Capítulo LXVI
CONTINUAÇÃO
Observou pela brecha de uma cortina e outra os pingos de chuva que encharcava o solo, parando um segundo da sua vida para observar as gotas que escorregavam pela janela. Piscou os olhos, saindo da imersão anterior, negando a cabeça, se aproximando da cômoda e pegando um pequeno caderninho com todas as suas ideias, inspirações, composições, rascunhos e trechos que surgiam em sua mente em algum momento, calçando suas pantufas e indo até a saída. Desceu as escadas e no decorrer, escutou as vozes que já eram familiares aos seus ouvidos, apressando seus passos e encontrando todos reunidos na sala.
— Papai! — Acenou para o menor que foi o primeiro a vê-lo, sendo Jieun a segunda a perceber a presença do Jeon, virando-se para trás, para ele. — Estávamos esperando o senhor chegar — Perto o suficiente, afagou os cabelos do pequeno, se sentando ao lado da Kim.
— E aqui estou — sinalizou.
— Vamos! ajudei a mamãe fazer o jantar e ô... — Fechou os olhinhos, aspirando com mais intensidade. — tá muito bom.
— Não grudou no prato? — o pequeno negou com a cabeça. — Isso é ótimo, então você sem sombra de dúvidas puxou a sua mãe aqui — olhou para ela, se pondo de pé.
Seguiram até a mesa de jantar, onde se reuniram e em família aproveitaram o jantar, intercalando entre o devido silêncio e também a interação entre eles. Após estarem cheios, descansaram, jungkook se juntou a esposa, colhendo os pratos da mesa e organizando talher com talher, prato com prato e copo com copo, limpando a mesa e posteriormente ajudando-a enquanto jeongsan e Koya assistiam seu desenho preferido.
Em um específico momento, secando as louças, notou o quão silenciosa e quieta estava Jieun, percebendo que também se encontrava longe, provavelmente pensando consigo mesma.
— Eu poderia ficar a noite inteira te observando toda quietinha assim e admirando seus detalhes, porém… — com as mãos secas, contornou os braços ao redor dela, relaxando sem exercer todo peso o seu queixo no ombro da mesma, tendo cuidado para não a molhar e nem ser molhado. — Não consigo deixar de não notar o quão silenciosa está, aconteceu algo? — sua pergunta a fez sorrir.
— Eu estou bem — Respondeu baixinho, guardando a última louça ao lado. — as vezes nem percebo que estou calada demais, fico presa nos meus próprios pensamentos — completou.
— É que pensamos tanto em um determinado assunto que boa parte das vezes, não conseguimos desprender — deixou um beijo na bochecha dela, dando um passo para trás e vendo que já tinham terminado tudo por ali, estendendo sua mão para ela. — Quando quiser falar sobre alguma coisa, não importa o que seja, eu vou te ouvir, ok?
— Pode deixar — a expressão de antes, que revelava o quão distraída estava, tinha desaparecido, dando lugar a uma feição mais neutra, confortável e principalmente menos tensa.
— O que acha de me ajudar com algumas letras de música?
— E-Eu? Não tenho nem jeito pra isso, é bem difícil.
— Na verdade, é mais conversar do que compôr em si, compreende? — confirmou, segurando a mão dele e caminhando até a sala. — eu vejo isso como uma oportunidade de falar um pouco sobre meus sentimentos, sobre a vida, sobre as pessoas que eu amo — afagou a mão da Kim, pegando o mesmo caderninho de antes. — e também levar conforto e esperança para quem escuta.
— E com certeza você faz isso de um jeito impecável — retribuiu o carinho. Aconchegados no sofá da sala, com as crianças no cantinho quase que pegando no sono, jungkook mostrava uma parte que considerava ser seu maior segredo, deixando que a menor descansasse a cabeça em seu ombro. durante todo o momento que escutava, lia e compreendia, elogiando a maneira como ele desenvolvia cada parágrafo em palavras e contextos profundos.
[ ••• ]
Mais tarde, jungkook levou o filho até o quarto, o deitando na cama, cobrindo, sentindo a presença da esposa ao lado, que ao se achegar mais, deixou um beijo na bochecha do menor, ajeitando-o confortavelmente, checando as janelas e também o aparelho que ficava no cômodo dele para indicar quando o mesmo estivesse acordado, tendo um em seu aposento. Na saída, encostou a porta, Koya dormia em uma salinha na lateral, ficando bem quentinho e seguro do frio e também da chuva.
Já no quarto, o casal se preparava para dormir. O Jeon já relaxado em sua cama, anotava algumas coisas para o dia seguinte, aguardando sua esposa.
— Amor? — a voz serena e tímida alcançou os ouvidos do garoto, que assim que percebeu, ergueu seus olhos, encarando. Jieun usava um vestido até os joelhos apropriado para dormir, com os cabelos repousados sobre seu tronco, contudo, o que chamou a atenção dele foi algo que a mesma segurava com as duas mãos em frente ao corpo. — Eu quero falar algo para você e peço que me escute até o fim e por favor, peço que me entenda — ficou assustado ao repentinamente ela começar.
— A-Amor, o que aconteceu? — guardou tudo e qualquer coisa que ficasse entre ele e ela, se sentando com a coluna mais reta e o olhar sem conseguir piscar. — Eu vou te escutar Jieun, eu sempre vou, não duvide disso e muito menos que não vou te entender, faço tudo pra compreender você. — inquiriu, visando, nela, a região das bochechas, do nariz e principalmente abaixo dos olhos avermelhados. — Eu estou ficando assustado.
— Já tem alguns dias que venho me sentindo estranha, na verdade, eu sentir que meu corpo não estava indo muito bem — começou, achegando e vagarosamente sentando na beirada da cama. — Mas de começo eu não queria me preocupar com isso, estávamos tão agitados com os processos, as mensagens negativas das pessoas que foquei apenas nisso, não queria que o San ficasse no meio disso tudo. Mas, hoje, eu lembrei que estava atrasada e comecei a achar que isso poderia ser um sinal que deveria fazer um teste de gravidez só pra ter certeza de era ou não… — oscilou os dedos, até que pôs algo sobre a cama, empurrando sem perder o contato visual com ele, todavia, sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, tendo que desviar, se odiando por chorar na frente dele.
— Jieun, por que...
— Deu negativo jungkook — o interrompeu antes mesmo de prosseguir com seu pensamento. Voltou para ele, agora tentando secar as lágrimas que insistia em descer pelo seu rosto. — Eu não consigo me compreender, fiquei tão contente com essa possibilidade e quando vi que era só mais uma das minhas loucuras — levantou a face, mirando para o teto e posteriormente, retornando a posição que se encontrava. — não sou forte o suficiente para ter um bebê, mais especificamente, me sinto incomodada, e se eu estivesse e não conseguisse ser forte? Eu... — pausou, escondendo a face em suas mãos, ficando de pé, se esforçando para não ceder ao que sentia. — Iria te frustar assim como eu fiz antes.
Ergueu seu corpo, sem pensar duas vezes, indo até ela. O coração do maior doía dentro dele ao vê-la daquele jeito.
— Desculpa jungkook — Sua voz praticamente não saiu. Insistia em enxugar sua face, mas não adiantava. — Eu não consigo ser uma mulher completa, nunca vou conseguir te dar um bebê — seu esforço para tentar falar era nítido. Não duvidou e a abraçou, apertando-a em contra ele. — fiquei com tanto medo, estou com medo nesse momento de tudo que aconteceu antes voltar, de perder as pessoas que eu amo por ser tão…
— Eu te amo Jieun, eu te amo tanto — engoliu a saliva com dificuldade, mantendo seus braços ao redor dela. — Você não fez nada de errado para pedir desculpas e por favor, não duvide do quão forte você é, não ache que as coisas que aconteceu antes, vão se repetir, porque não vai. Se acha que irei te abandonar, eu jamais faria isso com a mulher que eu amo... — as palavras saiam do mais profundo do seu coração. — não perderá ninguém, não vai me perder e muito menos o jeongsan. Eu queria está ao seu lado desde do segundo que você desconfiou dessa possibilidade — Afastou o corpo mas se manteve perto dela, agora olhando em seus olhos. — não sou Luke Jieun, muito menos seu pai, eu te amo, te respeito e quero o seu bem, eu... — novamente engoliu com dificuldade. — não consigo te ver assim e ainda por cima culpa-la por algo que de uma vez por todas, entenda, não foi sua culpa, não um monstro.
— Desculpa amor — soluçando, fez menção de tampar a face, entretanto ele não permitiu, deslizando seus dedos pela face dela, enxugando cada resquício de lágrimas.
— Não tem o porque se desculpar — beijou cada lado do rosto da sua amada.
— Eu imagino que um dia nós poderíamos querer aumentar a família, mas...
— Nós vamos aumentar a família sim Jieun, contudo, antes disso, eu quero cuidar de você, te ajudar, está ao seu lado e nunca nessa vida vou permitir que se sinta incapaz de fazer algo — entrelaçou seus dedos aos dela, dando um passo para trás e encontrando a cama, sentando e a trazendo para sentar em uma das suas pernas.
Retirou alguns fios que escondiam a expressão de quem havia chorado muito em um só dia, pondo-os atrás da orelha dela, suspendendo o queixo para cima, para olhar em direção a ele.
— Eu tenho prioridades em minha vida Jieun e são cuidar de você e do jeongsan, cuidar da minha família — com o peito apertando contra si, respirou profundamente, recordando das vezes que ela ficou ao seu lado, especialmente dos seus dias mais escuros, quando pensou em desistir de tudo e todos e Jieun não tinha desistido que mostrar para jungkook que agora, havia algo a mais, um alguém que precisava dele.
— Assim que eu suspeitei, fiquei com tanto medo jungkook — engoliu as lágrimas, numa esperança de bloquear sua vontade de permanecer em lágrimas. Ele relaxou a palma da mão nas costas da mesma, acariciando. — Eu pensei em não dizer para você, guardar para mim.
— Se algo te machuca, se algo te abala e te deixa triste, ou com raiva, ou feliz, pode dizer para mim — proferiu.
— É que... — se virou, pegando mais uma vez o teste. — É tão difícil falar sobre isso, eu sinto como se minhas expectativas fossem pisadas, como se eu mesma tivesse me apunhalado. Eu me perguntei “ Como é que vou fazer ele feliz se eu falhei, antes, como mãe? Como mulher? ” — encarava suas mãos, mexendo em seus próprios dedos ainda com o objeto entre a palma.
— Eu te respondo: Você não falhou e me faz feliz. babe, olhe para mim — lentamente fez o que ele pediu, sentindo quando o mesmo retirou o ítem da sua mão. — em momento algum você falhou, eu compreendo sua dor e me sinto tão mal por não ser capaz de mostrar o quão incrível é e que existe coisas na nossa vida que acontece por um motivo, aprendi isso, por mais doloroso que seja. Acredite, não está sozinha, temos um futuro longo pela frente, vamos ficar “ nada ” já que nada é eterno, vamos ter muitas, muitas, muitas oportunidades para ter um filho ou um filha ou vários filhos — ela ouvia sem piscar os olhos, se encontrava totalmente hipnotizada pelas falas dele. — porém, antes disso, eu quero que você tenha a completa noção da pessoa que é, do poder que tem, do que é capaz de ser e fazer. Tanto eu como o San, te amamos e não queremos te ver assim, por favor, eu não quero que cogite a ideia que um dia eu vou me aborrecer ou te abandonar, não vou, eu vou ficar aqui — ergueu a palma, dando um ligeiro jeito para por a mão dela sobre a sua, entrelaçando seus dedos — Eu posso te amar em palavras e também em atitudes, eu vou segurar sua mão quando você precisar, vou enxugar suas lágrimas, vou te acordar todos os dias com um beijo e um eu te amo, eu nunca vou me cansar de te amar, porquê te amar já passou a ser parte de mim.
A conversa fluía e o garoto que antes se esforçava para não se emocionar, permitiu que seus sentimentos também saíssem em forma de lágrimas, lágrimas essas que carregavam toda a imensidão que Jeon jungkook era.
— Jung...— as letras escorregaram de seus lábios, porém antes de serem finalizadas, ela não resistiu e o abraçou, um abraço espremido. Nada falaram por longos minutos, diálogos não eram mais necessário, dando lugar ao afago, a união e também ao amor.
Instantes após, o maior se ergueu, com ela em seus braços, a acomodando no seu corpo, se encaixando impecavelmente como duas partes de uma laranja, fazendo a volta e deitando na cama. Não se incomodou de deixá-la sobre si, somente respeitou aquele momento, mexendo nos cabelos dela, como se quisesse falar que tudo daria certo, que as coisas ficariam bem. De qualquer jeito, ele sabia que a amada carecia de uma atenção e faria de tudo para que ela melhorasse e confiasse mais em si mesma, dando abertura para se perdoar e se amar.
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