CAPÍTULO 13

Dália Menezes


Em todo os meus vinte e nove anos, eu já beijei muitas bocas! Admito que quando eu morava no México, além de Christopher, eu tinha alguns telefones para ligar em momentos de solidão e estresse. Mas o Chris, sempre foi o centro, a referência, mesmo não tendo nada sério além dos nossos encontros casuais e quentes!

Todavia, quando vim pra São Paulo eu tive que parar com as minhas saídas e respectivamente com os casos!

Já provei beijos de muitos gostos, menta, morango, mel, pipoca, bala, café e outros, porém, Fernando tem gosto de chocolate e é… Tão bom! Eu não sei explicar o que sinto no momento, só que preciso admitir, é gostoso e diferentes dos outros.

Os braços fortes de Fernando não me possibilitam saída e não reclamo de modo algum. A mão direita dele corre por minhas costas até meus cabelos, aprofundando nosso beijo, aproveito a deixa para explorar seu belo, musculoso e esculpido corpo. Fernando tem braços, barriga e uma bunda bem durinhos, saí vitoriosa dessa investida! Ele começa a andar até que bato com as costas na porta da geladeira, sua mão sai de meus fios loiros e desce por minha coxa, os dedos que me acariciam a pele também me deixa arrepiada, sorrio entre o beijo e Fernando retribuí, até seguir com os lábios quentes para meu pescoço, fecho os olhos.

De repente, nos afastamos com pressa ao ouvir o toque repentino e alto de um celular, assim que caio na real, percebo que se trata do meu celular e que ele toca em cima do balcão. Desencosto da geladeira e me afasto indo até o aparelho, a foto piscando de Christopher me faz sorrir involuntariamente.

A identificação, Advogato, me faz apertar os dentes no lábio, indecisa. Da última vez que nos falamos, ele não ficou feliz com minha mudança! É difícil brigar com Christopher, porque depois que saí da casa dos meus pais ele se tornou meu amigo, confidente, conselheiro, crush e meu advogado!

Ainda lembro, anos atrás, quando entramos em um consenso, eu seria a sua professora gostosa e ele o meu advogado gostoso. Isso me faz decidir por fim, e atendo o aparelho, colocando no ouvido.

— Oie, Christopher! — Cumprimento impassível. — Algum problema?

Mais ou menos. — Sua voz é séria, ainda está bravo. Caminho para fora da cozinha pedindo um minuto a Fernando, encostado com o quadril na pia. — Apesar de tudo, achei que iria gostar de saber que seu pai pediu uma auditoria, aqui na empresa!

— Auditoria? — Pergunto surpresa e ele murmura um sim do outro lado e sento no sofá, cruzando as pernas. — Por que? O que, que aconteceu?

Por enquanto, nada demais, só suspeita de fraude! — Solto um ahh, meio sem rumo. Está um clima estranho entre nós dois que nunca existiu. — Enfim, devia ter mandado uma mensagem. Vou desligar, Menezes!
 
— Christopher! Espera!! — Exclamo meio alto e abaixo a voz e a cabeça, apoio o queixo no joelho e o cabelo cobre meu rosto. — Escuta, Chris, não vamos ficar assim...!

Sei que fiz mal, Dália. Não tenho que ficar me metendo em sua vida!
 
— Não! — Exclamo para ele parar de falar e aperto o celular entre os dedos. — Só vamos esquecer esse assunto! Por favor?! A gente é melhor que essa briguinha!
 
Escuto Christopher soltar um longo suspiro, e depois de alguns segundos ele diz um okay. Sorrio com o coração mais calmo.

— Como você está? Está tudo bem?

Estou. E você? — Engulo em seco, estou com essa dúvida tem um tempo, melhor fazer pra quem pode me responder, abaixo a voz e olho de relance para a porta da cozinha. — Chris, pode me tirar uma dúvida?
 
Claro! Manda!
 
— É possível que eu consiga a guarda temporá... — Paro de falar quando escuto a chave rodar no trinco na fechadura da porta de entrada, e ela se abre deixando Vinicius entrar saltitando. — É... Posso ligar mais tarde? Aí, a gente conversa? Vou ter que desligar.
 
Estarei esperando, professora. Se cuida! — Chris desliga e abaixo o celular até o sofá, Vinicius me nota, sorri e em seus passos saltitantes chega até mim, parando bem à minha frente.

— Cheguei! — Vini aplaude. Vejo glacê em sua bochecha e ergo a mão para limpá-lo.

— Percebi, amor. — Comento recolhendo o braço. — Como foi lá?

Vinicius foi brincar com o vizinho do apartamento onze do sexto andar, tem a mesma idade que Ítalo, quatro anos e em breve vão fazer cinco aninhos. Os dois se conheceram no parque do condomínio há um ano e brincam juntos sempre que podem.

— Foi muito legal! — Ele me explica ainda animado, porém para e franze a testa. — Fizemos um circuito de carrinhos, mas, porque está com a boca suja?

Coloco a mão na boca em puro instinto e vejo Fernando caminhar em nossa direção, ele sorri satisfeito em me ver sem respostas.

— Foi que eu estava raspando a travessa de mousse que fiz, aí me sujei. — Explico sorrindo vitoriosa para Fernando.

— Poxa! E eu pensando que você tinha se sujado de outra forma! — Fernando diz sentando ao meu lado, dou uma cotovelada em sua costela e ele pula. — Ai, mulher!

— Que bom que você voltou, tio! — Vinicius comenta o abraçando e ignorando sua reclamação.

— É. — Puxa o ar e solta em um suspiro. — Como foi a aula esses dias? — Pergunta em seguida me confundindo, interessante que esteja preocupado com os estudos do sobrinho, Eduardo é completamente o oposto. — Algum recado? — Vinicius fica pálido, arregala os olhos e posso ver seu pavor.

— É… É que… — Vinicius gagueja limpando as mãos na calça. — Eu…

— O que aconteceu, querido? — Pergunto tentando ajudar, seguro sua mão direita e faço um carinho. — Não precisa ter medo.

Ele assente e então se vira e corre para o corredor a nossa esquerda, entra em seu quarto, olho para Fernando.

— Para de ser louco, hein?! — Sussurro e então ele me encara sem entender. — Fica aí insinuando nosso beijo para o menino. Não é pra fazer isso, Fernando! — Ele torce a boca em deboche e ergue as mãos em rendição. — Perfeito! — Concluo vendo Vinicius voltar, ele para novamente em nossa frente e me estica sua agenda, falando:

— A professora mandou entregar.

Abro na última página usada, Fernando se inclina para mais perto na intenção de ler também e já sinto o cheiro de seu perfume, balanço a cabeça e me concentro no bilhete de letras cursivas.

"São Paulo, 02 de junho de 2017.
Boa tarde.
Prezado senhor, Eduardo Magalhães, venho por meio desta, pedir sua presença em nossa unidade escolar, Heitor Ferreira do ABC, na próxima segunda-feira, dia 05 de junho, durante o horário de aulas para conversarmos e resolvermos em parceria um assunto delicado, envolvendo Vinicius Arthur Magalhães, seu filho.
Desde já, agradecemos a compreensão.
Professora, Eleniza e a Direção."

Olho para Fernando que acaba de ler e ainda encara o papel com uma mão apoiada no queixo.

— Como você sabia que tinha uma anotação na agenda dele? — Pergunto confusa, Vinicius nem me contou de nada ontem, fecho o caderninho, Fernando me olha.

— Porque eu vi que tinha uma ligação perdida da escola no meu celular. — Explica sério e então olha para o sobrinho. — O que aconteceu? — Esse tom de voz para com o menino é bem o estilo de Eduardo.

Vinicius abaixa a cabeça, como se estivesse envergonhado e coloca a mão no bolso me estendendo em seguida um estranho aparelhinho cinza, parece um controle porém bem menor, com um botão preto no centro, um botão ou rodinha vermelha na lateral e no topo, um fio bem fino e com uma bolinha preta na ponta.

— Desculpa. — Vinicius sussurra me olhando com lágrimas nos olhos.

— Mas, — Murmuro ainda confusa, nem sei o que é isso em minha mão. — O que aconteceu, Vinicius? — Repito a pergunta que Fernando fez.

— Comece explicando, o que é isso! — Fernando exclama nervoso enquanto indica o dispositivo em minha mão. — Explique-se e vamos começar a entender!  Então, pode começar! — Ele diz bem ríspido.

— Não precisa falar assim com ele, Fernando! — Exclamo o encarando, eu não batia de frente com Eduardo, aqui, com Fernando, é totalmente diferente. Ele nem sabe o que o garoto fez e já está o punindo. Seus olhos me mostram surpresa, não esperava por minha intromissão. — Você nem sabe o que ele fez! Ou se fez alguma coisa! Não é pra falar com ele assim! — Volto a olhar para Vinicius, seguro sua mão, quero passar segurança e confiança. — Pode falar, querido. Estamos aqui pra ouvir sua versão ou explicação.

Vinicius acena recuperando a confiança, olha para o tio que ainda o olha severamente e anui dando alguns passos para trás, desiste de se abrir. É óbvio o seu medo e insegurança, seja lá o que Eduardo fez para deixá-lo assim, em pânico, Fernando não está ajudando! Quero socá-lo, por estar agindo como o descontrolado de seu irmão! 

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