Bônus
Fernando Magalhães
Ainda estou deitado nessa cadeira reclinável dentro dessa enfermaria idêntica ao do passado, me sinto claustrofóbico mesmo estando tão perto da saída desse cômodo branco e cheirando a remédios e álcool.
Fecho os olhos, respirando fundo e agradeço parcialmente por termos conseguido apesar de tudo salvar Vinicius e Dália, mesmo que ela e minha Alexa tenham sido feridas, dois deles estão fora de risco!
O médico alto e sério se despede de Christopher e caminha para a saída, que é a mesma direção da minha, por isso estico o braço e seguro seu jaleco. Leio rapidamente seu crachá preso na roupa e o encaro.
- Pois não?
- Doutor, foi o senhor que atendeu minha noiva também? - Pergunto com o coração apertado, estou com tanto medo!
- E a sua noiva é? - Pergunta procurando entre os papéis.
- Alexa Menzie! - Afirmo tremendo, não quero ouvir notícia negativa mas não tenho outra alternativa.
Ele folheia por um tempo e depois de não achar começo a sentir falta de ar, não pode estar acontecendo, não posso perdê-la mais uma vez! Não vou aguentar... Ele pede para que eu me acalme e puxa o celular do jaleco, digita e desliza o dedo pela tela, lendo, procurando ou fazendo sei lá o que por quase dois longos minutos até que me encara e responde.
- Não fui eu quem à atendeu. Mas ela está bem! - Afirma devolvendo o celular para o bolso. - A bala atingiu o baço e por lá ficou alojada. Infelizmente, tiveram que retirá-lo, o órgão ficou muito prejudicado! - Explica respirando fundo, parece cansado. - Agora ela está sedada, mas fora de perigo! - Após terminar ele se despede e some ao passar pela porta.
Solto de uma vez a respiração que segurei nos últimos segundos. Um alívio imenso toma conta de mim e consigo me reecostar na cadeira e pensar com mais clareza.
Estava sentindo um peso se assolar em minhas costas, porque fui eu quem a colocou em perigo, quando resolvi ajudar no resgate de Vinicius! Se arrependimento matasse, eu já estaria morto e enterrado há muito tempo!
Nunca passou pela minha cabeça que Eduardo surtaria daquela forma por ver Alexa, pensei que ele iria no máximo gritar como sempre faz, e não atirar nas pessoas daquele jeito!
É claro que fui burro! Qualquer um com o mínimo de inteligência adivinharia que Eduardo iria surtar, nem tem como não pensar e eu atingi essa proeza! Não fui racional e deu no que deu, Alexa foi baleada por ser o fantasma que o atormenta até hoje! E depois dessa cena traumatizante de ver Alexa sendo baleada, espero que ele nunca descubra a verdade, que continue achando que ela está morta, porque eu não vou iluminar sua mente conturbada!
Lembro até hoje os anos tortuosos que Alexa passou e de como virei cúmplice por uma promessa que não consegui cumprir!
Se eu tivesse sido um pouco menos sonhador e visto o que estava estampado diante de meus olhos, talvez nada disso estivesse acontecendo!
Lembro que a muitos anos atrás, eu e Eduardo tivemos um sério desentendimento, envolvendo justamente minha Alexa! Eu sorrio só de lembrar a primeira vez que a vi com seus longos cabelos acobreados!
Lembranças ativadas:
Fernando Magalhães
Março de 2005
Naquela época o meu irmão Eduardo, estava uma pilha de nervos já fazia um ano e meio, estava ajudando ele a planejar sua empresa, Choklad!
Os nossos pais tinham deixado uma herança muito boa, admito dizer que foi muito mais útil para o Eduardo. Minha mãe tinha herdado um terreno com plantio de cacau, no Pará e quando ela morreu ficou para nós dois. Depois, quando papai se foi deixou uma grande quantidade de dinheiro porque ele investia na bolsa de valores.
No fim, eu me formei em engenharia cívil e logo em seguida em arquitetura. Eduardo se formou em administração, agronomia e fez vários cursos preparatórios para saber lidar com cacau e fazer chocolate, meu irmão sempre foi inteligente e esforçado mesmo com os problemas.
Quando tudo ficou pronto, ele inaugurou a Choklad, tinha 30 anos, foram mais de dez anos se preparando e ele amava o que fazia, liderar, inovar, planejar, namorar e tudo o que envolvia.
Mas então, ele parou de se cuidar, a bipolaridade estava cada dia mais aparente e ele não conseguia controlar! Os sintomas do TEI,
Transtorno Explosivo Intermitente, cada dia mais forte e constante! Eu tentava sempre, tentava diversas vezes levá-lo de volta para o médico para se tratar e ele só fazia se afastar, até que fui desistindo.
Logo se passou um ano, a empresa estava indo de vento em polpa, meu irmão criativo e empolgado estava ficando sumindo cada dia mais! E o Eduardo explosivo e impulso ganhando cada vez mais força!
Um ano e vinte um dias depois da inauguração, eu visitava a Choklad as vezes porque eu não trabalhava lá, não era a minha área. Eu tinha meu próprio cargo, carreira e apartamento, diferente de Eduardo que ficou com a casa dos nossos pais.
21 de março de 2006
Era exato dez da manhã quando saia do elevador no andar da diretoria para uma das minhas visitas mensais em que eu e Edu saímos para almoçar e colocar o papo em dia, era uma forma de manter, apesar de toda a sua negação para receber ajuda, a nossa amizade e companheirismo de irmãos e amigos.
Eu já estava acostumado a entrar e sair daqui, porque todo mundo me conhecia, mas dessa vez foi diferente. Antes mesmo de apertar a maçaneta, escuto uma voz doce e feminina ressoar atrás de mim:
- Eii!! - Me viro e vejo uma bela jovem com cabelos acobreados sentada na poltrona no canto da sala de pernas cruzadas e me olhando indignada. - Com licença? Mas eu estou na frente!
- Acho que não. - Sorrio a encarando, ganho um olhar chocado. - Tenho quase certeza que estou na sua frente!
- Moço, eu estou a meia hora esperando para ser atendida. - A linda mulher de olhos verdes brilhantes me repreende.
- Senhorita, - Sorrio andando até ela, que se ergue e para em minha frente. Continuo afirmando que ela é muito bonita! Mesmo que esteja sobre saltos altos, ainda é menor que eu. - Continuo convicto que estou na sua frente mas se insiste, tanto, eu posso pensar em voltar mais tarde...
- É... Com licença? - Escuto a voz de Joana, a secretaria de Eduardo chamar. - Infelizmente, vai ser impossível fazer essa troca. O senhor Magalhães já está impaciente a sua espera!
Sorrio e me viro para a bela ruiva que me observa agora impaciente, achei incrível que ela não liga para quem a prejudique mas bate de frente!
- Então é você, que está atrasado meia hora para encontrar ele? - Me questiona chocada.
- Prazer, Fernando Magalhães! - Estendo a mão e ela aperta, sinto um calor com seu toque e meu sorriso morre. Já fiquei com muitas mulheres, mas nunca senti esse calor e confiança perto de uma. - O irmão!
- De verdade? - Aceno ainda segurando sua pequena mão, ela dá um passo para mais perto, sinto seu perfume gostoso. - Sou, Alexa Menzie! Me ajude, sim? Diga boas coisas de mim, fala que me conhece e me recomende?! Eu preciso muito desse emprego!
- Emprego para? - Seus olhos brilham e sei que ela faz o que ama, sinto a mesma alegria quando estou trabalhando, planejando, desenhando e ansioso com meus projetos.
- Sou advogada e achei o anúncio desse emprego. - Ela detalha iluminada. - Estou fazendo um intercâmbio.
Escutamos a porta atrás de nós ser rompida e solto sua mão meio atordoado com o grito que ressoa pelo cômodo.
- Fernando! - Me viro vendo Eduardo andar até eu e Alexa. - Que demora, inferno! Você nunca é pontual!!
Dou uma piscadela para Alexa e me viro, com um sorriso debochado e passo o braço pelos ombros de meu irmão ainda emburrado, tirando sarro a gente se vira e caminha para o elevador, rumo ao nosso almoço mensal!
No fim, as semanas foram passando conforme o previsto. Eu realmente recomendei a Alexa para o meu irmão, e mesmo ela sendo inexperiente eu consegui convencer o Eduardo e desde então, minhas visitas se tornaram constante e não só uma visita a cada mês...
Narração
'Já Alexa, sempre alegre e receptiva caiu nos encantos e charmes de Fernando. De cantadas, conversas e provocações, evoluíram para encontros e passeios; então as semanas viraram meses e logo os dois chegaram ao estágio de namoro.
A vida era bela, divertida e quente para os dois namorados. Eles tinham confiança e parceria, um apoiava o outro em suas carreiras que iam de vento em polpa! Fernando com seu emprego e projetos que cada dia crescia mais, seu prestígio e fama repercutiam por toda a cidade! Alexa em seu cargo como advogada se sentia feliz, afinal era o seu sonho, sua carreira tão fielmente percorrida, mas as vezes, no cantinho escuro de sua mente, ela se sentia cansada! Muitas das vezes, pressionada e sufocada estando na presença de seu chefe, porém ela não constetava! Alexa não via o porquê de reclamar e se opor ao irmão de seu namorado, era seu cunhado apesar de tudo!
Na mente já contaminada de Eduardo, aquilo era estranho! Por que o seu irmão tinha recomendado aquela mulher para ser sua advogada? Se no final das contas ele não a conhecia de verdade e tudo o que realmente queria era se aproximar da jovem? Podia confiar naquela pessoa que chamava de irmão? Sendo que ele mentia dessa forma descarada e sem moral para si?
Agora eles estavam em um relacionamento e isso era justo? Eduardo se sentia rejeitado! Trocado descaradamente por uma mulher, afinal de contas, o que mais importava? Uma mulher ou o seu sangue? Seu próprio irmão o jogando para escanteio! Isso definitivamente não era justo de forma alguma! Por isso ele resolveu que não ia ser justo, não ia ser benfeitor e dar preferência para a Alexa somente por ela ser namorada de seu irmão!
Ele não sabia se aquele sentimento estava correto, se era certo sentir aquela raiva mas não era verdade que seu irmão tinha o traído? E não! Não adiantava o Fernando lembrar dele as vezes para falar que ele tinha uma doença! Não era assim! Ele se sentia incompreendido! Agora o Fernando tinha o direito de chamar abandono de transtorno? Uma ova que tinha!!
E com isso, de um lado paixão ardente e confiança e do outro, desconfiança e desprezo. Um amor que chegou rápido, tudo o que no final Fernando deduziu foi que,"Tudo que vem fácil, vai fácil!", porque eles não conseguiram superar! A confiança e o amor não foram o bastante para manter o casal juntos!'
07 de março de 2009
Alexa Menzie
'Tudo bem, Nando. Eu volto pra casa sozinha, ainda estou resolvendo uma papelada da distribuição do lançamento de Páscoa. A gente se vê a noite, beijos!'
Respiro fundo, já são seis e meia da tarde a maioria do povo já foi embora e eu estou aqui ma Choklad terminando de verificar una documentos para o Eduardo porque por alguma razão ele liberou a Joana mais cedo! Estou tão cansada! Tudo o que eu queria era fazer somente o meu trabalho, e não a parte dos outros!
Sei que estou sendo inútil, sei dos meus direitos mas o que menos quero é dar mais dor de cabeça para o Fernando, ele já anda conturbado com as ações e reações do irmão e mesmo que a cada dia o tratamento de Eduardo comigo só piore, não vou reclamar, não é nada com que não possa lidar!
- Alexa por favor, pode me trazer os relatórios da reunião de hoje? - Dou um pulo na cadeira quando a voz de Eduardo sai estranhamente baixa no aparelho em cima da mesa. Sinto um arrepio incômodo! Uma sensação ruim mas resolvo ignorar, quero terminar o quanto antes tudo isso para ir embora!
- Sim senhor, só um minuto! - Respondo suspirando.
Demoro alguns minutos para terminar de reunir os papéis, sair da minha sala no mesmo corredor e entrar na sala do meu chefe. Bato uma vez pra avisar que cheguei, abro e passo pela porta sem perceber Eduardo parado ao lado. Deixo os papéis na mesa e me viro, vendo o exato momento em que ele tranca a porta.
- O-O que? O que está fazendo, Eduardo? - Questiono nervosa e o chamando pelo nome.
- Andei pensando, acredito que já fui muito bonzinho!! - Eduardo diz se aproximando com os olhos em um tom mais escuro, sinto um arrepio subir pelas minhas pernas e chegar aos meus braços. Sinto muito, muito medo!
- Como assim, bonzinho?!? - Questiono engolindo em seco e me afastando da mesa, pego um porta caneta e seguro firme atrás das costas. - Eduardo, seja lá o que vai fazer, Fernando está vindo me buscar!
Seu maxilar fixa rígido e sei que está com raiva, os olhos me lançam faíscas e neste instante, eu me arrependo. Me arrependo de nunca ter aprendido a defesa pessoal que meu pai tanto insistiu! Me arrependo de não ter dito ao menos uma vez a meu Fernando, que estava sentindo acuada perto de seu irmão, mas agora é tarde! Sei disso e meu medo só aumenta!
- Para de ser mentirosa!! - Grita e atira a plaquinha de vidro com seu nome e cargo contra a porta, dou um pulo e aperto ainda mais o objeto cilíndrico entre os dedos. - Eu sei que ele está resolvendo o caos do novo projeto! É por isso! - Ele grita de novo e arregalo os olhos, disfarçadamente eu tiro os saltos, é mais fácil e cômodo para correr e é uma ótima arma para defesa! - É por isso! Por você ser tão dissimulada! Tão aproveitadora!
- Do que está falando?! - Me irrito chocada com esses insultos sem sentidos. - Eu sinto essa sua áurea escura e perturbada a ANOS!!! - Grito histérica, ele para um segundo e eu continuo a uma distância segura. -Evito falar de você pro seu irmão, justamente por ter esses olhos perdidos e ao mesmo tempo caótico! Eu tenho pesadelos toda vez que você me olha assim!
- Ótimo! - Ele solta uma risada e sinto meus olhos encherem de água. Por um instante pensei que estava salva, mas agora sei que não tem mais volta! Ele está fora de si! - É isso que quero! Que você tenha pesadelos! Sinta o terror que eu sinto por ter sido trocado!!
- Trocado? - Sussurro confusa e me distraio escutando um barulho de porta no corredor do lado de fora. No mesmo momento eu corro em direção a porta gritando. - OI? SOCORRO!! ME AJUDA AQUI!!! POR FAV...!!
Minha voz sai estrangulada por conta do grito quando sinto meu cabelo ser puxado bruscamente e sou atirada contra a mesinha de vidro no lado direito da sala. Minhas costas se chocam com a mesa e logo estou caída sobre os cacos de vidro.
Solto um gemido alto de dor e abro os olhos já embaçados pelas lágrimas, vejo Eduardo parado ao meu lado sorrindo e não reconheço o homem sorridente e espontâneo que conheci nos meus primeiros dias de trabalho.
- Cala a boca, sua puta! - Exclama entredentes e choro. Choro alto e com muita dor, dor que estou sentindo e que vou sentir porque sei que isso não vai acabar tão cedo!
- Eduardo... - Gemo angustiada e com as mãos espalmadas no chão eu procuro alguma coisa para acertá-lo em meu último ato de defesa. - Por favor! Não...!
Eduardo começa a se abaixar, bem quando eu encontro o pé de madeira da mesa, junto apertado os lábios salgados pelas lágrimas e ergo meu braço mesmo sentindo dor e acerto seu rosto com todo o resto de minhas forças e então vejo. Vejo o exato momento que os olhos ficam ainda mais frios e escuros, e naquela tarde eu fui apresentada ao outro eu de Eduardo Magalhães! O lado obscuro, ruim, irracional e no futuro, descobriria e conheceria o lado assassino de Eduardo Magalhães!!!
Narração
'Naquela noite, foi o primeiro dia que Alexa foi violada, que seu pesadelo se tornou continuo! O primeiro dia de seu martírio e anos tortuosos se sentindo suja, angústia e nojo do próprio corpo.
Horas mais tarde, ela não teve coragem ao voltar pra casa e encarar o namorado nos olhos, sentia vergonha e pequena!
Minúscula e insuficiente!
Imoral e indigna!
Completamente repugnante!
Com o passar dos dias a coragem nunca chegou! A voz nunca saia! Como podia? Da onde ela tiraria voz para dizer ao namorado que sempre defendeu, protegeu e se preocupou com o irmão, que justamente aquele que via com bons olhos era um ser inescrupuloso e imoral? Não, ela não ousaria...!
Os dias se tornaram semanas, meses e então, durante seis longos meses ela foi violada, abusada e ameaçada! O namoro que antes era quente e carinhoso, foi se tornando frio, distante e de namorados se tornaram meros conhecidos sem nenhuma confiança!
Mas tudo que está ruim, ainda pode piorar!!
Os atos sujos e imorais de Eduardo trouxe enfim, consequências!!'
18 de agosto de 2009
Fernando Magalhães
A porta do elevador se abre mas só percebo com o aviso sonoro, abro os olhos e vejo o corredor da diretoria quase escuro e muito silencioso. Franzo a testa enquanto saio em passos ainda calmos para fora da caixa metálica.
Conforme vou alcançando a sala de Eduardo no fim do corredor, começo a escutar vozes alteradas e apresso os passos.
- Eu não quero isso! Não vou continuar e pronto!! - Reconheço a voz de Alexa. Parece sentir ódio e mágoa, mas ultimamente eu quase não a reconheço. - Eu não aguento mais!
Abro a porta de supetão para ver o que acontece lá dentro com Eduardo e Alexa e me deparo com meu irmão com a camisa totalmente aberta, a calça e o cinto desafivelado e os cabelos ruivos apontando para todos os lados. Alexa por sua vez, os cabelos que tanto amo tão bagunçados quanto de meu irmão, e as roupas pretas que recentemente começou a adorar amassadas, os olhos tão injetados em sofrimento...
- O que você não quer, Alexa? - Murmuro ainda parado com a mão sobre a maçaneta. - O que não aguenta mais? - Pergunto me segurando para não acreditar no que meus olhos denunciam. Na traição que me parece tão massacrante!
Alexa me olha alarmada, os olhos claros cobertos por uma névoa que vejo muito nesses últimos meses mas ainda não cheguei ao motivo.
Contudo me volto para Eduardo quando escuto sua risada amarga e sem qualquer traço de humor, que agora, já virou característico! Ele me observa com o maxilar apertado e então resmunga como um punhal em chamas, ardente!
- Você! - Ele caminha até Alexa e passa os braços por seus ombros, ela fecha os olhos por um breve segundo e então quando abre, não a reconheço. Não existe mais a menina doce e alegre por quem me apaixonei. - Ela não aguenta mais, você! Ela não quer mais, você, Fernando! - Seu sorriso aumenta e sinto meu coração apertar, é um sentimento sufocante você desejar que o que acaba de ouvir seja mentira. Que ver uma cena como essa possa ser verdade! Continuo mudo. - Eu e Alexa estamos juntos, Fernando!
Viro meu rosto para Alexa, minha até então namorada. Minha até hoje de manhã, grande paixão! Respiro fundo e observo ela olhar para um ponto fixo na parede ao lado, como se me olhar fosse a pior das sensações, engulo em seco e ignorando a dor que seu desprezo e frieza me causa, eu chamo.
- Alexa!?! - Murmuro em uma última tentativa por hoje, porque eu sou persistente quando vejo que algo ainda é possível, sou assim com meu irmão afinal de contas! Ela vira o rosto e me encara, os olhos sérios e tão duros como os lábios apertados em uma linha. - Quer me dizer alguma coisa? Qualquer coisa! Eu vou entender e...
- Estou grávida! - Sua voz ressoa pela sala e chega em meus ouvidos como eco, consigo ouvir diversas vezes refletir em minha cabeça. - Grávida, Fernando! Do Eduardo como pode imaginar!! - Sim, posso imaginar e peço desde o primeiro segundo para que nunca mais possa visualizar imagens e pensamentos!
É nojento!
É traumatizante!
Não tenho relações sexuais com Alexa, há seis meses. Seis meses que ela se afastou, caminhou para longe, se perdeu na estrada e eu nunca mais a vi, nunca mais a toquei e muito menos, enxerguei a verdade e a dor que ela tantas vezes tentou me mostrar e falar!
No futuro, eu vi, como fui cego! Como preferi não ver a dor que Alexa passava!
11 de janeiro de 2013
Muitas coisas aconteceram nos últimos anos e nenhuma delas foi algo que facilmente pode ser esquecido, mas vai ser constantemente evitado!
Ainda em 2009, um mês após eu me separar de Alexa; ela juntou suas coisas em uma mala e saiu pela porta do apartamento que uma vez nos dividimos com a intenção e planos de crescermos juntos!
Mas não muitos dias depois, em outubro eu entrei no facebook e lá estava, várias e várias fotos dos dois, Alexa e Eduardo casados e esse foi o primeiro dia que eu senti inveja, senti ódio de verdade por meu irmão e também por Alexa!
Pedi tanto que desce errado, que o relacionamento deles fosse um caos que quando eu recebi a notícia que ela estava hospitalizada, eu fui lá. Fui visitá-la com o peso na consciência, porque eu sabia que a culpa tinha sido minha e então, eu descobri o meu maior tormento naquela época, Alexa e Eduardo haviam discutidos, ela correu em direção a saída, tropeçou nos saltos e rolou escada abaixo, perdendo o bebê de quase quatro meses!
Naquele dia eu vi meu irmão chorar, como a muito tempo não chorava e senti culpa. Vi Alexa não mover um músculo, ela não chorou, não se manifestou e soube que minha praga tinha os pego e jurei ali, de pé no leito de hospital da mulher que amava que a apoiaria em cada escolha que fizesse.
Eu me reaproximei dos dois, vi Eduardo perdendo cada vez mais a lucidez e Alexa entrando em depressão e tendo crise de pânico, por meses a fio.
Lembro que no dia 11 de junho do mês passado, em 2012, fui visitar a Alexa na casa deles e mais uma vez, não desconfiei de nada que poderia estar acontecendo naqueles anos. Eu sempre confiei fielmente fielmente no senso de justiça e coragem de Alexa, por isso, pra mim não tinha como estar acontecendo algo tão brutal.
Encontrei Alexa caída no chão do banheiro aquele dia, ela tinha tentando se matar e ver ela jogada no chão me causou tantos sentimentos angustiantes que quando chegamos ao hospital, e o médico disse que ela estava fora de perigo assim como os bebês, só pude agradecer e prometer protegê-los!
Mas eu não consegui!
Não protegi nenhum dos três porque aqui estou eu, batendo cartão no hospital mais uma vez.
Olho atrás do vidro da maternidade enquanto a voz do médico ressoa como facas em meu coração, me sinto burro, estúpido, a pior pessoa da Terra! Me sinto sujo por olhar essas crianças, meus dois sobrinhos inocentes frutos de uma brutalidade!
- Não tenho dúvidas, senhor Magalhães! - O novo médico diz ao meu lado e sinto lágrimas em meus olhos, o vidro fica embaçado. - A paciente Alexa, sofre sim agressão física constantemente! - Geraldo exclama sério. Ele atendeu Alexa hoje quando ela chegou de ambulância, porque o médico responsável por ela simplesmente desapareceu e agora sei porque, era mais um cúmplice de meu irmão! - Já era previsto que os gêmeos nascessem prematuros, mas ela começou a entrar em trabalho de parto, justamente por sofrer abuso e maltratos!
- Entendi... - Sussurro e me afasto do vidro, encaro o médico. - Vou resolver isso, com licença, doutor!
Saio antes de ouvir uma resposta e caminho até o quarto para onde levaram Alexa, chego a porta e começo a ouvir as vozes.
Alexa Menzie
Olho para Eduardo ao meu lado, essa cara imunda sorrindo e não consigo aguentar o meu asco e rancor. Ele sorri como se fosse a melhor coisa do mundo, duas crianças frutos de uma violência!
Eu não as quero! Não consigo sentir amor e carinho e não adianta quanto tempo passar isso não vai mudar! Mas eu não vou deixar que eles fiquem na mão desse monstro!
Eduardo não vai fazer mais duas vítimas! Eu não compactuar com a destruição de mais duas vidas, por isso eu quero a guarda das crianças, para dar ao estado! Eles vão ser muito mais feliz em uma família distante dos Magalhães! Eu sobrevive por anos nesse meio e já nem sinto nada além de sentimentos ruins e pesados!
Seja qual for a família que os adotar, vão ser felizes, eu tenho certeza! Por isso eu junto forças para lutar contra o meu maior medo!
- Eduardo, eu quero divórcio! - Vejo o exato momento que o sorriso morre e o Eduardo que tanto conheço dá as caras. Estremeço e tento ignorar meu medo. - E vou levar as crianças comigo! Você não vai destruir mais duas vidas!
Eduardo se aproxima e aperta meu rosto com os dedos, ergo as mãos e o empurro, não vou aguentar mais essas humilhações!
- Chega! Eu não aguento mais! - Grito descontrolada, meus olhos devem estar vermelhos e sinto uma pontada abaixo do ventre. Mereço isso, mereço sentir essa dor pelo resto da vida por ter sido fraca e estúpida! - Eu não aguento mais você e seus surtos! Ninguém merece passar por o que passei! Seu monstro!
- Cala a boca, Alexa! - Grita de volta e já não ligo mais, já ouvi diversas vezes. - Você não vai ficar com meus filhos!
- Você não direito de chamá-los assim! - Grito de volta. - Eu não queria na primeira gravidez e nunca quis me casar! Você me obrigou a tudo! Me ameaçou com tudo! Fez eu terminar com o Fernando porque disse que ia matá-lo! Que iria matar os meus pais! Mas chega! CHEGA!
Sinto o ardor do tapa logo em seguida, meu rosto queima e meu ouvido zumbi, como já estou, infelizmente acostumada!
Escuto a porta ser aberta em um rompante quando ela bate na parede e vejo Fernando entrar, ele parece de luto e já sei que ele sabe de tudo, perco um pouco da minha força.
Sinto vergonha, viro o rosto para o outro lado, ele deve sentir nojo e está certo, eu me sinto nojenta!
- O que quer, Fernan...! - Eduardo cai sobre a cadeira no canto do quarto e olha para Fernando surpreso, eu também estou chocada com o soco que Fernando deu. - Você está maluco, porra?!
- Eu vou te matar, Eduardo!! - Fernando grita e parte pra cima de Eduardo, o socando diversas vezes e se afasta cambaleando quando o irmão revida.
Mesmo eu querendo que Fernando bata mais e com mais força, eu não quero que ele sofra ou sai ferido e então aperto o botão ao lado da cama e grito.
- Parem! Parem já com isso! - Grito para que mais gente escutem, eles continuam se socando sem me ouvir. - Eu disse para parar! Chega!! Saiam daqui!
Dois seguranças param na porta por um segundo e depois adentram o quarto os separando e vejo a destruição, sangue e roxo por toda parte!
- Tirem eles daqui! Por favor! - Digo chorando, quero ficar sozinha porque preciso de uma oportunidade. - Quero ficar sozinha!
Mesmo contrariado, Fernando sai mas não antes de me olhar com pesar. Eu tento com todo o meu âmago, desvendar o que ele quis me dizer com esse olhar mas não tenho tempo! Vou fugir, pra bem longe e o mais rápido que eu puder!
Quando dei entrada nesse hospital hoje, com a ambulância que eu chamei, para o hospital que eu escolhi e sozinha. Assinei como minha responsável, e é assim que deve ser! Vou pegar essas crianças e saie daqui assim que consegue minha alta!
As horas passam e quando já está perto de anoitecer, a porta se abre e o som de dois choros invadem o quarto, não quero vê-los então fecho os olhos com força escutando os conselhos e ensinamentos da enfermeira, aceno para tudo e então ela se vai.
Espero somente alguns minutos e então jogo a coberta para o lado. Coloco os pés no chão gelado e arrumo a calça de moletom no corpo, tiro a camisola rosa bebê pelos braços e coloco minha camiseta preta. Arrumo a mochila nas costas e vou até o berço e fazendo um esforço tremendo eu os pego, agora não choram e dou graças a Deus!
Um dia, eu sonhei em dar o nome dos meus filhos de Arthur, se fosse menino e Dandara se fosse menina. Cheguei a contar para Fernando em um almoço que tínhamos com Eduardo. Mas até esse sonho o monstro do Eduardo, conseguiu destruir!
Saio do quarto assim como saio do hospital, quieta e com um plano na cabeça, liberdade para nós três mesmo que não seja o mesmo caminho! Paro em frente ao meu carro que vim deixar aqui ontem de manhã, em um estacionamento pago perto do hospital.
Depois de me acomodar e prender as crianças com o cinto nas cadeirinhas que o estúpido comprou, eu ligo o carro e pego estrada.
Contudo, assim que faço uma curva na
Rodovia Presidente Dutra rumo ao Rio de Janeiro, olho pelo retrovisor e assim que vejo o carro preto de Eduardo eu sei que não planejei bem!
Mais uma fuga errônea!
Fernando Magalhães
O cheiro de pneu queimado sobe pelos ares e a marca preta descontrolada pelo asfalto indica um acidente, sigo as marcas como pistas que contam uma história, uma história triste e trágica.
Viro o volante fazendo mais uma curva e então vejo, o carro vermelho de Alexa todo amassado e tombado contra uma árvore logo a frente. Paro o carro e já desço aos tropeços, correndo em direção ao carro ignorando o cheiro de fumaça que impregna o ar.
Quando eu recebi a ligação de Alexa a meia hora atrás, fiquei surpreso. Pensei que ela nunca mais ia querer olhar na minha cara, mas ali estava ela agora, dentro de um carro e sangrando.
Me abaixo ao lado do que devia ter uma porta de motorista e a vejo presa pelo cinto de segurança, os cabelos caindo sobre o rosto e grudando no sangue que ainda escorre.
- Lexa?! - Chamo com pesar, tenho medo dela não abrir os olhos e eu não nunca mais puder vê-la sorrir.
Mas então, com dificuldade ela os abre. Os olhos verdes que um dia foram brilhantes, me encaram repletos de dor e arrependimento, estão vermelhos feito sangue e então as lágrimas começam a cair e ela geme de dor com o esforço.
- Nando, me ajuda por favor! - Sussurra e não perco mais tempo, com muita dificuldade eu consigo tirá-la de lá e a trago pra fora. Seus dedos finos repletos de sangue tentam segurar minha camiseta conforme sigo para meu carro. Vendo por cima, não vejo perfuração mas pode ter um osso quebrado, uma hemorragia interna, porque ela está cheia de escoriações! - Por favor, eu ainda quero viver!
- Vai ficar tudo bem! - Exclamo convicto porque mesmo que eu morra hoje, tentando, eu vou salvá-la como já devia ter feito há anos! - Eu te prometo!
- Foi o Eduardo, ele descobriu meu plano e me seguiu. - Ela conta chorando enquanto dirijo, aperto o volante. - Bateu contra meu carro até eu perder o controle, o carro capotou e ficou preso na árvore. Ele veio e pegou só as crianças! - Seu choro se torna mais constante e parece que está colocando toda a dor de anos para fora. - Disse que agora eu iria morrer aos poucos por ter tentando lhe passar a perna!
- Porra...! - Exclamo socando o volante e ela fecha os olhos com força, aperto o acelerador, temos que chegar ao hospital. - Me desculpa, tá? Vai ficar tudo bem! Eu te prometo, Alexa! Me perdoa por não ter percebido! Por não ter te ajudado!
- Não, não! - Alexa vira o rosto com dificuldade em minha direção. - A culpa foi minha, eu não pedi ajuda! Eu acreditei nas ameaças e chantagens, fui burra! Estúpida! - Ela abaixa a cabeça e funga, estaciono o carro de qualquer forma em um hospital qualquer e a pego nos braços. - Fui fraca, me desculpe, Fernando! Eu só não queria que você sofresse e de nada adiantou, me perdoa!
Vejo seus olhos se fecharem e o braço pender ao lado do corpo quando termina de falar. Entro em pânico e entro correndo pelas portas do hospital.
- Me ajuda! Socorro! Minha mulher está morrendo!!
Lembranças desativadas.
Naquela época, Alexa ficou uma semana internada por conta de uma hemorragia interna. O Eduardo sumiu com as crianças por três meses e quando voltou, crente que Alexa estava morta e fingindo luto, eu não desmenti porque ela já não estava em solo brasileiro!
Ela pediu para voltar para a Escócia, disse que precisava se curar de todas as feridas sozinha, que não tinha cabeça e nem emocional para ver Eduardo, eu ou as crianças.
Quando eu a levei para o aeroporto, um mês após sua alta, perguntei se ela não ia querer lutar pelos gêmeos e tudo o que ouvi foi que ela não queria as crianças, não os via como filhos e que tudo o que queria quando fugiu e os levou, era que tivessem a chance de encontrar uma família digna e descente! Longe do asco que era viver com Eduardo!
Antes de entrar no avião, Alexa se virou e me disse que o que Eduardo não tinha era moral! Que a decência e o decoro que eu via em meu irmão, não existia. Não existia há muito tempo e que ela viu cada pedaço do ser inescrupuloso que Eduardo se tornou!
Por isso, quando Eduardo voltou tudo o que pude fazer foi tentar salvar os gêmeos e de nada adiantou! Eles sofreram e tiveram traumas assim como Alexa havia dito.
Por anos eu mantive contato com a minha ruiva, demorou quatro anos para eu vê-la novamente. Sei que errei em ter me envolvido com Dália, mas foi num momento em que perdi contato com Alexa e pensei que tinha a perdido de vez, pensei que seria sensato tentar com outra pessoa mas eu via a forma como ela se comportava somente de falar com o até então, amigo Christopher.
Então tudo ruiu, eu recebi uma ligação quando estávamos no México e era ela, a minha Alexa pedindo para me ver e não tinha como eu negar! Nunca negaria nada a ela e desse jeito, me despedi de Dália contando um pouco da história que envolvia os gêmeos, e sabendo que o que eu não tinha conseguido fazer para protegê-los, ela iria fazer. A família que Alexa tanto quis para os gêmeos estava ali e ela nunca esteve mais certa, eles só seriam felizes longe dos Magalhães!
No entanto, quem iria imaginar que o meu irmão Eduardo estaria planejando me matar? Eu neguei até o último momento, até ver a arma apontada na minha direção.
Pensei que iria morrer ali, naquele dia, mas morreria feliz por ter visto o sorriso que tinha desaparecido e retornou para o rosto de meu amor. No dia do ataque contra a minha vida, estava sim com Alexa mas eu a escondi no banheiro e o cara que Eduardo mandou só atacou a mim. Lembro de Alexa chamando o resgate, chorando e pedindo desculpa e depois saindo, dizendo que iria voltar.
Consequentemente, logo que acordei dez anos depois, foi por ela que chamei e não me arrependo de deixar Dália acreditar que a tinha traído, foi melhor assim porque eu confundi tudo!
Me aproximei de Dália somente com o intuito de protegê-la de Eduardo, não queria as cenas se repetissem novamente! Não iria tapar o sol com a peneira de novo! Mas eu me apeguei e em um momento de confusão eu me envolvi, atrapalhei tudo e então foi melhor assim!
É melhor manter distância do caos que sempre carregamos! Apesar de tudo, eu quero que Vinicius e Julia sejam felizes!
E agora, tudo o que mais desejo, é ir embora com a minha mulher, tentar esquecer o passado para sermos felizes! Pois não a perder ou me separar dela uma outra vez!
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