CAPÍTULO 12

Dália Menezes


— Eu estou esperando uma resposta! — Digo já impaciente, apoio minhas mãos em meu quadril e olho para os dois à minha frente. — Vocês não vão falar nada? — Pergunto e eles se entreolham e depois de um suspiro Fernando levanta e caminha em minha direção.

— Desculpa? — Ele pede e olho para ele indignada, me poupe, né? — Tudo bem…  Escute com calma e atenção, Dália, eu te peço desculpas de verdade por ter mexido em suas coisas, nas gavetas e… Muitas belas peças! — Fernando sussurra a última frase mais para si mesmo, porém eu ouvi e com clareza! Nas minhas gavetas ficam minhas peças íntimas.

— Como é? — Berro bem esganiçada, estou em choque. — Você está me zoando, né? Que invasão de privacidade é essa, cara? — Fernando abre um sorriso malicioso e eu um sorriso assassino. Olho para Vinicius que está mais entretido em acariciar Bolhota, melhor que ele não vê a surra que vou dar no tio intruso dele!

— Beleza! Foi mal! De verdade, eu não fiz por maldade. — Ele levanta as mãos em rendição se explicando. — É que a sua reação, não foi a que estávamos esperando. Pensei que você, fosse aceitar vir morar com a gente. Mas parece que eu me enganei.

Olho em direção a Vinicius, que agora me encara em expectativa, segurando Bolhota, fico feliz que eles fizeram as pazes.

— Por favor, Dália! — Vinicius junta as mãos implorando. — Olha, eu e Bolhota fizemos as pazes e ela quer ir com a gente também. — Os dois ficam tão bonitos juntos, isso balança um pouco minha decisão.

Beleza… Pode ficar pior do que já está? Questiono mentalmente mordendo meu lábio inferior, a resposta logo chega.
Sim, sempre pode piorar!
Mas vale a pena o risco?
Olho para Vinicius, só ele que me importa; criei um laço diferente com ele, é como se agora eu me importasse de verdade com alguém além de eu mesma. Cara… Não consigo nem pensar ou me ver indo embora como fiz há nove anos. Onde me meti? Será isso amor ou compaixão? Não! Não faria nenhuma escolha arriscada por alguém! Eu amo, meu Vinicius! Suspiro me sentindo desolada, nunca mais vou conseguir me afastar dele! 

Posso estar exagerando? Sim, posso, óbvio! Mas não vai ser agora que vou cair na real. Meu intuito nesse momento, é proteger Vini de todo mal que possa tentar atingi-lo, vou estar sempre ao seu lado.

Volto para o plano terrestre e encaro os dois à minha frente, estão em pura expectativa. Devia deixá-los esperando uma resposta por alguns dias até eu me recuperar de meus ferimentos, mas, lá no fundo eu já sei minha resposta, pra que adiar o inevitável?

— Tudo bem… — Caminho até a cama e sento na beirada do colchão. — Eu vou com vocês! — Digo por fim.

Minha cabeça e costas batem no colchão macio e arregalo os olhos surpresa. Paro minhas mãos nas costas de Vinicius e aspiro seu perfume, ele ainda tem cheiro de talco de bebê, me traz paz e tranquilidade, sorrio.

— Ebaa!! Vai ser muito demais! — Vinicius grita em comemoração ainda em cima de mim. — Você vai amar a casa do meu tio! — Seu sorriso me faz rir ainda mais, o amo mesmo.

— Com você lá, eu vou amar sem dúvidas! — Acaricio seu rosto e suas madeixas macias.

— Já que você aceitou. — Fernando comenta também sorrindo, nem parece que acabou de internar o irmão, anda até  a porta. — Vou resolver algumas pendências e saímos em meia hora. — Ele dá uma piscadela ao sair e eu decido o ignorar mesmo com meu coração batendo alegremente.

É só um homem bonito, Dália! Larga de ser carente!  Ralho comigo mesma revirando os olhos.

— Vem Dália! — Vinicius me puxa depois que já está em pé de novo. — Precisamos arrumar minhas coisas, também! Vêm! Rápido!

Aos tropeços e risadas nós dois corremos escada acima e sem que eu possa me conter, por um breve segundo, eu imagino nós dois no futuro…

Melhor eu parar enquanto ainda posso raciocinar!

ßāßā

1 mês depois!


Na cozinha, minha especialidade é fazer ovos, pode ser cozido, frito, mexido, só a gema ou só a clara, mole ou duro. Sei até fazer gemada! Contudo, cozinhar outras coisas tem sido o pior dos pesadelos, ter que cozinhar para comer e alimentar mais duas pessoas tem sido um pardieiro!

O dono do restaurante no final do quarteirão já sabe e temos até um acordo, o cardápio do dia vira duas marmitas na qual eu busco no final da tarde, e é perfeito! Assim eu não queimo, desperdício ou estrago nada!

Entretanto, hoje, justamente hoje em pleno sábado que o Fernando vai voltar de viagem, o restaurante fechou para reforma e não podia ser mais perfeito! Por isso, que agora eu sinto esse cheiro horrível na cozinha, abro o forno e lá está! Uma grande travessa de escondidinho com uma cara nada boa e um bolo, que era pra ser de chocolate, todo solado, a sobremesa nem se quer teve a capacidade de crescer! Tá bom que a culpa é cinquenta por cento minha, por esquecer de colocar fermento, mas, era só se esforçar um pouquinho mais!

O que, que eu estou falando? Aí! Faço uma careta descontente, que coisa mais frustrante!

— Que ódio! Eu desisto! — Choramingo revoltada.

Vou em direção ao balcão de mármore preto e termino de colocar o leite no liquidificador, infelizmente eu já tinha começado a fazer um mousse de chocolate mas está me dando ainda mais trabalho e raiva!

Ligo o liquidificador e enquanto os ingredientes se misturam, volto no começo do mês quando eu e Vini nos mudamos pra essa cobertura, logo de cara eu percebi que Vinicius tem a maior facilidade em andar pela casa, parece que aqui é mais sua casa que na onde morava com Eduardo!

Aqui ele tem um quarto e não precisa se esconder, já é um ponto bem favorável a se destacar. Seus sorrisos e gargalhadas de criança, aqui são verdadeiros e isso é contagiante! Fiquei no quarto ao lado do de Vinicius e de frente para o de Fernando. São três quartos, o de Fernando é uma suíte e os outros dois dividem um banheiro. É aquele banheiro que fica entre os quartos e tem uma porta ligando a cada quarto; e tem uma cozinha americana com uma sala conjugada. Enfim, é tudo lindo, aconchegante e masculino.

Fernando é arquiteto e engenheiro, com um belo gosto para decoração e essas coisas, acho qualquer dia desses eu irei levá-lo em meu apartamento para me dar sua opinião, e, além disso, foi com Fernando que Vinicius conseguiu todos aqueles livros e equipamentos de seu antigo quarto.

No meio do mês, em uma quarta-feira para ser mais exata, um dia antes de Fernando ir para Santa Catarina, ele nos levou para ver a Exposição do Castelo Rá Tim Bum, na Barra Funda; achei tudo tão fantástico e nostálgico, lembro de assistir com meu irmão na infância, pelo canal estrangeiro e começar o interesse pela língua portuguesa, ali.

O Vinicius ficou encantado com a parte da cozinha, porque era tudo em tamanho real e idêntico; segundo Fernando, Vinicius assistiu tudo pelo YouTube e não duvido. Enfim, foi um belo e inesquecível passeio!!

Desligo o liquidificador e então sinto os pelos macios de Bolhota passando entre minhas pernas, o rabo felpudo balança harmonicamente e ela mia. Olho em sua direção e sorrio, ela se adaptou facilmente.

— Ah! Pretinha! — Murmuro com voz de dengo, como quando fala com um bebê, ela mia em resposta. — Como você é linda meu, bebê! — Continuo com a voz de bebê e então despejo o líquido homogêneo sabor chocolate na travessa, ela sobe na bancada e mia encarando o doce. — Ah nem pense nisso, vida, se fosse para você sobreviver a base das comidas que eu faço. — Dou uma risada sarcástica, raspando o copo do liquidificador. — Não estaria mais viva agora, gordinha! — Coloco o copo na pia e lavo as mãos.

— Duvido que a sua comida seja tão ruim assim, Lia. — Me assusto e dou um pulo com a mão no peito, franzo a testa para Fernando.

— Fernando! Meu! Quer me matar ou o quê? — Bato o pé no chão, odeio esses sustos bestas, ele sorri, está sempre sorrindo! — Por que raios você está rindo, Fernando?! — Bufo enfiando sem querer alguns dedos na tigela com o mousse.

— Desculpe, mas, é super engraçado, Dália! — Fernando continua rindo e vai chegando mais perto com suas belas covinhas nas bochechas quando sorri e como ele está sempre sorrindo, elas estão sempre ali, iluminando e perturbando a minha curiosidade em erguer as mãos e tocar as suas covinhas! — Você conversando super empolgada aí, com Bolhota… É muito engraçado.

— Não estou vendo graça! Ouvindo as conversas alheias! Que feio… 

Acabo rindo, Fernando segura minha mão de chocolate e leva um dedo até a boca, limpando o doce em uma lambida. Seguro a respiração bem surpresa com essa investida, meu coração bate meio descompassado e pisco sem saber como agir, fui pega totalmente desprevenida!

— Amo mousse! — Fernando diz lambendo o doce do próprio dedo ainda  me encarando maliciosamente, engulo em seco. — Ainda mais se for de chocolate. — Ele abre minha mão na altura da boca e deixa um beijo no centro da palma, me arrepio por inteira e o encaro perdida. — Prontinho, querida. Limpa! — Ele diz sorrindo, passa a língua entre os lábios.

— Claro que, não! — Digo saindo de meu transe, dou um passo à frente e passo um outro dedo de chocolate em sua boca. — Aqui ainda está sujo, Nando! — Murmuro debochada. — Mas pode deixar, eu mesma limpo!

Dou um último passo para perto dele, me reclino e toco seus lábios com os meus, seus braços terminam o trabalho de unir nossos corpos e bem ali, em sua cozinha, nos beijamos! Um beijo doce, um beijo de chocolate que vai entrar na minha lista, como um dos melhores!

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