CAPÍTULO 11
Dália Menezes
Estou tendo um pressentimento ruim, um bem péssimo pra ser honesta. É como se a qualquer momento fosse acontecer alguma coisa e isso está me dando calafrios, eu sinto que me meti na toca de algum predador assassino desconhecido pela sociedade. Meu coração bate em descompasso com minha respiração.
Olho novamente para Eduardo e reparo que ele caminha em direção a uma cômoda de madeira escura, que tem do lado direito da sala. Ele abre uma gaveta e como está na frente não consigo ver o que ele pega lá dentro mas já me dá medo. Me viro e tento abrir a porta, que para o meu azar, deve ter o mesmo trinco que a do seu quarto, porque por mais que eu tente virar a maçaneta ela não se abre.
— Ai que saco! — Sussurro nervosa.
Levanto a cabeça para ver o que meu chefe está fazendo e por um segundo eu quase morro, ele não está mais perto da cômoda. Me sinto em um filme de terror mal feito, olhando em volta a sua procura e o encontrando perto da janela, ele olha a rua enquanto segura a cortina.
— Sabe, senhorita Menezes? Andei lhe observando e percebi que você não é muito de bater nas portas, não é mesmo? — Ele questiona enquanto fecha a janela e se vira pra mim. Arregalo os olhos inconscientemente, por que ele fez isso? Não está frio nem chovendo. — Responda! — Eduardo esbraveja ríspido ainda no mesmo lugar.
— Oche! — Exclamo sem perceber. — Eu… Eu não sei do que o senhor está falando! Quer que eu fale o quê? — Esse o homem está me assustando! E essa tensão que nos envolve me incomoda muito.
— Sabe muito bem do que estou falando, Dália! — Ele está muito sério e parece descontrolado. Tento lembrar de algum golpe que eu possa me defender. — Vai me dizer, que não se lembra de ter invadido meu quarto? — Eduardo dá um passo para o lado e eu acompanho com o olhar de fuga.
Sua voz está assustadoramente baixa e parece que está atrás de mim, meus braços se arrepiam quando ele tira uma faca de dentro do bolso.
— Eu… Eu… Bom, eu não fiz por mal. — Gaguejo atordoada. — E também eu entrei por engano, mas, logo sai. — Minto por puro instinto e medo dessa faca em suas mãos, nunca fui boa em desviar de objetos cortantes. — Guarde isso, sim? Não tem necessidade de violência. — Aponto para o objeto pontudo.
— Mentirosa!! Pare de mentir! — Ele grita de repente me assustando, está ficando vermelho como seus cabelos. Ando para o lado temerosa, acabo, infelizmente, me afastando da porta.
— Senhor… — Falo baixo tentando o calmar, como se faz com um animalzinho assustado, acho que ele está tendo algum tipo de crise. — Não precisa gritar…
— Eu grito o quanto quiser!! — Ele exclama um pouco mais baixo e bem mais ameaçador. — Você não tem o direito de querer me impor algo! É você a empregada, a subordinada, não eu! — Eduardo me olha com raiva, totalmente transtornado.
E a empatia que estava tentando ter se esvai no momento que ele me chamou de subordinada, uma falta de respeito tremenda! Cara idiota!
Olho para ele com toda a minha revolta e então ele começa a vir em minha direção, são passos firmes, sem qualquer vacilo. Eduardo me faz recuar e quando percebo minha panturrilha bate no apoio do sofá, acabo me desequilibrando, seguro com força no encosto do assento e solto a minha revolta, ele pode estar armado mas não pode me humilhar assim, posso me armar de humilhações.
— Não fale assim comigo, não! — Grito colocando fúria na voz, é preciso se impor! Não sou cachorrinho de ninguém! — Eu posso ser sua empregada, mas não sou sua propriedade! Subordinada é o caramba! Seu grosso mal educado! — Reclamo com ironia e revolta, nem meus pais gritaram assim comigo, quem dirá um inútil desse! Não sou nada dele e nem que fosse, ele não pode falar assim com as pessoas!
Eu não esperava, realmente não esperava e por isso quando ele me dá um tapa, fico totalmente sem rumo, caio no sofá em um giro desengonçado. Encosto a mão onde fui atingida, sinto-a molhada e olho para a minha palma, vejo o sangue, não acredito! Esse maldito me tirou sangue?! Ainda em choque, passo o indicador no corte, sinto que é reto e não muito pro fundo, me arranhou com a faca na hora do tapa. Tremo de raiva e as lágrimas de humilhação ardem querendo cair, não vou dar esse gostinho, me recuso!
— Não fale, você, assim comigo! — Grita bem perto. — Se você acha que vai levar o meu filho pra longe, está muito enganada! — Aproveito sua distração com um discurso errôneo e subo no sofá, seus olhos claros me encaram confusos, ergo a perna e o chuto com toda a minha força, o baque de seu corpo grande caindo no chão é o que me faz abrir um sorriso, fiz bem em treinar perna e chutes. — Sua vadia! — Eduardo resmunga no chão segurando o nariz sangrando.
Olho em volta a procura da faca que caiu assim como ele e foi parar um pouco mais adiante.
— Como você ousou me bater? Não passa de um covarde! — Grito transtornada, meu cabelo do lado direito gruda no sangue que escorre por minha bochecha. — Esse foi seu maior erro! Vou te expor pra todos os jornais sensacionalista e de fofoca dessa cidade! Seu verme! Nunca mais encoste em mim, de novo!
Continuo brigando e quando percebo que ele está se recuperando, vou em direção a porta e bato com todas as forças. Nem que eu apareça no Cidade Alerta! Aquele jornal da Record que só passa tragédia! Vou expor esse mondrongo!!
— Fran! — Esmurro a madeira e grito. — Francisca! Por favor! — Bato mais vezes e olho para trás vendo Eduardo levantar e vir em minha direção ainda sangrando, o nariz parece quebrado, faço uma careta vendo meu estrago. — Ricardo! Me ajuda, aqui! — Soco a porta uma última vez antes de ser puxada pelos cabelos.
— Sua ordinária! Eu vou te demitir por justa causa! — Eduardo reclama ainda com dor. Mas o que ele fala me faz rir, ele ainda acha que vou ficar trabalhando pra ele? Já me demiti faz tempo. — Do que está rindo? Deveria se ajoelhar e implorar por clemência! Porque eu não vou deixar você levar o Vinicius, pra longe de mim! — Ele puxa meu cabelo enquanto fala, ergo o joelho com vontade e acerto com força o meio de suas pernas, ele se encolhe com dor e solta meu cabelo.
— Como se eu fosse continuar trabalhando pra você! Me poupe, cara! Você é uma vergonha para os da sua espécie! Sua bactéria insignificante! — Murmuro sentindo minha cabeça latejar. — Só que você não vai sair por cima não, seu energúmeno! — Xingo vendo ele segurar as partes íntimas, totalmente vermelho. Minha vontade era de socar toda essa cara dele, só que eu sou melhor que isso. — Assim que eu sair daqui, passo na primeira delegacia e aí sim, você vai estar ferrado! Seu maldito!
— Sua… — Eduardo parece recuperar as forças do além e ergue a mão para me bater, contudo, a porta é aberta e Ricardo entra com outro homem, que eu ainda não conheço.
— Eduardo! — Exclama o homem desconhecido. — Solte ela, mano! — Ele caminha para perto de nós e em um último reflexo e descuido meu, Eduardo me joga no chão com mais um tapa, mais forte e violento que o anterior.
Se eu pudesse, ficava no chão, sinto o gosto do sangue em minha língua e as lágrimas de antes voltar com força total. Ergo o rosto um segundo, sendo amparada por Ricardo, o outro homem olha para o ruivo complemente chocado.
— O quê? — Eduardo pergunta em risos quase histéricos, dá de ombros como uma criança e encara o desconhecido. — Você que mandou, Fernandinho!
— Idiota… — Murmuro enquanto Ricardo me põe de pé.
Assim que estou novamente em pé, apoio no braço de Ricardo e encaro o homem que segura Eduardo sentado no sofá, a mão dele parado no ombro do ruivo. Seus olhos azuis me observam e ele sorri, queria poder sorrir de volta, mas, é bem provável que meus dentes estejam sujos de sangue. Sou a primeira a desviar os olhos com a pontada aguda na cabeça que me atinge. Ele então troca de lugar com Ricardo e logo está do meu lado, suas mãos em meu corpo, uma na cintura e a outra apoiada em meu braço, com uma carícia suave e reconfortante, meu braços se arrepiam com o toque.
— Ah! Menos né, Ricardo? Eu pago seu salário, pelo amor! — Escuto Eduardo reclamar voltando a ficar fora de si.
— Você está bem, Dália? — Pergunta e não deixo de me surpreender por ele saber o meu nome, eu não conheço por quê ele me conhece? O bonito parece entender a minha confusão. — Desculpe, me chamo Fernando, sou o irmão de Eduardo. E é bom finalmente conhecer a famosa Dália. — Fernando desliza a mão por meu braço, que ousadia!
Contudo, é bom dizer que faz tempo que não me sinto confortável e amparada como agora. Faz tempo que não ligo pra ele, meu advogostoso... Sinto meu rosto queimar de vergonha, isso nem é o momento para eu me interessar por alguém, principalmente um parente do louco que me atacou! E ainda pensar e sentir saudades de Christopher!
— É… Estou bem! Obrigada, de qualquer forma! — Digo meio sem jeito. Não é normal eu ficar encabulada assim, deve ser a presença desse irmão Magalhães. — Enfim, prazer em te conhecer, Fernando! Só que eu não sou famosa, coisa alguma! Então, só pare! — Murmuro tentando me afastar, ele fica me encarando, coisa de doido.
— Gostei do cabelo! — Diz sorrindo, esse simples comentário faz minha barriga doer de nervoso, que saco viu! — Azul é minha cor favorita. — Fernando complementa no fim pegando uma mecha de meu cabelo, coitado nem imagina que ele tá ficando é roxo, com essa mistura do azul com o vermelho do sangue.
Pulo de susto, me distraindo com um barulho estrondoso de algo sendo quebrado.
— Ops! — Eduardo diz com sarcasmo, olho para o lado e vejo mais um vaso espatifado, a parede esquerda à porta já está toda marcada, homem louco destruidor! Reviro os olhos sem paciência. — Não foi a minha intenção apagar o fogo do novo casalzinho!
— Você tem problema! — Explodo com raiva. — Seu ridículo!
— Não fale assim comigo sua, pobretona cafona! — Eduardo escapa do aperto de Ricardo e começa a vir em minha direção.
Num instante, Fernando entra na frente, ficando entre nós dois, aproveito para provocar a vontade. Arregalo os olhos e mostro a língua em uma careta bem infantil, Eduardo fica vermelho de raiva, sorrio com meu feito.
— Cafona é você, projeto de papai noel de Chernobyl! — Provoco virando o rosto pra longe dele.
— Não a humilhe, Eduardo! Para de palhaçada! — Fernando diz e sei que ele está segurando a risada. Percebendo que Eduardo não ia parar, ele estica as mãos como se fosse o parar. — Olhe em quem você se tornou, Eduardo! Volte a si, eu imploro! — Fernando parece realmente implorar e sinto um pouco de pena deles dois, será que Eduardo sempre foi assim? — Acha que a mamãe sentiria orgulho se te visse dessa forma? Um homem agressivo e covarde? — Questiona e Eduardo recua parecendo arrependido, até que um monte de pessoas vestidas de branco entram em silêncio e vão até o ruivo.
— O que? — O Eduardo arrependido de segundos antes me olha transtornado. Seus braços são segurados com força enquanto o colocam em uma espécie de camisa. — Foi você, não é? — Ele me acusa revoltado. — Eu vou acabar com essa sua vida imunda, que você tem! — Fico paralisada, uma parte de mim de raiva e a outra de surpresa, pois agora pouco eu entrei nesse escritório para tentar ajudar Vinicius e agora estou sendo tachada e julgada como culpada de algo que nem sei o que é!
— Pare de acusá- la, Eduardo! Não foi ela que os chamou, foi eu e fiz para o seu próprio bem. — Fernando intervém, enquanto os enfermeiros carregam o homem revoltado para fora da casa, espero que Vinicius não esteja vendo essa cena, não quero traumatizá-lo. — Essa situação não podia continuar e você sabe disso. Um dia você vai me agradecer!
Fecho os olhos e soluço três vezes seguidas, meus dedos entram entre meus cabelos e seguro minha cabeça quando uma dor aguda e latejante me atinge em cheio. Tento dar um passo até a cadeira e sinto minhas pernas tremerem, o mundo perde o foco e eu perco as forças, caio no chão e tudo se escurece com meu nome soando ao longe, sem que eu consiga forças para responder o chamado.
ßāßā
Desperto sentindo um cheiro forte e bem desagradável e assim que abro meus olhos me deparo com dois pares de olhos azuis, os do meu Vinicius são mais bonitos, não escondem nada são totalmente expressivos, amo isso nele. Olho em volta e faço uma careta de dor pelo movimento. Estou no meu quarto na casa de Eduardo e cercada por Vinicius e Fernando me encarando, parecem preocupados.
— Que é, gente? — Murmuro estranhando essa aproximação. — Por que vocês estão me encarando, assim? — Pergunto sentando na cama, encosto na cabeceira. — O que aconteceu? Me nasceram chifres, é?
— Ué! Você caiu dura no chão, aí eu te achei e avisei meu tio e aí ele veio super rápido te pegou no colo e te trouxe para cá! — Vinicius explica em um só respiro. Olho para Fernando ao meu lado, ele não para de me encarar! Caramba! Assim não dá, não sou um frango de padaria pra ficar me encarando!
— Obrigada! — Agradeço sinceramente, apesar das encaradas. — Mas eu preciso pegar as minhas coisas, antes que seu irmão chegue. — Digo tentando levantar e encarando Vinicius para ver a sua reação, não quero magoá-lo.
— Sobre isso. — Fernando começa e bagunça o cabelo de Vini. — Eu já conversei com Vinicius e agora só falta você aceitar nossa oferta, não é mesmo gênio? — Ele pergunta ao sobrinho que concorda veemente com a cabeça.
— É! E então, Lia? Você vai aceitar, né? — Vinicius implora quicando no colchão enquanto seu tio fica somente me encarando com um sorriso no rosto, vou arranhar a cara desse ser!
— Querido, calma… — Murmuro lhe segurando para que ele pare de pular e não caia, de machucada já basta eu. — Eu nem sei que oferta maluca é essa, meu bem. — Ele para enfim de pular e me encara confuso, depois olha para o tio e pergunta:
— Eu pensei que o senhor tinha falado com ela, tio! — Vinicius diz já todo murchinho.
— Vini, como que iria falar com ela? — Questiona agora arrumando os cabelos de Vinicius, que antes, ele mesmo havia bagunçado. — Dália estava dormindo, não lembra?
— Ah, é! — Vinicius balança a cabeça assentindo, nunca o vi tão empolgado, parece que é a presença de Fernando, sorrio involuntariamente. — Verdade! Mas você, pode falar com ela agora. — Ele diz apontando em minha direção e olhando para o tio, que por sua vez, abre um sorriso e não diz nada. — Vai, tio Fernando! Fala logo, que demora, meu!
— Tá bom, tá bom! — Fernando exclama desistindo e erguendo os braços. — Dália querida, eu pretendo levar vocês dois para morarem comigo. — O moreno diz tão rápido que ainda estou assimilando a forma como ele diz meu nome, tão… Sensual.
Pera ai! O que foi que Fernando disse? Morar com eles? Com… Ele? Seguro a boca em surpresa, junto as sobrancelhas os encarando.
Tá todo mundo ficando maluco, senhor! Eu morar com uma pessoa que acabei de conhecer? De novo, isso? Que provação enorme é essa, Deus? Eu não sou louca! Vou voltar pro meu apartamento, que é seguro sem ninguém pra me bater.
Mas por outro lado, Fernando nunca foi grosseiro ou me atacou, muito pelo contrário, foi gentil desde o começo… Apesar que eu o conheci à poucas horas… Aí! O que estou pensando? Não tem a menor chance!
— Não! Não vou a lugar nenhum. — Digo levantando da cama e caminhando pelo quarto até, sem querer e num momento de distração, bater o pé em minha mala que Bolhota se assusta e pula pra longe.
— O que significa isso? — Aponto para as minhas coisas acomodadas perto da porta. Me viro os encarando, eles se fazem de sonso dando de ombros.
Vou te contar… Privacidade não é uma palavra que eles conheçam!
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