho, Vinicius poderia ser meu filho facilmente mas infelizmente não somos nada disso! No fundo, na chama de amor que eu tenho por Vinicius torce para que nunca nos separemos, só que eu sinto em ter que pensar na possibilidade de não amar o Fernando para nos casarmos e ainda tem um agravante, não importa o quanto eu procuro não acho o hospital em que Eduardo internou Julia, sinto um arrepio de imaginar a garotinha sozinha em um daqueles quartos brancos e gelados de hospitais. E não vou perguntar para Fernando, ele não sabe que fui bisbilhotar nas coisas de Eduardo e da minha boca ele não vai escutar nada, vou descobrir, custe o tempo que for, vou tirar Julia da solidão!

— Eu quero ir na janela! — Vinicius fala depois de um longo tempo em silêncio, quando já passamos das aeromoças na entrada da aeronave.

Olho para Fernando e ele está mexendo no celular, conversando com alguém e nem nos notando, dando de ombro me viro para a criança.

— Você na janela e eu do seu lado! — Exclamo sorrindo e ele corre para sua poltrona, sento ao seu lado e esperamos a boa vontade de uma outra passageira despertar Fernando para que ele saia do caminho e se sente.

Estamos em um avião cheio de paradas, por incrível que pareça parece uma viagem de ônibus alado, tem uma parada em algum estado aqui do Brasil, depois uma parada em Cancun em que Fernando vai descer e eu e Vini continuamos até Monterrey, onde minha família mora. Vamos nos encontrar com Fernando, daqui a uma semana em um hotel em Cancun, ele precisa resolver um problema de trabalho, esses trabalhos dele surgem sempre do nada!

Estou um pouco preocupada, rever minha família é ótimo mas a última despedida no natal que ganhei uma passagem escondida de Daniel, foi tão pesado, meu pai não tinha aceitou minha mudança, senhor Rogério pode ser bem difícil; minha mãe estava chateada mas não me destratou o único que não pesou foi Daniel, se não for uma boa estadia ou chegar ao ponto de destratar Vinicius, eu pego nossas coisas e venho embora no primeiro momento!

Só até Cancún, já são quase doze horas e já me imagino dormindo bastante, chegar em casa com a cara toda amassada vai ser o pingo no i que a minha mãe vai achar pra me criticar, tenho certeza! Não os avisei da minha visita, só vou chegar, quero ver como vai ser.

— Você está bem distante hoje. Está pensativa, Lia. — Fernando murmura ao meu lado e pega em minha mão. —O que te preocupa? Ainda é sobre Bolhota?

Encaro Fernando assim que ele termina de falar e abro o meu melhor sorriso, ele sorri também, respiro fundo.

— Agora, não sei se ainda é uma boa ideia visitar a minha família. — Sussurro com a voz rouca, preciso de água. — Estou com saudades mas também estou nervosa! É que… Eles são meio estressados e…

— Você está mais nervosa do que com saudades? — Pergunta ainda sorrindo, isso devia me afetar mas as vezes me acalma. Busco bem fundo pra respondê-lo e então nego. — Pois então, não vai ser um estresse atoa que vai te impedir de matar sua saudade, não é?

— É verdade! — Afirmo, nunca parei por conta disso e morei quase a minha vida com eles, Fernando tem razão, eles que me aguente com meus abraços e beijos. —  Mas isso não impede que eu me sinta nervosa.

— Não fique nervosa, se acalme, sei que eles devem sentir tanta saudades quanto você e vão amar essa surpresa. — Fernando fala todo confiante e aceno, mesmo que lá no fundo eu duvido que, com todas as brigas eles vão me receber de braços abertos.

— É Dália, eu seguro na sua mão e a gente vamos juntos. — Vinicius fala enrolado e errado chamando a minha atenção e viro-me em sua direção, percebo que ele está mais dormindo que acordado.

Abro um sorriso e beijo o rosto de Vinicius. Depois, no mesmo instante me viro e surpreendo Fernando com um beijo que ele logo correspondeu no mesmo ânimo.

— Obrigada. O apoio de vocês é de muito valor! — Agradeço apertando meus braços em torno de Fernando.

E foi assim, depois de todo esse papo terapia na qual eles me acalmaram, eu dormi quase a viagem toda, as vezes abraçada à Fernando e quase sempre abraçada com Vinicius. E eu espero, nunca perder esse contato que tanto me beneficia com os dois!


ßāßā


Paro um taxi em frente ao aeroporto, Vinicius pula animado ao meu lado, apoio a mão direita nas alças das duas malas e com a esquerda seguro na mão de Vini, vai que ele dá a louca e pula no meio dos carros.

O motorista me ajuda com as malas, depois já sentados no banco de trás enquanto eu ajudo Vinicius com o cinto de segurança o motorista entra e lhe passo o endereço.

— Seus pais moram em condomínio como eu morava com meu pai, Dália? — Vinicius me pergunta e vejo quando o motorista franze a testa e dá uma breve olhada pelo retrovisor.

— É, Vini. — Concordo com um sorriso e arrumo seus cabelos. — Você vai gostar da piscina.

— Vou mesmo! — Ele afirma pulando sentado. — E vou conhecer o Daniel e o Christopher!

— Como que você sabe do Chris? — Questiono confusa, nunca falei do meu advogado pra Vinicius.

— Você fala como ele todo dia! — Me explica como se fosse óbvio, e o que me é óbvio é o fato dele ficar ouvindo minhas conversas, vou ficar ligada com esse garoto.

— Férias de descanso? — O taxista pergunta nos olhando pelo retrovisor e sei que ele está achando estranho essa viagem fora de época mas isso não é problema dele de qualquer forma.

— É. — Murmuro monossílaba enquanto Vinicius engaja uma conversa sobre lugares que eu posso levar ele pra visitar, aproveito esse momento e começo a procurar o número de Christopher na agenda telefônica e então me lembro do gansinho ao meu lado. Melhor uma mensagem.

Entro no aplicativo e paro um momento pra reparar no comentário de Vinicius, além da conversa está fixada no topo, o número indicando as mensagens recebidas, vinte e quatro, caramba! Esqueci da chamada de vídeo de ontem de noite, fui dormir tão tarde arrumando as coisas que meu celular ficou carregando até sairmos as duas horas rumo ao aeroporto.

Chris♡: Dália?

Caralho!!

Não está atendendo por quê?

Sumiu

E sumiu justo hoje que preciso de um conselho!

Está bem ocupada, não lembra dos amigos

Vou fazer a mesma coisa depois. 

As outras dezessete são no mesmo estilo dramático dele, além das quatros chamadas perdidas e duas ligações perdidas.

Eu: "Qual era o assunto tão importante?

Qual o caso dessa vez?

Escuta, desculpa não ter respondido, tenho uma ótima desculpa.

Vem aqui em casa pra gente conversar!"

Antes que eu possa continuar minhas desculpas, Chris começa a digitar e só demonstra como ele estava esperando eu aparecer, me ama demais, sorrio.

Chris♡: Finalmente apareceu, meu!

?????

Tá ficando louca?

Menezes, eu não vou pegar um avião só pra gente conversar, vamos continuar fazendo isso por aqui.

Sem contar que tenho uma audiência as 17

— A gente não vai chegar não? — Vinicius me cutuca, abro a boca para respondê-lo.

— Falta fazer o retorno ali na frente. — O homem aponta a estrada enquanto explica, Vinicius se inclina para ver e eu também, sinto meu coração bater acelerado, estamos na rua do condomínio — É ali, olha, aquela entrada do outro lado.

— Con-do-mi-ni-o Llu-via de ve-ra-no. — Vinicius lê o letreiro na entrada com calma e esse é o nível de silábico alfabético em que ele está, sabe ler mas sempre devagar e com calma, é só o tempo de treinar um pouco mais e pronto. — Condomínio Chuva de Verão? — Pergunta me olhando pra ter certeza e aceno.

— Parabéns pequeno, está indo muito bem! — Parabenizo e ele se empolga ainda mais.

— Desse tamanho e já sabe ler? — O motorista diz incrédulo, assento orgulhosa do meu menino. — Impressionante!

Momentos depois, paramos em frente ao portão, pago o taxista e seguro a mão de Vinicius que ainda pula, está tão animado que está espantando minha ansiedade. Caminhamos até a entrada enquanto Vinicius vai deixando os dedos correrem pelas flores vermelhas e amarelas na passagem. Paro na entrada de moradores e imediatamente o porteiro abre a janelinha.

— Senhora, a entrada de visitantes é logo aqui do lado. — Aponta para as nossas costas e movo os óculos escuros até o topo da cabeça, sorrio e retiro minha carteira de dentro da bolsa e pego minha antiga porém ainda válida carteirinha do condomínio.

— Boa tarde, sou a filha dos dentistas Menezes. — Cumprimento sorrindo e lhe entrego a identificação.

Alguns minutos mais tarde, paramos em frente ao uma linda casa, a construção antiga é tão elegante como os donos, a pintura areia e as telhas marrom escuro, as janelas do andar de baixo são as únicas que dá para ver pois as outras janelas são nas laterais e no fundo pro quintal e a piscina, o jardim logo após a calçada com dálias coloridas no jardim e sorrio, fico feliz que mamãe não se livrou delas. Solto a mão de Vinicius para ele tocar a campainha enquanto carrego as malas, ainda na entrada, posso ouvir a porta abrindo e meu pai falando.

— Pois, não?

— Oie! — Vinicius exclama e abraça suas pernas, seguro uma gargalhada quando vejo o rosto em pânico de meu pai. — Como vai pai da Dália?

— O que foi, querido? — Mamãe aparece atrás de meu pai e então paro em frente a porta e ela me vê.

— Dália?! — Exclama surpresa e retiro os óculos de novo, meu pai ergue a cabeça tão surpreso quanto minha mãe e vejo Daniel descer as escadas.

— Oii família! Estavam com saudades?

ßāßā


Estamos em Monterrey, faz quatro dias hoje e por mais que estivesse em dúvida e incerta sobre vir ver meus pais, estou feliz que Fernando me fez seguir em frente. Vinicius é a prova de que felicidade existe, nossa, o garoto deve ficar com o maxilar dolorido todos os dias de tanto sorrir e pular, tanto que a todo instante eu o vejo caindo. Todavia, nesses quatros dias me emocionei, vê-lo tão empolgado e com a alegria que uma criança sempre deveria ter, é emocionante!

Meus pais os adorou e é como se eu tivesse lhes dado um neto, a paparicação é tanto que quando voltarmos para São Paulo, eu é que vou sofrer com esse dengo que colocaram nele. Fiquei sabendo que Daniel vai se casar com, Alexander o dono de um restaurante aqui do centro e que se conheceram quando Daniel foi fazer uma matéria sobre o seu estabelecimento e fez uma pequena crítica, parece que para conseguir um marido hoje em dia é só assim! O problema é que nossos pais ainda estão em fase de aceitação e acomodação, dessa vez eles estão mais maleáveis porque não querem que outro filho se afaste, só nós quatro sabemos o quanto a distância é ruim. Vinicius conheceu Christopher e os dois estão em uma ciumeira fora do comum, não dá pra entender, eu nunca faria distinção amo os dois mas eles não parecem entender, ficam se alfinetando todas as vezes que se encontram.

— Oii? — Estou no banheiro terminando de pentear o cabelo, Vinicius está no quarto, jogando no celular já de banho tomado pra irmos almoçar com seu mais novo rival. E pela voz, é Chris que acabou de chegar. — Oi Vinicius.

— Oi. — Vini responde com a mesma animação, reviro os olhos, coloco a escova na pia.

— Cadê a Dália? — Christopher pergunta enquanto pego minha correntinha para colocar e então ele surge elegante e lindo na porta do banheiro de meu quarto e sorrio vendo-o pelo espelho.

Chris tem a sua beleza exótica mas o que me encanta é o fato dele se mostrar algo e fazer outras bem diferentes. Lembro dos nossos encontros, quando eu morava aqui e quão quente e agradável sempre foi! Minhas lembranças caminham, para o dia que briguei com meu pai e os dias depois disso; sai de casa, aluguei um quartinho perto da padaria, e quando estava certa sobre a mudança, eu e Chris fomos sair. Ficamos bêbados como nunca! E sexo ainda mais doido e selvagem, dentro do carro, banheiro e etc., foi uma despedida com a nossa cara!

Nossa relacionamento ficou distante depois que me mudei, mas passamos por cima e a distância não nos separou totalmente, é uma amizade com interesses dos dois lados há anos, e nunca saímos do mesmo nível, não houve uma evolução e por enquanto, estamos bem!

Ontem, saímos em quatro, eu e ele, Daniel e Alexander, não deu em outra, matamos a saudade de alguns meses e foi corpos suados pra todo lado em seu apartamento!

— Está muito bonito, advogado. — Comento quando ele se aproxima e pega a correntinha, os dedos passando por meu pescoço me arrepiam.

— Digo o mesmo professora. — Beija meu ombro desnudo, sorrimos um para o outro pelo espelho, Christopher é com certeza inebriante se não viciante. — Está muito cheirosa, também!

— Obrigada, Vinicius que escolheu. — Ele revira os olhos e aperta minha cintura antes de se afastar.

— Por isso vocês se deram bem, um mais debochado que o outro. — Comenta e sai do banheiro, seguro no pingente com minhas iniciais DM e sorrio. — Tá jogando o quê? — Pergunta depois de se jogar no colchão ao lado de Vinicius.

— Corrida de carro. — Vinicius explica após um tempo, saio do banheiro e vou até a minha mala aberta na cama e a fecho.

— Legal! — O homem responde e Vinicius ergue os olhos brevemente do aparelho para ver Chris. — Tá usando que carro?

— Jaguar. — Vinicius comenta e o olha de novo, está perdendo a paciência, segura uma risada.

— Eu tenho um jaguar.

— Legal… — Murmura e então parece se dar conta do que Chris lhe disse, arregala os olhos e larga o meu celular na cama. Escuto a campainha tocar. — Verdade? Tem mesmo? Deixa eu ver?

Vinicius se ajoelha no colchão e Christopher sorri com a mão apoiando a cabeça, me olha de rabo de olho, querendo dizer com o olhar que ele é muito bom. No primeiro dia ele havia me dito que iria, sim, conseguir fazer amizade com Vinicius e realmente, Christopher está conseguindo!

— Dália! — Minha mãe grita no andar de baixo. — Visita pra você!

— Já vou! — Grito de volta. Os dois tagarelas na minha cama me olham curiosos. — Já venho. — Aviso deixando minhas coisas de lado e saindo do quarto, desço os degraus ainda descalça e com a barra do macaquinho arrastando no chão. Vejo minha mãe parada no fim da escada. — Quem é, mãe?

— Eu, Lia. — Escuto a voz masculina e então a silhueta pomposa sai da sala e me encara sério. — Precisamos conversar!

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