CAPÍTULO 15
Fernando Magalhães
Eu sempre gostei de mulheres determinadas, que não fazem tudo como se é esperado da sociedade e me encantei por Dália só por ter cotejado Eduardo, beleza, admito que foi perigoso o confronto mas tem o adicional dela defender meu sobrinho com tanto afinco, tá bom que ele não é meu filho, só que eu prometi protegê-los quando tudo acontceu e isso já é o suficiente!
Quando Eduardo e Alexa assumiram um relacionamento, eu assumo que a minha amizade e afeto com ela foi afetado, pois eu a estimava demais, tínhamos um relacionamento muito maior e mais longo que o deles!! Contudo eu ignorei, era escolha dela afinal e continuei minha vida, até tudo acontecer e só sobrar o Vinicius para eu me empenhar em fazer feliz e proteger, mesmo que Eduardo tenha tentado impedir, essa foi a forma que consegui para manter a Alexa entre nós e de alguma maneira, viva.
Vejo Dália andar pelo quarto pensativa e absorvendo o que lhe contei, pra falar a verdade, depois de tudo, nunca imaginei que traria alguém para morar em minha casa, mas, eu abri uma brecha e não me arrependo porque já faz tanto tempo que espero! É frustrante e solitário! Além do Vinicius também estar aqui e de qualquer maneira, já estou me acostumando com os dois aqui.
Desde quando éramos crianças, Eduardo tinha algumas crises mas nem se comparava as de hoje, a outra face foi aparecendo mais constantemente conforme ele foi passando por experiências traumáticas e ou marcantes. Como quando a Alexa chegou na empresa; o nascimento dos gêmeos e o sumiço precoce de Alexa, depois disso ele se isolou e se afastou, ninguém conseguia se aproximar dos dois e Dália foi a que conseguiu ir mais longe.
Como não né? Essa mulher tem uma língua afiada, uma resposta pra tudo e não me surpreende que ela e Vinicius tenha se dado tão bem, Dália encanta a todos sem nem fazer esforço, passa por aí sem passar despercebida com suas madeixas coloridas, gargalhadas espontâneas e amor por sua gata, adoro que ela tem seu o próprio jeito de ser e não liga para o que falam, afasto meus pensamentos.
Será que ela sente falta de sua família? Podíamos fazer uma viagem e visitá-los, seria um bom jeito para espairecer.
ßāßā
Eduardo Magalhães
Que ódio!
Odeio esse lugar!
É tudo tão branco e sem vida! Não suporto o fato do médico continuar me receitando remédios sabendo que não preciso de nenhuma dessas drogas, eu posso me manter são por minhas próprias forças! Não quero ter que aturar a bosta do enfermeiro que me designaram, o olhar de deboche que ele sempre me manda é de tirar qualquer um do sério.
Eu ainda não acredito que Fernando fez isso comigo, ele é meu irmão e se uniu aquela mulherzinha para me destruir! Está acontecendo tudo de novo! Ele me troca por qualquer rabo de saia, é impressionante!! É o cúmulo que me pegaram em uma situação tão terrível mas foi em um momento de fraqueza e a culpa foi inteiramente dele, Fernando me estressou e deu no que deu, mas isso não vai se repetir, pode ter certeza!
A minha vontade de me vingar é gigante! Porque desde que Alexa se foi, ele enfiou naquela cabeça de ervilha que precisa proteger os meus filhos para enternecer Alexa! Mas eu vou ensiná-lo, que se eu não posso e não tenho capacidade para criá-los, ele tem muito menos! Não vai ser tão fácil assim, eu darei a responsabilidade pra qualquer um, menos o Fernando!! Sua amizade e dedicação não me é mais necessário!!
Todavia, para colocar o meu plano em prática, preciso sair daqui! É óbvio pra todo mundo que me conhece que não ficarei aqui por muito tempo, — menos o meu irmão! — eu não estou tomando meus remédios porque quero estar no controle, posso me unir ao outro e sair daqui muito rápido, tenho certeza que disso.
O barulho enferrujado da porta de estofados brancos, de meu quarto totalmente branco, da indício que Brad, meu enfermeiro vestindo branco, está de volta. Ergo a cabeça de meu travesseiro duro, só pra ter certeza e lá está ele com a única coisa que não é branco nesse inferno, seus dentes amarelos amostra em um sorriso enorme, Brad ama me ver aqui e assim, a sua mercê.
— Parece que finalmente alguém lembrou de você, Dudu. — A ironia continua presente em sua fala, o apelido ridículo que me colocou parece ser cantarolado todas as infelizes vezes proferidas.
Queria tanto socar essa cara sorridente de Brad, nunca quis tanto tirar esse sorriso dele como hoje. Mas justo hoje, parece que as antas de branco que perambulam por este pesadelo branco, descobriram que eu não estou tomando as pílulas e me furaram com todas as agulhas possíveis, me sinto mais fraco que todos os dias, é como se a droga que me deram foi para acordar ele.
— Vai se ferrar, seu merda! — Consigo murmurar e sorrio pois consigo demonstrar minha contrariedade. — Quem veio me ver? — Pergunto puxando a respiração.
— Seu filhinho. — Brad ironiza de novo, está encostado na parede como se estivesse em sua casa. Reviro os olhos, não quero ver Vinicius, não queria antes e também não quero agora. — É melhor se comportar, Dudu! — Brad ameaça e pouco me importa, de verdade.
Brad volta a se mover, sai do quarto e em seguida entra, acompanhado de Vinicius. O garoto por quem tentei com muito afinco durante anos, aceitar e compreender, para no meio do quarto, aos pés de minha cama, me encarando porém não retribuo o olhar. Resolvo olhar para meu enfermeiro, encostado na porta e esperando com expectativa alguma cena.
— Não quero nenhum dos dois aqui! — Murmuro e volto meus olhos para o teto branco. — E mesmo que quisesse, não faria nada contra o meu filho! — Exclamo bem alto, Brad sorri e Vinicius salta de susto com minha alteração de voz.
— Não vou sair. — Brad gargalha. — Olha onde você está Dudu. — Ele aponta ao redor, no hospício branco, que me enfiaram. — Se fosse confiável, não estaria aqui. — Sinto uma tremenda raiva, é como uma maldição, o Eduardo poderoso que conquistei está agora sendo humilhado por esse enfermeiro patético.
— Por que ele está te chamando assim, pai? — Vinicius pergunta em um sussurro, ergo a cabeça para encará-lo. — Por que te colocaram aqui, pai?
"Agora o filhinho quer satisfação! Que bonitinho!" Escuto quase longe ele sussurrando como uma cobra.
— E por que você faz tantas perguntas? — Respondo no automático e sei que isso é obra dele e de Brad com seus remédios detestáveis. Os olhos de Vinicius se enchem de lágrimas. — Desculpe. — Consigo sussurrar após um longo suspiro, é preciso um grande esforço.
— Não tem problema… — Passa as mãos nos olhos, enxugando as lágrimas. — Já me acostumei, pai!
"Que drama!" Volto a ouvir o sussurro do demônio, dessa vez eu sinto uma pontada do que ele sente.
— Se acostumou? Eu sou um bicho para que você se acostume? — Pergunto com despeito.
"Você é muito frouxo!" Ele me ataca e faço uma careta de repúdio.
— Basicamente. Eu mesmo não me acostumei. — Brad exclama do outro lado feito uma gralha, cerro os dentes com a raiva me dominando.
— Cala a boca, saco! — Grito enraivecido, não conseguindo me controlar. Eu odeio essa voz na minha cabeça, é insuportável! E eu não sei o que é pior, Brad ou ele. — Não aguento mais, vocês! Que ódio! Para de me perturbar! Eu não aguento mais! — Grito fazendo força ao segurar meus cabelos e sentar na cama, isso está me matando!
"Estamos evoluindo! Agora, mande esse pirralho embora." Escuto sua parabenização e sei que o grito que dei, para que ele pare, não adiantou.
— Ele voltou! — Escuto Brad avisar, reviro os olhos abaixando a cabeça em minhas mãos.
— Saíam daqui! — Murmuro com a voz abafada pelas mãos. Não escuto resposta, ergo a cabeça e encaro Vinicius. — Não quero te ver, Vinicius! Larga de ser insuportável! — Exclamo sentindo a raiva dele conseguir espaço. — Não tenho paz quando vejo você! Vai embora de uma vez!
"Não poderia ser mais perfeito! Esse é a melhor versão do, Eduardo!" Sua voz sai como melodias e não luto mais por meu lugar, não quero ter forças.
— Por isso que meu tio colocou você aqui! — Vinicius grita batendo o pé e chorando.
Sinto uma fúria que jamais senti, meu ouvido chia quando o escuto falando de Fernando, ajoelho na cama e tento alcançar o garoto com os braços esticados e então, Brad se põe entre nós e retira Vinicius do quarto.
Eu nunca senti raiva de verdade por Vinicius, mas ele vir aqui para defender o sonso do meu irmão me irritou ao extremo!!
— Eu vou acabar com todos vocês! — Grito e sinto meus braços sendo puxados para trás, meu corpo despenca na cama. — Me larga! — Exclamo tentando puxar os braços, olho em volta e Brad está me olhando enquanto outros dois enfermeiros me seguram deitados.
— Continue segurando, ele! — Brad comanda com um sorriso esnobe. — Eu disse para se comportar, Dudu. — Balança a cabeça em negação, tento lhe acertar inutilmente com um chute, Brad sorri. — Vamos ter que proibir visitas também. Que pena, moço!
Sinto a agulha perfurar minha pele e o líquido gelado entrar em contato com minhas veias, o remédio queima e eu grito tentando tirar a agulha de minha pele. Esse negócio arde mas felizmente, não sinto nenhum efeito sobre minhas ações.
— Pode sair. Eu lido com ele daqui pra frente. — Brad pede aos dois.
— Não é melhor esperar? — Um dos enfermeiros sussurra ainda me segurando, fecho os olhos, fingindo estar dormindo, como se a droga já me afeta-se. — Essa injeção demora para pegar, Brad. — O enfermeiro informa e ele tem toda a razão, seguro a risada.
Brad se abaixa em minha direção e checa meu pulso, sinto que me encara e normalizo a respiração só que o suor ainda escorre por meu rosto.
— Não. Olhe pra ele… — Brad indica jogando minha mão por cima de meu corpo, é um péssimo enfermeiro! — Já pegou, isto é direto na veia. — O homem afirma, o outro dá de ombros e se retira.
Abro os olhos por alguns segundos para ver Brad, que continua observando minhas reações e anotando em minha ficha, volto a fechar os olhos, atuando como desacordado e ouvindo ele tentar me influenciar.
"Ataque, ele!"
— Você tem toda essa aparência de forte, como todos esses músculos, mas, não tem resistência à esses remédios. — Brad ironiza e fecho meus olhos mais apertado.
"Depressa Eduardo! Você não terá outra oportunidade!"
— Tem certeza disso? — Pergunto abrindo meus olhos, ele me encara surpreso. — Você deve ter se enganado! — Empurro a prancheta em sua direção e ela atinge seu nariz, Brad se curva sentindo dor e agarro seus cabelos, bato com a sua cabeça duas vezes seguidas no ferro da cama e em seguida seguro seu pescoço, fazendo que mesmo zonzo e com dor, me encare, encare o homem que vai matá-lo, quem sabe na outra vida ele não fique debochando dos fracos.
Aperto seu nariz, quebrando e ouvindo seu grito de desespero, sorrio satisfeito.
— Ninguém vai ouvi-lo! — Sussurro em seu ouvido ainda o segurando pelo pescoço. — Fez questão de me colocar em quarto aprova de som, espero que não tenha se arrependido! — Ironizo e vejo ele mudando de cor a procura de ar, seus olhos se enchem de lágrimas.
"Perfeito! Continue!" Desaperto um pouco meus dedos quando o escuto, ele luta pra tomar o controle quando estou prestes a desistir. Brad puxa o ar e fecha os dentes em um sorriso dolorido.
— Você não vai me fazer nada! — Sussurra com força.
"Você vai matar ele!"
Fecho os olhos e volto a fechar meus dedos em seu pescoço, aperto desejando ardentemente que fosse ele entre minhas mãos.
— Não tem direito à última palavra! — Exclamo de olhos fechados e o escuto agonizar.
Minha fraqueza chega junto com o último respiro de Brad, abro os olhos e o vejo de olhos arregalados e a boca aberta, sorrio, me segurando pra não gargalhar, Brad parece uma nova versão do quadro O Grito. É fantástico!
"Concordo, Dudu." A ironia de sempre me irrita e jogo o corpo no colchão, pego seu crachá tentando me levantar.
Preciso sair daqui o mais rápido possível, pego algumas de suas horrendas peças, jogo o lençol por cima do corpo e me escoro na parede sentindo a cabeça rodar, fecho os olhos e tateio a parede até a porta, passo o crachá na trava e a porta abre.
Abaixo a cabeça e sigo cambaleante pelo corredor menos movimentado, ainda lembro a saída de quando me trouxeram, estava bem lúcido. A minha sorte é que algum paciente precisou de atendimento e uma boa parte do hospício correu para lá, passo o crachá na terceira porta desde que saí e então ergo a cabeça, uma garoa fina molha a estrada de terra e sorrio.
— Grandessíssimos, idiotas! — Exclamo passando o crachá no portão sem nenhum segurança. — Quando eu recuperar meu poder, vou fechar essa merda no fim do mundo onde me enfiaram! — Adentro o mato alto e desço um morro meio íngreme, me arranhando no percurso. Chego no meio de umas árvores deformadas e atiro o crachá longe, retiro a roupa e chuto a terra molhada por cima, sorrio como se estivesse enterrando Brad.
Passo a mão na barba, afastando algumas folhas e olhando em volta, preciso de um lugar para me esconder e descansar, não estou aguentando nem manter os olhos abertos quando vejo uma caminhonete velha e enferrujada, meio tombada entre umas árvores, me escoro nas árvores e enfim consigo deixar meu corpo cair em efeito do medicamento, com o único pensamento que odeio todos que me colocaram nessa situação!
Em meu âmago mais profundo, eu juro, aqui nesse fim de mundo, vou me vingar pois estou de volta e nenhum pouco feliz com o que me fizeram.
Bando de carniceiros larápios!
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